sábado, 18 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Às vezes um acontecimento sem importância é capaz de transformar toda a beleza em um momento de angústia. Insistimos em ver o cisco no olho, e esquecemos as montanhas, os campos e as oliveiras.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Há um recanto no universo que você pode ter certeza de poder melhorar e esse recanto é seu próprio eu.

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - DIANTE DA MORTE - PARTE 1

DIANTE DA MORTE

Chico Xavier encarava a perspectiva da morte com calma e apreensão ao mesmo tempo. O ato de morrer, em si, não o apavorava. Os seus amigos invisíveis o tranqüilizavam.
Na maioria das vezes, as pessoas nem chegavam a perceber a passagem para o outro mundo. Afinal de contas, ao longo da vida, todos exercitavam a morte através do sono e a ressurreição ao abrir os olhos pela manhã.
Mas, e depois? Emmanuel se recusava a adiantar qualquer detalhe sobre o destino do protegido no outro mundo. Muito menos revelava o dia de sua partida.
Sem nenhuma informação privilegiada sobre si mesmo, Chico escrevia, fazia caridade e achava pouco. Precisava trabalhar muito antes de sair desta para melhor (ou pior?).
Rezava para ter tempo de resgatar dívidas anteriores e agradecia à misericórdia divina a bênção de cada doença concedida a ele.
Numa noite, Chico já se preparava para dormir quando foi surpreendido pela visita de uma assombração com bafo de quem estava alguns goles acima do normal. O visitante se apresentou como um auxiliar dos benfeitores espirituais. Sua missão: arrancar do túmulo os espíritos mais resistentes à idéia da morte e encaminhá-los ao outro lado. Para cumprir tarefa tão estressante, ele precisava de uns tragos encorajadores. Chico abriu um sorriso para o recém-chegado e avisou:
- Você vai ter que beber muito para me tirar do caixão.
O protegido de Emmanuel se agarrava à Terra com obstinação. Queria escrever até o fim, servir muito, sofrer mais ainda, para merecer um pouco de paz na próxima temporada neste mundo. Queria renascer numa aldeia onde ninguém soubesse ler, onde todos vivessem de forma simples e, de preferência, onde ele não fosse médium.
Seus devotos mais fiéis apostavam em outra tese. Ele não voltaria à Terra. Não tinha mais dívidas a pagar. Ele iria direto para o céu e ficaria por lá. Chico reagia com bom humor:
Vou mesmo para o CEU - o Centro Espírita Umbralino.
Em 15 de novembro, o candidato ao Prêmio Nobel da Paz virou nome de praça em Pedro Leopoldo. O filho mais estranho de João Cândido Xavier vestiu seu melhor terno e, acompanhado de amigos ricos de São Paulo e Uberaba, participou da solenidade em sua homenagem, 22 anos depois de sua mudança. No discurso de agradecimento à cidade, ele afirmou com a voz embargada para a platéia que incluía ex adversários como o padre Sinfrônio:
- Eu lhes devo tanto e tenho tão pouco para lhes dar. Estou acanhado em vos dizer, inclusive, muito obrigado. Entretanto, peço a Deus que abençoe sempre esta cidade e esta praça dedicada ao amor.
Dez anos depois, a praça, bem ao lado da Prefeitura, estaria em estado de abandono total.
As listas de apoio a Chico Xavier passavam de mão em mão pelo Brasil e o candidato ao Nobel da Paz lutava contra as dores no coração para participar das sessões no Grupo Espírita da Prece. A peruca negra e farta sobre a cabeça destoava cada vez mais das rugas no rosto e da fragilidade do corpo franzino, sempre arqueado, como se estivesse a um passo de se espatifar no chão.
Chico se sentia cada vez mais vulnerável. Seu peito parecia arrebentar sob o impacto de desabafos, como o da mulher desesperada vinda do interior de São Paulo:
- Chico, matei meu próprio filho, para não sermos, eu e meu marido, mortos por ele. Ajude-me pelo amor de Deus.
Com os olhos marejados, ele se limitava a dizer:
- Vamos orar, minha irmã. Vamos pedir a Deus forças para continuar vivendo.
Só após muita insistência do Dr. Eurípedes Tahan, ele concordou em reduzir ainda mais a quantidade de contatos pessoais com os visitantes. Um novo médico, sobrinho de Chico, o cardiologista José Geraldo, reforçou o cordão de isolamento em torno do paciente mais requisitado do país.
Começaram a aparecer no Grupo Espírita da Prece as  "filas dos sessenta ", também conhecidas como  "filas dos suplicantes ". Só os primeiros a chegar, somados a alguns eleitos por Eurípedes Higino dos Reis, conseguiam uma audiência com Chico Xavier. Os outros poderiam assistir à sessão, mas só com muita sorte trocariam algumas palavras com o anfitrião, sempre cercado de auxiliares. As reclamações se acumulavam. Quais os critérios usados para selecionar quem poderia conversar com Chico?
Alguns falavam em dinheiro.
As suspeitas davam lugar a surpresa diante de cartas vindas do além e escritas, ainda em velocidade, por um Chico com mãos trêmulas. Numa delas, no mínimo pitoresca, o filho morto se referia à própria mãe como  "minha Cica ". Ninguém entendeu o apelido. Nem o pai dele. A mãe demorou um pouco a decifrar a mensagem e, só com algum custo, se lembrou da mania irritante do filho de tratá-la como "minha elefantinha ".
Numa de suas últimas conversas, ela pediu para ser poupada do apelido. Depois de morto, ele atendeu ao pedido e encontrou um substituto para o nome: Cica, a marca do elefantinho.
As sessões se seguiam, Chico era procurado pelos repórteres interessados em declarações do primeiro candidato brasileiro ao Nobel da Paz, mas ele se recusava a fazer qualquer previsão sobre o resultado da campanha. Como sempre, evitava se arriscar como profeta ou vidente.
No dia 1º de fevereiro de 1981, o deputado Freitas Nobre entregou ao diretor presidente do Instituto Nobel, Karl Swerderup, 110 quilos de documentação. Nove pastas guardavam um resumo da trajetória de Chico Xavier: 64 obras assistenciais ajudadas por ele serviam como amostragem das quase duas mil que giravam em torno da renda gerada por seus 183 títulos e por suas campanhas beneficentes. Um livro com o resumo das obras psicografadas por Chico, em quatro idiomas (português, norueguês, inglês e francês), reforçou o calhamaço.
Freitas Nobre explicou aos organizadores do prêmio que tinha deixado no Brasil, por dificuldades de transporte, as listas de apoio com 2 milhões de assinaturas.
Se quisessem, ele mandaria providenciar o material. Ninguém quis. Swerderup ficou impressionado. Só em Fortaleza, a renda obtida com a venda dos livros de Chico Xavier permitiu o parto grátis de 100 mil mulheres.
Isso representa quase um quarto da população da Noruega comparou ele.
A petição oficial da indicação de Francisco Cândido Xavier exibia as assinaturas do ex Presidente Jânio Quadros, do Senador Tancredo Neves e do Presidente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, Ulysses Guimarães.
Após a audiência, os visitantes brasileiros percorreram, em companhia do diretor do Instituto Nobel, o prédio da entidade e conheceram o auditório onde se realizaria a sessão solene de entrega do prêmio. Muitos rezaram diante do palco onde seriam anunciados os vencedores, mentalizaram em favor de Chico e saíram convencidos da vitória. Até o dia da divulgação do resultado, quase 10 milhões de pessoas deixaram suas assinaturas em listas de apoio à indicação de Chico Xavier (a maioria sem saber que o dia da inscrição já tinha passado).
Em 14 de outubro, foi divulgado o resultado. Nem Walesa nem João Paulo II venceram. Muito menos Chico Xavier. O prêmio daquele ano ficou para um azarão. O Escritório do Alto Comissariado da ONU Organização das Nações Unidas para os Refugiados, responsável pela assistência a refugiados no mundo todo, inclusive do Afeganistão, Etiópia e Vietnã, foi premiado pela segunda vez.
Chico Xavier deu uma opinião sob medida no dia seguinte à derrota:
- Estamos muito felizes sabendo que um prêmio dessa ordem coube a uma instituição que já atendeu a mais de 18 milhões de refugiados. Nós todos deveríamos instituir recursos para uma organização como essa, em que tantas criaturas encontram apoio, refúgio, amparo e bênção.
Só dez anos depois, ele diria:
- Não merecia o Prêmio Nobel da Paz porque sou um homem do povo.
Os espíritas não ficaram tão comovidos nem conformados assim. Eduardo Araia, editor da revista Planeta, levantou uma hipótese para explicar a derrota de Chico Xavier:
- "O critério de seleção que já premiou belicistas como Menahem Begin, Anuar Sadat, Le Duc Tho ou Henry Kissinger talvez não possa, por uma questão de coerência, escolher uma personalidade como Chico Xavier".
A campanha serviu para divulgar a doutrina espírita. Naquele ano, foram vendidos 700 mil livros com o nome de Francisco Cândido Xavier estampado na capa. O número era confirmado pelos impostos recolhidos e pelos direitos autorais. Os títulos rendiam a média de 2 milhões de cruzeiros mensais. Chico nem via a cor do dinheiro.
Vivia com os 98 mil cruzeiros de sua aposentadoria (ou seja, menos de 5% do total arrecadado com os livros). E, é claro, contava com a ajuda incessante dos amigos e dos admiradores. Frutas, cobertores, remédios, ternos; os presentes chegavam pelo correio ou desembarcavam em sua porta. Chico não pedia nada, recebia muito e se desfazia de quase tudo.
Graças a Deus aprendi a viver apenas com o necessário.
O vozeirão de Emmanuel ainda soava em seus ouvidos:
- Não há mérito algum em passar adiante o que você recebeu. Quem ganha e distribui não passa de um estafeta. O importante é perdoar e se doar, sem esperar nada em troca.
Chico não deu tempo para Vanucci lamentar o fracasso da campanha pelo Prêmio Nobel da Paz. O trabalho era a melhor receita para curar ressacas. O diretor da Globo tinha conversado com o espírita, três anos antes, sobre o projeto de montar uma peça a partir de textos psicografados por ele e por Divaldo Franco. Ele colocaria em cena esquetes sobre o suicídio, o aborto, as drogas, tudo de acordo com a cartilha da reencarnação.
Falava, falava, Chico aprovava a idéia, mas nada. Logo após a campanha pelo Nobel, o candidato derrotado foi incisivo e bem humorado:
- Vanucci, daqui a pouco a gente está lá no Mundo Maior e você vai me falar desse teu projeto. Tá na hora de colocar no palco.

