sábado, 4 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA


A maior insegurança não é ter medo dos outros e sim sentir o medo de nós mesmos

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Corajoso não é aquele que decide suicidar-se para mostrar que tem coragem, mas aquele que opta por viver e enfrentar todos os obstáculos da vida

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A NOVA ATRAÇÃO DE UBERABA - PARTE 3


CONTINUAÇÃO

Aparecida levou as doze pessoas para a própria casa. Na época, a doença era considerada contagiosa. Os vizinhos ficaram apavorados. A família também. Seu marido e os filhos deram o ultimato:
- Ou eles ou nós.
Eles.
Os doentes ficaram na casa quatro dias, até alguém, comovido, alugar um barracão a duas quadras de distância. A temporada no novo endereço durou o mesmo período.
Quatro dias depois, a prefeitura cedeu um pavilhão no Asilo São Vicente de Paulo para os enfermos. Eles poderiam ficar ali durante dez dias até conseguirem novo abrigo. Os dez dias se prolongaram por dez anos e, desde a primeira noite, Aparecida passou a morar com as vítimas do fogo selvagem.
Em 1959, o número de doentes já tinha quadruplicado. Um deles estava louco, descontrolado. Aparecida decidiu pedir socorro a Chico Xavier. Foi até a Comunhão Espírita Cristã com um amigo e o doente e, quando lhe apontaram o espírita, levou um susto. Viu um senhor com a cabeleira branca cortada à la garçon e reconheceu a figura estampada em livros de literatura: era Castro Alves.
Chico ainda colocava no papel um poema assinado pelo morto ilustre, quando Aparecida voltou para casa. O doente estava inquieto demais e não poderia esperar.
Na tarde seguinte, Aparecida teve outra surpresa. Recebeu de um auxiliar de Chico Xavier dois conjuntos de roupas para cada doente: lençóis, fronhas, pijamas, toalhas de rosto e de banho. E ainda ganhou três vestidos e um par de sapatos. Ficou perplexa.
Nem havia conversado com o médium. Na época, cada doente tinha apenas um conjunto de roupas e, após o banho, precisava ficar nu, na cama, enquanto ela lavava e passava as mudas. Sua situação também era precária. Aparecida andava descalça, tinha um único avental. Um detalhe deixou a ex enfermeira ainda mais impressionada: os sapatos eram de número quarenta, um exagero para mulheres e um absurdo em relação a sua baixa estatura.
Como Chico adivinhou?
Na mesma semana, o vidente voltou à cena, desta vez ao vivo e em cores.
Aparecida tentava levantar dinheiro para pagar o óleo de cozinha - tinha gasto doze cruzeiros -, quando recebeu a visita de Chico Xavier. Ele apareceu sozinho e lhe entregou um envelope. Dentro dele, estavam trezentos cruzeiros, quantia suficiente para saldar a dívida e ainda reforçar a despensa. Ela ficou perplexa. Não acreditava em espiritismo.
O trabalho aumentava a cada ano. Em 1960, 187 doentes se amontoavam na enfermaria de Aparecida. Em 1961, o número subiu para 363. O pavilhão do São Vicente de Paulo ficou pequeno demais. A enfermeira pôs na cabeça uma idéia fixa: iria construir um hospital. Um conhecido lhe ofereceu um terreno por 300 mil. Aparecida nem pensou duas vezes. Saiu às ruas, com seus doentes, para pedir ajuda. Muita gente se apressava em lavar e desinfetar o chão por onde eles passavam e, mesmo diante deles, esfregavam com álcool as grades tocadas pelas vítimas do fogo selvagem.
Apesar da resistência geral, Aparecida conseguiu juntar o dinheiro. Comprou o terreno, abriu uma cisterna, cortou árvores e lançou a pedra fundamental. Estava pronta para começar a obra. Nem imaginava, mas tinha caído numa armadilha: comprara os lotes da pessoa errada. Os proprietários eram outros e estavam dispostos a processá-la por invasão de propriedade alheia. Pior: ela não tinha um documento para provar o pagamento do terreno.
Voltou à estaca zero. E pediu socorro a Chico Xavier. Bem relacionado, o espírita a encaminhou a um corretor de imóveis, que negociou a compra com os proprietários de verdade. Tudo sairia por 260 mil cruzeiros.
Mais calma, ela voltou até Chico e comunicou:
- Vou a São Paulo porque, dizem, lá é só estender a mão que o povo dá.
Chico perguntou se ela conhecia a cidade e ouviu a resposta:
- Só sei que fica para lá.
E apontou a direção.
Chico lhe deu um cartão endereçado a um radialista. Aparecida foi à procura dele e tropeçou no dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand. Teve muita sorte.
O empresário colocou à sua disposição suas emissoras de rádio. A campanha beneficente arrecadou 720 mil cruzeiros. Aparecida tomou fôlego e avisou a Chico que iria iniciar as obras. Desta vez, ele foi desanimador.
- Virá muita tempestade, ainda não é o momento. Aguardemos a hora para iniciar a construção.
Aparecida perdeu a paciência. Não iria aguardar hora alguma. Comprou 22 mil tijolos e começou a acumular o material. Na semana seguinte, vizinhos pediram tijolos emprestados. Nunca mais devolveram. A ex enfermeira se lembrou do conselho de Chico e sossegou.
Em janeiro de 1962, Chico apareceu no hospital com a boa notícia:
- Você pode pôr os ovos para chocar, que agora vêm os pintinhos. Não espere pelos poderes públicos, São Paulo é que vai ajudar.
Em 1964, Aparecida voltou à capital paulista para pedir donativos. Com doentes ao redor, ela começou a abordar os transeuntes embaixo do Viaduto do Chá.
Resultado: foi presa por mendigar em nome de entidade fictícia. Ficou atrás das grades oito dias até provar sua honestidade, com atestados e cartas da Prefeitura, Câmara de Vereadores, juiz e delegado de Uberaba.
Ela levantaria o prédio e seria vítima de acusações constantes. Ganhava dinheiro à custa dos doentes. A cada nova sala, os boatos se multiplicavam. Um dia, Aparecida pensou em parar. Ouviu de Chico, já acostumado com a desconfiança geral, uma contra ordem firme:
- Se desistir, vão dizer que roubou o suficiente.
Numa tarde, para estimular a ex enfermeira, ele cometeu uma rara indiscrição: revelou a Aparecida a última encarnação dela. Aparecida tinha sido responsável pela morte de muitos "hereges  " nas fogueiras da inquisição. Na atual temporada, ela resgatava sua dívida. Os doentes também. As vítimas do fogo selvagem, tratadas por ela, tinham obedecido às suas ordens e incendiado os corpos.
Aparecida se aproximou do espiritismo. Numa noite, foi a um centro espírita em São Paulo e sentiu vontade de sair de fininho. Ninguém a conhecia, mas o presidente da sessão chamou até a mesa a dirigente do hospital do fogo selvagem. Queria que ela aplicasse um passe na presidente do centro, vítima de uma paralisia repentina, que a impedia de andar. Aparecida nem se moveu. Nunca tinha dado passe em ninguém. O sujeito devia estar mal informado. No fim da sessão, ele repetiu o convite.
Era o próprio mentor espiritual do centro quem pedia a ajuda de Aparecida.
Ela tomou coragem e se apresentou. Em seguida, subiu três lances de escada para se encontrar com a doente. Todos se concentraram em torno da cama.
Aparecida sentiu algo estranho nas mãos, no corpo, na cabeça. Sentiu medo. Mesmo assim, com suas rezas, realizou um  "milagre  ". A doente se levantou no dia seguinte e se tornou não só amiga de Aparecida como sua companheira em várias campanhas de assistência aos doentes do fogo selvagem. A ex enfermeira mudou. Começou a aplicar passes curadores em seus doentes, com resultados surpreendentes.
O Hospital do Pênfigo viraria Lar da Caridade e, além de vítimas do fogo selvagem, atenderia a "desamparados em geral  ". Aparecida se transformou em mais uma devota de Chico Xavier. Baseou seu tratamento em valores fundamentais para o discípulo de Emmanuel - os doentes deveriam trabalhar e estudar, com disciplina, para ter melhoras -, e passou a reverenciar o aliado:
- Quando Chico vem ao hospital é como se Jesus chegasse.

