sábado, 27 de agosto de 2011

PENSAMENTO DO DIA


Não deixe que o que você não pode fazer interfira no que você pode fazer

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Seja cortês com todos, sociável com muitos, íntimo de poucos, amigo de um e inimigo de nenhum

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO ´CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 55


CONTINUAÇÃO

atração. À frente do choro pungente, ambos fitavam-na, enternecidos, exprimindo reconhecimento nos olhos, cada qual desejando nela a companheira ideal para casamento próximo, sem a menor suspeita, quanto às convicções um do outro.
Naquela mesma noite, assinalei a falta de Dona Beatriz no ambiente caseiro.
O afastamento da filha de Neves e dos amigos espirituais que lhe freqüentavam a companhia deixara a vivenda qual praça desarmada de quaisquer recursos que lhe garantissem a ordem.
Transcorrido algum tempo sobre o velório em si, vagabundos desencarnados nele tiveram acesso livre.
O nível dos pensamentos descambou para a conversação libertina.
Nem mesmo a dignidade que a morte infundia ao recinto foi acatada. Relatos jocosos irromperam, suplementados pela chacota dos próprios anedotistas. Um dos presentes comentou, entusiasta, os espetáculos debochados de que fora testemunha, em recente viagem ao estrangeiro, suscitando o interesse de vampirizadores que ouviam as narrações, seduzidos pela tentação de repeti-los, na versão deles próprios.
Não contentes, por fim, com os licores aristocráticos, desde muito guardados nos armários da família, beberrões encarnados e desencarnados impeliram Nemésio à encomenda telefônica de vinhos e uísques, rapidamente gorgolejados por gargantas sequiosas.
O irmão Félix, prevendo a leviandade, recomendara se aplicasse,à matrona desencarnada, recursos anestesiantes, a fim de que se lhe mantivesse o isolamento do licencioso festim, praticado em nome da solidariedade afetiva perante a morta.
Os derradeiros afeiçoados de Beatriz, no plano espiritual, se retiraram, discretos, e nós mesmos não tivemos outro recurso senão largar a residência, alta madrugada, depois do socorro a (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 217)
Marina, relegando os despojos da nobre senhora às grossas nuvens de emanações alcoólicas que instalavam, por toda a habitação, atmosfera dificilmente respirável.
Somente no dia seguinte, acabados os funerais, voltei do hospital ao ninho dos Torres, onde a filha de Cláudio se demorava.
Telefonemas diversos, entre mãe e filha, examinavam a nova situação. Dona Márcia reclamava o regresso, Nemésio desejava que a secretária lhe amparasse a moradia. Ele próprio, em dado momento, chamou Dona Márcia pelo fio, solicitando-lhe concessões.
Que Marina permanecesse orientando as servidoras que lhe atendiam a casa. Mais algumas semanas e tudo se aclararia satisfatoriamente.
A senhora Nogueira, honrada com a gentileza, não vacilava confiar. Aquiesceu lisonjeada, feliz.
Em cada frase que o chefe lhe deitara de longe aos ouvidos, pressentia a aliança de Nogueiras e Torres pelo casamento entre os jovens.
Marina, entretanto, explorada nas próprias energias pelos agentes da perturbação que Moreira lhe pespegara, definhava no leito. Trancara-se no quarto. Doía-lhe a deslealdade que cultivara, incessantemente, diante da filha de Neves, culpava-se pelo desastre que arruinara Marita, a quem não tinha coragem de visitar ou rever. Ela que se vira, até então, vitoriosa em todas as partidas, sentia-se derrotada, à feição de contendor arredado da arena pela própria imperícia. Chorava. Ouvia vozes, declarava-se perseguida por vultos estranhos. Fugia de todos, enfadada, nervosa. Se recebia Nemésio ou Gilberto, caía em crise de pranto que os conselhos não removiam e nem os medicamentos conseguiam sedar.
Escoados cinco dias de apreensões, Nemésio telefonou para Dona Márcia, com mais clareza, rogando-lhe permissão para um entendimento pessoal, no Flamengo, na manhã seguinte. Informa (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 218) do de que o chefe da família Nogueira não poderia afastar-se do hospital, insistiu com a interlocutora para que lhe acolhesse a visita. Marina andava abatida. Tencionava levá-la a Petrópolis.
Mudança de ares, renovação de paisagem. A menina tombara em prostração, à face dos sacrifícios que lhe exigira a esposa morta.
Pretendia homenagear-lhe a dedicação, com a permanência de alguns dias no clima serrano, mas, para isso, estimaria ouvir a família, fazer planos.
Dona Márcia, aspirando a expor respeitabilidade familiar, indagou se Gilberto iria também, como que temendo acumpliciar-se em alguma ligação indesejável e prematura entre os jovens. Nemésio, porém, apaixonado bastante pela moça, não era capaz de penetrar a sutileza da esposa de Cláudio, que assim se exprimia no intuito de fazer-se passar, diante dele, por severa guardiã das virtudes domésticas; e a senhora Nogueira, aguardando Gilberto para genro e ignorando a intimidade entre a filha e Torres, pai, não atinava, em toda a extensão, com aquele efusivo atestado de garantia moral que Nemésio, automaticamente, lhe oferecia, pedindo-lhe confiança.
Estivesse tranqüila. A moça seguiria exclusivamente com ele e uma governanta. Mais ninguém.
Dona Márcia louvou a medida, agradeceu.
Mesmo assim, a entrevista ficou marcada para o dia seguinte.
No momento aprazado, acompanhamos Nemésio ao Flamengo, como quem estuda ingrediente perigoso, antes de aditá-lo a processo curativo em andamento.
A recepcionadora não esqueceu particularidade alguma do bom-tom, à vista do luto em que os Torres haviam entrado.
Enfeites discretos na sala, hortênsias azuis, conjunto de peças em roxo para o café. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 219).
O negociante quedou agradavelmente surpreendido. Cumprimentando a anfitriã bem-apessoada num modelo de algodão transparente e suave, não sabia se a progenitora era uma segunda edição da filha ou se lhe cabia interpretar a filha por segunda edição dela.
Comodamente sentados, a palestra começou pela troca de sentimentos recíprocos. Pêsames pela morte de Dona Beatriz, pesar diante do acidente ocorrido em Copacabana. Moléstia de Marita, cansaço de Marina. Devotamento de Cláudio pela filha hospitalizada. Elogio a parentes. Apontamentos ao redor das aperturas da vida.
Dona Márcia, com requintes de apresentação, comentava todos os assuntos propostos, com aprumo de inteligência. Otimismo irradiante, finura de trato.
Nemésio, encantado, fumava e sorria, admirando-lhe a personalidade.
Conversa vai, conversa vem, a viagem a Petrópolis surgiu à tona e o diálogo mais vivo desenrolou-se entre aquela que o visitante esperava para sogra e aquele com quem a interlocutora não contava para genro. – A senhora descanse – recomendava Torres, eufórico –, Marina seguirá em minha companhia, tudo em ordem. Creia que a mudança de ares é a terapêutica adequada. A pobrezinha merece repouso, excedeu-se em trabalho... – Não tenho objeções – acentuou a genitora de Marina, estranhando o lume daqueles olhos percucientes que lhe investigavam as reações –; no entanto, o senhor sabe... Sou mãe. Além disso, tenho o marido ocupado com a outra filha que, apesar de adotiva, é para nós um pedaço do coração... Uma viagem, assim, à pressa...