CONTINUA AMANHÃ

MENSAGEM DE BEZERRA DE MENEZES

sexta-feira, 17 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Não choreis os vossos erros, deixai de cometê-los e praticai as virtudes opostas.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Os obstáculos não são problemas na nossa vida, pois são eles que fazem com que sintamos a emoção de viver.

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A VIDA DESAPROPRIADA - PARTE 8


CONTINUAÇÃO

- Muito obrigado.
No final do ano, Chico encontrou energia para quebrar o jejum televisivo. Voltou à TV Tupi, não como entrevistado, mas como ator da novela O Profeta. Fazia um favor a sua amiga Ivani Ribeiro, a novelista, e agradecia à emissora responsável pela divulgação do espiritismo no início daquela década. Seu papel na trama: Chico Xavier. A cena foi rápida.
O pai do profeta do título pediu socorro ao médium, pois estava preocupado com as atitudes do filho, Daniel. Ele usava os poderes espirituais para ganhar dinheiro.
Chico aconselhou de improviso:
- Deixe que a própria natureza se encarregue de mostrar a ele o caminho certo. Ninguém tem o direito de usar a mediunidade como meio de exploração comercial. O tempo se encarregará de amadurecer nele essa convicção.
Também naquele ano, Chico se envolveu numa “novela " bastante real e bem mais trágica.
Ele fechou os olhos e colocou no papel uma carta assinada por Maurício Garcez Henriques, de 16 anos. Sua tragédia tinha sido notícia de jornal dois anos antes. Maurício fora assassinado pelo melhor amigo, José Divino Nunes, então com 18 anos. Os dois eram inseparáveis. José Divino foi preso e defendeu a própria inocência: o tiro tinha sido acidental. Para piorar sua situação, perdeu o pai e a mãe num desastre de automóvel, logo após ser detido.
A família de Maurício, inconformada, exigia a punição do assassino. Em meio à investigação, atormentada pela dor da perda, ela cumpriu o roteiro seguido por milhares de pessoas de todo o país. Apesar de serem católicos, o pai e a mãe da vítima foram para Uberaba em busca de Chico Xavier. No primeiro contato, Chico repetiu a velha frase:
- O telefone só toca de lá pra cá.
De dois em dois meses, a família voltava a Uberaba. Recebia sempre pequenos recados como resposta aos pedidos que deixavam sobre a mesa. Os enfermeiros do além avisavam:
- Nosso caro amigo está sob a assistência de abnegados amigos espirituais.
- O querido filho está presente e beija-lhe o coração materno.
- O filho querido agradece as preces e as lembranças.
A primeira carta veio em 1978. O morto pedia   "resignação e coragem " e garantia:
- O José Divino nem ninguém teve culpa em meu caso. Brincávamos a respeito da possibilidade de ferir alguém pela imagem no espelho. Sem que o momento fosse para qualquer movimento meu, o tiro me alcançou, sem que a culpa fosse do amigo ou minha mesmo. O resultado foi aquele. Se alguém deve pedir perdão sou eu, porque não devia ter admitido brincar em vez de estudar. Estou vivo e com muita vontade de melhorar.
Os pais de Maurício ficaram impressionados. A assinatura da carta escrita por Chico era quase idêntica à da carteira de identidade do rapaz e o texto estava repleto de referências a parentes e assuntos pouco conhecidos da família. Mas o pai ainda queria ver José Divino atrás das grades.
No dia 12 de maio de 1979, véspera do Dia das Mães, Chico escreveu outra carta assinada por Maurício:
- "Peça a meu pai que, no íntimo, aceite a versão que forneci do acontecimento que me suprimiu o corpo físico. Não se procure culpa em ninguém  ".
O recado foi estampado em folhetos pelo casal, acompanhado de fac-símiles das assinaturas da carteira de identidade e das cartas, O material foi anexado pela defesa ao processo na justiça.
A tese do advogado esclarecia: A vítima Maurício Garcez Henrique, desencarnada, envia mensagem de tolerância e magnitude espiritual, inocentando seu amigo José Divino e dizendo que ninguém teve culpa em seu caso, tudo através do renomado médium Francisco Cândido Xavier.
A sentença do juiz Orimar de Bastos, em 16 de julho de 1979, causou alvoroço:
“Temos que dar credibilidade à mensagem de Chico Xavier, apesar de a Justiça ainda não ter merecido nada igual, em que a própria vítima, após sua morte, vem revelar e fornecer dados ao julgador para sentenciar. Ela isenta de culpa o acusado, fala da brincadeira com o revólver e o disparo da arma. Coaduna este relato com as declarações prestadas pelo acusado.
Veredicto: "Julgamos improcedente a denúncia para absolver, como absolvido temos, a pessoa de José Divino Nunes  ".
O caso, inédito, repercutiu até mesmo no exterior. Os jornais National Enquire e Physic News, dos Estados Unidos, abriram espaço para o escândalo. O National definiu a saga jurídico espiritual brasileira como  "um dos mais bizarros processos na história do Direito ". O juiz virou até entrevistado de Flávio Cavalcanti. Após se declarar católico, Orimar de Bastos definiu a carta do outro mundo como  "um pequeno subsídio " capaz de reforçar a tese que ele já defendia de acordo com as provas dos autos.
Chico Xavier também deu seu depoimento e defendeu o uso de declarações do outro mundo nos tribunais da Terra.
Como cristão acredito que, se a mensagem de alguém que se transferiu para a Vida Espiritual demonstrar elementos de autenticidade capazes de interessar uma autoridade humana, essa mensagem é válida para qualquer julgamento.
Na década seguinte, dois mortos se tornariam testemunhas de defesa dos responsáveis por suas mortes, graças a Francisco Cândido Xavier. O ex réu do processo Humberto de Campos ganhava status de escrivão do além nos tribunais.
No dia 2 de abril de 1980, Chico completou setenta anos. Não quis festa nem homenagens. Preferiu ficar em casa. Jornais e revistas estamparam seu currículo:
183 livros, 8 milhões de exemplares vendidos em quinze idiomas, 10 mil  "cartas " de mortos a suas famílias, 360 mil autógrafos, duas mil instituições de assistência fundadas, ajudadas ou mantidas com os direitos autorais ou com as campanhas beneficentes promovidas por ele. O censo daquele ano revelou a presença de 1,5 milhão de espíritas no país ou seja, desde o primeiro Pinga-Fogo o número de kardecistas confessos tinha triplicado.
Três dias após seu aniversário, no Sábado de Aleluia, Chico rompeu o retiro e reaparaceu embaixo do abacateiro, na Vila dos Pássaros Pretos. Amigos do Rio, liderados por Augusto César Vanucci, ofereceram-lhe um presente: a candidatura ao Prêmio Nobel da Paz. Chico sorriu, desconversou e continuou a distribuir alimentos, remédios e roupas aos pobres da periferia.
Na semana seguinte, Vanucci convidou o maior fenômeno espírita do país a participar de um programa em homenagem ao médium baiano Divaldo Franco, considerado o mais importante orador da doutrina. Chico teria de gravar um depoimento no Teatro Globo, no Rio. Ele aceitou o convite, reverteu o cachê de 50 mil cruzeiros à Fundação Maneta Caio e apareceu no teatro na hora combinada. Uma das artistas convidadas, Glória Menezes, teve uma crise de choro ao deparar com aquele senhor sorridente, amparado por auxiliares.