CONTINUA AMANHÃ

A ILUSÃO DA MATERIA E A FELICIDADE DO ESPÍRITO - JOANA DE ANGELIS

sexta-feira, 3 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Diz uma lenda chinesa que amizades verdadeiras são como árvores de raízes profundas: nenhuma tempestade consegue arrancar

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA



Sempre haverá gente que irá te magoar. Assim, o que tens de fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem confias duas vezes
 

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A NOVA ATRAÇÃO DE UBERABA - PARTE 2

CONTINUAÇÃO

Suas idas à igreja estavam cada vez mais escassas. Conversou com Chico Xavier sobre o projeto e ficou decepcionada. Ele pediu calma. A idéia era prematura. Olina ainda precisava levar bons sustos.
Numa noite, sua amiga, Joventina, deu à luz uma menina. Chico foi até sua casa para uma visita e lhe ofereceu uma surpresa, um presente de Sheilla. Quando ele pronunciou o nome da enfermeira morta na Segunda Guerra, o quarto se encheu de perfume.
Olina procurou o frasco de onde vinha o aroma e não encontrou. Chico não se moveu. Segurava as mãos de Joventina, deitada na cama.
Após deixar no ar o seu presente, Chico foi até a casa de Maria Olina. No caminho, passou por duas fogueiras de São João próximas à igreja e comentou:
- Que coisa mais linda aquele povo em volta do fogo. Está tão feliz junto com os nossos apóstolos.
Maria Olina ficou feliz da vida. A mistura de espiritismo com catolicismo soava muito bem.
Já em casa, a anfitriã apresentou sua mãe ao visitante ilustre. Chico grudou os olhos naquela senhora humilde e ficou calado o tempo todo, distante e atento ao mesmo tempo. Olina voltou ao assunto: queria ensinar o Evangelho em sua casa. Chico concordou, mas fez uma ressalva: o curso deveria acontecer no barracão onde a mãe dela morava, no quintal, e não onde eles estavam.
Olina bateu o pé. Chico Xavier bateu o martelo:
- Você não sabe o que tem aqui.
A futura professora de Evangelho nem quis saber. Concordou.
Durante seis meses, espíritas da Comunhão Espírita Cristã ajudaram Olina, analfabeta, a ensinar as lições de Kardec aos pobres da vizinhança. Ela ainda se esforçava para aprender a doutrina, quando sua mãe morreu. O velório seria às 13h30. Dez minutos antes, Chico chegou sozinho, aproximou-se da cama onde o corpo da morta estava, rezou e disse:
- Sua mãe foi direto.
- Direto como?
Olina ainda tateava naquele mundo estranho. Chico precisou entrar em detalhes, O espírito de sua mãe tinha subido aos céus sem sofrer qualquer resistência. Ao contrário de muitos outros, não ficou preso à Terra, sem se conformar ou sem acreditar na própria morte.
Olina ficou impressionada.
Chico deu outra notícia a ela. Sua mãe, antes de ir, pediu para ter o corpo velado sobre a mesa onde se realizavam as sessões espíritas. Olina concordou. Chico enrolou um lençol em volta do cadáver, segurou uma das pontas do pano e, com a ajuda do marido de Olina, levou a morta para o barracão no quintal. Em seguida, abriu o Evangelho, se sentou no banco de madeira comprido, ao lado do corpo, e iniciou a leitura.
Olina ficou a seu lado.
Enquanto lia, Chico se afastava em direção à outra extremidade. A cada página, ele ficava mais distante de onde tinha se sentado. Olina o acompanhava. No final, Chico e sua companheira já estavam de pé, do outro lado. O banco ficou para os espíritos.
Chico se despediu às 15h, deu um beijo na testa de Olina e disse:
- Não precisa se preocupar com nada. Meus amigos vêm fazer companhia a você.
O parceiro de Waldo Vieira estava cada vez mais seguro. Firme, ele tomava decisões, defendia suas idéias, exigia disciplina de seus auxiliares. Estava cada dia mais parecido com Emmanuel. Não sentia mais tanta necessidade de atribuir ao seu guia a responsabilidade pelos próprios atos. Já era capaz de dizer:
- Posso ser uma besta espírita, pois transporto os textos dos benfeitores espirituais, mas não sou um espírita besta.
Chico era respeitado e obedecido. Naquela noite, quatro de seus amigos chegaram à casa de Olina com pães, roscas, leite e café. Ficaram em volta do corpo da mãe de Olina, lendo o Evangelho, madrugada adentro. Na tarde seguinte, voltaram com um carro e, ao lado de outros companheiros, levaram o corpo até o cemitério.
Chico não apareceu.
Olina foi até ele, um dia depois, na Comunhão Espírita Cristã.
Chico a convidou a tomar parte na mesa. Era uma honra. Ficou ali, ao lado do espírita mais importante do país, durante três anos.
Três meses após o enterro da mãe de Olina, Chico Xavier anunciou a decisão para a ex beata:
- Vamos inaugurar um centro em sua casa.
No dia 21 de agosto de 1960, ele comandou a festa de inauguração da Casa de Sheilla. Olina ficou entusiasmada. As garrafas com água, colocadas sobre a mesa para concentrar energias espirituais, assumiam consistência leitosa e fervilhavam. O perfume se espalhava por todos os cômodos vindo não se sabe de onde. Chico anunciou em discurso, após colocar no papel um texto assinado por Emmanuel e outro por Sheilla:  "Lá, na Comunhão Espírita Cristã, está a cabeça, Emmanuel. Aqui, está o coração, Sheilla  ".
Foi um inferno. A vida de Maria Olina mudou e, nas primeiras semanas, piorou. A nova espírita da praça passou a ser surpreendida por um fantasma, todas as noites, quando iniciava as rezas antes de dormir. O visitante do além passava um pano áspero sobre o seu rosto e dizia:
- Isto aqui é o resto da mortalha.
Ela via o vulto, escutava a voz e gritava. Seu marido, sempre tão paciente com as noitadas espíritas da mulher, começou a perder a calma.
- Você está ficando maluca - dizia ele.
Olina dizia o mesmo para Chico. Tinha medo de enlouquecer.
Chico ria e, com jeito de Emmanuel, afirmava, nada consolador:
- Isto é só o começo.
Não estava exagerando.
Um coro de vozes sem rosto começou a cercar Maria Olina.
As assombrações exigiam a presença dela em cidades vizinhas, onde doentes estariam à sua espera. Chico deu nova orientação:
- Quando mandarem você ir a algum lugar, diga para eles virem para cá. Daqui você não sai.
Olina seguiu o conselho e, de repente, sua casa ficou repleta de gente. Em 1960, o centro virou albergue noturno e passou a abrigar hóspedes pobres das cidades vizinhas, sem dinheiro para comer, morar ou se tratar. Naquele ano, ela ajudou nada menos que 82 pessoas. No início, pensou em pedir doações para atender aos necessitados, mas Chico tirou a idéia de sua cabeça. As ajudas viriam espontaneamente. Ela não deveria fazer campanhas. Sem saber como, Olina saía às ruas, às vezes desesperada sem ter o que dar de almoço para seus hóspedes, e voltava com frutas, legumes, pães doados pelos vizinhos pobres.
Era mesmo só o começo.
No dia 20 de março de 1961, o albergue começou a se transformar em ambulatório. Com a ajuda do médico Waldo Vieira, de seu colega Eurípedes Tahan Vieira e de Chico Xavier, e com a   "supervisão espiritual  " da enfermeira do outro mundo, Sheilla, ela abriu as portas de seu barracão aos queimados. O mau cheiro tomou conta do local.
As vítimas de queimaduras, muitas delas de terceiro grau, todas pobres, eram acomodadas no chão pelos cômodos. Água boricada e água oxigenada se espalhavam pelas prateleiras.
Olina ouvia a voz da enfermeira alemã, seguia instruções vindas do nada e, mesmo sem saber ler, encontrava no escuro o remédio capaz de atenuar a dor dos pacientes. Com os olhos arregalados, um tanto em pânico, ela varava as noites ao lado dos moribundos e rezava para nenhum deles morrer. Cometia heresias como tratar das feridas com água, desobedecia recomendações médicas quando elas demoravam a surtir efeito, e conseguia resultados animadores.
No primeiro ano, atendeu a dezoito casos, alguns deles perdidos. Uma das vítimas tinha ateado fogo ao próprio corpo com álcool. Olina examinou os ossos expostos, a pele macilenta, e escutou a voz de Sheilla:
- Lave só com água fluidificada.
Após quatro enxaguadas, o corpo começou a cicatrizar. Olina escutava as gargalhadas de sua guia. Nunca viu seu rosto. Em doze anos, atendeu a quase mil pacientes.
Apenas trinta morreram. Olina chorava e cuidava do enterro.
De um dia para o outro, tudo acabou, sem explicações. O perfume de Sheilla desapareceu, sua risada também, a enfermaria foi desativada cinco anos depois.
Olina contratou uma professora particular e estudou até o segundo ano primário. O centro continuou no mesmo lugar, sempre aberto, com passes e divulgação do Evangelho, sessões de desobsessão às sextas, ciclo de estudos às terças e sopa para todo mundo aos sábados.
Olina nunca perguntou a Chico Xavier por que Sheilla desaparecera. Quase vinte anos após o sumiço de sua "orientadora ", ela entrou na fila no centro de Chico Xavier para receber seus passes e ele se negou a atendê-la. Com um riso no rosto disse:
- Epa, esta aí é a Sheilla.
Um leve perfume ficou no ar.
Chico Xavier também mudou a vida de Aparecida Conceição Ferreira, uma enfermeira do Setor de Isolamento da Santa Casa de Misericórdia. Especializada no tratamento de doença contagiosa, ela deu os primeiros passos em direção ao desconhecido antes mesmo de conhecer o fenômeno de Pedro Leopoldo. No dia 8 de outubro de 1958, Aparecida abandonou o emprego para acompanhar doze vítimas de pênfigo foliáceo, o fogo selvagem.
Com os corpos cobertos de bolhas, muitas delas transformadas em crostas, elas receberam alta do hospital sem qualquer perspectiva de cura. A direção considerou o tratamento longo e caro demais.
A enfermeira, inconformada, pediu demissão e saiu pelas ruas da cidade em busca de abrigo para as vítimas da doença inexplicável. Febris, algumas com os pés descalços, elas deixaram um rastro de sangue pelas calçadas e terminaram a via crúcis sem ter onde ficar. As pessoas apenas olhavam para o grupo e aceleravam os passos, sem conseguir disfarçar o nojo.

