CONTINUAÇÃO
CAPÍTULO 35
CULTO DOMÉSTICO
Nas primeiras horas da noite, Dona Isabel abandonou a agulha
e convidou os filhinhos para o culto doméstico.
Notando o interesse que me despertavam as crianças, Aniceto
explicou:
– As meninas são entidades amigas de “Nosso Lar”, que vieram
para serviço espiritual e resgate necessário, na Terra.
O mesmo,
porém, não acontece ao pequeno, que procede de região
inferior.
De fato, eu identificava perfeitamente a situação, O rapazola
não se revestia de substância luminosa e atendia ao convite materno,
não como quem se alegra, mas como quem obedece.
Com tamanha naturalidade se sentaram todos em torno da
mesa, que compreendi a antigüidade daquele abençoado costume
familiar.
A filha mais velha, que atendia por Joaninha, trazia
cadernos de anotações e recortes de jornais.
A viúva sentou-se à cabeceira e, após meditar breves instantes,
recomendou à pequena Neli, de nove anos, fizesse a oração
inicial do culto, pedindo a Jesus o esclarecimento espiritual.
Todos os trabalhadores invisíveis sentaram-se, respeitosos.
Isidoro
e alguns companheiros mais íntimos do casal permaneceram
ao lado de Dona Isabel, sendo quase todos vistos e ouvidos
por ela.
Tão logo começou aquele serviço espiritual da família, as luzes
ambientes se tornaram muito mais intensas.
Profunda sensação de paz envolvia-me o coração.
A pequena Neli, em voz comovente, fez a prece: Senhor, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos
Céus.
Se está em vosso santo desígnio que recebamos mais luz,
permiti, Senhor, tenhamos bastante compreensão no trabalho
evangélico!
Dai-nos o pão da alma, a água da vida eterna! Sede
em nossos corações, agora e sempre.
Assim seja!...
Dona Isabel pediu à filha mais velha lesse uma página instrutiva
e consoladora e, em seguida, algum fato interessante do noticiário
comum, ao que Joaninha atendeu, lendo pequeno capitulo
de um livro doutrinário sobre a irreflexão, e um episódio triste de
jornal leigo.
A primogênita de Isidoro, que revelava muita doçura
e afabilidade, parecia impressionada.
Tratava-se de uma jovem de
bairro distante, vitima de suicídio doloroso.
O repórter gravara a
cena com característicos muito fortes.
A leitora estava trêmula,
sensibilizada.
Assim que Joaninha terminou, Dona Isabel abriu o Novo Testamento,
como se estivesse procedendo ao acaso, mas, em verdade,
eu via que Isidoro, do nosso plano, intervinha na operação,
ajudando a focalizar o assunto da noite.
A seguir, fixou o olhar na
página pequenina e falou:
– A mensagem-versículo de hoje, meus filhos, está no capítulo
13 do Evangelho de São Mateus.
E lendo o versículo 31, fê-lo em voz alta:
– “Outra parábola lhes propôs, dizendo: – O Reino dos Céus é
semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no
seu campo.”
Observei, então, um fenômeno curioso.
Um amigo espiritual,
que reconheci de nobilíssima condição, pelas vestes resplandecentes,
colocou a destra sobre a fronte da generosa viúva.
Antes que lhe perguntasse, Aniceto explicou em voz quase
imperceptível: Aquele é o nosso irmão Fábio Aleto, que vai dar a interpretação
espiritual do texto lido.
Os que estiverem nas mesmas condições
dele, poderão ouvir-lhe os pensamentos; mas, os que estiverem
em zona mental inferior, receberão os valores interpretativos,
como acontece entre os encarnados, isto é, teremos a luz
espiritual do verbo de Fábio na tradução do verbo materializado
de Isabel.
Nosso mentor não poderia ser mais explícito. Em poucas palavras
fornecera-me a súmula da extensa lição.
Notei que a viúva de Isidoro entrara em profunda concentração
por alguns momentos, como se estivesse absorvendo a luz que
a rodeava.
Em seguida, revelando extraordinária firmeza no olhar,
iniciou o comentário:
– “Lemos hoje, meus filhos, uma página sobre a irreflexão e a
notícia de um suicídio em tristíssimas circunstâncias.
