CONTINUAÇÃO
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Ouvindo instruções
No grande salão, Aniceto esperava-nos,
acolhedor.
Fileiras enormes de assistentes enchiam
o espaço vastíssimo.
Homens e mulheres, aparentando idades
diversas, permaneciam recolhidos, a demonstrar, porém,
expectativa e interesse.
– Hoje – explicou o nosso orientador,
dirigindo-se a Vicente de maneira particular – teremos a
palavra de Telésforo, antigo lidador da Comunicação, que pediu a
presença de todos os aprendizes do trabalho de intercâmbio entre nós e
os irmãos encarnados.
Sentamo-nos, confortavelmente,
aguardando, por nossa vez.
Dai a minutos, Telésforo penetrava no
recinto, sob harmoniosas vibrações de simpatia geral.
Aniceto e outros instrutores
instalaram-se ao lado dele, em torno da mesa nobre, onde se localizava
a direção da assembleia.
Após saudar a assistência
numerosíssima, formulando votos de paz e incentivando-nos aos
testemunhos redentores, Telésforo atingiu o assunto principal que o
levara até ali.
– “Agora – disse com autoridade sem
afetação – conversaremos sobre as necessidades da representação
de nossa colônia nos trabalhos terrestres. Aqui se encontram
companheiros fracassados nas intenções mais nobres e irmãos
outros desejosos de colaborar nas tarefas que condizem com as nossas
responsabilidades atuais.
Referimo-nos às laboriosas atividades
da Comunicação, no plano carnal. Vemos nesta reunião grande
parte dos cooperadores de “Nosso Lar”, que faliram nas missões da
mediunidade e da doutrinação, bem como outros muitos
colegas que se preparam para provas dessa natureza, nos círculos da
Crosta.
“Nossa repartição vem promovendo grande
movimento de auxílio a irmãos encarnados e
desencarnados, que se revelam incapazes de qualquer ação, além da
superfície terrestre.
“Nossa tarefa é enorme – Precisamos
disseminar ensinamentos novos, relativamente à preparação dos
que habitam nossa colônia, considerando os esforços e
realizações do presente e do porvir.
“É indispensável socorrer os que
enfrentam, corajosos, as profundas transformações do planeta.
“As transições essenciais da existência
na Terra encontram a maioria dos homens absolutamente
distraídos das realidades eternas. A mente humana abre-se, cada
vez mais, para o contacto com as expressões invisíveis, dentro
das quais funciona e se movimenta.
Isto é uma fatalidade evolutiva. Desejamos
e necessitamos auxiliar as criaturas terrestres;
todavia, contra a extensão de nosso concurso fraterno, operam
dilatadas correntes de incompreensão.
Não relacionamos apenas a ação da
ignorância e da perversidade.
Agem, contraditoriamente, nesse particular,
grande número de forças do próprio espiritualismo.
Combatem-nos algumas escolas cristãs, como se não
colaborássemos com o Mestre Divino.
A Igreja Romana classifica-nos a
cooperação como diabólica.
A Reforma Luterana, em seus matizes
variados, persegue-nos a colaboração amistosa. E há correntes
espiritualistas de elevado teor educativo, que nos malsinam a
influência, por quererem o homem aperfeiçoado de um dia para
outro, rigorosamente redimido a golpe instantâneo da vontade, sem
realização metódica.
“No campo de nosso conhecimento da
vida, não podemos condená-los pelo desentendimento atual.
O catolicismo romano tem suas razões ponderáveis; o
protestantismo é digno de nosso acatamento; as escolas espiritualistas
possuem notáveis edificações. Toda expressão religiosa é
sagrada, todo movimento superior
de educação espiritual é santo em si
mesmo. Temos, então, diante de nós, a incompreensão dos
bons, que constitui dolorosa prova para todos os trabalhadores
sinceros, porque, afinal, não estamos fazendo obra individual e sim
promovendo movimento libertador da consciência humana, a
favor da própria idéia religiosa do mundo.
“Sacerdotes e intérpretes dos núcleos
organizados da religião e da filosofia, não percebem ainda que
o espírito da Revelação é progressivo, como a alma do homem. As
concepções religiosas se elevam com a mente da criatura. Muitas
Igrejas não compreendem, por enquanto, que não devemos espalhar
a crença nos tormentos eternos para os desventurados, e sim a
certeza de que há homens infernais criando infernos para
si mesmos.