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INCORPORAÇÃO


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

PENSAMENTO DO DIA


A personalidade tem o poder de abrir as portas, mas é o caráter que as mantém abertas

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Faz os teus planos para o ano inteiro na primavera, e os teus planos diários logo de manhãzinha

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 54


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CAPÍTULO 5

No entardecer do dia imediato, enquanto seguíamos de perto a crescente renovação íntima de Cláudio que, por algumas vezes, já conseguira se entender com Agostinho, adquirindo mais amplos recursos de cultura espírita, a filha de Aracélia repousava, sob o
patrocínio de Moreira, que se reconfortava ao identificar o resultado compensador do próprio esforço. Ele mesmo, agora, compreendia que a moça se lhe afinava, com mais segurança, ao apoio
fluídico. E regozijava-se com isso.
A Providência Divina abençoava o lavrador bisonho, propiciando-lhe a ventura de contemplar os grelos promissores das primeiras sementes do bem que ele plantava.
Se algo distante do posto, durante alguns minutos, a jovem, cujo corpo espiritual se revestia de inexprimível suscetibilidade, em vista do desgaste físico, passava a gemer, denotando sofrimento agravado, para calar-se, em súbita acalmia, tão logo o sustentador retomasse a posição.
Moreira sentia-se útil, orgulhava-se. Encontrava motivos para conversar conosco, permutando impressões. Solicitava esclarecimentos, a fim de entrar em processos mais eficazes de auxílio.
Adquirira interesse para o trabalho. Assemelhava-se a um homem que houvesse debalde suspirado, muito tempo, pela condição de pai e, tendo achado uma criança, conseguira com ela ocupar o vazio do coração.
Cláudio, a seu turno, não se circunscrevia à própria transformação.
Desdobrava-se por dispensar à filha todo o carinho e toda a assistência de que se via capaz.
O facultativo amigo trouxera pela manhã um neurologista.
Falou-se em modificação do tratamento e na conseqüente internação da menina numa casa de saúde em Botafogo; entretanto, a (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 213) peritonite desaconselhava a mudança rápida. Por essa razão, concordou-se na aplicação maciça de antibióticos, até que a melhora
esperada autorizasse a medida.
O genitor não regateava cuidados, nem desencorajava qualquer providência tendente a socorrê-la, custasse o que custasse.
Chegada a noite, o irmão Félix veio até nós e, após felicitar Moreira pela tarefa que realizava, participou-nos a desencarnação de Dona Beatriz.
A esposa de Nemésio desligara-se, enfim, do corpo que o câncer combalira.
Verificada a estabilidade dos serviços em andamento, o instrutor convocou-nos a tomar-lhe o rumo, na direção dos Torres.
Seguimos.
De jornada, conquanto discreto, desabafou-se.
Preocupava-se por Marina. Indispensável protegê-la contra a obsessão começante.
Afastara-se Moreira; no entanto, permaneciam lá, no pátio interno, os arruaceiros e vampirizadores que ele contratara. Perseguidores gratuitos e infelizes que, inevitavelmente, trariam outros para tumultuar a vida mental da moça, comprometida pelo remorso.
Os termos e a inflexão de voz do irmão Félix acentuavam-lhe a grandeza de alma. Ele não via na filha de Dona Márcia a jovem corrompida que nós mesmos, em alegações destituídas de qualquer malícia, não hesitávamos enquadrar nas linhas da prostituição, nem lhe conferia certificado de aviltamento nas idéias recônditas.
Reportava-se a ela, como quem menciona terra nobre que a desídia do cultivador entrega à serpente. Marina, na conceituação dele, era uma filha de Deus, credora de veneração e ternura. Confiava nela, esperaria o futuro. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 214)
Antes, porém, que as circunstâncias me exigissem algum pronunciamento, esbarramos com a moradia da família que a morte visitara.
Entramos atentos.
Lustres providos de luz intensa punham à mostra a reduzida assembléia que se habilitava ao velório.
Aqui e ali, frases convencionais, atiradas sem maior sentimento aos ouvidos do esposo e do filho da senhora desencarnada.
Nemésio e Gilberto não entremostravam grande pesar nas fisionomias cansadas e impassíveis. A moléstia prolongada no reduto doméstico estragara-lhes a resistência para a representação de peças sociais, mesmo singelas. Amarrotados pelas vigílias consecutivas, não ocultavam a própria desopressão. Referiam-se à morta, no feitio de um viajor atormentado que, de há muito, deveria
ter ancorado no porto do extremo refrigério.
O invólucro abandonado por aquela alma boa e veneranda recolhia atenções especiais, para apresentar-se no catafalco de luxo, ao passo que ela mesma, inconsciente, se asilava nos braços de irmãs afetuosas, sob o olhar comovido de Neves e de outros familiares em carinhoso desvelo.
O irmão Félix, assumindo o comando, deu instruções.
Beatriz, que se preparara laboriosamente para aquela hora, seria conduzida, com presteza, à organização socorrista do plano espiritual, no próprio Rio, até que restaurasse as forças, de modo a seguir viagem.
Tudo harmonia nas disposições traçadas.
Entretanto, quando o triste retrato físico de Dona Beatriz foi trazido ao estrado de repouso que se lhe improvisara, Marina apareceu em pranto de compunção. Chorava, tocada de dor sincera e inexprimível. Parecia, naquela reunião de etiqueta, a única (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 215) pessoa ligada por laços de amor à piedosa dama, que encerrava, calada e humilde, a derradeira página da existência naquela casa que a fortuna abrilhantava. Ao fitar aquele corpo hirto, caiu de joelhos, em lágrimas copiosas. Invejou aquela cujo último sorriso de complacência ali se estampava sereno, qual se estivesse satisfeita por deixá-la no lugar que ocupara, durante tantos anos, ao pé de um esposo que a enganara sempre.
Ah! Dona Beatriz!... Dona Beatriz!...
As palavras soluçadas escapavam daquele peito juvenil, como se quisessem traçar uma longa confissão.
Acercamo-nos da moça, no propósito de auxiliá-la; entretanto, Félix considerou que o desafogo lhe faria bem. Marina, fatigada de insônia e desgastada pela ação dos obsessores que lhe exauriam as forças, sentia medo.
Contemplava o envoltório descarnado de Dona Beatriz, através das lágrimas, refletindo nos segredos da morte e nos problemas da vida...
Se a alma sobrevivia ao corpo – pensava, inquieta –, decerto que a senhora Torres vê-la-ia agora sem o mínimo subterfúgio.
Certificar-se-ia de que ela fora, ali, não a enfermeira espontânea e sim a mulher que lhe dominava o esposo e o filho... Atemorizada, rogava-lhe entendimento, perdão.
Que diria aquela boca silenciosa para ela, se pudesse falar, depois de auscultar a verdade?...
Beatriz, porém, naquele instante conduzida ao refazimento, jazia inacessível às complicações da sociedade terrestre. E, em lugar dela, era o próprio remorso que se lhe alteava na imaginação,
acusando, acusando...
A mágoa da jovem provocava simpatia nos circunstantes e despertava, tanto em Nemésio quanto no filho, novos motivos de