Vanucci tinha mentido. Chico iria participar de um programa dedicado a si mesmo, Um Homem Chamado Amor. Era o lançamento de sua campanha para o Prêmio Nobel da Paz.
No roteiro, poemas e mensagens de Chico declamados por artistas como Lima Duarte, Tony Ramos e Paulo Figueiredo, depoimentos de amigos como Roberto Carlos e muita música. Roberto cantou Ave Maria e Força Estranha, Vanusa apresentou sua Prece de Cáritas, Joyce interpretou Clareana e Elis Regina No Céu da Vibração.
Com uma camisa xadrez amarrotada sob o terno branco, diante de um retrato a óleo de Emmanuel, Chico Xavier falou sobre a infância, defendeu a inseminação artificial e desempenhou o papel de garoto propaganda do papa João Paulo II, então prestes a desembarcar no Brasil:  "Devemos recebê-lo com todas as atenções de que ele é digno e de que tanto fez por merecer, conduzindo a Cristandade com tanta abnegação e com tanto tato para evitar que a discórdia se alastre no mundo   ".
O discurso cristão assentava bem na emissora mais poderosa do país, presidida por um amigo de dom Eugênio Sales.
Após gravar seu depoimento, Chico encarou Vanucci, o diretor do programa, e afirmou com um meio sorriso.
- Tudo pela doutrina.
Ele sabia quem era o verdadeiro homenageado e aceitou a candidatura.
Os velhos críticos de sua vaidade voltaram à tona. Chico reagiu com as antigas explicações. Reverteu a homenagem ao espiritismo, definiu como ingratidão imperdoável a recusa de   "tamanha honraria " e aproveitou a badalação em torno de seu nome para divulgar as lições de Kardec. Diante das câmeras e das canetas dos repórteres, ele repetiu uma frase muito pouco bombástica:
- Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
Este slogan cristão resumia, para ele, a filosofia correta de vida. Chico se agarrava à frase atribuída a Jesus e aconselhava com sua voz cada vez mais desafinada:
- Amar sem esperar ser amado e sem aguardar recompensa alguma. Amar sempre.
Como candidato ao Nobel, Chico voltava a ser notícia. E, dez anos depois do Pinga-Fogo da TV Tupi, surpreendia o público com revelações estapafúrdias. Do alto de seus setenta anos e sob o peso de sucessivas crises coronarianas, ele exibia a coragem de quem sente a morte cada vez mais próxima. Já não pensava tanto antes de confessar sua crença em discos voadores ou antes de contabilizar a "população flutuante desencarnada " da Terra: 20 bilhões de espíritos espalhados por diversas áreas invisíveis em torno da crosta terrestre, à espera de voltar ao planeta e resgatar as dívidas de existências anteriores.
Os repórteres aproveitavam a disposição do líder espírita para falar e buscavam a polêmica. Quando o papa chegou ao Brasil, foi recebido com pompa e majestade, como um rei. Aquela ostentação toda era justa num país tão pobre? Chico Xavier repetiu a mesma resposta a quem quisesse saber sua opinião. Um país que gastava fortunas com campeonatos de futebol e com desfiles de carnaval não deveria economizar para reverenciar o Sumo Pontificie, um "homem extraordinário, que tem beijado o chão de tantas terras ".
- Por que ele deveria aparecer no Brasil pedindo esmolas? perguntava. E arrebanhava católicos.
A sala de Augusto César Vanucci na Globo ganhou um apelido: Central do Espiritismo. Sua mesa ficou coberta de cartas de apoio a Chico Xavier enviadas do Brasil e do exterior. A Universal Temple Spiritualist Church, da África do Sul, prestou solidariedade e conseguiu coletar 10 mil assinaturas. A Saint Francis Catholic Church, de San Francisco, entrou no coro e outros 26 países aderiram. Os quase 5 mil centros kardecistas do país distribuíram listas de adesão e 190 câmaras municipais enviaram ofícios e requerimentos.
Uma Comissão Pró Indicação de Francisco Cândido Xavier ao Prêmio Nobel da Paz de 1981 foi formada para organizar o movimento. Entre os integrantes estavam, além de Vanucci, o deputado Freitas Nobre, sua mulher, Marlene Rossi Severino Nobre, e Divaldo Franco.
Eles trataram de divulgar um texto:  "Por que Chico Xavier?" "
A primeira frase dava o tom:  "Em 53 anos de vida pública, dedicada à paz entre as criaturas, ele atendeu a mais de 1 milhão de pessoas, uma a uma ".
Um clima de  "já ganho "" começou a tomar conta do país. Afinal de contas, a indicação de madre Teresa de Calcutá, no ano anterior, tinha como base apenas 28 entidades de assistência surgidas e mantidas pelo trabalho dela. A indicação de Chico chegaria à mesa do Comitê Nobel em Oslo, Noruega, respaldada por duas mil obras sociais, fundadas ou mantidas graças ao apoio dele.
Vanucci estava certo da vitória. E não se deixou abalar nem quando entraram no páreo como concorrentes de Chico Xavier o próprio papa João Paulo II e o líder sindical polonês Lech Walesa:
"A atuação de Walesa não vai tão de encontro ao sentido da paz, como determina o Nobel, e a luta pela paz é uma tarefa intrínseca à função de um Papa. Chico faz uma revolução social e moral no país.
Até o representante brasileiro nesse processo se empolgou. Numa de suas entrevistas, o candidato ao Nobel da Paz saiu da posição de quem se sacrificava em nome da doutrina e da gratidão aos amigos e afirmou:
- Sinto-me como se estivesse sonhando.
O deputado federal Paulo Alberto, ou melhor, Artur da Távola, então titular de uma coluna sobre TV em O Globo, aderiu à campanha e assinou um artigo pró Chico Xavier da primeira à última linha. O texto, intitulado "A figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier ", foi anexado à documentação enviada para Oslo:
- Além da aura de paz e pacificação que parte dele, há um outro elemento poderoso a explicar o fascínio e a durabilidade da impressionante figura de comunicação de Chico Xavier, a grande seriedade pessoal do médium, a dedicação integral de sua vida aos que sofrem e o desinteresse material absoluto.
Maltratado pelas crises de angina e atordoado por quedas súbitas de pressão, o candidato ao Nobel anunciava a morte próxima.
- Já estou com o passaporte para o além.
Amigos imaginavam os capítulos seguintes: ele receberia o prêmio na Noruega e mor-
reria, então, consagrado como um santo. Talvez fosse até canonizado com a bênção do   " rival " João Paulo II.

CONTINUA AMANHÃ

ORAÇÃO POR DIVALDO FRANCO

quinta-feira, 16 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Às vezes construímos pequenos sonhos em cima de grandes pessoas, com o passar do tempo descobrimos que grandes mesmo eram os nossos sonhos e as pessoas pequenas de mais.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


As pessoas são espelhos umas para as outras. Se você vê os defeitos de outra pessoa e eles não o deixam em paz, na verdade são seus próprios defeitos que você vê. Este é um ato de grande generosidade de Deus para conosco, pois sem este recurso jamais seríamos capazes de determinar nossos próprios defeitos.

