sábado, 28 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Não pede nada nas tuas preces, para ti. porque não sabes o que te é útil e só Deus conhece as tuas necessidades

Autor: Pitágoras

MENSAGEM DIÁRIA

Todos nós merecemos, mas temos que fazer por merecer

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - HUMBERTO DE CAMPOS - O ESCÂNDALO - PARTE 8


CONTINUAÇÃO

Um dia, um amigo, Jofre Leles, contou um caso estranho para o vidente de Pedro Leopoldo. Ele tinha encontrado, por acaso, às margens do rio Mucuri, em Teófilo Otoni, restos de uma espada. Desde então, vivia sonhando com lutas sangrentas. Chico pegou o objeto e se limitou a acariciá-lo bem devagar.
Capitão Jofre, esta espada lhe pertence há muito tempo. Por volta de 1840, você, nas vestes de um capitão da milícia mineira, guerreou bravamente na cidade de Filadélfia, hoje Teófilo Otoni, durante sua revolução, a chamada Revolução Liberal. Foi ferido e a espada lá ficou.
Jofre olhou desconfiado. Diante da dúvida e da surpresa do amigo, Chico garantiu:
- No pedaço de lâmina oxidado, estava gravada sua insígnia de capitão de cem anos atrás, a mesma que ele usava agora, na Polícia Militar.
Ao chegar a Belo Horizonte, Jofre fez de tudo para limpar o metal e, com muito custo, encontrou embaixo do encardido, sobre o aço brilhante, duas palavras latinas: honor e fides (honra e fidelidade).
As surpresas eram diárias. Arnaldo Rocha e Ennio ficavam cismados nas vezes em que ajudavam Chico a organizar sua correspondência, uma batelada de cartas todos os dias. Elas vinham de diversos estados do Brasil, principalmente de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. Arnaldo e Ennio abriam os envelopes e classificavam as consultas por assunto. Chico apenas tocava os pacotes e os separava em montes diferentes: pedidos de receitas, requisição de mensagens de mortos queridos, pedidos de conselhos.
Alguns, ele colocava no bolso do paletó. Sem ler.
Quarenta anos depois, uma de suas amigas mais fiéis, Neusa Arantes, ficaria perplexa diante da leitura dinâmica do médium. Ele pegava um livro, folheava três ou quatro páginas e dizia:
- Já li.
Diante da descrença da companheira, Chico contava a história do começo ao fim.
O poder mediúnico do tato seria estudado pelo espírita Ernesto Bozzano e até renderia um livro com título científico: Enigmas da Psicometria.
Os casos sobre Chico Xavier espalhavam-se como lendas.
Em Belo Horizonte, ele quase fez uma de suas admiradoras perder a voz. Após uma palestra na Semana do Livro Espírita, ele se levantou da mesa, aproximou-se dela, uma desconhecida, e a cumprimentou:
- Muito prazer, dona Daise.
A moça, sem graça, corrigiu a pronúncia:
- Dayse (Deise).
Chico desculpou-se:
- É que estou lendo seu nome como ele está escrito.
Detalhe: Dayse não usava crachá de identificação.
Outro dos amigos de Chico, Clóvis Tavares, também levou um susto quando Chico lhe pediu, tímido, em meio a uma caminhada:
- Nosso querido Emmanuel está me dizendo que você tem lido Charles Wagner. Ele lhe pede que me empreste algum livro desse autor. Diz que eu preciso conhecê-lo.
Como ele conhecia aquele detalhe? Os livros estavam em Campos...
As próprias irmãs de Chico, Dália e Lucília, começavam a acreditar nos poderes fantásticos dele. Numa tarde, as duas reclamavam da vida enquanto lavavam roupa e colocavam água no feijão. O irmão mais velho, responsável pela fiscalização da casa na ausência quase permanente de João Cândido, estava na Fazenda Modelo. E elas aproveitaram para desabafar. Estavam cansadas de tanta trabalheira lavar e passar roupa, fazer comida, varrer chão.
- Precisamos de uma empregada.
Chico chegou no fim da tarde irritado e desfiou um discurso machista:
- Em primeiro lugar, não é "empregada " que se diz, O certo é falar  "moça para ajudar em casa " Em segundo lugar, vocês devem se acostumar com o trabalho doméstico. Senão, quando se casarem, vão ser chamadas de preguiçosas pelos maridos.
Outra volta do trabalho de Chico foi bem mais dramática. Quando entrou em casa, encontrou seu cachorro de estimação, Lorde, agonizando na cozinha. Ele se contorcia, revirava os olhos e, com o rabo entre as pernas, gania. Lucília e Dália acompanhavam o sofrimento à distância. Chico se ajoelhou e, sacudido por soluços, descreveu uma cena invisível: um outro cão, vindo do além, lambia o companheiro para atenuar seu sofrimento nos últimos momentos.
Um ano depois, o rapaz comentou em conversa com amigos, diante das irmãs:
- Eu tinha um cão maravilhoso. Mas, como ele fazia xixi pela casa inteira, Dália e Lucília acharam melhor envenená-lo.
As duas coraram. Chico fingiu ter se conformado. Na verdade, ficou chocado com o assassinato do cachorro. Era fascinado por animais. Encarava os bichos como irmãos caçulas do homem e cuidava deles com obstinação. Até mesmo quando assumia o papel de pescador. Numa tarde, vencido pela insistência dos amigos, aceitou um convite para pescar. Pôs o chapéu na cabeça e, ao lado dos companheiros, tomou o rumo do ribeirão. Sorridente, acomodou-se em um barranco e lançou a linha na água.
Seus vizinhos fisgavam um peixe depois do outro. Nenhum lambari se aproximava de Chico. Um dos amigos estranhou tanta falta de sorte. Chico acabou confessando: não tinha colocado isca no anzol para  "não incomodar os bichinhos "

CONTINUA AMANHÃ

DIVALDO FRANCO - JOANA DE ANGELIS - PARTE

sexta-feira, 27 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Sexta feira, 27 de maio de 2011.

Um homem verdadeiramente nobre é aquele que sabe ser justo

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Sexta feira, 27 de maio de 2011.

O importante em mim não é o que parcialmente se vê, mas sim a dignidade que reveste a personalidade que espelha a alma

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - HUMBERTO DE CAMPOS - O ESCÂNDALO - PARTE 7