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DIVALDO FRANCO MENSAGEM DE BEZERRA DE MENEZES


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

PENSAMENTO DO DIA


No caráter, na conduta, no estilo, em todas as coisas, a simplicidade é a suprema virtude

Autor: Long Felow

MENSAGEM DIÁRIA


Um ser sereno é aquele que trás em si a leveza e a grandeza de seu próprio ser. É aquele que luta pela paz interior, pelo controle de seus pensamentos, para que flua apenas o amor e a compreensão

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ


CONTINUAÇÃO

Pedi-lhe, em consideração a Cláudio, nos auxiliasse a proteger-lhe a filha, menina recruta na guerra contra o mal, embora seacreditasse suficientemente sabida.
Por que não nos conservarmos à porta, resguardando-a? Um momento talvez chegasse em que passaríamos a rogar-lhe concurso.
Não obstante alegar que nunca se acomodara à alcovitice, que não tinha vocação para capa de malfeitores, aquiesceu e saímos.
Do lado externo, porém, à vista de referir-me à hipnose, no campo afetivo, expendendo considerações ao redor da paciência, que nos toca exercer, junto de todas as pessoas em distúrbios do sexo, ele riu-se abertamente e comentou, galhofeiro, que não me adiantava falar grego, diante de obscenidades que para ele possuíam nomes próprios, e advertiu-me que quando o pai se retirasse viria o filho e que eu perderia a graça e o latim de qualquer jeito.
Efetivamente, quando o chefe da casa se retirou, o rapaz, cansado da vigília noturna, veio em nossa direção e entrou no quarto.
O colega endereçou-me olhar significativo; contudo, antes que se desregrasse na crítica, apareceu alguém com bastante simpatia e piedade para desfocar-nos a mente.
Era o irmão Félix.
Através da expressão, dava-me a perceber que se inteirara de todos os sucessos em curso; no entanto, abriu os braços para Moreira, à feição do pai que reencontra um filho. O amigo, que volvera ao desequilíbrio sentimental, por sua vez, reconheceu-se invadido por eflúvios regenerativos e recordou, sensibilizado, o primeiro encontro em que o benfeitor lhe solicitara colaboração para Marita, e enterneceu-se.
Félix, sem um gesto que lhe exprobrasse a deserção, apelou para ele com absoluta confiança: – Ah! meu amigo, meu amigo!... Nossa Marita!... (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 210) E, ante as indagações do interlocutor, que o tratava como de igual para igual, esclareceu que a menina piorara. Dores agudas lhe mortificavam o corpo. Afligia-se, fatigada. Desde o momento em que ele, Moreira, se afastara, tudo indicava que a pobrezinha entrara em regime de carência. A sofredora criança necessitava dele, esperava por ele, a fim de aliviar-se.
Ante as frases sinceras que o atingiam no fundo, o exassessor de Cláudio acudiu, incontinenti, regressando em nossa companhia para o hospital, onde realmente a moça se estirava em situação lastimável.
Quatro horas haviam escoado, modificando-nos a tela de serviço.
Averiguamos que o pedido de Félix não se alicerçava num artifício piedoso. Escorada por Telmo, que lhe insuflava energias, Marita não lhe assimilava a influência com tanta segurança.
Sem qualquer propósito de censura, é licito registrar que faltava entre eles aquela harmonia necessária às crenas das rodas de engrenagem determinada, num plano de sustentação. Telmo, rico
de forças, apoiando-a, lembrava um sapato novo e precioso em pé doente. Cedendo lugar ao recém-chegado que o rendeu, pronto, verificou-se, de imediato, alguma desopressão. Marita ajustou-se, mecanicamente, aos cuidados que Moreira lhe oferecia. Ainda assim, a peritonite instalava-se, dominante.
Aumentara o mal-estar.
A filha de Aracélia gemia sob a atenção atribulada de Cláudio, que a observava, azorragado de sofrimento íntimo. Entretanto, agora, o ex-vampirizador do Flamengo encontrava enorme diferença. Acicatada pelos padecimentos físicos, Marita não dispunha de facilidades para pensar senão nas próprias dores, contundida, suarenta, amarfanhada... E o martírio corporal que lhe transfundia todos os impulsos, num gemido que não conseguia (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 211) articular, provocava em Moreira, unicamente, simpatia e compaxão.

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DIVALDO FRANCO INCORPORANDO DR. BEZERRA DE MENEZES


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

MOMENTO DE REFLEXÃO


AMOR SEM PREÇO

Havia um garoto que, nos seus quase oito anos, adquirira um hábito nada salutar. Tudo para ele se resumia em dinheiro. Queria saber o preço de tudo o que via. Se não custasse grande coisa, para ele não tinha valor algum.

Nem se apercebia o pequeno que há muitas coisas que dinheiro algum compra. E dentre essas coisas, algumas são as melhores do Mundo.

Certo dia, no café da manhã, ele teve o cuidado de colocar sobre o prato da sua mãe um papelzinho cuidadosamente dobrado. A mãe o abriu e leu:

Mamãe me deve: por levar recados - 3 reais; por tirar o lixo - 2 reais; por varrer o chão - 2 reais; extras - 1 real. Total que mamãe me deve: oito reais.

A mãe espantou-se no primeiro momento. Depois, sorriu, guardou o bilhetinho no bolso do avental e não disse nada.

O garoto foi para a escola e, naturalmente, retornou faminto. Correu para a mesa do almoço.

Sobre o seu prato estava o seu bilhetinho com os oito reais. Os seus olhos faiscaram.

Enfiou depressa o dinheiro no bolso e ficou imaginando o que compraria com aquela recompensa. Mas então, percebeu que havia um outro papel ao lado do seu prato. Igualzinho ao seu e bem dobrado.

Abriu e viu que sua mãe também lhe deixara uma conta.

Filhinho deve à mamãe: por amá-lo - nada. Por cuidar da sua catapora - nada. Pelas roupas, calçados e brinquedos nada. Pelas refeições e pelo lindo quarto - nada. Total que filhinho deve à mamãe - nada.

O menino ficou sentado, lendo e relendo a sua nova conta. Não conseguia dizer nenhuma palavra. Depois se levantou, pegou os oito reais e os colocou na mão de sua mãe.

A partir desse dia, ele passou a ajudar sua mãe por amor.