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A VIDA DESAPROPRIADA - PARTE 7

CONTINUAÇÃO

- Pense na grande responsabilidade da sua missão. Tudo o que você sabe, pensa, canta e fala num programa de televisão é muito importante, porque você está passando toda essa gama de emoções para essa gente que te ouve e vê.
Foi o suficiente. Vanusa voltou para casa aliviada, com a mesma sensação que tomou conta do estilista Clodovil quando procurou Chico para um desabafo inesperado: sentia-se culpado por cobrar tão caro por seus vestidos. O espírita aliviou a consciência do estilista. Afinal de contas, ele gerava empregos e embelezava o mundo...
Motivada pela idéia de investir em sua "missão  ", Vanusa começou a mudar. Em vez de sofrer com suas aflições afetivas, passou a olhar mais à volta, e até a medir as palavras para passar "mensagens positivas " em declarações a jornais, revistas e TVs.
Logo, estaria casada com um dos devotos mais dedicados de Chico Xavier, Augusto César Vanucci, então todo poderoso diretor da linha de shows da TV Globo. Em pouco tempo, viveria uma experiência estranha.
Numa noite, ela se levantou da cama, foi até o piano na sala, compôs uma música em minutos, gravou a melodia, voltou para o quarto e tirou da gaveta da mesa de cabeceira um livro de orações. Abriu na página da Prece de Cáritas, se sentou ao piano e conferiu: as frases tinham sido feitas para aqueles acordes.
Na poltrona ao fundo, ela viu um vulto. Só podia ser o Vanucci. Mas não era. De repente, Vanusa ouviu a voz do marido do outro lado da sala. Olhou para trás e a sombra já tinha desaparecido.
Nunca mais conseguiu tocar a música ao piano. Era complexa demais para ela.
Vanusa passou a se dedicar a shows beneficentes e se sentir mais leve.
Nunca se esqueceu de uma previsão feita por Chico Xavier sobre sua própria morte:
- Vou morrer por causa do órgão do qual mais vivi: o coração.
Chico, já arqueado e atormentado por dores, precisava de proteção. Uberaba se encarregou de preservar sua atração turística mais concorrida. Um empresário, dono de uma frota de táxis, colocou à sua disposição um automóvel com motorista.
Chico usava o carro para transportar amigos até o hotel e, de vez em quando, saía para buscar sua aposentadoria no banco e as cartas no correio quase duas centenas todos os dias. Bastava escrever no envelope "Chico Xavier " para a correspondência chegar ao destinatário mais requisitado do país.
Até os guardas de trânsito protegiam o morador ilustre. Ele tinha o hábito de pegar o táxi para ir às livrarias e, muitas vezes, demorava quase uma hora diante das prateleiras com títulos espíritas. Enquanto Chico folheava os livros e conversava com os livreiros, o motorista costumava estacionar em fila dupla. Para se livrar da multa, bastava pronunciar as palavras mágicas:
- Estou com Chico Xavier.
Mas o médium estava longe da tranqüilidade. Não podia andar pelas ruas sem ser interrompido por admiradores e por desesperados em geral. Muitos agarravam suas mãos, imploravam conselhos, choravam. Ele sofria. Às vésperas de completar 69 anos, sentia-se frágil, vulnerável. Em 1978, a Polícia Militar da cidade escalou dois PMs para o escoltarem. Eurípedes Tahan e Eurípedes Higino Reis, o médico e o filho adotivo do médium, armaram o cerco. O cordão de isolamento em torno de Chico reforçaria sua figura de mito. A cada ano, ficaria mais inatingível.
Em pouco tempo, Chico abriu mão de seus passeios vespertinos para evitar o assédio da multidão. Acatava as recomendações médicas em nome da doutrina espírita. Precisava poupar forças para escrever os livros. Os textos do além ajudariam os desesperados. Mas os leitores queriam mais do que páginas impressas. Queriam o autor.
A Comunhão Espírita Cristã vivia congestionada. Nas filas, a cada sessão, mais de trezentas pessoas se amontoavam, mesmo sem saber se Chico poderia atendê-las. Ele já não virava noites para conversar com cada visitante. Reduziu o tempo de contato com as tragédias alheias, em 1978, para duas ou três horas às sextas-feiras.
Muitas vezes, só conseguia conversar com as setenta primeiras pessoas da fila. Eram raras as noites em que repetia as antigas performances madrugada adentro.
Quem quisesse se aproximar dele poderia arriscar, aos sábados, uma visita à Vila dos Pássaros Pretos, um bairro da periferia de Uberaba. Ao ar livre, embaixo de um abacateiro, ele e outros companheiros espíritas liam e debatiam o Evangelho.
As filas repletas de gente pobre se formavam ao redor. Chico dava um pão para cada um, colocava em suas mãos dinheiro com valor simbólico (duas notas de um cruzeiro e uma de cinco), um quilo de açúcar, outro de feijão. Os donativos, em geral, vinham dos visitantes beneficiados pelas mensagens dos parentes mortos.
A distribuição quase sempre era tumultuada. Os assistentes, liderados por Eurípedes Higino, apressavam os visitantes para que Chico descansasse logo.
Vamos embora, olha o serviço - costumavam gritar a quem tentasse conversar com o espírita.
A maioria mal conseguia tocar em sua mão.
As reclamações se acumulavam. Muita gente se queixava da arrogância do  "filho adotivo " de Chico e da truculência de seus seguranças.
A paulista Hened Lurdes Amarado foi além e desabafou com um repórter do jornal Última Hora:  "Fiquei decepcionada. Vi um homem gratificar um guarda para falar com Chico. Não fui atendida, mas dinheiro eu não dei ".
O título da reportagem traduziu uma sensação geral na época :  "Chico é um santo. Pena que seja mal assessorado ".
De vez em quando, alguém conseguia romper o cerco e chegar até Chico fora das sessões no Grupo Espírita da Prece. Mas o espírita já não era mais um modelo de paciência e resignação irrestritas. Mesmo à sombra do abacateiro, em clima bucólico, ele saía do sério e falava em tom seco, como Emmanuel. Numa tarde, uma mulher pobre avançou sobre ele com uma lista de pedidos na mão.
Chico parou e, com a fisionomia circunspecta, ouviu o discurso:
- Anteontem, enterrei meu velho. O enterro ficou muito caro e nós não temos dinheiro algum. Por isso, seu Chico...
Ele interrompeu:
- Isto aqui não é lugar para listas pedindo dinheiro. Não faça isso, por favor. Se vocês começarem a fazer isso aqui, não voltarei mais a este lugar. A reunião é de amor.
Mais calmo, ele perguntou:
- Quanto custou o enterro?
- Quinze mil.
Ele ficou perplexo:
- Como foram permitir um funeral tão caro? A gente não pode bancar o bobo, mesmo nessas horas, senão se aproveitam de nós. A senhora devia ter feito um enterro mais simples.
Em seguida, ordenou:
- Guarde essa lista. Nós veremos o que podemos fazer.
O enterro foi pago.
Para combater a doença, Chico Xavier seguia a receita de Emmanuel: caridade.
Em 1978, fiel à máxima  "aliviai e sereis aliviado " ele foi buscar forças na Penitenciária de São Paulo. A diretoria do presídio pediu aos presos interessados em ouvir a prece do espírita que se inscrevessem. Resultado: 542 detentos se apresentaram.
Na época, muitos deles liam o livro 165 de Chico, Falou e Disse.
Durante a palestra, um dos presidiários reclamou de ser tratado como um número. Chico tratou de buscar um consolo:
- Meu filho, quem de nós não é tratado por número? É número de telefone, de carro, de casa, de CEO, de cic. Nós estamos com mais números que você. Só que agora estamos na cela ambulante e vocês estão na fixa.
Após a palestra, Chico surpreendeu o diretor do presídio com uma notícia:
- Quero sair daqui, mas, antes, desejo abraçar e beijar a todos.
O diretor arregalou os olhos e quase se benzeu:
- Deus me livre. Não, senhor. Você não vai abraçar nem beijar ninguém.
Chico insistiu:
- Não senhor, doutor. Eu não viria aqui fazer prece para depois me distanciar dos nossos irmãos. Não está certo.
O diretor foi dramático:
- Neste salão, outro dia, mataram um guarda de 23 anos.
Afiaram a colher até ela virar punhal. Aqui há criminosos com sentenças de duzentos a trezentos anos. Eles podem te matar.
- Pouco importa, vim aqui para o encontro e o senhor não me permite abraçar?
O diretor se conformou com a idéia, mas tratou de organizar uma estratégia de guerra. Não podia correr o risco de virar notícia de jornal como um dos responsáveis pela morte de um dos líderes religiosos mais requisitados do país. Chico ouviu as instruções: teria de ficar atrás da mesa, cada encontro deveria ser rápido, dezoito baionetas estariam apontadas para o grupo.
Para desespero do diretor, o espírita ficou na frente da mesa. Ele abraçava e beijava cada preso. Muitos contavam segredos ou diziam algumas palavras. Tudo ia muito bem até a chegada de um senhor de quase cinqüenta anos. Ele se aproximou e ficou estático diante do médium. Não estendeu a mão, não aproximou o rosto para o beijo, não abriu a boca.
Chico perguntou:
O senhor permite que eu o abrace?
- Perfeitamente.
Após abraçar o corpo rígido, ele arriscou:
- O senhor deixa que eu o beije?
- Pode beijar.
Chico o beijou de um lado, do outro, duas vezes cada face.
Lágrimas escorreram dos olhos do preso. Antes de virar as costas, o detento agradeceu