CONTINUAÇÃO

Chico obedeceu mais uma vez. Sua missão era o livro, era materializar idéias. Precisava cumprir seu cronograma e entregar logo os novos trinta títulos. Ainda faltavam dez.
A maioria dos amigos entendeu. O autor de best sellers espíritas saía das sessões em estado de exaustão. Pálido, abatido, banhado em suor. Alguns admiradores ficaram decepcionados. Quem sabe Chico não poderia provar, com esses fenômenos, a existência dos espíritos? A esperança era inútil. A maioria absoluta dos céticos duvidaria de cada foto ou de cada aparição luminosa.
Em 1954, Chico Xavier estava esgotado. Arnaldo Rocha e o amigo Ennio Santos o convenceram a passar alguns dias em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Aquela seria uma viagem também no sentido psicodélico da palavra.
As surpresas começaram ainda no meio do caminho, quando Chico sugeriu um pernoite em Resende. O hotel escolhido pelo moço de Pedro Leopoldo era incomum. Logo no salão de entrada, encravado no mármore da lareira, reluzia o símbolo do comunismo a foice e o martelo. Deus, ali, não deveria ter o menor ibope. Mas tinha.
As portas de todos os apartamentos eram marcadas por citações evangélicas pintadas a óleo. Na entrada do quarto deles, equipado com três camas estreitas, a frase de boas vindas tinha a assinatura de Lucas: "E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, perante Deus e os homens. Do lado de dentro, a madeira era marcada por outra saudação, esta menos empolgante. O apóstolo Marcos desejava  "boa-noite "
"Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai " Chico Xavier se deitou e aconselhou:
- Tomem cuidado com as palavras.
Conseguiram dormir. Ennio e Arnaldo estavam embalados no sono quando foram surpreendidos por Chico, novo em folha, de pé, pronto para uma boa caminhada.
Arnaldo conferiu no relógio: 5h30 da manhã, O frio intenso recomendava um cobertor felpudo. Os dois tomaram coragem, café, fôlego e, em pouco tempo, estavam diante de uma cachoeira ao lado de Chico. Para começar, ouviram dele um aviso em tom coloquial:
- Há vários espíritos aqui, homens, mulheres e crianças, num ritual.
Arnaldo quis saber se eles também eram vistos pelo grupo.
Chico respondeu com uma explicação dada por seu companheiro invisível.
Emmanuel esclarece que são espíritos simples, ingênuos. Pelo nosso calendário, poderíamos dizer que se encontram ainda no século XV, no mundo que lhes é próprio.
Nós não existimos. Eles não nos vêem e encontram-se em fase evolutiva bem acanhada. São índios.
Após breve pausa, completou:
- Estão, sim, meu amigo, completamente nus, pelados.
Lançou um olhar irônico a Arnaldo:
- Não é esta a sua pergunta mental?
A viagem estava só começando.
O trio chegou em Angra à noite e, na manhã seguinte, visitou as ruínas do Convento São Francisco. Eles caminhavam, quando Chico avisou a Ennio:
- Creio que terá algumas surpresas hoje.
Minutos depois, já no Cemitério do convento, Ennio encontrou em velhas lápides gastas pelo tempo os nomes de seus avós paternos e maternos. Após o tour religioso, os três decidiram encarar um programa mais ousado: alugaram uma lancha e tomaram o rumo de uma ilha deserta, velha conhecida de Arnaldo. O sol estava tinindo.
Desembarcaram, despediram-se do condutor e ouviram dele a promessa de voltar três horas mais tarde. Arnaldo resolveu nadar, Chico e Ennio ficaram à beira mar, com as calças suspensas até os joelhos, rindo e conversando entre as marolas. De repente, por volta das 16h, o tempo virou. Ondas gigantescas saltaram do mar, um temporal desabou. Do barco prometido, só se ouvia o barulho abafado ao longe. Ele tentava se aproximar, desistia, insistia, voltava. Com muito custo, o barqueiro chegou até a praia. Estava apavorado. A embarcação inclinava-se para todos os lados. As rezas pareciam inúteis. O motor parou de repente.
Chico ficou mudo, encharcado. Arnaldo segurou sua mão e ele, baixinho, lhe disse:
- Limite-se a orar. Depois eu lhe conto.
A viagem, que demorou quarenta minutos na ida, prolongou-se por mais de quatro horas na volta. De vez em quando, Chico se encolhia num canto, franzia a testa e mordia o lábio inferior. Tinha bons motivos para tanta agitação: duas assombrações agarravam desesperadas as bordas do barco. Pareciam pedir socorro. Só ele via.
E só ele ouviu a explicação nada tranqüilizadora de Emmanuel:
- São suicidas extremamente voltados para o mal. Estão tentando virar a embarcação. Já tomamos as providências devidas.
A dupla mal intencionada estava cercada de outros suicidas, uma horda de seres monstruosos.
Entre mortos e vivos, salvaram-se todos. Mas Chico ficou impressionado. Em seus 43 anos de convivência com o insólito, nunca tinha visto gente tão desesperada.
A noite também seria tempestuosa.
Os três jantaram e foram para o quarto. Conversaram sobre os sustos e as surpresas do dia, riram, conseguiram relaxar.
Estavam prontos para um sono mais ou menos tranqüilo, quando Chico aconselhou uma reza. Emmanuel iria se manifestar. Dito e feito. A voz de Chico mudou:
- Meus diletos e caríssimos amigos, que o Senhor se compadeça de nossas necessidades. Devemos estar preparados para tarefas de assistência e enfermagem espiritual.
Em seguida, Emmanuel se calou e abriu passagem para um desfile de assombrações. Todas usaram e abusaram do corpo de Chico.
O primeiro visitante tomou conta do ex matuto de Pedro Leopoldo e o deixou transtornado. De pé, andando de um lado para o outro, ele dava ordens, esbaforido:
- Atirem! Carreguem os canhões. Coragem! Ah, Napoleão! Eu que tanto o admirava... Não passas de um conquistador cruel...
Arnaldo e Ennio rezaram e puxaram conversa com o recém chegado, bastante à vontade na pele de Chico Xavier. Aos prantos, ele se apresentou como capitão de um navio posto a pique em combate, em Angra, por corsários franceses, em 1810. Ele chorava por seus comandados, pela mulher, pelos filhos.
- Que a Virgem Santa os tenha em sua guarda. Como é possível, caros senhores? Amava tanto o bravo general Napoleão. Como pode se transformar nessa ave de rapina? Ele, que lutou pelos ideais de igualdade, fraternidade e liberdade...
Após desabafar e ouvir uma série de conselhos, o comandante saiu de cena. Era um privilegiado se comparado com as outras visita da noite. A voz de Chico transformava-se em grunhidos, uivos, silvos, engrossava e afinava. Ele rastejava, saltava, se contorcia, tinha o rosto atravessado por rugas profundas e repentinas. Sozinho, dava vida a personagens inacreditáveis. Pela sua boca, um juiz negociava sentenças injustas em troca de nobreza e prestígio político. Franciscanos lembravam-se dos bons tempos em que promoviam orgias e matavam seus hóspedes no convento para roubá-los. Um desfile de criaturas sórdidas tomou conta do quarto. Quem colasse o ouvido na porta do lado de fora ficaria atônito, teria vontade de chamar o exército ou o hospício. Uma multidão aglomerava-se ali dentro.
As histórias pavorosas sucediam-se: recém-nascidos eram seqüestrados nas senzalas, seviciados e sacrificados em rituais satânicos. Escravas eram violentadas por seus senhores. Chico encarnava todas as criaturas num monólogo ensandecido.
Ennio e Arnaldo usavam todos os argumentos para acalmar os visitantes. Um dos mais desesperados apareceu como escravo, morto a chicotadas no tronco de castigos.
Seu crime: ter suplicado ao prior dos franciscanos que não tomasse sua filha Aninha para suas orgias. Chico se ajoelhava no chão e com os olhos marejados implorava:
- Oh, meu sinhô. Vosmicê é tão bom. Num faze essa coisa cum minha cuburquinha Aninha, não. Sinhô, vosmicê é um santo. Aninha é luz dos meus óio tão cansado de pinta as figurinha nos livro de vosmicê...
Ennio e Arnaldo choravam, rezavam, conversavam. Mas só conseguiram acalmar o coitado com a ajuda da falecida mulher de Arnaldo, Meimei, considerada pelos espíritas um espírito de luz. Ela apareceu e foi apresentada como nova proprietária do escravo. Chico, ainda ajoelhado, foi beijado pela aparição e reagiu com subserviência.
- Uai, sinhá. Vosmicê tá beijando negro sujo? Aninha mora cum vosmicê? Num faze isso, não. Negro Pedro é que beija sua mão e as dos outros moço.
Chico distribuía beijos e continuava:
- Vosmicê são gente de Deus. O véio Pedro inda sabe faze sabão de bola cum alecrim pra ficá cheroso... Vô fazê, viu? É um chero tão bão...
Durante três noites, o quarto se transformou em palco de tragédias de outro mundo. Ali, em Angra dos Reis, Chico deu uma amostra do que costumava fazer nas sessões de desobsessão semanais e privativas no Centro Luiz Gonzaga.
Aquelas foram as suas férias.
Nas  "horas úteis " o médium exibia poderes cada vez mais ecléticos e inacreditáveis. Ondas de perfume se desprendiam de seu corpo de repente. A água - colocada em copos e garrafas sobre a mesa em sessões kardecistas para concentrar energias positivas enviadas pelos espíritos muitas vezes ficava leitosa e perfumada quando Chico se aproximava.
Os mais desconfiados tentavam descobrir onde ele escondia as fragrâncias.
Ninguém encontrava o frasco. Muitos saíam do centro com lenços encharcados por aquele liquido vindo do nada.
O perfume, segundo os espíritas, não era mero exibicionismo. Chico, ou melhor, Emmanuel, sempre destacou os poderes terapêuticos das rosas, ricas em vitaminas C e D. O aroma viria de flores "astrau  'usadas pelos benfeitores espirituais para energizar os visitantes mais abatidos. Chico levava tão a sério o poder das rosas que sempre plantou roseiras em seu quintal com a segunda intenção de criar um cinturão  "balsâmico" em torno de si. De vez em quando, especialmente em sessões de desobsessão, ele exalava também um cheiro de éter quase sufocante. Era o sinal de que Sheilla, a enfermeira, estaria por perto.
Os amigos divulgavam os poderes extravagantes de Chico.
Um deles era o de adivinhar a história de objetos apenas com o toque.