* * *

Nossos filhos são Espíritos que trazem suas virtudes e suas paixões inferiores de outras existências. Cabe-nos examiná-las para auxiliá-los na consolidação das primeiras e no combate às segundas.

Todo momento é propício e não deve ser desperdiçado.

As ações são sempre mais fortes que as palavras.

Na condução dos nossos filhos, cabe-nos executar a especial tarefa de agir sempre com dignidade e bom senso, o que equivale a dizer, educar-nos.

Com exceção dos filhos extremamente rebeldes, uma boa dose de amor somada à energia, sempre dá bons resultados.

* * *

É no lar que recebemos os primeiros ensinamentos sobre as virtudes.

Na construção do senso moral, dos conceitos de certo e errado são muito importantes os exemplos dados pelos pais.

É no doce mundo familiar que se adquire o hábito da virtude que nos guiará as ações quando sairmos mundo afora.

Redação do Momento Espírita.

PENSAMENTO DO DIA


Se todos que falassem mal de mim soubessem o que eu penso sobre eles, falariam bem melhor... Enquanto eles perdem tempo com isso, eu alcanço meus objetivos

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Ninguém morre tão pobre que não deixe algo

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 52


CONTINUAÇÃO

dispunha de meios para recuperá-la e que o óbito era questão para daí a alguns dias. O facultativo solicitara-lhe atenções especiais para Cláudio, esmagado de angústia. Recomendara-lhe nada dizer
ao marido, quanto à opinião aberta que expunha, parecer que formulava apenas para com ela, ao reconhecê-la mais calma, diante do sofrimento. Que ela, na condição de mãe, se premunisse contra emoções muito fortes, a fim de sustentar a família, no transe que sobreviria, a qualquer momento.
Aquelas elucidações, no silêncio, feriram Moreira nas últimas fibras.
As notícias médicas, assim desdobradas, portavam para ele os efeitos de um tiro.
Não se resignava à idéia de perder Marita, no plano físico.
Ela, inconscientemente, despendia recursos fluídicos que se casavam com os dele, fornecendo-lhe sensações de euforia, robustez.
Retirava dela os estimulantes mentais que lhe vigorizavam a masculinidade, tanto quanto se valia habitualmente de Cláudio, para viver sobre a Terra como qualquer ser humano.
Entre a frustração e a inconformidade, designou Marina com um nome chulo e justificou-se, diante de mim, quanto à determinação de puni-la. Infantilizado, colérico, bradou que nós ambos víamos, juntos, o regozijo com que cismava no infortúnio da outra; que eu não lhe podia negar a frieza de sentimentos; que a minha palavra apoiasse a dele, em momento oportuno; que eu lhe servisse de testemunha.
Marina, porém, continuava meditando, aclarando, qual se aditasse, espontaneamente, impressões marginais ao tema que Moreira lhe propusera.
Amava a Gilberto, sim. Apenas a ele. Descobriria recursos para desvencilhar-se de Torres, pai. Quanto mais corria o tempo, com maior segurança afiançava a si mesma pertencer ao rapaz. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 206)
Anelava desposá-lo, ser-lhe a mulher em casa e mãe de seus filhos...
No entanto, quando o esboço do lar futuro se lhe configurou na imaginação, o meu interlocutor arremeteu-se contra ela e bramiu: – Nunca!... Você nunca será feliz!... Você matou sua irmã... Assassina! assassina!... Agredida sem que me fosse permitido protegê-la, porquanto aminha interferência isolada se fazia desaconselhável, a benefício dela mesma, a jovem experimentou-se invadida de estranho malestar.
Aquelas incriminações percutiam-lhe fundo, qual se alguém lhe varasse o pensamento.
Ofegou em desassossego.
Começou a refletir, acerca de Marita, sob novos aspectos, estabelecendo confrontos. Debalde esgrimia idéias, tentando impugnar o remorso que se lhe infiltrava na consciência. Julgava contraditar-se. Gemia em desconforto. Ignorava-se em luta com uma Inteligência que se lhe mantinha invisível, a pedir-lhe contas do proceder. À medida, porém, que o adversário martelava as censuras, às quais aderia por saber-se culpada, passou a perder posição. Enevoava-se-lhe o raciocínio, mobilizou todas as energias para não desmaiar, temia a loucura... O contendor desafiara a fortaleza, proclamando-lhe as brechas.
A fortaleza resistiria, incólume, se fosse inteiriça; entretanto, as brechas existiam e, por elas, o inimigo lançava petardos de maldição e sarcasmo, gerando a demência e invocando a morte.
Em vão, diligenciei no silêncio, articulando agentes mentais de auxílio para que a vítima se libertasse; contudo, a menina, bastante hábil para movimentar-se, entre os homens, sem comprometer-
se na superfície das circunstâncias, jazia desarmada de (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 207) conhecimento enobrecedor, com que se advertisse, recuando na trilha percorrida para adotar direção diferente.
Marina, à mercê da força que lhe espatifava os recursos psíquicos, sentia-se derrotada... Da impassibilidade ante o desastre ocorrido com a irmã, transferiu-se à opressão, ao temor...
Ao toque do inquisidor que lhe vasculhava a cabeça, começou a imaginar que Marita, em verdade, não intentaria o suicídio, se nela houvesse achado uma companheira honesta e piedosa.
Rememorou a noite em que divisara Gilberto pela primeira vez. O jovem saía de um cinema, em companhia da irmã, amparando-a contra a chuva. Tamanha a doçura daqueles olhos, tão grande o carinho daqueles braços!... Julgou encontrar Nemésio mais moço. Comprometida com Torres, pai, presumia enxergar no filho os atributos de juvenilidade que lhe faltavam... Capricho ou afeição, apaixonara-se pelo rapaz, cortejara-o abertamente. Enlaçara-o com os dotes de inteligência, até acender-lhe na alma entusiasta o anseio de compartilhar-lhe sonhos e emoções. Convidara-o a entretenimentos, agarrara-lhe o coração. Instalara nele a necessidade dela, tornara-o dependente, escravo. Manobrava-o inteiramente, o que a irmã, inexperiente e sincera, não se animara a fazer, conquanto lhes conhecesse, através dele próprio, o compromisso oculto. Ao sabê-lo aprisionado à outra, requintara-se, aliás, nos processos de sedução. Acariciava-o, impunha-se, manietava-o, à maneira da aranha entretecendo o fio veludoso para cativar o inseto que se dispõe a devorar... Perante o libelo do juiz inesperado, perguntava-se pela tranqüilidade própria. Examinando escrupulosamente as atitudes que assumira, verificava, espantada, que lesara a si mesma. O remorso figurou-se-lhe trado invisível a verrumar-lhe o crânio. Lágrimas abundantes lhe subiram do peito aos olhos, lembrando jorros de (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 208) água que a broca somente consegue arrancar, ao subsolo, ao tatear lençóis mais fundos.
O médico, assistido pessoalmente pelo dono da casa, apanhou-a em crise de pranto. Não obstante apreensivo, consolou-a, erguendo-lhe o ânimo. Falou em cansaço. Elogiou-lhe a pontualidade e o devotamento de enfermeira, prescreveu-lhe tranqüilizantes.
Que ela repousasse, que não desamparasse a si mesma.
Marina, porém, não ignorava que a consciência se debatia em pânico, que era inútil qualquer tentame para largar o foro íntimo.
Quando o facultativo se despediu, retomou o choro convulso, diante de Nemésio que, intimidado, trancou a porta e se abicou, junto dela, no intuito de confortá-la e confortar-se.
Constrangido a facear com a cena de ternura, sem fundamentos de afeição recíproca, inquietei-me por Moreira, que zombeteava, lançando frases ultrajantes.
Nemésio rogava à moça tratar-se, refazer-se. Tivesse paciência, que se regozijassem ambos. Nada além de mais alguns poucos dias e estaria em pessoa, no Flamengo, para os derradeiros arranjos do casamento. Contava com ela e queria fazê-la feliz. Encantado, beijava-lhe o rosto molhado, qual se aspirasse a sorver-lhe as lágrimas, enquanto que a jovem, francamente conturbada, lhe arremessava olhares de esguelha, entremeados de compaixão e repulsa.
Convidei Moreira à retirada. Ele, porém, desapiedado, indagou se me falhava a coragem para conhecer Marina, tanto quanto ele, e, porque me inclinasse a defendê-la, acrescentou que não se achava ali na posição de carrasco. Escarninho, recomendou-me não acusá-lo, asseverando que detinha tanta culpa na indisposição da jovem quanto aquela que teria um bisturi na ablação de um tumor.