CONTINUA AMANHÃ

FILHO DE DEUS - DIVALDO FRANCO

quarta-feira, 15 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA


Eu aprendi... que o tempo é o verdadeiro presente, pra ser usado com inteligência, e não algo para se desperdiçar

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

A grandiosidade da vida está em seus valores infinitivos tão necessários pela busca da felicidade, a paz e o amor dão aos grandes momentos, o seu real valor

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A VIDA DESAPROPRIADA - PARTE 6

CONTINUAÇÃO

Após a conversa, Gasparetto voltou à tona. Parecia atordoado. Em poucos instantes, após massagear as pálpebras, ele se recuperou e arranjou forças para um desabafo.
A conversa entrou em terreno escorregadio. O jovem estava cansado de tantos pintores invisíveis a seu redor.
Trabalho em telas a óleo, cinco, seis, sete e até mais horas por dia. Já pintei mais de 3 mil telas. Se deixo, os espíritos querem pintar até nas paredes. Disseram-me que eu não deveria trabalhar profissionalmente, só mediunicamente. Mas, com o tempo que eles me tomam, como é que vou me realizar na prática?
Gasparetto parecia buscar o aval de Chico para vender as telas do outro mundo. O doador de direitos autorais tinha a resposta pronta.
- Você pode disciplinar o trabalho, dando a eles um tempo adequado.
Gasparetto insistiu:
- Digo a eles: "Vocês vivem em outra realidade. Por isto, não me compreendem  ". Van Gogh, por exemplo, exige tintas importadas da Bélgica, da Holanda, e nós as importamos por 7.500 cruzeiros, uma bateria delas.
Chico Xavier recorreu ao bom humor:
- Seria bom que houvesse uma espécie de INPS dos médiuns.
Depois falou sério:
- Temos que achar um horário compatível.
Chico tinha conhecimento de causa. Até se aposentar, sempre conciliou a psicografia com seus empregos. Ao longo da vida, aprendeu a dormir cada vez menos até chegar à média de três horas e meia a quatro de sono por noite. Com o tempo, ele aprendeu a reservar quarenta minutos de seu dia ao descanso após o almoço.
Nesse período, mesmo que não dormisse, ficava imóvel e não aceitava interferências do outro mundo. Já sabia impor limites aos escritores do além. Disciplina era o segredo.
Lucrar com a mediunidade era um perigo.
Gasparetto encerrou o desabafo e se despediu.
Oito livros por ano, cerca de três mensagens particulares por sessão, serviços de desobsessão às segundas-feiras, peregrinações por bairros pobres. Chico aproveitava cada minuto. Sem se preocupar com o espaço, ele investia no tempo e se desdobrava, incansável.
No dia 26 de setembro, um domingo, às 15h, ele compareceu a mais uma tarde quilo-métrica de autógrafos, dessa vez em Ribeirão Preto. Ficou de pé, com a barriga encostada na mesa, curvado em direção à fila quase interminável que marchava devagar. Chegaram até ele 5 mil pessoas com o livro Somos Seis nas mãos. Chico os recebia, homens, mulheres, crianças, com dois beijos em cada face e com um botão de rosas. Muitos deixavam em suas mãos bilhetes dobrados.
Chico os enfiava nos bolsos do paletó. As dedicatórias já estavam escritas nos livros. Ele se limitava a assinar embaixo e a dizer:
- Muito obrigado, Deus te acompanhe...
Às quatro horas da manhã de segunda-feira, após distribuir mil rosas e 20 mil beijos, e acumular quase seiscentos bilhetes nos bolsos, Chico foi embora. Não parecia cansado.
Era só aparência.
Em novembro de 1976, seu coração deu sinais de estresse. Chico passou a ser maltratado por sucessivas crises de angina, a mesma doença que matou sua mãe.
Teria de reduzir seu ritmo para poupar as coronárias. Um motivo, e uma desculpa mais do que convincente para faltar às homenagens dedicadas a ele. Os títulos de cidadania que esperassem. Já aguardavam a vez de ser entregues ao espírita mais respeitado do país 68 deles.
Diante das fortes dores, recorreu mais uma vez a Emmanuel. E, mais uma vez, ouviu palavras nada consoladoras:
- Afinal, o que querias? Não malbarataste as energias do corpo? As lutas e as caminhadas pelo bem, embora contem com o amparo do Mundo Maior, não excluem as limitações e os desgastes do vaso físico terrestre.
Para evitar as dores no peito, Chico seguia à risca as instruções do Dr. Eurípedes Tahan Vieira. Tomava os vasodilatadores nos horários marcados, evitava o café, comia carne magra com moderação. Nunca reclamou.
Quero ser amigo da doença dizia ele.
Só lamentava mesmo a necessidade de reduzir o tempo de permanência nas sessões do Grupo Espírita da Prece.
Com muito custo e com muita culpa, Chico deixou de virar noites e passou a restringir sua maratona nas sessões públicas das 16h às 23h no máximo. A angina funcionava para ele como uma  "campainha no tórax ", o sinal de que era hora de se deitar.
Foi assim, maltratado por dores no peito, que Chico completou, em 8 de julho de 1977, cinqüenta anos de mediunidade. Espíritas e leigos comemoraram a data com entusiasmo e devoção. O escritor Pedro Bloch deu um depoimento bem-humorado numa das várias reportagens escritas sobre o aniversariante:
- "Muita gente o considera um embusteiro. Mas que divino embusteiro não deve ser para viver toda aquela vida de humildade e renúncia ".
Mesmo doente, Chico conseguiu entregar às livrarias naquele ano dez novos livros. De 1970 a 1977, tinha escrito nada menos que cinqüenta títulos – uma média anual de oito lançamentos. Nos dez anos seguintes, a média subiria para catorze ao ano.
Durante as comemorações do cinqüentenário, Chico fazia questão de se definir como alguém em paz, alegre. Não queria passar a impressão de um senhor enfermo, em agonia.
Mas estava amargurado. Numa noite, em São Paulo, um desconhecido se aproximou dele e comentou:
- O senhor é um privilegiado.
Foi o suficiente para tirar do sério o adepto da paciência.
- Meu amigo, não sei quais são meus privilégios perante os céus, porque fiquei órfão de mãe aos cinco anos de idade...
E por aí foi. O desabafo passou pelo caso Humberto de Campos, incluiu uma "escandalosa perseguição de 1958" (o escândalo Amauri Pena) e um  "internação para cirurgia de muita gravidade " (hérnia) e terminou no advento da angina.
Diante dos olhos esbugalhados do comerciante, Chico concluiu:
- Se tenho privilégios como o senhor imagina, devo os ter sem saber.
Chico estava cansado. Muitas vezes, precisava colocar um lenço encharcado de álcool entre a camisa e o peito para aliviar a dor da angina e suportar o desfile de casos trágicos no Grupo Espírita da Prece. Ao som de Mozart, Bach, Beethoven, Berlioz, a romaria se arrastava até seis horas seguidas. Doente, sentado num banco de madeira, Chico ouvia dramas dolorosos e sofria com Seu coração que levava trancos. Mas ele resistia. Parecia estar amparado por uma legião de assistentes invisíveis.
As consultas eram cada vez mais rápidas.
Chico, minha filha, de cinco anos, é portadora de mongolismo, mas eu acho que ela está sendo assediada por espírito.
Chico descartava a hipótese "espiritual " e encaminhou mãe e filha à fila de passes. Elas viravam as costas, e ele confidenciava a um amigo:
- Os espíritos estão me dizendo que essa menina, em encarnação anterior recente, suicidou-se atirando-se de um lugar muito alto.
Outra mãe se aproximava e reclamava do filho, de cinco anos:
- Ele é perturbado. Fala muito pouco e não memoriza mais que cinco minutos qualquer coisa que nós ensinamos.
Quando os dois já estavam a caminho da sala de passe Chico confidenciava:
- Na última encarnação, esse menino deu um tiro fatal na própria cabeça.
Numa das noites, uma moça de 26 anos se aproximou e desabafou:
- Minha personalidade muda demais. Às vezes, tenho impressão de ser outra pessoa. Estou ficando louca?
Essa mudança é imposta espiritualmente. No caso, você está funcionando como um espelho. Busque se ajudar.
De repente, Chico disparou a pergunta desconcertante:
- Quem é Rosa?
- É minha avó. E ouviu a notícia:
- Ela está aqui e roga que lhe diga que tem procurado ajudá-la, mas você deve exercer certo controle sobre si própria. Busque orar muito. Não se preocupe. Ela está dizendo que vai ajudar.
Em seguida, uma senhora de 45 anos, Therezinha, se aproximou e, sem dizer uma palavra, tirou da bolsa uma foto do filho Cássio e apertou as mãos de Chico.
No mesmo instante, o médium fechou os olhos e se agarrou a um lápis. O papel ficou coberto de garranchos: "Querida mãezinha Therezinha e meu querido pai Florentino, abençoem-me. Marlise, nossa irmã, Deus nos proteja a todos  ".
A carta, longa, pedia otimismo, falava do "vovô Florentino ", que, ao lado do remetente, mandava lembranças, e de duas avós convertidas em "mães do coração ". Maria Faustina e Maria Caruso.
Cada consulta durava minutos e terminava com uma frase:
- Deus não desampara.
Numa dessas longas noites, Chico se levantou da cadeira, abriu os braços e anunciou:
- Acaba de entrar na sala um lindo raio de sol.
Era a cantora Vanusa. Na fila, atormentada pelo fim do casamento com Antônio Marcos, caiu em crise de choro incontrolável. Ficou muda, aos soluços, com o rosto coberto de lágrimas. Os auxiliares de Chico levaram a cantora a uma sala ao lado e esperaram que se acalmasse. Só mais tarde conversou com Chico. Queria resposta. Sua vida iria melhorar? Ela iria se reconciliar com o ex marido?
Não ouviu resposta alguma. Chico segurou suas mãos e se limitou a dizer:

CONTINUA AMANHÃ

VONTADE DE DEUS - DIVALDO FRANCO

terça-feira, 14 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA


Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação, porque seu caráter é o que você realmente é, enquanto a reputação é apenas o que os outros pensam que você é. E o que os outros pensam, é problema deles

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Você precisa SER para TER e não ter para ser

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A VIDA DESAPROPRIADA - PARTE 5

CONTINUAÇÃO

No hotel, o telefone ficou perto de sua cama. Ninguém poderia telefonar. Na primeira noite, eles foram ao Centro e Chico chamou pelo nome:
Áxima, Áxima...
Como a moça não estava, a mãe dela, Jandira, se aproximou e respondeu:
-Sr. Francisco, Áxima é minha filha. Viemos aqui porque perdi meu filho.
Chico respondeu:
-Não, a senhora não perdeu o filho. Seu filho é um apóstolo de Jesus.
Wady não se convenceu, mas no dia seguinte voltou. Sentaram e esperaram.
Ouviram a leitura do Evangelho, viram Chico escrever frases e mais frases sobre o papel.
No final, a surpresa: o texto tinha a assinatura de Wady Júnior. Foi o primeiro de uma série. O pai leu com atenção cada frase e, depois de algum tempo, se converteu ao espiritismo e enterrou de vez a idéia do suicídio. A morte era impossível.
Casos como este se espalhavam, eram publicados em livros e tornavam ainda mais célebre o ex matuto de Pedro Leopoldo. De vez em quando, ele era saudado como  "o famoso Chico Xavier  " e sentia vontade de sumir, constrangido.
Estava tão popular que virou cordel. Em 1974, o alagoano Enéias Tavares Santos escreveu num livreto, em 208 estrofes, A Verdadeira História de Chico Xavier. Foi impecável:
Hoje Chico é o maior
No setor da mediunidade
Vive lá em Uberaba
Aquela grande cidade,
Com uma obra grandiosa
Praticando a caridade.
Assim vai realizando
A sua grande missão:
Lá oitocentas crianças
E adultos também vão
Receber seus alimentos
Nos fundos de um galpão.
E se acaso uma pergunta
Ao Chico é formulada,
Concernente a suas obras,
Responde com voz pausada:
Eles são que fazem tudo
Eu é que não faço nada.
O movimento em torno de Chico, em escala quase industrial, mudou Uberaba. E não foi apenas para melhor. A rodoviária virou um inferno nos fins de semana. Os visitantes mais pobres chegavam em busca de Francisco Cândido Xavier e encontravam, na beira dos ônibus, ao desembarcar, curandeiros de terreiros de macumba, prostitutas e agentes de hotéis e pensões, todos dispostos a faturar. Um mundo nada evangélico pegava carona no fenômeno da Comunhão Espírita Cristã.
Em 1975, Chico Xavier recebeu pelo correio uma notícia incômoda. Uma de suas ami-gas, Consuelo Calado, de Goiás, comunicava a doação de cem alqueires de terra. Era um presente para ele. Chico pegou o primeiro ônibus e foi até a casa dela  "apelar para seu coração humanitário  ". Queria renunciar ao patrimônio em benefício das obras assistenciais da doutrina. Convenceu a doadora a repassar 50% do dinheiro à Comunhão Espírita Cristã e a aplicar a renda obtida com a venda dos outros 50% na fundação do Lar Fraternidade, em Goiás.
No dia 19 de maio de 1975, Chico Xavier escreveu uma carta, em tom solene, endereçada aos "Srs. Diretores da Comunhão Espírita Cristã " . Após anunciar a doação das terras, declarou:
- “Agradecendo a generosidade que sempre me dispensastes, venho comunicar-vos o meu desligamento das tarefas dessa benemérita instituição a partir desta dat  ".
Em seguida, tratou de listar seus motivos: desgaste orgânico após 65 anos de vida e 48 de atividades mediúnicas, hipotensão "com características inquietant  dificuldades ", crescentes na visão, ausências semanais para tratamento de saúde.
Mais uma vez, a enfermidade foi sua "enfermeira ". Com a catarata, ele se aposentou por invalidez; com a labirintite, justificou sua mudança para Uberaba; com a sinusite, explicou o uso da peruca. A doença servia como álibi, uma forma de adiar a verdade.
A Comunhão Espírita Cristã tinha crescido demais. Chico já não cabia nela.
Precisava apenas encontrar um novo endereço. Os amigos o ajudaram. Naquele ano, onze companheiros seus, oito de São Paulo, dois do Rio e um de Uberaba, se cotizaram e doaram ao espírita 221 mil cruzeiros, o suficiente para comprar um terreno e concluir a construção. Chico ocupou três lotes ao lado da Comunhão Espírita Cristã e, aos 65 anos, virou outra página de sua história.
Para enfrentar os últimos capítulos de sua vida, ele tratou de organizar uma nova família. Ao seu lado, morariam dois rapazes: Eurípedes Higino dos Reis e Vivaldo Cunha Borges. Desta vez, Chico escolheu os companheiros a dedo. Eurípedes, então com 25 anos, convivia com Chico desde os oito, quando sua mãe, Carmem, começou a trabalhar na Comunhão Espírita Cristã. Vivaldo, ele conhecera cinco anos antes, quando o rapaz trancou a matrícula na Faculdade de Medicina, em Franca, após deparar com um espírito ao lado do cadáver que iria dissecar. Durante cinco anos, deu passes no centro de Chico. Em 1974, o ex parceiro de Waldo Vieira olhou para o rapaz e disse:
- Acho que a medicina não é para você. Melhor se dedicar ao serviço espírita.
Anos depois, Eurípedes se tornaria o presidente do novo centro de Chico Xavier e controlaria com rigor o acesso a ele. Vivaldo assumiria a responsabilidade pela organização de toda a obra de seu "pai espiritual ". Seria o encarregado de datilografar, arquivar e editar todas as mensagens.
Faltava apenas o centro. No dia 8 de julho de 1975 data do aniversário de 48 anos de atividades mediúnicas de Chico -, o dissidente da Comunhão Espírita Cristã fundou o Grupo Espírita da Prece, a 17ª casa kardecista fundada em Uberaba desde sua chegada na cidade. Em dezoito anos, sob sua influência, o número de centros espíritas na cidade dobrou.
No novo endereço, distante oito quilômetros de sua casa, Chico voltou no tempo em busca da simplicidade perdida.
A construção lembrava o Centro Luiz Gonzaga original, em Pedro Leopoldo. Uma sala pequena - um cubículo se comparado com a Comunhão Espírita Cristã, uma varanda, um quarto modesto para os passes, uma cozinha, com dimensão de quarto de empregada, nos fundos. Só. Sobre a mesa de madeira, diante dos bancos simplórios, ele afixou uma nova inscrição: "Silêncio é prece ". Buscava a paz. Tentava escapar da rodaviva em que havia se metido. Precisava se poupar. Em pouco tempo seu peito começaria a doer.
Em setembro de 1976, Chico Xavier recebeu a visita do médium Luiz Antônio Gasparetto, então com 26 anos e recém-formado em Psicologia. O jovem deixava espectadores boquiabertos ao pintar, em minutos, com as mãos e os pés, sempre de olhos fechados, telas assinadas por mestres mortos como Toulouse Lautrec, Renoir, Manet, Goya, Van Gogh, Matisse e Rembrandt. Na época, ele começava a ser considerado uma espécie de Chico Xavier da pintura.
O encontro dos dois rendeu um espetáculo insólito. A música de Gounod, Donizetti, Beethoven tomou conta do ambiente e, em instantes, Gasparetto abriu a boca e se identificou, com sotaque francês.
- Boa tarde. Sou Toulouse-Lautrec.
Em segundos, seus dedos e as palmas das mãos já estavam lambuzadas de tinta.
Em menos de cinqüenta segundos, um borrão no centro da tela se transformou num contorno de mulher. Chico, compenetrado, assumiu o papel de narrador dos bastidores invisíveis da sessão. Gasparetto usava as duas mãos para pintar uma tela intitulada Dois Esboços e Chico anunciava a presença de dois espíritos, um em cada braço do rapaz, empenhados em movimentos livres e não sincronizados.
De repente, antes de aparecer na tela a assinatura da pintora, Chico anunciou a presença da pintora brasileira Tarsila do Amaral, já falecida.
Sinto um impacto ao ver o espírito dessa amiga de pé, manipulando o braço do médium. Tive o privilégio de assistir à evolução espiritual e artística de Tarsila quando, paralítica, presa a um leito, retratava seus personagens invariavelmente com a cabeça pequena.
Na tela, em instantes, apareceu a figura de uma mulher deitada. Era um autoretrato póstumo.
A pintura mais demorada chegou ao fim com uma assinatura ilustre: Van Gogh.
Intitulada Flores, e repleta de cores berrantes, demorou cinco minutos para aparecer diante dos olhos marejados de Chico Xavier:
- Sempre que vejo certas flores espirituais, o miosótis, por exemplo, sinto as vibrações que emitem e não posso conter as lágrimas.
Para encerrar, Gasparetto decidiu usar os pés. Após espalhar tinta em seus dedos, ele colocou na tela a figura de uma mulher. Senhora era o título. Picasso, a assinatura.
Em seguida, Gasparetto, ou melhor, Toulouse-Lautrec, decidiu conversar com o anfitrião:
- Je vous en prie, apaguemos as luzes. Merci, e 'est mieux. Aprendi o português só pro gasto, mas vamos indo. Você está me ouvindo, Chico?
- Sim, perfeitamente.
Após os cumprimentos, Toulouse deu o seu recado:
- Embora haja muita pintura no mundo, nossa missão é alegrar mais a vida comprovando sobretudo que a morte não existe, que nós continuamos, que a vida continua. Combinamos as tintas e o quadro sai. Os incrédulos deveriam ver isso para saber que não morremos. Mas os estúpidos nem vendo crêem.
Toulouse, sem papas na língua, fez até uma inconfidência sobre o guia de Chico. Emmanuel estava estudando com ele  "teoria da pintura terapêutica de elevação ".
Chico não tinha tempo para cursos de pintura.

CONTINUA AMANHÃ

EQUILIBRIO

segunda-feira, 13 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Um dia a lágrima disse ao sorriso: invejo-te porque vives sempre feliz. O sorriso respondeu: Engana-te, pois muitas vezes sou apenas o disfarce de tua dor.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta.

Autor: Chico Xavier

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A VIDA DESAPROPRIADA - PARTE 4