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A GRANDE TRANSIÇÃO - MENSAGEM DE JOANA DE ANGELIS

quinta-feira, 2 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Eu sou um adepto convicto do otimismo, porque se você não tem otimismo, o que resta?

Autor: Saun Gorn

MENSAGEM DIÁRIA

Se você quer transformar o mundo, experimente primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no seu próprio interior

Autor: Dalai Lama

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A NOVA ATRAÇÃO DE UBERABA - PARTE 1

A NOVA ATRAÇÃO DE UBERABA

Chico Xavier se refugiou no meio do mato a oito quilômetros do centro de Uberaba. Sua casa, que dividia com Waldo Vieira, era um barraco. Quarto, sala, cozinha, banheiro, chão de cimento, paredes sem pintura. Nenhum ônibus passava por ali.
Quem quisesse chegar até o porta voz dos mortos no Brasil precisava atravessar o matagal, driblar bois e vacas, pular cercas de arame farpado. Sem telefone, com os parentes a seiscentos quilômetros de distância, livre de Rômulo Joviano e do padre Sinfrônio, às vésperas da aposentadoria, Chico experimentava a privacidade e tomava fôlego para recomeçar. Precisava chegar ao centésimo livro. Agora, pelo menos, já tinha um parceiro.
No dia seguinte à sua chegada, ele abriu a porta aos primeiros visitantes. Sete amigos participaram da primeira sessão espírita comandada por Chico Xavier no novo endereço. Na noite de 5 de janeiro de 1959, todos se sentaram em volta da mesa, na cozinha. Os bancos eram tábuas equilibradas sobre pilhas de tijolos. Dois tamboretes velhos compunham a decoração. O anfitrião colocou no papel, após a leitura do Evangelho, um recado assinado por Emmanuel:
- "Se tiveres amor, relevarás toda ofensa com que martirizem as horas..."
A notícia da chegada de Chico Xavier começou a se espalhar pela cidade. E chegou até os ouvidos de uma católica fervorosa chamada Maria Olina. Aos quarenta anos, analfabeta, ela ia à missa todo santo dia, de manhã e de tarde, e emprestava seus ombros para a imagem de Santa Teresinha nas procissões. Um de seus orgulhos era ter ajudado na construção da igreja dos capuchinhos, dois anos antes. Muitos tijolos foram comprados graças aos leitões e galinhas criados por ela e leiloados nas quermesses.
Sua vida estava prestes a mudar.
Uma vizinha, Joventina Lourenço, entrou em sua casa com um brilho estranho nos olhos e uma idéia pouco católica na cabeça. Queria companhia para visitar o tal espírita de Pedro Leopoldo. Ele era um fenômeno, falava com os mortos, curava doentes, adivinhava pensamentos. Maria Olina, curiosa, fez o sinal da cruz e cedeu à tentação do desconhecido. Na mesma tarde, ela e a amiga pularam as cercas e correram das vacas para chegar à ponte para o  "outro mundo ".
Chico Xavier recebeu as visitantes com abraços, sorrisos, café e bom humor.
Livre, às vésperas de completar cinqüenta anos, ele se revelava um contador de "causos " inspirado. Eça de Queiroz aprovaria. Olina, no início desconfiada, terminou a noitada às quatro horas da manhã, exausta de tanto rir. As histórias se sucediam e as gargalhadas também. Waldo Vieira, mais sério, preferia o silêncio e certa distância.
Seu companheiro, de pé na cozinha miúda, roubava a cena e ressuscitava a juventude na cidade natal. Chegava até a cantar para imitar uma vizinha de trinta anos antes, a Raimunda, apelidada de Buduca. A moça enchia o peito e soltava a voz no embalo de marchas de carnaval. Numa tarde, Chico sentiu dificuldades para pôr no papel os textos do além e, com muito cuidado, pediu à cantora que baixasse um pouco o volume porque precisava enviar para o Rio, com urgência, algumas orientações.
Buduca, um tanto envergonhada, pediu desculpas e concordou. Mas não resistiu. Quando Chico entrou no quarto, ouviu a nova letra inventada pela vizinha para um hit carnavalesco da época.
Era só o que faltava
Você me fazer calar
Para ouvir os seus demônios
Pra poder se concentrar.
O show continuava, O repertório parecia interminável. Chico Xavier contava, às gargalhadas, a história de um homem fanático pelo espiritismo. Ele cultivava um hábito bastante comum entre os espíritas: o de buscar respostas para qualquer problema em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Ele fechava os olhos, abria o livro ao acaso e, com a ajuda do "outro mundo ", esperava encontrar na página aberta uma solução para suas dúvidas. Um dia, o devoto estava em sua chácara, de pernas para o ar, refestelado numa rede, quando o céu escureceu. Uma tempestade varreu o sítio e um raio atingiu em cheio um gato a poucos metros dele. Ainda trêmulo, o sobrevivente correu para O Evangelho Segundo o Espiritismo e, com o coração aos pulos, buscou a mensagem. Encontrou:  "Se fosse um homem de bem teria morrido..."
Chico ria das superstições alheias e também falava sério. De história em história, ele envolvia as visitas, dava o seu recado. Olina estava quase conquistada. Mas ainda achava estranha a idéia de os mortos voltarem a Terra. Quando sua amiga se levantou para rezar, beber a água fluidificada e receber os passes, ela continuou sentada. Waldo leu o Evangelho, pediu licença e foi dormir. Chico ficou na cozinha com os olhos e boca bem abertos. Ainda tinha muita história para contar. Como a da lagarta, que sempre dizia:
- Esqueçam esta ilusão de que nós podemos voar. Isto é tudo mentira. Um dia, ela virou borboleta e saiu por aí batendo asas.
- E os pássaros, coitados? Eram as criaturas mais infelizes do mundo quando Deus criou a Terra. Moravam no chão e bastava uma chuva para suas asas ficarem ensopadas e eles, pesados, serem devorados por outros animais.
- A situação era insustentável. Eles se organizaram, formaram uma comissão, estufaram as penas e decidiram pedir socorro ao Todo poderoso. Deus foi pego de surpresa:
- Vocês foram as únicas criaturas às quais dei o céu. Por que não usam o dispositivo esculpido em seus corpos?
- Que dispositivo? - perguntou um dos defensores da categoria.
- As asas.
De imediato, Deus ensinou os interlocutores a abrir o par de asas, tão "incoveniente " nas chuvas, e eles saíram voando felizes da vida.
Olina se sentiu nas nuvens. Perdeu a noção do tempo, se esqueceu dos filhos, nem se lembrou da missa na manhã seguinte. Eram 4h30 quando o padeiro estacionou sua Kombi velha em frente à casa de Chico e buzinou. O anfitrião pediu carona para suas novas amigas. Misturadas aos pães, Maria Olina e Joventina fizeram a viagem de volta, O carro parava de casa em casa e elas nem resmungavam. A noitada valeu a pena. Só as 7h30, suja de farinha de trigo, Olina entrou em seu barracão. O marido já tinha ido para o curtume onde trabalhava, os filhos já estavam no colégio. Seus olhos exibiam um brilho estranho enquanto ela lavava a louça do café da manhã.
Minha vida era ficar namorando o Chico - ainda se lembraria, 34 anos depois, com a voz embargada.
Aquela foi a primeira de uma série de noites inusitadas. Às segundas, quartas e sextas, Maria Olina e sua amiga pulavam as cercas até a casa de Chico Xavier e Waldo Vieira. Às terças, quintas, sábados e domingos, ela engolia hóstias e se confessava na igreja. A vida dupla duraria pouco tempo. Logo, o dia a dia da beata viraria de cabeça para baixo.
Às terças e quintas-feiras, Chico e Waldo calavam a boca, fechavam as portas de casa e se dedicavam a um novo livro assinado por André Luiz, o primeiro da nova série de quarenta necessários para atingir o centésimo título. Os capítulos ímpares eram escritos por Waldo, os pares, por Chico. O texto tentava traduzir, de forma científica, os "mecanismos da mediunidade ".
A primeira frase dava o tom:   A Terra é um magneto de gigantescas proporções, constituída de forças atômicas condicionadas e cercado por essas mesmas forças em combinações multiformes.
Olina se benzeria se visse Chico espalhar frases como essa no papel.
O presidente da Federação Espírita Brasileira, Wantuil de Freitas, ficou preocupado com aquele palavrório todo. Era científico demais. Esperava um livro mais acessível do autor de Nosso Lar. Eles tinham que se aproximar da população e não se afastar dela. Chico também estranhava aqueles parágrafos. Nunca conseguiria entender direito Evolução em Dois Mundos e Mecanismos da Mediunidade. Vinte anos depois, algumas das idéias mirabolantes assinadas por André Luiz em Uberaba seriam confirmadas por físicos estrangeiros. Uma delas "a matéria é luz coagulada " seria respaldada por dois cientistas americanos, Jack Sarfatti e David Bohm, em um livro intitulado Space Time and Beyond. Eles garantiriam: "A matéria é luz capturada gravitacionalmente ".
Chico Xavier trabalhava e os boatos proliferavam à distância. Alguns espíritas espalharam a notícia de que o novo morador de Uberaba iria se internar num sanatório espírita. Ele estaria esgotado. O companheiro de Waldo Vieira tratou de desmentir os rumores em carta a Wantuil: "Se isso acontecer, podes estar certo de que estarei me sentindo extremamente mal de saúde e com perspectiva de desencarnação ".
Chico tinha medo. Acreditava que pessoas tinham sido pagas para atribuir a ele falsas declarações contra o espiritismo no momento de sua morte. Seu medo de cair numa armadilha preparada por adversários era tanto que ele já tinha pedido a Waldo e a outros companheiros para ser internado em instituição espírita de confiança se adoecesse. Precisava ficar a salvo de um complô silencioso armado contra ele...
No dia 18 de abril de 1959, Chico e Waldo Vieira inauguravam, ao lado da casa deles, a Comunhão Espírita Cristã. Nenhum deles assumiu a presidência do centro. Precisavam escrever. Dalva Rodrigues Borges, uma espírita de Uberaba, assumiu o comando. A programação do novo centro era intensa: reuniões públicas às segundas, sextas e sábados, sessões de desobsessão privadas às quartas-feiras, sopas para os pobres todas as tardes, peregrinações pelos bairros da periferia aos sábados, além de cursos sobre o Evangelho.
Na varanda da casa eram servidas as refeições aos pobres, cerca de duzentas todos os dias. Na sala ampla eram realizadas as sessões. Uma mesa cercada de cadeiras servia aos médiuns. Diante dela, ficavam os bancos destinados aos espectadores.
À esquerda, uma saleta era usada para os passes e, à direita, títulos espíritas se amontoavam em prateleiras numa livraria modesta.
Maria Olina acompanhou a construção do novo centro e sentiu vontade de promover, em sua casa, um curso sobre o Evangelho Segundo o Espiritismo.