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DIVALDO FRANCO TRANSMITE MENSAGEM DO DR. BEZERRA DE MENEZES


terça-feira, 23 de agosto de 2011

PENSAMENTO DO DIA


Não se preocupe com a distância entre seus sonhos e a realidade, se você pode sonhá-lo, você pode realizá-lo

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Cuidado com as pessoas: elas nem sempre falam o que pensam e nem sempre pensam o que falam

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ =- PARTE 51


CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO 4

Debaixo da agressão, Marina experimentou irreprimível malestar.
Empalideceu. Sentia-se sufocar. Registrava todos os sintomas de quem recebera pancada forte no crânio. Jogou a cabeça para trás, na poltrona, esforçando-se por esconder a indisposição, mas debalde. Os Torres, pai e filho, perceberam-lhe a vertigem e acorreram, pressurosos.
Nemésio tomou a palavra, atribuindo o desmaio à fadiga de quem se movimentara durante a noite inteira, sem o mínimo descanso no decorrer do dia anterior, ao redor da dona da casa, cujo
corpo se consumia com dolorosa lentidão, ao passo que Gilberto trazia água fresca, antes de telefonar para o médico.
No ambiente espiritual, o impacto não foi menos constrangedor.
Neves fitou-me, irrequieto, como a rogar socorro para não explodir. Conhecia Moreira, de nossa primeira visita ao Flamengo; entretanto ignorava os acontecimentos que nos apoquentavam, desde a antevéspera. Pelo olhar de censura que nos arremessou, concluí que julgava o aposento da filha invadido por malfeitores desencarnados, numa investida sem qualquer significação, incapaz de ajuizar quanto às causas que impeliam o ex-conselheiro de Cláudio àquele gesto de revolta, para o qual arrebanhara colegas infelizes, efetuando um ataque categorizado por ele à conta de
empreitada punitiva e justiceira.
Uma das senhoras desencarnadas, que aguardava o momento de acolher Beatriz, liberta, abordou-me, pedindo providências.
Moreira e os aderentes despejavam ditérios e obscenidades, injuriando a dignidade do recinto, depois de haverem burlado a vigilância mantida em torno da casa. Não formulava o pedido para que se articulasse a contenção deles, a propósito de preconceitos (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 202) humanos. Aceitava os recém-chegados na posição de credores da maior comiseração; no entanto, a senhora Torres estava nas derradeiras orações, em vias de partir. Esmolava tranqüilidade, silêncio.
Em determinadas terapêuticas, não se pode restabelecer a normalidade orgânica senão removendo o centro de infecção e, ali, o pivô da desarmonia era Marina.
Afastada a moça, retirar-se-iam com ela os agentes da desordem.
Abeirei-me da menina carecedora de piedade. Supliquei-lhe saísse. Fosse repousar. Não teimasse ante a solicitação nossa em seu proveito.
Ela obedeceu a contragosto.
Pediu licença aos amigos, a fim de esperar o médico na dependência dos fundos, e acompanhei-a.
O bando, porém, renteou comigo e Moreira interpelou-me.
Queria saber de minha simpatia pela jovem que ele hostilizava.
Indagava, desabrido, se eu não a conhecia suficientemente, se não lhe assistia às bacanais entre pai e filho e por que me interessava de modo tão especial por aquela a que ele chamava bisca, bonita por fora e devassa por dentro.
Ironizando-me a escassa inclinação à conversa, reportou-se, com enérgicas rabecadas, à dama que nos havia rogado a execução de medidas para afastá-lo do quarto, declarando que não era covarde para incomodar moribundos, e perguntou, insolente, por que razão as entidades veneráveis e amigas, que ele apelidava por “aquelas mulheres”, nos compeliam a retirá-lo, quando ali deixavam Marina respirar à vontade, acentuando que, por ser franco e áspero, não se considerava pior.
Crivou-me de objurgações repassadas de fel. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 203)
Desafiando-me, por fim, a enunciar o meu ponto de vista, utilizando palavras que colocavam em jogo a confiança com que me honrava, desde a véspera, arrisquei-me a ponderar que Marina, apesar de tudo, era filha de Cláudio Nogueira e irmã de Marita, aos quais tributávamos ambos calorosa afeição. Qualquer fracasso em prejuízo dela seria desastre para eles. Não me cabia reprovar corrigendas, capazes de lhe fortalecer a vigilância, com manifesta vantagem para ela; no entanto, por amizade aos Nogueiras, não concordaria em que fosse massacrada.
Ele sorriu e obtemperou que as apreciações não eram de todo desprovidas de senso, prometendo que amainaria o desforço, mas não desistiria da correção.
Despachou os cooperadores, recomendando aos quatro lhe aguardassem as ordens no pátio lateral, e acompanhou-nos, segurando-a, descortês.
Indiferente a qualquer idéia de companhia espiritual, Marina penetrou na câmara, encostou a porta e ajeitou-se no leito, cerrando os olhos. Relaxou-se.
Aspirava a dormir, descansar... Mas não conseguiu.
Moreira, insensível, indicando o propósito de arrasar em mim qualquer simpatia pela contadora indefesa, participou-me que ia submetê-la a interrogatório, em torno de Marita, para que eu lhe ouvisse o depoimento inarticulado e avaliasse o caso por mim mesmo.
Suspirei pela obtenção de respostas que enobrecessem o inquérito mental em preparo; contudo, minhas esperanças se desvaneceram no nascedouro.
O indesejável patrocinador de Marita, erguido por si mesmo à condição de juiz, pespegou um pejorativo contundente aos ouvidos da moça e reclamou-lhe a opinião, sobre a irmã hospitalizada. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 204)
Que se manifestasse, que expusesse o seu ponto de vista, quanto àquele suicídio comovedor.
Marina, embora debilitada, conjeturou-se tangida pelos próprios pensamentos a lhe buscarem atenção para a irmã acidentada e, presumindo monologar, deixou que os pensamentos lhe pululassem do cérebro, sem o travão da autocrítica.
Compadecia-se da irmã – parafusava, calculista –, no entanto, confessava-se agradecida ao destino por se ver livre dela. Indiscutivelmente, não teria tido coragem de impeli-la à morte; todavia, se ela própria deliberara desaparecer, cedendo-lhe posição, sentiase aliviada. Gilberto inteirara-a de um telefonema que recebera na noite da antevéspera. Confiara-lhe as impressões. Nada de trote.
Pelo jeito, deduziram que Marita lhe imitara a voz, efetuando sondagem... Convencida de que o rapaz não a desejava, preferira morrer. Gilberto fora claro. Pelos tópicos da conversação pelo fio, dos quais lhe transmitira os mínimos pormenores, Marita investigara-lhe os sentimentos, no intuito de arrancar-lhe uma declaração indireta. Desiludida, optara pela renúncia. Em razão de tudo isso, não lhe cabia perder-se em divagações. Se o jovem Torres a amava, no mesmo grau de carinho com que se lhe entregara, e se a outra resolvera sumir, nenhum motivo para ralar-se. O próprio Gilberto, semanas antes, perguntara-lhe, de estranha maneira, pelas esquisitices da irmã. Julgava-a desequilibrada, neurótica, ao que se lhe referira à paternidade anônima. O filho de Nemésio acreditava em sífilis na cabeça, asseverando que Marita não servia para casar.
Após ligeira pausa no pensamento, como quem apaga uma luz e a reacende, alterando o cenário, a jovem do Flamengo seguiu pensando, memorizando... Telefonara para casa, durante a noite, e a mãezinha informara que Manta ainda não havia morrido; contudo, o médico esclarecera a ela, Dona Márcia, em ligação confidencial, que a Ciência não