CONTINUA AMANHÃ

ESPIRITISMO DIVALDO FRANCO - PROVAS CIENTÍFICAS DA EXISTENCIA DO ESPIRITISMO DE DEUS PARTE 4

quinta-feira, 26 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Deus nos fez perfeitos e não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Deus dotou os homens de uma boca e dois ouvidos para que ele ouça o dobro do que fala

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - HUMBERTO DE CAMPOS - O ESCÂNDALO - PARTE 6

CONTINUAÇÃO

Em pouco tempo, convenceu um médium de catorze anos, Florence Cook considerada um fenômeno na época , a se submeter a testes em sua casa, com a assessoria de sua mulher. O relatório escrito pelo cientista, e publicado quatro anos depois, era quase uma heresia.
A adolescente, quando em transe, liberava tanto ectoplasma que dava vida a uma outra forma feminina Kate King -, capaz de andar e falar por mais de duas horas seguidas.
Florence era baixa e morena. Kate era alta, loura e tinha 35 anos. O relato era minucioso e apresentava até as pulsações, completamente diferentes, da viva e da morta. Para arrematar, Crookes, anexou à sua narrativa 48 fotografias.
Muitas experiências de Pedro Leopoldo também foram fotografadas. Empolgado com os fenômenos, Chico Xavier transformou seu quarto em cabine e o emprestou a Peixotinho.
As aparições, lideradas por Sheilla - uma enfermeira alemã morta na Segunda Guerra, autorizaram as fotos. E a cabine, antes indevassável, foi aberta ao fotógrafo Henrique Ferraz Filho.
O médium carioca ficava deitado na cama estreita de Chico, inconsciente. O ectoplasma, expelido de sua boca e ouvidos, assumia forma humana e adquiria voz. Quando Henrique disparava o flash, não via nada ou ninguém diante dele. Mas, ao revelar o filme, a aparição estava lá.
Na noite de 2 de maio, a Rolleyflex registrou o corpo estranho de um senhor carrancudo envolto em uma espécie de manto vaporoso. No verso da fotografia, Chico Xavier escreveu:
“Na cabine habitual das sessões de materialização, tivemos a felicidade de receber a visita do irmão Camerino, desencarnado na cidade de Macaé... Francisco Cândido Xavier.”
Ninguém conseguiu provar a existência de truques nas sessões de materialização em Pedro Leopoldo nem de montagem nas fotos. Chico "assinou embaixo" de várias delas.
Na época, ele já era considerado por milhares de pessoas uma testemunha acima de qualquer suspeita.
Até sua família se espantava com tanta popularidade e credibilidade. O rapaz atormentado por vozes e visões, o ex réu do processo Humberto de Campos, cresceu, apareceu e começou a se transformar em mito.
Em 2 de abril de 1950, Chico Xavier comemorou seus quarenta anos com uma festa de inauguração concorrida. Naquele dia, o Centro Luiz Gonzaga mudou de sede. Já não cabia mais na casa de José Felizardo Sobrinho e se transferiu para a casa onde o aniversariante tinha nascido. O quarto miúdo de Maria João de Deus, local do parto, virou sala de passes. Convidados de vários estados lotaram o salão recém pintado e reformado com a ajuda de Rômulo Joviano. A badalação em nada lembrava aquela reunião íntima que inaugurou o primeiro centro espírita de Pedro Leopoldo, em 1917.
Espíritas de São Paulo, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Sabará marcaram presença e fizeram discursos entusiasmados. Até um representante do Clube de Jornalistas Paulista apareceu para homenagear o tema de tantas reportagens polêmicas. Após ouvir elogios e mais elogios, Chico colocou no papel um texto assinado por Pedro d'Alcântara, ou melhor, Dom Pedro II.
Em Rogativa ele pedia a bênção de Deus ao lar erguido às dores ao refúgio para os sofredores.
Nem tudo era só espírito. Naquele ano, o novo integrante do time dos quarentões tomou uma decisão frugal: deixaria de jantar. Seus quase noventa quilos eram inadequados para seu 1,64m de altura. A taxa de colesterol também começava a pesar. Chico Xavier começou a cuidar do corpo. Mais tarde, cuidaria da calvície.
Em 1951 ele foi surpreendido por uma hérnia estrangulada. A cirurgia, à altura do peritônio, era inadiável e arriscada. Um médico providenciou a internação imediata.
Chico não contou nada à família, na época às voltas com dificuldades financeiras graves. A operação durou cerca de quatro horas. Enquanto convalescia, ele pensava em como pagar a conta. Dessa vez, nem puxou conversa com Emmanuel.
Logo nos primeiros dias, recebeu a visita de uma desconhecida muito bem vestida. Ela conversou com ele durante alguns minutos, procurando animá-lo, e, ao se retirar, deixou na sua mão, discretamente, um envelope. Pediu para o doente aceitar aquela contribuição e comprar frutas. Chico agradeceu, mas não abriu o envelope de imediato, O médico passou pela visitante e a cumprimentou um tanto constrangido. Em seguida, perguntou a Chico se ele a conhecia. Diante da resposta negativa, explicou: era uma prostituta famosa nas altas rodas da cidade. No envelope, Chico encontrou dinheiro suficiente para pagar a cirurgia.
Em poucos dias, o doente já estava de pé, pronto para outra. Bem humorado, recebeu uma visita ilustre no Centro Luiz Gonzaga: o professor italiano Pietro Ubaldi, autor de um dos livros de cabeceira de Chico na época, A Grande Síntese. O anfitrião surpreendeu o visitante com uma série de revelações. A mãe dele, Lavínia, já morta, estava ali e, após abraçar o filho, se referiu a ele como mio garofanino (meu pequeno cravo). Ubaldi confirmou o apelido de infância. Em seguida, Chico assinalou a presença do filho do escritor, Franco Ubaldi, morto na Segunda Guerra, no norte da África.
