CONTINUAÇÃO
NO DOMÍNIO DAS PROVAS
“Ai do mundo par causa dos escândalos, porque é necessário que
venham escândalos, mas ai daquele por quem o escândalo vier.”
Jesus (Mateus, 18: 7)
“É preciso que haja escândalo no mundo, disse Jesus, por que
imperfeitos como são na Terra, os homens se mostram propensos a praticar o mal,
e por que, árvores más só maus frutos dão. Deve-se, pois, entender por essas
palavras que o mal é uma consequência da imperfeição dos homens e não que haja,
par a estes, a obrigação de praticá-lo”.
(Cap.8, Item 13)
Imaginemos um pai que, a pretexto de amor, decidisse furtar um
filho querido de toda relação com os revezes do mundo.
Semelhante rebento de tal devoção afetiva seria mantido em
sistema de exceção.
Para evitar acidentes climáticos inevitáveis, descansaria
exclusivamente na estufa durante a fase de berço e, posto a cavaleiro, de
perigos e vicissitudes, mal terminada a infância, encerrar-se ia numa cidadela
inexpugnável, onde somente prevalecesse a ternura paterna, a empolga-lo de
mimos.
Não frequentaria qualquer educandário, a fim de não aturar
professores austeros ou sofrer a influência de colegas que não lhe respirassem
o mesmo nível; alfabetizado, assim, no reduto doméstico, apreciaria unicamente
os assuntos e heróis de ficção que o genitor lhe escolhesse.
Isolar-se-ia de todo o contato humano para não arrostar
problemas e desconheceria todo o noticiário ambiente para não recolher
informações que lhe desfigurassem a suavidade interior.
Candura inviolável e ignorância completa.
Santa inocência e inaptidão absoluta.
Chega, porém, o dia em que o genitor, naturalmente vinculado a
interesses outros, se ausenta compulsoriamente do lar e, tangido pela
necessidade, o moço é obrigado a entrar na corrente da vida comum.
Homem feito sofre o conflito da readaptação, que lhe rasga a
carne e a alma, para que se lhe recupere o tempo perdido, e o filho acaba,
enxergando insânia e crueldade onde o pai supunha cultivar preservação e
carinho.
A imagem ilustra claramente a necessidade da encarnação e da reencarnação
do espírito nos mundos; inumeráveis da imensidade cósmica, de maneira a que se
lhe apurem as qualidades e se lhe institua a responsabilidade na consciência.
Dificuldades e lutas semelham materiais didáticos na escola ou
andaimes na construção; amealhada a cultura, ou levantado o edifício,
desaparecem uns e outros.
Abençoemos, pois, as disciplinas e as provas com que a Infinita
Sabedoria nos acrisola as forças, enrijando-nos o caráter.
Ingenuidade é predicado encantador na personalidade, mas se o
trabalho não a transfigura em tesouro de experiência, laboriosamente adquirido,
não passará de flor preciosa a confundir-se no pó da terra, ao primeiro golpe
de vento.
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