“Não podemos, porém, perder tempo no
exame da teimosia alheia. Temos serviços complexos e
dilatados. E, como dizíamos, a Humanidade terrena aproxima-se, dia a
dia, da esfera de vibrações dos invisíveis de condição inferior,
que a rodeia em todos os sentidos. Mas, segundo reconhecemos,
esmagadora percentagem de habitantes da Terra não se preparou
para os atuais acontecimentos evolutivos. E os mais angustiosos
conflitos se verificam no sendal humano. A Ciência progride
vertiginosamente no planeta e, no entanto, à medida que se suprimem
sofrimentos do corpo, multiplicam-se aflições da alma. Os
jornais do mundo estão cheios de notícias maravilhosas, quanto ao
progresso material. Segredos sublimes da Natureza são surpreendidos
nos domínios do mar, da terra e do ar; mas a estatística dos
crimes humanos é espantosa.
Os assassínios da guerra apresentam
requintes de perversidade muito além dos que foram conhecidos em
épocas anteriores. Os homicídios, os suicídios, as tragédias
conjugais, os desastres do sentimento, as greves, os impulsos
revolucionários da indisciplina, a sede de experimentação inferior, a
inquietação sexual, as moléstias desconhecidas, a loucura,
invadem os lares humanos.
Não existe em país algum preparação
espiritual bastante para o conforto físico. Entretanto, esse
conforto tende a aumentar naturalmente.
O homem dominará, cada vez mais, a
paisagem exterior que lhe constitui moradia, embora não
se conheça a si mesmo.
Atendido, porém, o corpo revelará as
necessidades da alma e vemos agora a criatura terrestre
assoberbada de problemas graves, não só pelas deficiências de si
própria, senão também pela espontânea aproximação psíquica com a esfera
vibratória de milhões de desencarnados, que se agarram à Crosta
planetária, sequiosos de renovar a existência que menosprezaram,
sem maior consideração
aos desígnios do Eterno.
“A rigor, também nós compreendemos que
os serviços da Comunicação, no mundo, deveriam
realizar-se apenas no plano da inspiração divina para os círculos terrenos,
do superior para o inferior; mas, como agir diante de
milhões de enfermos e criminosos nas zonas visíveis e invisíveis da
experiência humana?
Pelo simples culto externo, como pretende a
Igreja de Roma? Pelo ato de fé, exclusivamente, como espera a Reforma
Protestante? Por mera afirmação da vontade, conforme
pontificam certas escolas espiritualistas? Não podemos, no
entanto, circunscrever apreciações, na visão unilateral do problema.
Concordamos que a reverência ao Pai, a fé e a vontade são expressões
básicas da realização divina no homem, mas não podemos
esquecer que o trabalho é necessidade fundamental de cada
espírito. Que outros irmãos nossos perseverem, tão somente, nas
especulações teológicas; encaremos, porém, os serviços do
Senhor, como se faz indispensável.
“A Humanidade terrena, atualmente, é
como um grande organismo coletivo, cujas células, que são as
personalidades humanas, se envolvem no desequilíbrio entre si,
em processo mundial de reajustamento e redenção.
“Quantos
cooperam conosco, vêem a extensão dos cipoais em que se debate a mente humana.
Criminosos agarram-se a criminosos, doentes associam-se a doentes.
Precisamos oferecer, no mundo, os instrumentos adequados às
retificações espirituais, habilitando nossos irmãos encarnados a um maior
entendimento do Espírito do Cristo. Para consegui-lo,
todavia, necessitamos de colaboradores fiéis, que não cogitem de
condições, compensações e discussões, mas que se interessem
pela sublimidade do sacrifício e de renunciação com o Senhor.”
A essa altura, Telésforo interrompeu a
lição em curso e, fixando o olhar percuciente na assembleia,
tornou em voz mais alta:
– Quem não deseje servir, procure
outros gêneros de tarefa.
A Comunicação não comporta perda de tempo
nem experimentação doentia, sem grave prejuízo dos
cooperadores incautos. Noutros Ministérios, a designação de
trabalhadores define, com precisão, todos os que colaboram com o Divino
Mestre. Aqui, porém, acima de trabalhadores, precisamos de
servidores que atendam de
boa vontade.
Nesse instante, em vista doutra longa
pausa, Identifiquei a forte impressão dos ouvintes, que se
entreolhavam com inexprimível
espanto.
CONTINUA AMANHÃ