Tudo ia muito bem até o momento em que o mineiro anunciou a presença do espírito de uma irmã do professor, Maria.
Ubaldi se desculpou e, sem graça, garantiu: ele tinha mesmo uma irmã com este nome, mas ela estava viva na Itália. Chico ficou em silêncio. A hesitação durou segundos.
Tempo suficiente para o mineiro trazer uma explicação do além: Maria era o nome de outra irmã sua, mas ela tinha morrido quando ele ainda era bebê. Ubaldi se lembrou, aliviado. Teve sorte.
Exatos vinte anos depois, Chico criaria o mesmo constrangimento ao anunciar ao presidente da Federação Espírita do Paraná, João Guignone:
- Sabe quem está aqui ao meu lado, cheia de emoção e querendo abraçá-lo? Sua mãe.
Para não contrariar, o rapaz fingiu alegria. E confidenciou a um amigo:
- Chico não está regulando bem. Minha mãe está viva em Curitiba.
Ao chegar ao hotel, recebeu um interurbano do Paraná. O enterro estava marcado para a manhã seguinte.
Durante dois anos, 1952-53, Chico resolveu experimentar emoções mais fortes.
Ele mesmo decidiu emprestar seu ectoplasma aos visitantes do além. As reuniões de materialização movimentavam, em geral, a casa de André Xavier, seu irmão. Chico se deitava na cama em um quarto próximo à sala, as rezas começavam, a música enchia a sala e o desfile de aparições surpreendia os espectadores. As criaturas iluminadas eram mais etéreas, menos sólidas, do que as geradas por Peixotinho em seus espetáculos.
Numa das noites, um dos espectadores e amigos de Chico, Arnaldo Rocha, recebeu a visita de Maria José de São Domingos Ramalho Rocha, sua mãe.
Quando viva, ela tratava os filhos como vidrinhos de cheiro e tinha a mania de pousar as mãos na cabeça deles. Em sua versão fluorescente, ela repetiu os hábitos estranhos. O filho quis saber se ela conservava também a mania de cheirar rapé. A aparição riu, negou e mostrou a tabaqueira vazia.
Em outra noitada, uma senhora fulgurante, coberta por véus, saiu do cubículo onde estava Chico e iluminou a sala de visitas com uma jóia fosforescente. André Xavier identificou a recém chegada: era Cidália, mãe dele, segunda mulher de João Cândido. Antes de sair, a madrasta de Chico deixou um rastro de perfume no ar. De repente, uma nova fragrância invadiu a sala e uma figura elegante entrou em cena. Era Meimei, ex mulher de Arnaldo. Ela cumprimentou a todos e pediu que a pessoa necessitada" se aproximasse.
Um jovem tuberculoso se levantou da cadeira. A aparição envolveu seu peito com cordões fosforescentes. A radioatividade, livre dos efeitos negativos do rádio, poderia curar. Em seguida, um sujeito com pose austera, enfiado numa toga romana de tonalidade azul, surgiu na sala com uma tocha acesa numa das mãos. Em tom grave, afirmou:
- Amigos, o que acabastes de ver e de ouvir representa maiores responsabilidades sobre os vossos ombros.
Era Emmanuel.
Logo, ele sumiu e abriu alas para nova onda de perfumes. A recém chegada era bem mais atraente e simpática. Loira, jovial, respondia pelo nome de Sheilla e falava com forte sotaque alemão. Um dos espectadores, diante da enfermeira morta na Segunda Guerra, tratou de fazer uma consulta médica:
- Eu me sinto mal.
- Você come muita manteiga.
Ela pediu que o paciente levantasse a camisa. Iria fazer uma radiografia do seu estômago.
Sheilla se aproximou e, com os dedos semi abertos, apalpou a região do estômago em sentido horizontal. Os espectadores ficaram perplexos. De repente, a barriga do paciente ficou transparente e todos puderam ver suas vísceras em funcionamento.
Sheilla se limitou a informar:
-Agora levarei a radiografia ao Plano Espiritual para que a estudem e lhe dêem um remédio.
A enfermeira promovia espetáculos impressionantes. Numa noite, duas senhoras, uma cardíaca e outra portadora de câncer, foram atendidas por ela em sessão.
Uma lâmpada de 26 velas mal iluminava a sala. De repente, duas pequenas bolas de luz se distenderam e formaram mantilhas que flutuaram no ar e pousaram, uma sobre a Cabeça da cardíaca e a outra sobre os ombros de sua companheira. Uma das testemunhas do fenômeno, Wallace Leal Rodrigues, pediu licença para tocar nos véus.
Tinham a textura de filó, uma claridade azulada e foram absorvidos pelos corpos das doentes.
Em 1953, Chico estava na cabine quando a sala foi iluminada por uma espécie de relâmpago. Uma aparição com quase 1,90m de altura, porte atlético e tórax largo, entrou em cena. Trazia na mão direita, erguida, a velha tocha acesa (um símbolo de fé).
Com voz clara, baritonada, encheu o peito e afirmou:
- Amigos, a materialização é fenômeno que pode deslumbrar alguns companheiros e até beneficiá-los com a cura física. Mas o livro é chuva que fertiliza lavouras imensas, alcançando milhões de almas. Rogo aos amigos a suspensão destas reuniões a partir desse momento.
Era ele mesmo. Emmanuel.

CONTINUA AMANHÃ

ESPIRITISMO DIVALDO FRANCO - PROVAS CIENTÍFICAS DA EXISTENCIA DO ESPIRITISMO DE DEUS PARTE 3

quarta-feira, 25 de maio de 2011

MENSAGEM DIÁRIA


Ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas deixar de ser vítima dos problemas e se tornar o autor da própria história

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - HUMBERTO DE CAMPOS - O ESCÂNDALO - PARTE 5