CONTINUAÇÃO

Entre os convidados, estava o almirante Silvio Heck. O discurso militarista de Chico Xavier ainda rendia dividendos.
O ex ministro da Marinha, um dos telespectadores atentos do segundo Pinga-Fogo, estava empolgado. Para ele, Chico era uma prova do que Gandhi um dia afirmou:  "Se um dia um único homem atingir a mais elevada qualidade de amor, isto será suficiente para neutralizar o ódio de milhões ".
Chico Xavier surpreendeu o público com um longo discurso improvisado, repleto de dados históricos precisos e de nomes e sobrenomes das  "autoridades presentes ", sem recorrer a qualquer texto. Mais uma vez, ele insistiu na humildade. Disse não ter qualidades para receber "semelhantes honrarias " e se definiu como uma parede arruinada, sobre a qual se pregava um cartaz anunciando os ensinamentos de Jesus. Terminou seu discurso, diante de espectadores como Dulce Passarinho, tia do ministro Jarbas Passarinho, pedindo a "bênção generosa, a bênção imperecível de Deus ".
Sua peruca tinha crescido e exibia até fios grisalhos. Espíritas estavam perplexos e enviavam cartas ao pop star em Uberaba. Seus ternos bem cortados, seu cabelo de mentira, tudo isto era inconcebível. Ele sucumbia à vaidade. Uma das cartas era dura.   "Você envelheceu e caducou ".
No dia 28 de outubro de 1972, Chico Xavier quebrou o silêncio, esqueceu a postura de engolir desaforos e desabafou ao jornal Cidade de Santos. Estava irreconhecível.
Aos críticos de sua peruca, ele respondeu:
- Pus cabelos na cabeça sim. E pus mesmo porque preciso. E isso me honra muito. Eu quero viver. Não quero aparecer como uma ruína humana diante de meus amigos, todos bem postos, bem tratados. Por que eu vou aparecer como uma pessoa que morreu e que só falta enterrar? Não, não morri, não. Eu quero viver e quero viver muito, se Deus quiser.
Aos críticos de seus ternos, ele perguntou:
- Eu agora vou andar vestido de bandral do século 1? Não. Por causa dos livros? Então era melhor não ser médium. Quero andar direitinho, com a roupa limpa e com cabelos na cabeça. Me perdoem, mas eu quero. Pois se a doutrina é a maior alegria de nossa vida, vamos chegar lá imundos, pedindo esmola? Tenho de ir desabando em glórias, uai.
A quem lhe cobrava uma postura de santo, ele gritou:
- "Nós precisamos humanizar a doutrina. Nem demônio, mas também nem anjos. Somos homens e mulheres da Terra. Agora, o dia em que for promovido a anjo, ninguém sabe, porque a nomeação foi lá por cima ".
A quem criticava seu empenho em receber títulos em solenidades, ele desafiou:
- "A Câmara Municipal vota um título para o espiritismo e diz que a besta chamada Chico Xavier deve ir receber. Posso ofender uma cidade, falando assim: Muito obrigado, eu aí não vou pôr meus pés? " "Não posso fazer isso ".
Estava magoado:
- "Não tenho tempo nem de cortar a unha. De vez em quando o dedo dói e sangra. Uma unha entrou no outro dedo ".
E terminou com uma ironia:
- "Querem que eu chegue nos lugares e diga:  "Olhe, eu sou espírita. Vocês podiam dar uma esmola pra Comunhão Espírita Cristã? " Mandavam a gente pra cadeia. Manda para o Carandiru que ele está doido  ".
Nunca mais Chico faria um desabafo como esse em público.
Na Bienal do Livro daquele ano, a fila até Chico Xavier, no estande da Livraria Modelo, assumiu proporções descomunais. Quase 1.500 pessoas se esforçaram para chegar a ele. Distribuiu autógrafos das duas horas da tarde às sete da manhã seguinte.
Descansou apenas meia hora. Os amigos sugeriram o uso de um carimbo com dedicatória padrão para apressar o movimento. Chico apenas assinaria o próprio nome. Com muito custo, persuadido pelo tamanho da fila, Chico aceitou. Foi pior. Culpado pelo excesso de impessoalidade, ele tratava de escrever, ao lado do carimbo, algumas frases para cada leitor.
Em 1973, Chico foi atração em outra tarde-noite-madrugada de autógrafos. Nos dias 3 e 4 de agosto, no Clube Atlético Ipiranga, em São Paulo, ele deixou sua assinatura em nada menos que 2.243 livros após dezoito horas de maratona.
A quantidade de cartas endereçadas a ele também alcançava números impressionantes. Chico chegou a receber, por dia, trezentas cartas. A média girava em torno de duzentas. Remetentes do Brasil inteiro, além da Espanha, Estados Unidos, Portugal, Argentina e Itália, pediam socorro a Chico Xavier, "o pai dos desesperados  ".  "o irmão dos que choravam  ",  "o melhor sobre a Terra  ". Dos envelopes saíam fotos, pétalas, descrições de tragédias, súplicas. "O senhor escute sua prece. Ore por nós..." "Minha filhinha morreu... Ela está bem?  " "Perdi a alegria de viver..."
Chico já era um fenômeno. Passava por cima das críticas, vestia seu terno, penteava a peruca e ia em frente. Em 1973, a Câmara Municipal de São Paulo se transferiu por um dia para o Ginásio do Pacaembu. Iria entregar, em sessão especial, o título de Cidadão Paulistano a Francisco Cândido Xavier. O Ginásio ficou lotado. Após se definir como o  "último dos últimos servidores das atividades evangélicas  ", ele afirmou receber o título na condição de apenas um "zelador  " da doutrina e iniciou uma aula sobre a fundação de São Paulo, repleta de minúcias nunca incluídas, sequer, em livros de História. Os espíritas mais atentos não tiveram dúvidas: era Emmanuel quem falava. E falava com a autoridade de quem tinha sido, em outra vida, o padre Manuel da Nóbrega, fundador da cidade.
