CONTINUAÇÃO
87
Por que dormis?
“E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos e
orai, para que não entreis em tentação.” – (Lucas, 22:46.)
Nos ensinos fundamentais de Jesus, é imperioso evitar as
situações acomodatícias, em detrimento das atividades do bem.
O Evangelho de Lucas, nesta passagem, conta que os discípulos
“dormiam de tristeza”, enquanto o Mestre orava fervorosamente no Horto. Vê-se,
pois, que o Senhor não justificou nem mesmo a inatividade oriunda do choque
ante as grandes dores.
O aprendiz figurará o mundo como sendo o campo de trabalho do
Reino, onde se esforçará, operoso e vigilante, compreendendo que o Cristo prossegue
em serviço redentor para o resgate total das criaturas.
Recordando a prece em Getsêmani, somos obrigados a lembrar
que inúmeras comunidades de alicerces cristãos permanecem dormindo nas
convivências pessoais, nos mesquinhos interesses, nas vaidades efêmeras. Falam
do Cristo, referem-se à sua imperecível exemplificação, como se fossem
sonâmbulos, inconscientes do que dizem e do que fazem, para despertarem tão-só
no instante da morte corporal, em soluços tardios.
Ouçamos a interrogação do Salvador e busquemos a edificação e
o trabalho, onde não existem lugares vagos para o que seja inútil e ruinoso à
consciência.
Quanto a ti, que ainda te encontras na carne, não durmas em
espírito, desatendendo aos interesses do Redentor. Levanta-te e esforça-te,
porque é no sono da alma que se encontram as mais perigosas tentações, através
de pesadelos ou fantasias.
88
Velar com Jesus
“E voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos
e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudeste velar comigo?” – (Mateus, 26:40.)
Jesus veio à Terra acordar os homens para a vida maior.
É interessante lembrar, todavia, que, em sentindo a
necessidade de alguém para acompanhá-lo no supremo testemunho, não convidou
seguidores tímidos ou beneficiados da véspera e, sim, os discípulos conscientes
das próprias obrigações. Entretanto, esses mesmos dormiram, intensificando a
solidão do Divino Enviado.
É indispensável rememoremos o texto evangélico para
considerar que o Mestre continua em esforço incessante e prossegue convocando
cooperadores devotados à colaboração necessária. Claro que não confia tarefas
de importância fundamental a Espíritos inexperientes ou ignorantes; mas, é
imperioso reconhecer o reduzido número daqueles que não adormecem no mundo, enquanto
Jesus aguarda resultados da incumbência que lhes foi cometida.
Olvidando o mandato de que são portadores, inquietam-se pela
execução dos próprios desejos, a observarem em grande conta os dias rápidos que
o corpo físico lhes oferece. Esquecem-se de que a vida é a eternidade e que a
existência terrestre não passa simbolicamente de “uma hora”. Em vista disso, ao
despertarem na realidade espiritual, os obreiros distraídos choram sob o látego
da consciência e anseiam pelo reencontro da paz do Salvador, mas ecoam-lhes ao
ouvido as palavras endereçadas a Pedro: Então, nem por uma hora pudeste velar
comigo?
E, em verdade, se ainda não podemos permanecer com o Cristo,
ao menos uma hora, como pretendermos a divina união para a eternidade?
89
O fracasso de Pedro
“E Pedro o seguiu, de longe, até ao pátio do
sumo-sacerdote e, entrando, assentou-se entre os criados para ver o fim.” – (Mateus,
26:58.)
O fracasso, como qualquer êxito, tem suas causas positivas.
A negação de Pedro sempre constitui assunto de palpitante interesse
nas comunidades do Cristianismo.
Enquadrar-se-ia a queda moral do generoso amigo do Mestre num
plano de fatalidade? Por que se negaria Simão a cooperar com o Senhor em
minutos tão difíceis?
Útil, nesse particular, é o exame de sua invigilância.
O fracasso do amoroso pescador reside aí dentro, na desatenção
para com as advertências recebidas.
Grande número de discípulos modernos participam das mesmas
negações, em razão de continuarem desatendendo.
Informa o Evangelho que, naquela hora de trabalhos supremos,
Simão Pedro seguia o Mestre “de longe”, ficou no “pátio do sumo-sacerdote”, e
“assentou-se entre os criados” deste, para “ver o fim”.
Leitura cuidadosa do texto esclarece-nos o entendimento e
reconhecemos que, ainda hoje, muitos amigos do Evangelho prosseguem caindo em
suas aspirações e esperanças, por acompanharem o Cristo a distância, receosos
de perderem gratificações imediatistas; quando chamados a testemunho
importante, demoram-se nas vizinhanças da arena de lutas redentoras, entre os
servos das convenções utilitaristas, assestando binóculos de exame, a fim de
observarem como será o fim dos serviços alheios.
Todos os aprendizes, nessas condições, naturalmente
fracassarão e chorarão amargamente.
CONTINÚA AMANHÃ