CONTINUAÇÃO

A reza só não afastava as assombrações de carne e osso. Chico sempre viveu cercado de pessoas que se agarravam a ele, o envolviam, quase o sufocavam.
Uma delas recebeu até um apelido:
Águia. Enorme, com a cabeça descomunal, nariz curvo e costas largas, o  "companheiro" de Chico assumia ares de guardião no Centro Luiz Gonzaga e chegava a afastar os amigos do alcance de seu protegido. Poucos se aproximavam. Muitos se irritavam com a omissão de Chico. Por que ele não se desvencilhava do intruso? A resposta era simples: se enfrentasse o Águia, poderia receber de volta vibrações que o prejudicariam. Preferiu ficar quieto e, com o tempo, o homem sumiu de cena.
Os amigos chiavam:
- Chico, todo mundo quer mandar em você.
Ele ia além:
- Todos mandam em mim. Eu já não me mando mais.
Outra assombração bastante real era o padre Sinfrônio. Quanto mais gente saía de outros estados à procura de Chico Xavier, mais o sangue do pároco subia à cabeça.
Os carros passavam direto pela igreja de Nossa Senhora da Conceição e estacionavam diante do centro, a cinqüenta metros de distância. Ele ficou tão irritado com o espiritismo, com o Dr. Bezerra de Menezes, com as curas e textos do além, que instalou na torre da igreja, em frente ao sino, um potente alto falante.
Entre uma badalada e outra o sacerdote convocava a população para a missa, rezava a ave maria, criticava a idéia de reencarnação. Só evitava pronunciar o nome de Chico Xavier. Uma medida estratégica: não queria transformar o filho de João Cândido em vítima.
Com sutileza e inteligência, Sinfrônio conseguiu convencer muitas beatas do quanto o espiritismo era arriscado. Chico Xavier era um exemplo: uma pessoa boa, educada, honesta. Mas como sofria o coitado. Era perseguido pela imprensa, processado na justiça, assediado por fantasmas e por forasteiros. Quem mandou se meter com o diabo?
Chico nunca tentou argumentar com o padre. Ignorava qualquer provocação, fugia de confrontos. Quando cruzava com o "rival" no meio da rua, tirava o chapéu e o cumprimentava, respeitoso. Muita gente ficava irritada com sua passividade. Ele se defendia das acusações de ser omisso comparando o ato de polemizar ao de remexer uma tina de água, "um serviço vão que cansa os braços inutilmente".
Nunca atacaria o catolicismo nem qualquer outra religião.
Pelo contrário. Faria questão de defender a Igreja Católica como fundamental ao país.
Por mais de quatrocentos anos, nós fomos e somos tutelados por ela na formação do nosso caráter cristão.
Chico estava longe de ser ingênuo. O catolicismo era útil para o espiritismo.
Multidões de católicos desembarcavam no Luiz Gonzaga todas as semanas.
Chico confidenciaria a um amigo sua estratégia: A Igreja Católica precisa sobreviver pelo menos mais cem anos. Nós não temos tempo nem recursos para receber todos os fiéis. Nossos centros são como choças, os católicos vêm dos palácios...
Sua tática pacifista e sua postura ecumênica funcionaram com o sacerdote. Quase quarenta anos depois, Sinfrônio participaria da festa de inauguração de uma praça batizada com o nome de Chico Xavier em Pedro Leopoldo.
Mulheres também atormentavam o balzaquiano mais casto da cidade. Uma vez, Chico abriu a boca numa sessão espírita em Belo Horizonte e deixou escapar uma voz encorpada, densa, vibrante. O rosto do rapaz ganhou ares aristocráticos. Após o discurso, o dono do vozeirão se identificou. Era Emmanuel. Azar de Chico. Uma das espectadoras, filha de um embaixador argentino, perdeu a cabeça. Tinha encontrado o homem de sua vida.
A sessão terminou, a moça se agarrou ao braço do médium e não soltou mais.
Quando Chico entrou na sala de passes, ela entrou atrás e trancou a porta. Para garantir a privacidade, arrancou a chave da fechadura e guardou no bolso. O dublê de Emmanuel não sabia o que fazer com aquela mulher entre os braços. Ela queria casar, ter filhos, recitar O Evangelho Segundo o Espiritismo para ele, ajudar todos os pobres do Brasil, doar... Chico tentou escapulir em tom paternal:
- Minha filha, não tenho programa de casamento. Não valho mais nada e seria sua infelicidade. Você se apaixonou por Emmanuel e não por mim. Tenha paciência. Jesus há de nos ajudar. Você encontrará um homem bom que a fará feliz. Eu já não sou mais homem. Nada posso fazer.
Naquela época, Chico, um solteirão com fala mansa e gestos femininos, sofria insinuações maliciosas. E recorria a respostas prontas para justificar seu celibato.
Devo me dedicar à família espírita, à família universal.
Não posso ficar preso a uma mulher.
A moça insistia. Chico sofreu para convencê-la a abrir a porta. Reza nenhuma adiantou. Tempos depois, ele recebeu uma carta educada do pai da apaixonada.
Em termos incisivos e delicados, o embaixador pedia a mão do espírita em casamento para a filha:
- Sei que o senhor é homem pobre, de cor, mas como tenho uma filha só e sempre lhe fiz todas as vontades, assim como desejo que ela seja feliz, conformo-me e peço-lhe que se case com ela. Darei todo o dinheiro necessário para que tenham conforto.
Chico agradeceu a generosidade do ex futuro sogro e recusou a oferta. Quanto mais rezava, mais assombração aparecia.
O espírita mais famoso do país vivia em outro mundo e, a cada ano, ficava mais íntimo dos mortos. Em fevereiro de 1948, Rômulo Joviano abriu sua casa para exibições extravagantes. A sala sobre o porão onde Chico Xavier escreveu Paulo e Estevão seria usada para as mágicas do médium carioca Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho, um expert em fenômenos batizados de materialização. Após assombrar céticos e espíritas em várias capitais do Brasil, o visitante do Rio emprestaria seu ectoplasma aos seres invisíveis em Pedro Leopoldo. Com sua energia, os mortos ganhariam consistência física e poderiam ser vistos, e até tocados, por qualquer mortal.
No dia da reunião, marcada para um sábado, nenhum dos espectadores da sessão privê comeu carne, fumou ou bebeu. Todos cumpriram os pré requisitos do ritual. Rômulo Joviano reservou um quarto só para Peixotinho e o transformou, com a ajuda de uma cortina, numa cabine própria para as materializações. A escuridão ali tinha de ser absoluta e a janela deveria estar trancada. Na sala, a pouco mais de dez metros de distância, ficariam os espectadores.
Às oito da noite em ponto, uma lâmpada vermelha iluminou a platéia. Mais de quinze pessoas, entre elas Chico Xavier, iniciaram o rito, de acordo com o regulamento espírita: leitura de trechos evangélicos, seguida de comentários, "para atrair espíritos de ordem superior", acompanhada por música clássica, "para facilitar a aglutinação fluídica" e conduzir os participantes a uma vibração positiva. Ave Maria, de Gounod, tomou conta do ambiente.
Da cabine onde estava Peixotinho saíram clarões coloridos. O corredor foi atingido por reflexos verdes, roxos e azuis. De repente, apareceu na sala um visitante fluorescente. Diante de olhos atônitos, alguns deles desconfiados, começou o desfile de assombrações.
Um dos perplexos na platéia era o delegado de polícia paulista R. A. Ranieri.
Naquela noite, ele foi surpreendido pela visita de uma réplica iluminada de sua filha, Heleninha, morta três anos antes, com dois anos de idade. A garota "saiu" do corpo de Peixotinho e "ressuscitou", quase em neon, com a mesma fisionomia e estatura dos tempos de viva e com a voz semelhante à original. Cumprimentou o pai e colocou nas mãos dele uma flor brilhante.
Era ela, sem dúvida nenhuma - garantiu Ranieri.
E exigiu credibilidade.
Um delegado dificilmente se deixará embair por truque afirmou.
Ficou tão convencido da autenticidade dos fenômenos que escreveu um livro sobre o assunto, intitulado Materializações Luminosas.
Naquela noite, todos ficaram impressionados com o respeito demonstrado pelas aparições quando se aproximavam de Chico Xavier. Muitos dos seres fluorescentes só faltavam se curvar diante do matuto de Pedro Leopoldo.
Um dos visitantes do outro mundo naquela noitada estranha se apresentou como José Grosso e, às gargalhadas, tratou de honrar o apelido. Lançou numerosas pedras iluminadas sobre os espectadores. Nenhuma atingiu o alvo. Mas o recém-chegado deu provas de pontaria ao acertar, na penumbra, o nome de cada um dos quase apedrejados. O espetáculo durou pouco e foi até bem comportado perto dos shows promovidos por Peixotinho no Rio.
As experiências realizadas por ele e acompanhadas por Ranieri na capital eram ainda mais espetaculares. Algumas vezes, duas latas, com capacidade para vinte litros cada, ficavam lado a lado na cabine onde o médium dava à luz seres invisíveis.
Numa delas, parafina dissolvida fervia sobre um fogareiro aceso, à temperatura de até cem graus centígrados. A outra ficava cheia de água fria. As criaturas iluminadas enfiavam as mãos e os pés nas latas de parafina fervente e, depois, as mergulhavam na água. Resultado: esculturas perfeitas.
As surpresas se sucediam. Frases ditas pelos espectadores viravam, em segundos, letreiros luminosos suspensos no ar. As roupas e os cabelos dos participantes eram cobertos por luz fluorescente, produzida por uma mistura de radioatividade com outro elemento, desconhecido na Terra, capaz de anular as "contra-indicações" do rádio. Balas de açúcar cristalizado recebiam descargas radioativas, ficavam esverdeadas e soltavam luz a cada dentada ou a cada atrito contra o chão 24 horas seguidas. Os participantes da sessão prive levaram as balas para casa e exibiram seus poderes mágicos para a família.
Chico Xavier encarava aqueles espetáculos insólitos com naturalidade.
Personagens fantásticos faziam parte de sua rotina. E a "materialização" não era novidade alguma.
Já em 1870, o químico inglês William Crookes, descobridor de seis elementos e membro da Sociedade Real Inglesa, estudou o fenômeno. Tudo começou quando o cientista decidiu acabar de vez com aquela idéia absurda de que "espíritos" poderiam se materializar.
Vou provar tratar-se de uma ilusão vulgar anunciou.