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DIVALDO FRANCO - JOANA DE ANGELIS - PARTE 6

quarta-feira, 1 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA


Porque havemos de ser sempre inimigos uns dos outros, uma vez que olhamos todos para as mesmas estrelas, habitamos transitoriamente o mesmo planeta e respiramos sob o mesmo céu

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

A felicidade é qualquer coisa que depende mais de nós mesmos do que das contingências e das eventualidades da vida

Autor: Júlio Dantas

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - - CHUVA DE PÉTALAS - PARTE 4

CONTINUAÇÃO

Estou apavorado como todo mundo. Estou com medo de morrer como qualquer ser humano.
O guia perdeu a paciência:
- Está bem. Então, cale a boca para não afligir a cabeça dos outros com seus gritos. Morra com fé em Deus, morra com educação.
Quando Emmanuel virou as costas, Chico ainda resmungava:
- Quero saber como alguém pode morrer com educação.
E continuou a gritar.
Chico Xavier estava estressado. Escrevia compulsivamente para chegar ao centésimo livro, fazia caridade, atendia aos "obsediados ", percorria bairros pobres de Pedro Leopoldo para distribuir alimentos e ler o Evangelho, consolava os desesperados.
Mas continuava desconsolado.
O clima tenso, em Pedro Leopoldo, atingiu o clímax quando uma senhora bem vestida, de Belo Horizonte, se aproximou dele e lhe ofereceu veneno:
- Vim aqui te ajudar a se suicidar.
Chico dispensou o presente:
- Quero viver até o fim.
A mulher insistiu:
- É melhor você se suicidar. Você fica em paz e dá paz ao nosso Centro.
Chico encerrou o assunto com um "não " redondo. Estava convencido: já era hora de virar mais um capítulo de sua história.
Sua família andava nervosa. Lucília, a irmã com quem ele morava, estava cansada de tanto entra e sai, tanta campainha, tanto telefone. O marido dela, Pacheco, era católico e não entendia tanto movimento, não suportava a invasão diária de sua privacidade. Um dia, a irmã perguntou:
- Você sai ou nós saímos?
Chico aproveitou a deixa e saiu. Estava cansado. Todas as irmãs já estavam casadas, ele já não precisava mais tomar conta de ninguém. Já era hora de poupar a família, de poupar a si mesmo.
No dia 18 de dezembro, assinou apenas a entrada no livro de ponto da Fazenda Modelo. Uma observação na margem direita esclarecia: "O escrevente datilógrafo Francisco de Paula Cândido foi designado pelo ato 1614 para trabalhar em Uberaba ". Isso mesmo: Francisco de Paula Cândido. Este é seu nome de batismo. Uma homenagem da família católica ao santo do dia de seu nascimento, 2 de abril, São Francisco de Paula.
Quando rompeu com o catolicismo e escreveu os primeiros textos espíritas, ele adotou o sobrenome paterno.
Poucos amigos conheciam a dupla identidade do autor de Parnaso de Além-Túmulo. Era Francisco de Paula Cândido quem escrevia os relatórios para Rômulo Joviano. Ele mesmo buscaria todo mês no banco a sua aposentadoria, assinada por Juscelino Kubitscheck. O próprio Presidente da República, aliás, pediu a assessores para apressar a papelada do escriturário nível 8 da Fazenda Modelo, de Pedro Leopoldo. Queria atender ao médium antes de sair do poder.
No meio da noite de 4 de janeiro de 1959, Chico Xavier bateu a porta de casa e sumiu. Sobre a cama, ainda estendido no cabide, ficou um terno de linho branco.
Na sala, restaram a vitrola, discos de Beethoven, Bach, Noel Rosa e um retrato a óleo de Emmanuel. No escritório, sua mesa tosca, quatro cadeiras, um baú repleto de papéis e os quase quatrocentos volumes de sua biblioteca. Entre dezenas de títulos espíritas, A Divina Comédia, o Leilo Universal e exemplares de Seleções e Almanaque Bertrand.
Não se despediu de ninguém. Com a roupa do corpo, tomou o rumo de Uberaba. Levou apenas o velho caderno de endereços e telefones. Iria morar com Waldo Vieira.
Deixou para trás uma cidade perplexa e minguante. Geraldo Leão, o garoto curado por ele da paralisia facial, guardou os três lápis usados pelo filho mais pródigo e famoso da cidade em sua última sessão no Centro Luiz Gonzaga. Um tinha a marca da Casa Garçon, outro vinha com o símbolo da lâmpada Astra Super e o terceiro divulgava a campanha "Crianças brasileiras, vamos estudar ". Mais de trinta anos depois, ele exibiria as relíquias aos poucos turistas da cidade. Os quatro hotéis e pensões dos tempos do médium se reduziram a uma reles pensão. O Cine Central, onde Chico costumava ir aos domingos pagar ingressos para a criançada pobre, deixaria de existir.
Nas mesas do Bar Central, na esquina da rua onde Chico Xavier morou durante 49 anos e escreveu sessenta livros, o filho de João Cândido Xavier ainda gerava polêmica 34 anos após sua mudança. Um ex charreteiro da Fazenda Modelo, José Porfírio Costa Lima, contava, de olhos arregalados, a frase dita por um espírito em um centro de umbanda:
- A cidade vai pagar caro por ter deixado Chico Xavier ir embora.
Após encarar a praça vazia e mal iluminada, garantia, perplexo:
- Pedro Leopoldo está amaldiçoada.
Em pleno 1993, os motivos do sumiço repentino de Chico ainda esquentavam as conversas entre um café e outro. Alguns acusavam o padre Sinfrônio. Muitos jogavam a culpa na família dele, "exploradora demais ". Outros lembravam do escândalo provocado por Amauri Pena. Alguns se culpavam. Podiam ter tratado o conterrâneo melhor, com mais respeito. O santo da casa não fez milagre...
A razão alegada pelo próprio Chico Xavier nem era levada em consideração.
Chico jogou a culpa pela mudança em uma labirintite, iniciada naquele ano.
Incomodado por barulhos no ouvido e por fortes dores de cabeça, ele teria seguido conselho dos médicos e dos benfeitores espirituais para procurar um clima temperado. Pedro Leopoldo era fria demais.
Chico foi mesmo em busca de um clima menos frio, mas não no sentido meteorológico da expressão. Aos amigos mais íntimos, ele daria uma outra explicação. Uberaba, então com dezessete centros kardecistas, estaria mais protegida espiritualmente.
Deitada em sua cama, paralítica, Nair Tarabau Pinto, colega de escola de Chico Xavier, deixaria nas páginas de um caderno puído uma declaração de amor ao ex companheiro:
- "Chico, você é o amigo de infância que não posso esquecer por mais que a vida dure. Às vezes, pergunto a mim mesma: quem é este homem? Um gênio, um predestinado? Ou um precursor?"
Chico já estava longe.