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DIVALDO FRANCO BEZERRA DE MENEZES - PARTE 6


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

MOMENTO DE REFLEXÃO



TRISTEZA QUE FERE

O homem chegou em casa, naquela noite, trazendo o mau humor que o caracterizava há alguns meses. Afinal, eram tantos os problemas e as dificuldades, que ele se transformara em um ser amargo, triste, mal humorado.

Colocou a mão na maçaneta da porta e a abriu. A luz acesa na cozinha iluminava fracamente a sala que ele adentrou. Deteve o passo e pôde ouvir a voz do filho de seus quatro anos de idade:

- Mamãe, por que papai está sempre triste?

- Não sei, amor, respondeu a mãe, com paciência. Ele deve estar preocupado com seus negócios.

O homem parou, sem coragem de entrar e continuou ouvindo:

- Que são negócios, mamãe?

- São as lutas da vida, filho.

Houve uma pequena pausa e depois, a voz infantil se fez ouvir outra vez:

- Papai fica alegre nos negócios?

- Fica, sim, respondeu a mãe.

- Mas, então, por que fica triste em casa?

Sensibilizado, o pai de família pôde ouvir a esposa explicar ao pequenino:

- Nas lutas de cada dia, meu filho, seu pai deve sempre demonstrar contentamento. Deve ser alegre para agradar o chefe da repartição e os clientes. É importante para o trabalho dele. Mas, quando ele volta para casa, ele traz muitas preocupações. Se fora de casa, precisa cuidar para não ferir os outros, e mostrar alegria, gentileza, não acontece o mesmo em casa.

- Aqui é o lar, meu filho, onde ele está com o direito de não esconder o seu cansaço, as suas preocupações.

A criança pareceu escutar atenta e depois, suspirando, como se tivesse pensado por longo tempo, desabafou:

- Que pena, hein, mãe? Eu gostaria tanto de ter um pai feliz, ao menos de vez em quando. Gostaria que ele chegasse em casa e me pegasse no colo, brincasse comigo. Sorrisse para mim. Eu gostaria tanto...

Naquele momento, o homem pareceu sentir as pernas bambearem. Um líquido estranho lhe escorreu dos olhos e ele se descobriu chorando.

Meu Deus pensou. Como estou maltratando minha família.

E, ainda emocionado, irrompeu pela cozinha, abriu os braços, correu para o menino, abraçou-o com força e lhe convidou:

- Filho vamos brincar?

Não há quem não tenha problemas, lutas e dificuldades. Compete, no entanto, saber administrá-las de forma a que elas não se tornem um fantasma de tristeza, um motivo de autocompaixão.

Mesmo porque ninguém tem somente coisas ruins em sua vida. Ao lado das lutas constantes, existem sempre as compensações que Deus providencia.

Ter um lar, esposa, filhos, família, pais amorosos é o oásis de paz que a divindade nos concede a fim de que restabeleçamos as forças para o prosseguimento do bom combate.

***

A alegria espalha bênçãos onde se manifeste.

A alegria pura contamina os que estão em volta. Por isso, recuperemos a coragem na arena de combate que a vida diária nos impõe e vitalizemos a alegria.

Quem alimenta tristezas cria para si e para os seus um clima de intranquilidade que gera enfermidade.

Não sejamos semeadores de sombras, antes sejamos como o sol que sorri gentil e tudo ilumina onde se faz presente.

(Do Livro Missionários da Luz - cap. 13)

PENSAMENTO DO DIA


Pode-se viver no mundo uma vida magnífica quando se sabe trabalhar e amar, trabalhar pelo que se ama e amar aquilo em que se trabalha

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Procure ser um homem de valor em vez de procurar ser um homem de sucesso