Afirma o
jornal que a jovem suicida se matou por excessivo amor; entretanto,
pelo que vimos aprendendo, estamos certos de que ninguém
comete erros por amar verdadeiramente.
Os que amam, de fato,
são cultivadores da vida e nunca espalham a morte.
A pobrezinha
estava doente, perturbada, irrefletida.
Entregou-se à paixão que
confunde o raciocínio e rebaixa o sentimento.
E nós sabemos que,
da paixão ao sofrimento, ou à morte, não é longa a distância.
Lembremos, todavia, essa amiga desconhecida, com um pensamento
de simpatia fraternal.
Que Jesus a proteja nos caminhos
novos.
Não estamos examinando um ato, que ao Senhor compete
julgar, mas um fato, de cuja expressão devemos extrair o ensinamento
justo.
“A mensagem evangélica desta noite assevera, pela palavra
do nosso Divino Mestre aos discípulos, que o reino dos céus é
também “semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e
semeou no seu coração”.
Devemos ver, neste passo, meus filhos, a
lição das coisas mínimas.
A esfera carnal onde vivemos está
repleta de irreflexões de toda sorte.
Raras criaturas começam a
refletir seriamente na vida e nos deveres, antes do leito da morte
física.
Não devemos fixar o pensamento tão só nessa jovem que se
suicidou em condições tão dramáticas, ao nos referirmos aos
ensinos de agora.
Há homens e mulheres, com maiores responsabilidades,
em todos os bairros, que evidenciam paixões nefastas e
destruidoras no campo dos sentimentos, dos negócios, das relações
sociais.
As mentes desequilibradas pela irreflexão permanecem,
neste mundo, quase por toda a parte.
É que nos temos descuidado
das coisas pequeninas.
Grande é o oceano, minúscula é a
gota, mas o oceano não é senão a massa das gotas reunidas.
Falanos
o Mestre, em divino simbolismo, da semente de mostarda.
Recordemos que o campo do nosso coração está cheio de ervas
espinhosas, demorando, talvez, há muitos séculos, em terrível
esterilidade.
Naturalmente, não deveremos esperar colheitas milagrosas.
É indispensável amanhar a terra e cuidar do plantio.
A
semente de mostarda, a que se refere Jesus, constitui o gesto, a
palavra, o pensamento da criatura.
“Há muitas pessoas que falam bastante em humildade, mas
nunca revelam um gesto de obediência.
Jamais realizaremos a
bondade, sem começarmos a ser bons.
Alguma coisa pequenina há
de ser feita, antes de edificarmos as grandes coisas.
O Senhor
ensinou, muitas vezes, que o reino dos céus está dentro de nós.
Ora, é portanto em nós mesmos que devemos desenvolver o trabalho
máximo de realização divina, sem o que não passaremos de
grandes irrefletidos.
A floresta também começou de sementes
minúsculas.
E nós, espiritualmente falando, temos vivido em
densa floresta de males, criados por nós mesmos, em razão da
invigilância na escolha de sementes espirituais.
A palestra de uma
hora, o pensamento de um dia, o gesto de um momento, podem
representar muito em nossas vidas.
Tenhamos cuidado com as
coisas pequeninas e selecionemos os grãos de mostarda do reino
dos céus.
Lembremos que Jesus nada ensinou em vão. Toda vez que ‘pegarmos’ desses grãos, consoante a Palavra Divina, semeando-os no campo íntimo, receberemos do Senhor todo o auxilio
necessário.
Conceder-nos-á a chuva das bênçãos, o sol do amor
eterno, a vitalidade sublime da esfera superior.
Nossa semeadura
crescerá e, em breve tempo, atingiremos elevadas edificações.
Aprendamos, meus filhos, a ciência de começar, lembrando a
bondade de Jesus a cada instante.
O Mestre não nos desampara,
segue-nos amorosamente, inspira-nos o coração.
Tenhamos, sobretudo,
confiança e alegria!”
Reparei que Fábio retirou a mão da fronte da viúva e observei
que ela entrava a meditar, como quem sentira o afastamento da
idéia em curso.
Havia grande comoção na assembléia invisível às crianças
que, por sua vez, também pareciam impressionadas.
Dona Isabel voltou a contemplar maternalmente os filhos, e
falou:
– Procuremos, agora, conversar um pouco.
CONTINUA AMANHÃ