CONTINUA AMANHÃ

DIVALDO FRANCO - JOANA DE ANGELIS - PARTE 5

terça-feira, 31 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Aprenda com os erros alheios. Você não conseguiria viver tempo suficiente para cometê-los todos sozinho. Aproveite bem o tempo. Já é bem mais tarde do que pensas

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios... Por isso, cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento de sua vida, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos..

Autor: Charles Chaplin

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - - CHUVA DE PÉTALAS - PARTE 3

CONTINUAÇÃO

O jornal O Globo estampou em manchete, com direito a ponto de exclamação, na primeira página de sua edição de 16 de julho: "Desmascarado Chico Xavier pelo sobrinho e auxiliar ! "
O texto, curto, era taxativo:
Depois de se submeter ao papel de mistificador durante anos, o jovem Amauri Pena, sobrinho de Chico Xavier, resolveu, por uma questão de consciência, revelar toda a verdade! Chico Xavier era, desde muito cedo, um devorador de livros.
A velha polêmica parecia à beira da ressurreição. Para piorar a situação, o Jornal do Brasil se dedicava a estampar na primeira página milagres da Igreja Católica.
Amauri colocava o espiritismo em xeque e o JB transformava em manchete a notícia da cura de uma menina, Ana Luísa que, ao ouvir pelo rádio informações sobre a agonia de Pio XII, fechou os olhos e pediu:
- Papa, lembre-se de mim, antes de morrer.
Tuberculosa, de acordo com a última radiografia, ela ficou curada em instantes.
O jornal Diário da Tarde decidiu apurar melhor a confissão do sobrinho de Chico Xavier e mandou um repórter a Sabará para entrevistar Amauri. O rapaz estava em Belo Horizonte, O delegado Agostinho Couto recebeu o jornalista e deu a folha corrida do "confessor " Alcoólatra inveterado,  "um desordeiro  ", ele já tinha sido apanhado tentando roubar uma casa e fora expulso da cidade várias vezes pelo policial. O pai de Amauri, Jaci Pena, confirmou as acusações:
- Meu filho é um doente da alma. Todo mundo sabe disso. É dado a bebidas. Ontem mesmo eu o apanhei caído no jardim no maior pileque. Chico conhece Amauri. As declarações dele não alteram nada.
Só faltava entrevistar o outro envolvido na polêmica: Chico Xavier. No dia 29 de julho, o repórter do Diário de Minas, responsável pelo furo jornalístico, conversou com o tio de Amauri Pena. Chico, na época bastante magoado, disfarçou a tristeza e exibiu seu talento para medir palavras. O discurso seguiu à risca o regulamento cristão.
Para começar, Chico negou, com humildade, que Amauri Pena fosse seu auxiliar:
- Meu sobrinho, até agora, não freqüentou reuniões espíritas ao meu lado, mas posso acrescentar que ele tem estado num grupo de espíritas muito responsáveis em Belo Horizonte, junto dos quais sempre recebeu orientação com muito mais segurança que junto a mim.
Em seguida, perdoou o autor da denúncia:
- Meu sobrinho é muito moço e, pelo que observo, é portador de um idealismo ardente, em sua sinceridade para consigo mesmo. De minha parte, peço a Jesus, com muita sinceridade, para que ele seja muito feliz no caminho que escolher.
Para encerrar, deu exemplo de respeito às crenças ou descrenças alheias:
- Não recebi as palavras dele como acusação nem desafio. Tenho a felicidade de possuir muitos amigos que, em matéria religiosa, não pensam pela minha mesma convicção.
Na despedida, ainda escreveu um bilhete para ser publicado no jornal do dia seguinte:
- Se algo posso falar ou pedir, nesta hora, rogo a todos os corações caridosos uma oração a Nossa Mãe Santíssima em meu favor, a fim de que eu possa se for a vontade da Divina Providência continuar cumprindo honestamente o meu dever de médium espírita sem julgar ou ferir quem quer que seja.
A calma era aparente. Em uma carta a Wantuil de Freitas, no dia 10 de dezembro, ele fez referência a um "familiar deliberadamente vendido aos adversários implacáveis de nossa causa ". E, mais uma vez, destacou Waldo Vieira como alguém capaz de livra-lo dos perigos que rondam a tarefa.
A polêmica acabou ali. Amauri, sempre bêbado, acabou internado em um sanatório na cidade de Pinhal em São Paulo e morreu pouco tempo depois. Seu último desejo: divulgar um documento com um pedido de desculpas ao tio. Os diretores da Federação Espírita Brasileira decidiram adiar a retratação. Os adversários podiam insinuar que o jovem havia sido forçado a se arrepender.
Amauri morreu e deixou como herança um mistério para os espíritas. Por que ele tinha atacado o tio? A versão mais aceita no meio é a de que ele assumiu a autoria dos poemas e levantou suspeitas contra Chico para impressionar e agradar uma moça católica por quem estava apaixonado. Outra versão, mais apimentada, coloca dinheiro na roda: ele teria sido subornado por um padre para desmoralizar o espírita de Pedro Leopoldo. Amauri nunca mandou explicações do além.
Chico Xavier ficou deprimido. A culpa tomou conta dele.
Os "espíritos inferiores " atacavam seus amigos e parentes como forma de atingi-lo.
Seus adversários eram punidos com mortes trágicas. Todos sofriam por sua causa.
Conclusão: ele era má companhia tanto para aliados como para os rivais.
Estava tão só e inconsolável que decidiu pedir a Emmanuel não um conselho, mas uma orientação da própria Maria de Nazaré. Alguns dias se passaram e o guia voltou com uma frase atribuída à mãe de Jesus:
- Isso também passa.
Chico se sentiu anestesiado. Escreveu o recado num papel e o colocou na cabeceira da cama. Todas as noites e manhãs ele lia a frase e se consolava.
Emmanuel tratou de fazer uma ressalva: a frase valia tanto para os momentos tristes como para os alegres.
O efeito da anestesia passou logo. O pessimismo voltou. Em outubro de 1958, Chico tomou uma decisão surpreendente: iria experimentar o ácido lisérgico.
Perguntou a Emmanuel se ele poderia fazer a experiência com amigos de Belo Horizote. O guia se ofereceu para promover a "viagem ". À noite, Chico se sentiu fora do corpo, Emmanuel se aproximou dele, colocou uma bebida branca num copo e explicou: era um alcalóide capaz de produzir o mesmo efeito do LSD.
Chico engoliu a bebida, um tanto amarga, e começou a se sentir mal, como se estivesse entrando num pesadelo. Animais monstruosos se aproximavam e cenas assustadoras desfilavam diante de seus olhos. Ele acordou com mal estar. O sol parecia uma fogueira e o irritava, as pessoas o cercavam, desfiguradas. À noite, Emmanuel reapareceu com a lição psicodélica: o alcalóide refletia seu estado mental.
Chico quis saber como recuperar a tranqüilidade e escapar da ressaca. Receita: oração, silêncio e caridade, para colher vibrações positivas.
Chico seguiu as dicas à risca. Começou a visitar doentes pobres, a atrair bons fluidos e, durante cinco dias, trabalhou para se refazer. No sexto dia ele se sentiu melhor. À noite, Emmanuel voltou e propôs repetir a experiência com o mesmo alcalóide. Mesmo desconfiado, o discípulo concordou. O efeito foi surpreendente: alegria profunda. Teve sonhos maravilhosos, visitou uma Cidade de cristal, olhou para o céu como se ele fosse de vidro. Até a Fazenda Modelo ficou deslumbrante. Os livros pareciam encadernados por safiras e ametistas, luzes saíam do corpo dos companheiros, das plantas e dos animais. Chico sentiu vontade de abraçar todo mundo. Ficou assim, em êxtase, quatro dias seguidos, em estado de alegria descontrolada, insuportável. Emmanuel apareceu com as explicações:
- Você está vendo seu próprio mundo íntimo fora de você. Moral da história: Nós estamos aqui para cumprir obrigações, não para gozar um céu imaginário nem para fantasiar um inferno que devemos evitar.
Na manhã de 3 de novembro de 1958, Chico saiu do ar. Viajava num avião de Uberaba para Belo Horizonte, quando o aparelho começou a trepidar com violência. Parecia fora de controle. Os passageiros começaram a gritar, a pedir socorro. O comandante apareceu para pedir calma: não havia motivos para alarme, os movimentos desordenados eram provocados por um fenômeno atmosférico chamado "vento de cauda ". E encerrou o discurso com a garantia de que chegariam ao destino mais depressa.
Alguém, completou irritado.
- Mais depressa no outro mundo.
Chico tentava manter o equilíbrio. Mas era difícil. Não entendia nada de "vento de cauda ". O avião sacudia, virava de um lado, do outro, só faltava fazer piruetas.
Muita gente começou a vomitar, quatro crianças abriram o berreiro, os marmanjos apertaram o cinto, se agarravam às poltronas, rezaram aos gritos. O protegido de Emmanuel se uniu ao coro.
- Valei-me, meu Deus. Socorro, misericórdia. Socorro, pelo amor de Deus. Tende piedade de nós.
Um padre, a poucas poltronas de distância, reconheceu o desesperado e gritou:
- O Chico Xavier está ali. Ele é médium, espírita, e está rezando conosco.
Chico gritou do outro lado:
- Graças a Deus, padre, eu também estou rezando.
E continuou a berrar:
- Valei-me, meu Deus.
Quando já estava fora de controle há quase dez minutos, viu Emmanuel entrar no avião e se aproximar dele. Queria saber o motivo da gritaria. Chico tinha uma dúvida mais urgente:
- O senhor não acha que estamos em perigo? O guia foi seco:
- Estão, e daí? Não tem muita gente em perigo? Vocês não são privilegiados.
Chico nem pensou duas vezes:
- Está bem. Se estamos em perigo de vida, eu vou gritar. Valei-me, socorro, meu Deus.
Os passageiros berravam ainda mais.
Emmanuel ficou horrorizado com a cena. O espírita mais importante do país, defensor da vida depois da morte, estava em pânico diante da hipótese de morrer.
- Você não acha melhor se calar? Dá testemunho da tua fé, da tua confiança na imortalidade.
Chico teimou:
- Mas é a morte. E nós estamos apavorados diante da morte.
E insistiu:
- Nossa vida não está em perigo?
Emmanuel repetiu a resposta:
- Está.
E Chico defendeu seu direito de estar em pânico:

CONTINUA AMANHÃ

DIVALDO FRANCO - JOANA DE ANGELIS - PARTE 4

segunda-feira, 30 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Que seja eterna a vitória dos seus dias, mesmo quando eles lhe derem a impressão de fracasso. E nunca  esqueça que atrás das nuvens sempre existirá sol

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Mesmo quando estamos vazios de pensamento, não desistimos de nossa capacidade de pensar

Autor: Heidegger

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - - CHUVA DE PÉTALAS - PARTE 2

CONTINUAÇÃO

Na busca do tom político e evangelicamente correto, Chico aprovava as alterações. Algumas eram mínimas, quase imperceptíveis. Em "Homem da Terra ", também de Augusto dos Anjos, "células taradas  "deram lugar a   "células cansadas ".
Muitas vezes, em nome do espiritismo, Chico recorria a omissões e mentiras estratégicas. Ele mesmo admitia em conversa com os amigos:
- A verdade é um veneno. Nem Jesus Cristo quis defini-la.
Quando Pilatos lhe perguntou o que era a verdade, ele ficou em silêncio. Se formos falar a verdade na vida social, seremos considerados indesejáveis e loucos.
Chico preferia pegar a  "avenida do contorno ".     Diante de perguntas escorregadias, desviava com um "vamos estudar melhor a questão  ". Para escapar de críticas aos poderosos do país, apelava para a diplomacia:
- Eles estão tentando fazer o possível.
Como um embaixador do outro mundo no Brasil, Chico Xavier aprendeu a engolir em seco e a adiar a verdade. Era cauteloso, como bom mineiro.
Em 1955, saiu da defensiva e abriu a guarda para um rapaz de 23 anos, vindo de Monte Carmelo com a mãe. Seu nome: Waldo Vieira. Foi afinidade à primeira vista.
O rapaz mostrou a Chico um poema intitulado "Deus ", ditado a ele por um espírito anônimo. O autor do Parnaso de Além-Túmulo ficou abismado. Era um soneto alexandrino perfeito.
A surpresa cresceu após outra revelação. Waldo, com metade de sua idade, dizia receber mensagens de um espírito chamado André Luiz, homônimo do autor de Nosso Lar, mas com um currículo diferente. De repente, o próprio apareceu para os dois. Um olhou para o outro e perguntou:
Esse aí é o seu?
- É? Mas este aí é o meu.
André Luiz tinha apresentado históricos diferentes para os médiuns e foi desmascarado ali mesmo. Seu nome era, na verdade, um pseudônimo usado para encobrir sua verdadeira identidade: a do médico sanitarista Carlos Chagas (nunca admitida por Francisco Cândido Xavier). Um truque usado para evitar processos por direitos autorais como o movido pela família de Humberto de Campos.
Chico estava perplexo. E exultou com o currículo mediúnico do jovem de Monte Carmelo. Espírita desde os seis anos, quando seu pai fundou um centro, Waldo viu a primeira assombração de sua vida aos nove anos. Aos treze, começou a receber os primeiros textos do além. Com o tempo, tornou-se um dos líderes das Mocidades Espíritas. Era perfeito, bom demais para ser verdade. Chico previu a possibilidade de os dois trabalharem juntos. Só não adivinhou o que aconteceria após o dueto. Waldo se tornaria um dissidente, definiria o espiritismo como um  "estágio prématernal  ", faria pouco caso da mediunidade, "tão primária" ", e atacaria o ex companheiro com palavras duras.
Emmanuel, André Luiz, Bezerra de Menezes, ninguém o alertou na época. Chico, empolgado com a descoberta de uma nova promessa espírita, tratou de apresentar o jovem, em carta, ao presidente da Federação Espírita Brasileira, Wantuil de Freitas. Já em 1957, quando completava trinta anos de serviços prestados a servir de ponte entre este mundo e o outro, Chico defendeu o jovem:
- Apesar de moço ainda, revela-se um companheiro muito abnegado e senhor de um caráter honesto e limpo. Estudioso, amigo, trabalhador. Agora, meu caro Wantuil, que trinta anos consecutivos se passaram sobre minhas singelas atividades mediúnicas, tenho necessidade de sentir alguém comigo, a quem eu possa ir transmitindo recomendações de nossos Benfeitores Espirituais que eu não possa, de pronto, atender ou em cujas mãos possa deixar alguns deveres preciosos, na hipótese de qualquer necessidade.
Chico estava cansado. Um parceiro viria a calhar. Ainda faltavam três livros para ele honrar o compromisso assumido com Emmanuel e concluir a segunda série de trinta títulos. As sessões de Pedro Leopoldo eram exaustivas e, às vezes, terminavam muito mal. As mensagens de mortos a seus parentes, apesar de escassas e de dirigidas ao público espírita, causavam transtornos.
Companheiros de Chico, alguns deles interessados em fazer média com ricos e poderosos do Rio e de São Paulo, convidavam figurões para tentar a sorte em Pedro Leopoldo.
Quem sabe eles não receberiam recados do além de seus familiares? A maioria absoluta voltava para casa frustrada. Chico tentava explicar: não dependia dele, não era má vontade, ele não tinha poder para obrigar um morto a mandar recados para a Terra. E insistia:
- O telefone só toca de lá para cá.
Alguns dos inconformados sentiam vontade de bater aquele telefone imaginário na cara do pobretão ignorante. Resultado: Chico foi atacado quatro vezes com tapas no rosto por não conseguir atender aos pedidos.