CONTINUA AMANHÃ

ESPIRITISMO DIVALDO FRANCO - PROVAS CIENTÍFICAS DA EXISTENCIA DO ESPIRITISMO DE DEUS PARTE 2

terça-feira, 24 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Terça feira, 24 de maio de 2011.

Muitos conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada sobre o mundo que são

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


 Terça feira, 24 de maio de 2011

Às vezes somos confundidos por uma verdade além de nossa compreensão, ainda assim procuremos fazer o melhor .
 

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - HUMBERTO DE CAMPOS - O ESCÂNDALO - PARTE 4


CONTINUAÇÃO

Uma medida de segurança para evitar um "caso Humberto de Campos II".
Sorte dele. As herdeiras do ex milionário ficaram revoltadas com o texto. Não acreditaram numa só palavra sobre o dia a dia do pai no outro mundo. O morto vibrava com a bênção de ter se libertado das "correntes materiais" e comemorava o fato de estar mais vivo do que nunca. Para elas, tudo não passava de invenção de Chico.
O livro foi publicado. O título Continuou o mesmo, mas o nome do autor mudou bastante. Virou Irmão Jacob. Figner não conseguiu mostrar aos amigos empresários o quanto era imortal, indestrutível.
Chico Xavier fechava os olhos para os Céticos e jogava no papel frases assinadas por mortos ilustres. No dia 26 de julho de 1948, o desabafo atribuído a um certo Alberto Santos Dumont aterrissou nas páginas em branco. O chamado Pai da Aviação, que se suicidou após crise depressiva provocada pelos bombardeios aéreos durante a Revolução Constitucionalista de 1932, ainda lamentava os estragos causados por sua invenção na Segunda Guerra Mundial. Sob o impacto das carnificinas em Hiroshima e Nagasaki, ele avaliava, com algum atraso: "Facilitar comunicações às criaturas que ainda não se entendem possivelmente será acentuar os processos de ataque e morte, de surpresa, nas aventuras da guerra".
Para atenuar sua culpa, definia a evolução como uma fatalidade e se dedicava a conselhos elevados: "Outra deve ser a vocação da altura. Não há vôo mais divino que o da alma. Sejamos descobridores de nós mesmos".
Os vôos de Chico Xavier nesse ano foram turbulentos.
Enquanto passava para o papel o livro Libertação, assinado por André Luiz, ele sentiu-se na mira de uma rajada de assombrações.
Numa tarde, quando voltava da Fazenda Modelo, a pé e sozinho, parou no meio da estrada de terra e se jogou no chão, de joelhos. com os olhos voltados para o céu e as mãos enlaçadas em prece. Em sua direção, cada vez mais perto, avançava uma legião de quase seiscentas criaturas descontroladas, armadas com paus e aos berros:
Você é o Chico Xavier? Agora você vai ver. Miserável, protegido.
Os agressores já estavam a cinco passos de distância e nem sinal de Emmanuel, o protetor. Chico rezou, pediu perdão a Deus e se preparou para o linchamento. De repente, as figuras começaram a se desfazer. Não sobrou uma para contar a história. Chico se levantou, sacudiu a poeira da calça e, a caminho de casa, decifrou a lição do dia: a reza era um santo remédio.
Semanas depois, Chico foi surpreendido por três mulheres nuas se ensaboando embaixo do chuveiro em sua casa. Elas riam, jogavam água uma nas outras e encaravam o moço com olhares convidativos. O autor de Libertação fechou os olhos, rezou e, quando voltou à tona, estava sozinho de novo no banheiro, pronto para o banho.
Chico sempre se sentiu sob vigilância constante. Um dia, na Fazenda Modelo, arrancou uma laranja do pé e ouviu a censura:
- "Ladrão".
Emmanuel poderia pegá-lo em flagrante a qualquer momento. E entrava em cena contrariado quando seu protegido usava palavras inconvenientes, falava em tom áspero ou dava sinais de agressividade e impaciência. Com o tempo, Chico passou a apostar na frase "o mal é o que sai da boca do homem" e começou a construir um discurso sob medida. Logo ele se tornou um mestre em eufemismos.
No seu mundo, não havia prostitutas, mas "irmãs vinculadas ao comércio das forças sexuais". Os presos eram "educandos", os empregados eram "auxiliares", os pobres eram "os mais necessitados", os mongolóides eram "nossos irmãos com sofrimento mental", os adversários eram "nossos amigos estimulantes" e os maus eram os "ainda não bons". Ninguém fazia anos e sim "janeiros" ou "primaveras". Os filhos de mães solteiras deveriam ser encarados como filhos de pais ausentes. A nota de vinte cruzeiros, entregue com freqüência aos pobres, ganharia um apelido inspirado em sua cor: "laranjada".
O cuidado com as palavras não era mera formalidade nem prova de educação.
Tinha fins preventivos, quase terapêuticos. O uso de expressões agressivas era perigoso, arriscado. Os maus pensamentos também. Era Kardec quem ensinava: "Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável..."
Um dia, Chico andava esbaforido em direção à Fazenda Modelo quando foi chamado por uma vizinha. Desde a véspera ela tentava falar com o representante do Dr. Bezerra de Menezes. O moço tinha assumido o compromisso de ajudá-la naquela manhã.
Atrasado para o serviço, ele seguiu em frente e se limitou a dizer:
- Estou com pressa. Na hora do almoço passo aqui.
Deu cinco passos e ouviu a voz de Emmanuel.
- Cinco minutos não vão prejudicá-lo.
Chico voltou, tirou dúvidas da mulher sobre um remédio receitado pelo Dr. Bezerra e foi embora. A vizinha ficou feliz da vida.
- Obrigada, Chico, Deus lhe pague. Vá com Deus.
O rapaz despediu-se e, cem metros adiante, seguiu outro conselho de Emmanuel.
Olhou para trás para ver o que saía dos lábios da moça em sua direção. Enxergou uma massa branca de fluidos luminosos aproximando-se e entrando no corpo dele.
Emmanuel concluiu a lição daquele turno:
- Imagine se, em vez de "vá com Deus", ela dissesse "vá com o diabo". De seus lábios estariam saindo cinzas, ciscos, algo pior.
Chico passou a aconselhar os amigos no Centro Luiz Gonzaga:
- Até punhaladas e tiros temos recebido de volta por mau uso das palavras. Um dia, porque adverti um companheiro sem vestir-me da defesa da humildade, recebi, quando menos esperava, um tiro projetado sobre mim com a força de um pensamento carregado de ódio.
A humildade, para ele, funcionaria como escudo em várias ocasiões. Numa delas, ele levou um tombo, caiu de costas e bateu com a cabeça no chão. Já estava pronto para reclamar, quando Emmanuel ordenou:
- Agradeça.
Como?
- Agradeça.
Ainda no chão, Chico levantou um pouco a voz e acatou:
- Obrigado, muito obrigado.
A voz do amigo invisível decifrou o enigma:
- Se você se irritasse, emitiria vibrações quase iguais às deles e eles ficariam com mais força.
O tombo, segundo o amigo invisível, tinha sido provocado por "espíritos de baixa vibração".
Numa noite, quando já se preparava para dormir suas três horas de sono, Chico foi surpreendido pela visita de uma figura diabólica.
- Você me chamou?
A voz era arrepiante. Chico ia dizer a verdade, quando Emmanuel o aconselhou a trocar o "não" por um "sim" estratégico.
- Chamei, sim, senhor.
- E o que você quer?
Chico arriscou uma resposta política:
- É que a vida está tão difícil que eu queria que o senhor me abençoasse em nome de Deus ou em nome das forças em que o senhor crê.
O recém-chegado perdeu o rebolado e insultou:
- É só a gente aparecer que você cai de joelhos.
Depois sumiu.
As provações se sucediam.
Na noite de 11 de setembro de 1948, Chico Xavier e um amigo, Isaltino Silveira, admiravam Pedro Leopoldo do alto de um morro, na beira de um riacho. Sentado numa pedra, sob a luz de um poste, Chico lançava sobre o papel um poema assinado por Cruz e Sousa. Isaltino substituía as páginas preenchidas por outras em branco. Os dois estavam às voltas com o poeta do além quando escutaram um barulho no mato. Eram passos. O amigo de Chico olhou para trás e levou um susto: um homem enorme, com olhos injetados, avançava na direção deles com um pedaço de pau na mão.
Isaltino levantou-se rápido e se preparou para enfrentar o agressor. Chico, já escaldado, continuou sentado. Sugeriu arma mais contundente: uma boa reza para emitir vibrações positivas. A poucos metros, o agressor parou e começou a balbuciar com a língua enrolada e os olhos fixos em Chico:
- Esta luz nas suas pernas..., esta luz nas suas pernas...
Chico aconselhou:
- Vá para casa e fique na paz de Deus, meu filho.
Isaltino, já refeito do susto, viu o homem dar meia-volta e ficou perplexo diante de um fato insólito. O mato, em um raio de cinco metros ao redor do agressor, ficou todo amassado enquanto ele caminhava.
Chico Xavier tentou explicar a história toda: o homem era um médium poderoso, embora descuidado, e tinha sido arrancado da cama por espíritos obsessores, interessados em assassinar os dois e jogar seus corpos no rio. O plano daria certo se os benfeitores espirituais não tivessem envolvido a dupla com um cinturão de luz.
Isaltino ainda estava perplexo. Por que o agressor se referiu à luz nas pernas de Chico? A resposta veio rápida, como se fosse óbvia.
Ele percebeu o foco que os espíritos projetavam sobre o papel durante a psicografia.
Por que o capim em torno dele se amassava?
- As tais entidades eram tão ruins que se utilizaram dos fluidos do médium e Conseguiram peso específico para provocar o fenômeno físico. Eram aproximadamente duzentos espíritos.
Isaltino suou frio.