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 50


CONTINUAÇÃO

com relativa segurança; contudo, estava hemiplégica, nada enxergavae extinguira-se-lhe a fala, de modo irreversível. A princípio,admitiu-se acordando no sepulcro. Ouvira muitas narrações, alusivasa mortos que despertavam no túmulo, lera depoimentosrelacionando sucessos dessa ordem e assistira a vários filmes dehorror. De alma opressa, supunha-se num transe desses, estendidaali no leito que tomava por ataúde, no silêncio de aflições inapeláveis... Forcejava por gritar, reclamando socorro; no entanto, veio-lhe a idéia de haver esquecido o processo de articular as palavras. Sabia-se pensando com a própria cabeça, mas ignorava agora os movimentos coordenadores da voz. Apesar de tudo, reconhecia-se consciente. Sentia, memorizava. Recordou os acontecimentos que lhe haviam inspirado o propósito de morrer. Arrependia-se. Se a vida continuava, para que provocar o fim do corpo? – considerava, desditosa. Lembrou as ocorrências da Lapa, a entrevista com Gilberto pelo telefone de Dona Cora, os comprimidos
de Salomão, o sono à frente do mar, o desconhecido prestes a assaltá-la, a corrida para o asfalto, a queda sob o automóvel em movimento... Depois, aquilo ali... O corpo estatelado que lhe parecia de pedra, a consciência ativa, as percepções aguçadas e a incapacidade de expressão... Intimamente, o esforço desesperado para fazer-se notar; no entanto, sentia-se entalada por gargalheira de chumbo. Irritou-se, debalde. Fremia de impaciência, de espanto, de dor... Mágoa e revolta, petitórios e indagações esmaeciamse-lhe, imanifestos, no âmago do ser. Por mais se empenhasse a chorar, desoprimindo-se, as lágrimas se lhe represavam no peito, sem nenhum canal que lhe extravasasse as agonias. Os olhos, tanto quanto a língua, se lhe figuravam desligados do corpo... Estaria morta – perquiria a jovem num misto de perplexidade e sofrimento –, ou quase a morrer?
Escutou os passos da enfermeira de plantão e registrou a respiração sibilante do pai, sem a possibilidade de identificar-lhes a (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 198) presença e, em vão, tentou pedir explicação para o cheiro nauseante que a cercava.
Transcorridas duas horas de angústia recôndita, que Moreira assinalava com acuidade e precisão, a moça como que se aquietou, mentalmente, e perscrutando-lhe, por minha vez, o campo íntimo, notei que se fixava lamentavelmente em Marina.
O companheiro desencarnado que, até então, se fazia suporte psíquico de Cláudio e que necessitava de base moral para garantir o próprio reequilíbrio, encontrou pasto robusto a nova desorientação.
Descobri o perigo, sem poder conjurá-lo.
Percebendo-se demitido da complacência do amigo que se lhe transformara em joguete, procurava-lhe na filha motivos outros em que se lhe facultasse permanecer atrelado à demência.
De nossa parte, não era possível pressionar a menina acidentada, no sentido de lhe sustar as lamentações. Qualquer dispêndio de energias, além das estritamente necessárias ao seu sustento, poderia precipitar-lhe a desencarnação.
Insciente das complicações que gerava com semelhante procedimento, a filha de Aracélia reconstituiu na imaginação as aperturas da existência. Acusava a irmã por todos os infortúnios.
Exibia-lhe a figura na tela da memória como sendo a inimiga imperdoável... Marina a furtar-lhe as carícias maternas, Marina a surripiar-lhe as oportunidades, Marina a roubar-lhe as afeições.
Marina a subtrair-lhe o eleito dos sonhos juvenis... Não valeram ponderações que lhe endereçávamos, inquietos.
A influência de Moreira, que lhe amimalhava as incriminações, surgia naturalmente muito mais vigorosa para ela, que diligenciava encontrar simpatia e adesão. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 199)
Aquela desventurada menina desconhecia os poderes do pensamento.
Não sabia que, fora da indulgência e da brandura, invocava desagravo e, assim procedendo, não apenas enredava a família em duras provações, mas igualmente punha a perder o valioso trabalho de recuperação daquele amigo necessitado de afeição e
de luz.
O ex-assessor de Cláudio, ao absorver-lhe as confidências mudas, em que relacionava os pesares mais íntimos, dos quais não tivera ele conhecimento, retomava, a pouco e pouco, a brutalidade que, anteriormente, lhe marcava a expressão.
Esvaeciam-se-lhe as melhoras de espírito.
A pretexto de auxiliar a protegida, reavivava os instintos de vingador.
O olhar que se adoçara de compaixão, readquiriu a lividez dos alienados. Sumiram-se todos os indícios de retorno à sensatez e à humanidade que patenteava, desde o momento em que renteara com a moça abatida.
Inútil seria qualquer tentame para reconduzi-lo à serenidade.
Embebendo-se nos queixumes daquela que classificava como sendo para ele a mulher querida, restaurava em si mesmo a selvageria da fera sequiosa de sangue. Respondendo-nos às petições de
calma e tolerância, clamava que não, que não... Ninguém o faria renunciar à guerra pela tranqüilidade daquela que amava; alegava desconhecer, até então, o martírio que a irmã lhe aplicara durante a vida inteira e insistiria no desforço... Ao vê-lo abandonar o serviço a que voluntariamente se impusera, incapaz de refletir nas conseqüências da própria deserção, compreendi que o ex-obsessor convertido em amigo fora assaltado por crise de loucura e inclinei-me a considerar se o irmão Félix não errara solicitando a permanência de Marita no corpo desarticulado, tal a extensão dos males que o ex-vampirizador seria (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 200) capaz de estender, a partir daquela hora; no entanto, reprimi-me... Não! eu não detinha o direito de julgar o companheiro destrambelhado que se afastava de nós, enquanto o sol da manhã se aprumava no céu. O irmão Félix sabia o que fizera e, com certeza, em outro tempo, não me desequilibrara e nem desacertara em ponto menor...
Competia-me simplesmente trabalhar, socorrer.
Transferi nossos encargos às atenções de Arnulfo e Telmo e demandei a residência dos Torres, o único lugar para onde Moreira, a nosso ver, decerto rumaria.
Entrei...
Na casa silente, cochichava-se a medo. Lágrimas no semblante dos servidores humildes.
Dona Beatriz, em coma, esperava a morte.
Neves e outros afeiçoados do mundo espiritual rodeavam o leito. Dedicada enfermeira observava a senhora prestes a mergulhar no grande repouso, diante de Nemésio, Gilberto e Marina, que se acomodavam a pequena distância.
Aturdido, porém, verifiquei que Moreira não se achava ainda aí. A surpresa, entretanto, se desfez para logo, de vez que, transcorridos alguns momentos, o ex-acompanhante de Cláudio, seguido por quatro camaradas truculentos e carrancudos, penetrou, desrespeitosamente, o recinto... E, sem a menor comiseração pela agonizante, acercou-se da filha de Dona Márcia e gritou, encolerizado: – Assassina!... Assassina!...