As homenagens eram incessantes. Em 1973, a estrela do Pinga-Fogo ainda recebeu os títulos de cidadão de Araras, Santos, São Caetano do Sul, Franca, Belo Horizonte, Campinas, Araguari, Goiânia, além da Placa de Ouro da Prefeitura do Guarujá e a Medalha Anchieta da Câmara Municipal em São Paulo.
Durante a maratona, ele inventaria mais um slogan auto depreciativo:
- Não passo de um cabide, onde dependuram as homenagens ao espiritismo.
Aos que anunciavam sua queda, por ceder ao orgulho e à vaidade, ele gritaria:
- Não vou cair porque nunca me levantei.
Numa tarde, ele caminhava com amigos em peregrinação por um bairro pobre de Uberaba, quando parou de repente e afirmou:
- Às vezes, sinto como se meu corpo estivesse coberto de lama. Mas aqui eu nunca deixei respingar uma gota - e apontou para a própria cabeça.
A felicidade ele sempre definiu como "consciência tranqüila  ".
Em 1973, Chico era um best seller recorde no Brasil. Tinha escrito 116 livros e vendido mais de 4 milhões de exemplares. A renda com direitos autorais atingia a média de 30 mil cruzeiros mensais. Ele doava tudo às editoras espíritas.
Sobrevivia com os modestos 386 cruzeiros de sua aposentadoria no Ministério da Agricultura - ou seja, cerca de 1% do quanto rendiam os livros a cada mês.
De todos os títulos, reverteu a venda de treze à Comunhão Espírita Cristã. Apenas um dos livros, lançado um ano antes, Sinal Verde, já tinha esgotado três edições de 10 mil exemplares cada.
Catorze anos após a fundação, a Comunhão já ocupava quase o quarteirão inteiro. Ambulatórios médico e dentário funcionavam ao lado da livraria, de um abrigo para idosos, da sala de costuras para confecção de agasalhos, da biblioteca e do salão onde eram distribuídos setecentos a mil pratos de sopa todos os dias.
Tanta prosperidade começou a incomodar o escriturário aposentado.
Numa tarde, Chico chegou ao galpão onde atendia o público e encontrou dois buracos na parede. Seus assistentes queriam lhe fazer uma surpresa: instalar aparelhos de ar-condicionado. O médium foi curto e grosso:
- Eles entram e eu saio. Este é um local de trabalho.
A inscrição colada por ele sobre sua vitrola - "Muito tarde é que se vê que não se amou o bastante " - começou a destoar do ambiente. Parecia simplória demais.
De vez em quando, diante de uma nova parede, de uma reforma, Chico diria:
- Em casa que muito cresce o amor desaparece.
As filas diante da Comunhão pareciam intermináveis. Elas se estendiam a cada entrevista na TV, a cada solenidade a cada noite de autógrafos, a cada distribuição de Natal, a cada carta enviada pelo filho morto à sua mãe, a cada prato de sopa.
As cenas de desespero e de idolatria se sucediam.
Uma senhora chega diante de Chico, começa a tremer, empalidece, desmaia.
Quinze minutos depois volta, coloca o rosto de Chico entre suas mãos, chora como criança e se afasta, ainda aos prantos, sem dizer uma palavra. Homens e mulheres beijam suas mãos, ele beija de volta. Seus bolsos ficam cheios de cartas. Muita gente implora por notícias de seus mortos.
Para milhares de pessoas, Chico Xavier era a única ponte confiável para o além.
As  "mensagens particulares "" escritas por ele, e já produzidas em série, provocavam comoção. Para a maioria, traziam provas irrefutáveis da sobrevivência dos mortos.
Outros levantavam suspeitas. Chico poderia recolher aquelas informações nas cartas enviadas do Brasil inteiro para ele. Mães aflitas enviavam até cópia da carteira de identidade dos filhos na esperança de receber uma mensagem, um sinal de vida.
Chico também poderia recorrer à telepatia. Ele não era capaz de ler pensamentos?
Mas como explicar o caso do industrial Wady Abrahão? Em novembro de 1973, ele foi a Uberaba em busca de notícias de seu filho, morto quatro meses antes, aos 17 anos.
Era a última tentativa do católico para se livrar do sofrimento. Se ele e a mulher não melhorassem, iriam se suicidar. Já tinham combinado tudo. Wady não se conformava.
À noite, saía de casa com a desculpa de voltar para a fábrica e tomava o rumo do cemitério. Depois de driblar o vigia, ele se deitava sobre a lápide superior da sepultura do filho e ficava ali, horas, a sete palmos do corpo. Achava que seu filho tinha medo de dormir sozinho. Em várias ocasiões, traído pela fumaça dos cigarros que ele fumava sem parar, foi surpreendido pela segurança. Uma vez, até a radiopatrulha foi chamada.
Áxima, a filha dele, sugeriu a ida do casal até Chico Xavier. Por que não arriscavam? Wady duvidava do médium e tomou todas as providências para evitar fraudes ou truques. Para começar, proibiu que os parentes fizessem qualquer comentário sobre a morte do filho em Uberaba. Todos deveriam ficar a seu lado para ser fiscalizados.

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