CONTINUA AMANHÃ

ESPIRITISMO DIVALDO FRANCO - PROVAS CIENTÍFICAS DA EXISTENCIA DO ESPIRITISMO DE DEUS PARTE 1

segunda-feira, 23 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

A saudade não significa que estamos longe, mas sim que um dia já estivemos juntos

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Tudo o que fizeres, faça com amor, com o coração aberto, e as coisas fluem naturalmente

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER- HUMBERTO DE CAMPOS - O ESCÂNDALO - PARTE 3

CONTINUAÇÃO

Ele vibrava com música. Em meio ao escândalo na Justiça, sonatas e sinfonias serviram ao réu como tranqüilizantes e como companhia. Chico fechava os olhos e se deixava levar pela Sinfonia Fantástica, de Berlioz, pelo Concerto de Varsóvia, de Tchaikovsky, pela obra completa de Beethoven e, claro, pela Ave Maria, de Gounod. Muitas vezes, os acordes clássicos serviam como escudo. Com o volume de sua vitrola no máximo, ele abafava, enquanto escrevia, o som dos insultos lançados contra ele por assombrações desarvoradas. Só assim conseguia passar para o papel, com alguma tranqüilidade, os ditados do outro mundo.
Chico Xavier encarou o piano e tomou a decisão: aceitaria o instrumento e aprenderia a lidar com ele. Num impulso, contratou uma professora particular e marcou a primeira aula para o dia seguinte. Afinal de contas, por que não se dar este prazer? Ele merecia uma folga. Após os artigos em sua defesa nos jornais e o veredicto do juiz, o trabalho tinha triplicado. A legião de doentes à sua procura aumentava a cada semana.
No dia da aula de piano, ele tomou um banho demorado, vestiu seu melhor terno e cruzou os braços à espera da professora.
As visitas chegavam e iam se sentando por ali. Chico pedia calma.
- Hoje vou ter a primeira aula. Acomodem-se. Esperem um pouco.
Cegos, leprosos, pobres de cidades vizinhas se apinhavam na porta, faziam fila. A multidão crescia. A professora demorava a chegar.
Antes dela, o aluno viu Emmanuel.
- O que é isto, Chico? Alguma festa?
O candidato à pianista gaguejou.
- Não. É que eu resolvi tomar umas aulas de piano.
- E esses sofredores que estão aí? Vieram assistir à aula?
Chico ficou sem resposta.
- Quer dizer que essa gente toda que está aí sofrendo, angustiada, ficará aguardando o dia em que você resolva atendê-la?
Quando a professora chegou, Chico se desculpou, agradeceu e se despediu. Não poderia perder tempo.
No fim do ano, o ex futuro aluno de piano não resistiu e arriscou um vôo mais comedido. Pediu ao vizinho de mesa na Fazenda Modelo, o músico e escrevente Oswaldo Gonçalo do Carmo, aulas de teoria musical. Queria estudar as notas, tons, semitons, escalas. Empolgado, chegou a confidenciar ao mestre:
- Se aprender música, Conseguirei completar a sinfonia de Schubert.
Oswaldo se empolgou com a perspectiva de produzir um gênio. E ficou impressionado com o aluno. Chico aprendeu, em três meses, o que poucos aprenderiam em um ano.
E parou. A sinfonia de Schubert ficaria incompleta.
Chico queria relaxar, mas era impossível. Seu nome, já estampado na capa de 25 livros, começava a gerar dinheiro mesmo contra sua vontade. Em 1947, a irmã dele, Zina, foi procurada pela polícia de Belo Horizonte. Precisava identificar o "Chico Xavier" que atraía multidões num bairro populoso da cidade. O curandeiro cobrava trezentos cruzeiros por sessão e cem por passe e vendia exemplares autografados das obras de Emmanuel, Irmão X e André Luiz. Foi desmascarado a tempo.
Os charlatões estavam à solta. Chico vivia numa espécie de "prisão domiciliar". A fama custava caro, tomava tempo e espaço, acabava com a liberdade de ir e vir do porta voz dos mortos. De vez em quando, ele fugia para o cemitério ou o açude em busca de privacidade. Precisava de um pouco de paz para escrever seus livros e cumprir o combinado com seu "patrão" invisível.
Em 1947, conseguiu pingar o ponto final no trigésimo título, Volta, Bocage. Um alívio tomou conta dele. Eufórico, viu Emmanuel se aproximar e perguntou se a tarefa já estava encerrada.
O guia sorriu e anunciou:
- Começaremos uma nova série de trinta volumes.
Chico respirou fundo e obedeceu desanimado. Quanto mais escrevia, mais ficava encurralado. As mentiras o cercavam. Previsões falsas eram atribuídas a ele e até mesmo textos apócrifos eram divulgados como seus. Em 1949, um livro assinado por um certo André Luiz chegou às livrarias com um prefácio enriquecido pela colaboração direta de Chico Xavier. Tudo mentira. O escritor de Nosso Lar nem conhecia a médium responsável pela publicação.
Sua casa era pequena para tantos visitantes. O telefone tocava insistentemente e cartas chegavam, às bateladas, todos os dias. Alguns envelopes guardavam surpresas desagradáveis.
Remetentes aconselhavam o protegido de Emmanuel a se desligar do espiritismo antes de ser engolido pela vaidade. Espíritas acusavam sinais de exibicionismo em Chico Xavier e também identificavam nos seus textos evidências de "cansaço". Algumas cartas, enviadas do Sul por "confrades" espíritas, sugeriam sua aposentadoria. Ele engolia em seco e ia em frente.