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DIVALDO FRANCO BEZERRA DE MENEZES - PARTE 5


domingo, 21 de agosto de 2011

MENSAGEM DO DIA


Os velhos sonhos eram bons sonhos, não se realizaram, mas foi bom tê-los

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Nunca diga a Deus que você tem um grande problema. Diga a seu problema que você tem um grande Deus, que tudo fará por você

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 49


CONTINUAÇÃO

as nódoas da alma; entretanto, que a filha vivesse e fosse feliz!... E, se lhe cabia continuar, ainda, no mundo, transportando no peito a angústia daquela hora, que a deixassem mesmo assim, abatida e muda, em seus braços! Teria forças para carregá-la. Serlhe-ia apoio, refúgio!... Que ela ficasse! que se lhe desse oportunidade de transfigurar, junto dela, todos os caprichos de homem rude em manifestações de amor puro... Aconchegá-la-ia, de algum modo, ao coração. Obteria uma cadeira de rodas, conduzi-la-ia a qualquer parte. Acolheria sem reclamar quaisquer obstáculos; entretanto, implorava à Providência Divina poupasse Marita ao gládio da morte para que não faltasse a ele o ensejo de reajuste e reparação!...
Abracei-o, sugerindo-lhe esperança. Que não esmorecesse.
Confiasse. Quem estaria na Terra, sem problemas? Quantos, naquela mesma hora, em outros lugares, se achariam em lutas semelhantes? Aquele volume, que lhe sacudia o pensamento, se mantinha, ali, qual sinal de trânsito, na estrada do destino. Valia interpretar o remorso por marca vermelha, suscitando parada.
Conviria frear o carro dos próprios desejos e pensar, pensar!... Todos atingimos um dia de reconciliação com a própria consciência; que não desertasse da luz que lhe acendiam na marcha. Compreendesse que a lei de Deus não se afirma em condenação, mas sim em justiça e que a justiça de Deus nunca se expressa sem piedade. Que ele meditasse, concluindo que se nós outros, os homens imperfeitos, já conseguíamos adicionar compaixão à justiça, por que motivo Deus, que é o Amor Infinito, haveria de exercê-la, implacável? Ali, transpúnhamos a escuridão da noite... A alvorada não tardaria e, com ela, o sol diurno que chegava sempre novo!... Que levantássemos todos os sentimentos para a renovação que começava!... Moreira, que me avistava enlaçado a ele, endereçou-me ansioso olhar, como a inquirir pelas idéias que eu lhe insuflava. Antes (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 194), porém, que me viesse substituir, cioso do lugar de conselheiro que me permitia ocupar, apelei para Cláudio, inclinando-o a iniciar, ali mesmo, a obra reparadora.
O bancário não vacilou.
Fundamente enternecido, levantou-se, caminhou na direção da cama e ajoelhou-se à cabeceira.
Confessava a si próprio que, pela primeira vez, depois de muito tempo, fitava o semblante da filha, sem que a mais leve tisna de fascinação sexual lhe alterasse os sentimentos.
Tremeu-lhe o coração, atormentado.
Acariciou-a com uma espécie de ternura que jamais experimentara, deixou que as próprias lágrimas lhe orvalhassem o rosto e suplicou, em surdina:
– Perdão, minha filha!... Perdão para seu pai!... A rogativa desfaleceu na garganta que os soluços embargavam... Marita evidentemente não respondeu; no entanto, o afago paternal instilou-lhe energia diferente e tanto Moreira quanto eu próprio registramos, espantados, o gemido que ela desferiu, denotando sinais de retorno a si mesma.
Cláudio, esperançado, desligou-se. O carinho impregnara-se nele de súbito respeito. Intimamente comparou aquele afeto imaculado que lhe nascia ao lírio alvo que desponta num charco.
Outros gemidos repetiram-se imprecisos, dolorosos... O genitor escutava-os, ralado de angústia. Daria o que tivesse para traduzir aqueles vagidos de criança inconsciente... Conjeturou, porém, que eles exprimiam padecimentos físicos inenarráveis e agoniou-se em choro convulsivo. O ex-vampirizador, transfigurado em servo diligente, ergueu-se, presto, e veio abraçá-lo, no intuito de propiciar-lhe reconforto, mas notei que os dois amigos (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 195) jaziam, agora, perto e longe um do outro. Juntos por fora e distantes por dentro. Ombros unidos e pensamentos opostos. Moreira fora atingido pelos acontecimentos, mas não tanto. Patenteava enorme afeição por Marita, lutava por ela, mas, no fundo, não escondia o propósito de seguir controlando Cláudio, no resguardo de seu próprio interesse. Identificando o parceiro tocado no coração pelos sentimentos edificantes que a leitura lhe sugerira, revelava o desapontamento semelhante ao de um pianista que surpreendesse o instrumento favorito com as teclas mudas. Alarmado, desfechou-me perguntas. Sosseguei-o, afirmando que o cérebro de Nogueira se anulava, naquele instante, por arrasadoras comoções; entanto, no íntimo, certificara-me de que ele havia dado um passo adiante e de que o companheiro menos feliz deveria elevar-se no mesmo diapasão para desfrutar-lhe a convivência, se não quisesse perder-lhe a companhia.
A mente do bancário emergia daquelas horas reduzidas de estudo compulsório, sob a tormenta moral, ao jeito de paisagem, quando varrida de terremoto. Nenhuma analogia com o que era antes. Em razão disso, enfadava-se o outro, melindrado, triste.
Mesmo assim, Moreira retomou o trabalho de manutenção da jovem prostrada.
Nisso, porém, chegaram dois auxiliares, Arnulfo e Telmo, que vinham, da parte do irmão Félix, colaborar no auxílio à menina.
Ambos simpáticos, espontâneos.
Apresentei-os ao mantenedor magnético, surpreso, cuja posição espiritual reconheceram, de pronto; contudo, na gentileza característica dos corações generosos, envidaram todos os esforços para não constrangê-lo com qualquer linha divisória de tratamento.
Rodearam-no de otimismo e bondade, qualificando-o na categoria de colega estimável. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 196)
Na antevéspera, aquele irmão, que se avalentoava no Flamengo, não aceitaria tal camaradagem; todavia, Marita ali respirava, entre dois mundos... Fatigada, dispnéica... Por Marita, suportava as alterações, sofreava os impulsos.
A madrugada abeirava-se do dia.
Acercamo-nos de Cláudio.
Indispensável fazê-lo descansar, dormir.
Moreira, com iniludível desgosto a se lhe estampar na fisionomia, observou-nos o cuidado, na administração dos passes balsâmicos, aos quais o paciente aquiesceu sem qualquer contradita.
Aliás é de mencionar-se a sensação de alívio com que Cláudio nos respondeu ao toque sugestivo. Acabava de viver minutos de martírio inominável. Aspirava ao repouso, mendigava esmola de paz.
Todavia, enquanto se lhe relaxavam os nervos tensos à pressão do sono que lhe impúnhamos, brandamente, Moreira a tudo assistia, no crescente desagrado da pessoa que contempla a agitação e a mudança de sua casa, conturbada em serviços de reforma que não pediu. Lançava ondas de azedia e amargura no sorriso amarelo. Tudo para ele surgia deslocado, revirado... Entre o amigo que lhe fugia ao comando e a jovem, cujo corpo físico se decidia a preservar, sentia-se atônito, desenxavido... Compreendendo que não lhe seria lícito incompatibilizar-se conosco, simplesmente à face da assistência que o esposo de Dona Márcia recolhia de nós, aplicou-se com mais veemência às atenções para com a moça, cujos pensamentos mais profundos empenhava-se agora por auscultar. Marita, a seu turno, porque assimilasse mais amplo montante de força, acabou reassumindo o leme dos centros cerebrais, que ainda se lhe mantinham à disposição.
Recuperou a sensibilidade olfativa, percebia, raciocinava e ouvia

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