A chegada de Waldo Vieira poderia aliviar tanto estresse.
Naquele ano, Chico viajou para Sacramento com o jovem e foi homenageado em uma festinha espírita. Entre os convidados estava um desconhecido de apenas dezesseis anos, bastante incomodado com as reverências prestadas por todos ao médium de Pedro Leopoldo. Ele não entendia tanta badalação. Qual a graça daquele senhor esquisito?
De repente, uma mulher pediu um autógrafo ao homenageado. Chico disse em voz alta:
Só se o Celso me emprestar uma caneta.
Celso de Almeida Afonso, o rapaz mal humorado, estava por perto e teve uma reação inusitada: agarrou aquele quarentão estranho, beijou seu rosto e, aos prantos, prometeu:
- Nesta encarnação vou me comparar a um dedo do pé do senhor.
Chico se encolheu e disse:
- Sou apenas cascalho que serve para machucar os pés de quem passa por mim. Você é luz.
Em seguida, avisou a Waldo Vieira:
- Celso é médium e vai trabalhar conosco em Uberaba.
Ele previa mudanças na própria vida. E já se preparava para elas.
Emmanuel também parecia estar bem informado sobre o futuro próximo. Em 1957, Chico ouviu o aviso: André Luiz ditaria um novo livro, o sexagésimo. Parecia tão ansioso quanto Chico para concluir logo a tarefa. Tão apressado que convidou Waldo Vieira a dividir o serviço com o autor do Parnaso de Além-Túmulo. Por quê? A resposta, segundo Emmanuel, viria no ano seguinte. Por enquanto, os dois deveriam apenas escrever.
A dobradinha espírita mais pródiga do espiritismo no Brasil começou com Evolução em Dois Mundos. O método de trabalho da dupla era insólito. Waldo Vieira, um jovem de 27 anos, recém formado em medicina e odontologia, enviava de Uberaba para Pedro Leopoldo, aos cuidados de Chico, 47 anos e curso primário incompleto, os capítulos ímpares do livro um resumo da história da alma humana repleto de termos médicos. Chico dava seqüência ao texto com os capítulos pares. A fusão dos artigos era surpreendente. Impossível afirmar quem escreveu qual parte. Em julho de 1958, o livro número sessenta já estava no prelo.
Chico comemorou. A maratona literária tinha terminado.
Mas a alegria durou pouco até Emmanuel comunicar:
- Os mentores da Vida Maior, perante os quais devo também estar disciplinado, me advertiram que nos cabe chegar ao limite de cem livros.
Assim já era demais. Chico estava exausto e chegou a desabafar com um amigo:
- Na próxima encarnação não quero saber de livros nem de imprensa. Quero nascer num lugar onde só haja analfabetos.
Pouco tempo depois, sonharia:
- Nas encarnações do futuro, quero ter uns trinta filhos...
O pior é que Chico escrevia e ainda levava desaforo pra casa. Evolução em Dois Mundos chegou às livrarias em meio a críticas. Médicos escreveram a Chico para protestar contra a complexidade do texto "pseudocientífico ". Por que eles não eram capazes de entender? Qual o sentido de páginas tão inacessíveis?
O livro, denso, quase inalcançável, contrariava a linha popular defendida poucos anos depois por Chico: as mensagens deveriam ser entendidas pelos "espíritas mais humildes ". Chico temia o elitismo e repetiria aos intelectuais da doutrina:
- O espiritismo veio para o povo e para com o povo dialogar.
O "povo ", desta vez, ficaria de fora. "Hausto corpuscular de Deus ",  "corpúsculo base ",  "fluido elementa " as expressões eram complicadas demais.
Mas o livro chegou na hora exata. Em julho de 1958, palavras escandalosas atingiam Chico Xavier em cheio. Seu sobrinho, Amauri Pena Xavier, de 25 anos, que morava em Sabará, apareceu na redação do jornal Diário de Minas "para desabafar ".
Precisava se livrar de um peso na consciência: há muitos anos escrevia poemas, atribuía a obra ao espírito de Castro Alves e dizia ter sido escolhido pela espiritualidade para divulgar na Terra um novo Lusíadas. Pois bem: era tudo mentira.
Aquilo que tenho escrito foi Criado pela minha própria imaginação, sem interferência do outro mundo ou de qualquer outro fenômeno miraculoso. Assim como tio Chico, tenho enorme facilidade para fazer versos, imitando qualquer estilo de grandes autores. Como ele, descobri isso muito cedo. Tio Chico é inteligente, lê muito e, com ou sem auxílio do outro mundo, vai continuar escrevendo seus versos e seus livros.
Os espíritas próximos a Amauri levaram um susto. O rapaz prometia. Escrevia num caderno, desde criança, poemas impressionantes. Seu trabalho foi acompanhado de perto, durante muito tempo, pelo professor Rubens Costa Romanelli, um dos fundadores da União da Juventude Espiritual de Minas Gerais, secretário do jornal O Espírita Mineiro.
Espíritas experientes ficavam surpresos com o poema épico intitulado Os Cruzílidas.
Os versos, escritos por Amauri e assinados por Camões, contavam a história espiritual do descobrimento do Brasil, a epopéia no outro mundo durante o descobrimento do país. Cabral teria sido acompanhado de perto pelos espíritos.
Amauri exibiu as oitavas lusitanas aos jornalistas, renegou os espíritos, atribuiu a autoria dos versos a si mesmo e levantou novas suspeitas contra o tio. A imprensa ignorou a qualidade de seus textos e explorou ao máximo a chance de transformar Chico Xavier em escândalo.

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