De vez em quando, era procurado por algum político interessado em seu apoio nas campanhas eleitorais em troca de ajuda financeira às "campanhas beneficentes". Chico escutava as propostas, se esquivava de todas com educação e comentava com os amigos mais íntimos:
- As sereias estão cantando.
Em carta enviada ao então presidente da Federação Espírita Brasileira, Wantuil de Freitas, desabafou: "Uma pessoa importante é sempre perigosa. Se pode trazer muito bem, pode trazer igualmente muito mal".
E revelou sua postura diante dos poderosos: a de funcionário do Itamaraty.
Com diplomacia, ele evitava atritos e conquistava aliados. O empresário carioca Frederico Figner, proprietário da Casa Edison e introdutor do fonógrafo no Brasil, era um deles. Tão rico quanto espírita, ele trocou cartas com Chico Xavier dezessete anos seguidos. E o ajudou muito. Sem suas doações, o datilógrafo da Fazenda Modelo não conseguiria atender tanta gente. A cada mês, o filho de João Cândido gastava o correspondente a três vezes o seu salário só com assistência social.
Para Chico, os ricos deveriam ser considerados "administradores dos bens de Deus".
Ao longo de sua vida, ele ajudaria muitos milionários "benfeitores" a canalizar os "tesouros divinos" para a caridade.
Numa de suas idas a Pedro Leopoldo, Figner perguntou a Chico qual era o seu ideal. Ouviu dele a resposta espiritualmente correta:
- Meu ideal é viver o Evangelho de acordo com Nosso Senhor Jesus Cristo e servir humildemente ao homem.
Figner insistiu:
- Está certo, está certo. Esse é o seu ideal espiritual. Mas eu queria saber se há aqui no nosso mundo mesmo, o material, algum objetivo que você gostaria de alcançar.
O empregado de Rômulo Joviano foi franco:
- Ora, meu caro, se dependesse de mim, eu gostaria de ter uma renda de trezentos mil réis mensais para poder me dedicar aos necessitados livre e despreocupado em relação à vida material.
Figner nunca mais tocou no assunto. Continuou acumulando milhões, enquanto escrevia artigos em jornais espíritas contra o catolicismo e a favor do espiritismo.
Em 1947, ele morreu. Antes de se retirar para o outro mundo, deixou para as filhas, em testamento, 35 mil contos de réis e reservou cem contos para Chico. A quantia tinha razão matemática: se o funcionário da Fazenda Modelo depositasse o dinheiro no banco, a soma renderia, em juros, exatos trezentos mil réis mensais.
Quando Chico abriu o envelope enviado pelo advogado da família Figner e encontrou o cheque, ficou em pânico:
- Senhor? Que será que este dinheiro quer fazer comigo?
A herança chegou logo após uma reunião de família das mais tensas. João Cândido não tinha como pagar o imposto da casa onde moravam. Deviam oito mil réis ou seja, 7% do total mensal que estavam prestes a receber apenas de juros. O escrevente da Fazenda Modelo nem pensou duas vezes. Enfiou o cheque num envelope e o mandou para o endereço de origem. João Cândido se arrependeu amargamente de não ter internado o filho enquanto era tempo. Já não dava mais. O garoto tinha 37 anos.
Dias depois, os cem contos voltaram às mãos de Chico Xavier, acompanhados de uma carta das filhas de Figner. Não aceitariam o dinheiro de volta, iriam cumprir as ordens do pai, apesar de serem católicas. Afinal de contas, foi o último desejo dele. Chico já sabia dizer "não". E insistiu na recusa. Nova devolução. Nova carta.
O toma lá dá cá só terminou quando Chico Xavier sugeriu às filhas de Figner que elas enviassem o dinheiro direto para a Federação Espírita Brasileira. A quantia ajudaria na instalação de novas oficinas para o livro espírita. Em carta a Wantuil de Freitas, ele comunicou a doação e ainda se deu ao trabalho de tranqüilizar o presidente da FEB:
- Nada me falta e não é sacrifício nenhum da minha parte, porque, providencialmente, Jesus me aproximou do nosso amigo Manoel Jorge Gaio, que tem me auxiliado a sustentar a luta. Se os deveres aumentaram para mim, aumentou a sua proteção, porque o Sr. Gaio me provê do que preciso. Sua senhora, D. Marietta Gaio, chama-me 'filho", ajudando-me também com sua ternura e abnegação.
Chico pedia apenas um favor ao amigo: discrição.
Obedecia a uma orientação de Emmanuel: "Fazer com uma mão o bem, de tal forma que a outra mão não veja".
O segredo vazou. E Chico foi "recompensado" com uma série de cartas anônimas endereçadas contra sua decisão de dispensar a herança. Os adjetivos mais educados eram "pedante", "ingrato", "orgulhoso". O destinatário já estava acostumado. E se consolava:
- O que eu preciso é de um bom travesseiro na consciência para dormir com tranqüilidade, e esse tesouro, graças a Jesus, não me tem faltado.
Quatro meses depois, Chico recebeu a visita de Frederico Figner. O ex milionário apareceu do além pronto para colocar no papel suas primeiras impressões sobre o outro mundo. Já tinha até um título na cabeça para suas memórias: Voltei. Voltou para o "outro mundo" decepcionado. Chico recusou a missão e pôs a culpa em Emmanuel.
Seu guia considerava o projeto prematuro. Só dois anos mais tarde o livro chegou às lojas. Mas, antes, o escritor submeteu os originais às filhas do empresário.

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