LIVRO TERCEIRO
AS LEIS MORAISCAPÍTULO XIX – LEI DE LIBERDADEESCRAVIDÃODuzentéssima Octogésima Segunda Parte829 – HÁ HOMENS QUE SEJA, POR NATUREZA, DESTINADOS A SER DE PROPRIEDADE DE OUTROS HOMENS?
- Toda sujeição de um homem a outro homem é contrária a Lei de DEUS. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como desaparecerão, pouco a pouco, todos os abusos.
(A Lei humana que consagra a escravidão é uma Lei antinatural, visto que assemelha o homem ao animal e o degrada moral e fisicamente.)
830 – QUANDO A ESCRAVIDÃO ESTÁ NOS COSTUMES DE UM POVO, OS QUE DELA SE APROVEITAM SÃO REPREENSÍVEIS, VISTO QUE NÃO FAZEM SENÃO SE CONFORMAR A UM USO QUE LHES PARECE NATURAL?
- O mal sempre é o mal, e todos os vossos sofismas não farão com que uma ação má se torne boa. Mas a responsabilidade do mal é relativa aos méis que se tem de compreendê-lo. Aquele que tira proveito da Lei da escravidão é sempre culpado de uma violação da Lei natural, mas nisso como em todas as coisas, a culpabilidade é relativa. A escravidão, tendo passado nos costumes de certos povos, o homem pôde aproveitá-la de boa-fé e como de uma coisa que lhe parecia natural, mas, desde que sua razão mais desenvolvida, e, sobretudo esclarecida pelas luzes do Cristianismo, mostrou-lhe o escravo como um seu igual diante de DEUS, ele não tem mais desculpa.
831 – A DESIGUALDADE NATUAL DAS APTIDÕES NÃOCOLOCA CERTAS RAÇAS HUMANAS SOB A DEPENDÊNCIA DE RAÇAS MAIS INTELIGENTES?
- Sim, para erguê-las e não para embrutecê-las ainda mais pela servidão. Os homens, durante muito tempo, têm olhado certas raças humanas como animais de trabalho, munidos de braços e mãos, que se julgaram no direito de vendê-los como bastas de carga. Eles se crêem de um sangue mais puro. Insensatos que não vêem senão a matéria! Não é o sangue que é mais ou menos puro, mas o Espírito.
832 – HÁ HOMENS QUE TRATAM SEUS ESCRAVOS COM HUMANIDADE; QUE NÃO LHES DEIXAM FALTAR NADA E PENSAM QUE A LIBERDADE OS EXPORIA A PRIVAÇÕES MAIORES; QUE DIZEIS DELES?
- Digo que estes compreendem melhor seus interesses. Eles têm também grande cuidado com seus bois e seus cavalos, a fim de tirar deles maior proveito no mercado. Não são tão culpados como aqueles que os maltratam, mas dispõem deles como de uma mercadoria, privando-os do direito de serem independentes.
(CONTINUA AMANHÃ)