sábado, 14 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Sábado, 14 de maio de 2011.

O mal de todos nós é que preferimos ser arruinados por um elogio a ser salvos pela crítica

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DO DIA

Sábado, 14 de maio de 2011.

A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida, mas não desista. Lute para atingir o seu encontro e seja feliz

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A PELE DO RINOCERANTE - 1ª PARTE

A PELE DO RINOCERONTE

Nas noites de segunda e sexta-feira, ele colocava o Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, embaixo do braço e ia para o Centro Luiz Gonzaga.

Seguia à risca uma instrução ditada por Emmanuel: fidelidade irrestrita a Jesus Cristo e a Kardec, o codificador da doutrina espírita. O guia do outro mundo levava tão a sério este mandamento que um dia chegou a determinar a Chico:

- Se alguma vez eu lhe der algum conselho que não esteja de acordo com Jesus e Kardec, fique do lado deles e procure me esquecer.

Chico demorava na cartilha espírita, praticava as lições de caridade, promovia sessões de desobsessão às quartas feiras, mas o centro ficava cada dia mais vazio.

José Hermínio Perácio e a mulher, Carmem, se mudaram para Belo Horizonte.

Precisavam ficar mais perto da família. 

José Xavier teve que trabalhar à noite numa oficina de arreios para pagar uma dívida. De repente, o rapaz se viu sozinho no barracão.

Quando pensou em sair de fininho, ouviu a voz de Emmanuel.

- Você não pode se afastar.

- Como? Não temos freqüentadores.

- E nós? Nós também precisamos ouvir o Evangelho. Além disso, temos aqui vários "desencarnados" que precisam de ajuda. 

Abra a reunião na hora marcada e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho.

Chico seguiu as instruções. Às 8h em ponto iniciava a reza de abertura da sessão.

Em seguida, abria O Evangelho Segundo o Espiritismo ao acaso e comentava o capítulo em voz alta. Nessa época, começou a ver mortos e a ouvir vozes com maior freqüência e nitidez. Os seres invisíveis ocupavam os bancos vazios.

Do lado de fora, vizinhos e parentes acompanhavam aquele espetáculo absurdo: o rapaz falava sozinho, gesticulava, rezava, duas horas seguidas. Uma das irmãs, uma noite, se pendurou na janela para ouvir o monólogo.

- Tenhamos fé em Jesus, minha irmã.

- Com paciência alcançaremos a paz.

- Sem calma, tudo piora.

A espectadora interrompeu a cena insólita:

- Com quem você está conversando?

- Com dona Chiquinha de Paula.

- Ela já morreu, Chico.

- Você é que pensa. Ela está bem viva.

A família ainda pensava em levar o rapaz a um bom hospício.

O padre Júlio Maria, da cidade mineira de Manhumirim, estava disposto a providenciar uma camisa de força para o espírita de Pedro Leopoldo. Todo mês, ele escrevia artigos no jornal local, O Lutador, e fazia o favor de enviar suas opiniões pelo correio ao autor do Parnaso de Além-Túmulo. Em nome de Jesus Cristo, os textos excomungavam o espiritismo, reduziam a pó a reencarnação e à piada o porta voz dos poetas mortos no Brasil. 

"Francisco Cândido Xavier deve ter pele de rinoceronte para suportar tantos espíritos", escreveu num de seus manifestos.

Chico ficou engasgado e precisou da ajuda de Emmanuel para engolir o comentário.

Se você não tem pele de rinoceronte, precisa ter, porque, se cultivar uma pele muito frágil, cairá sempre com qualquer alfinetada.

O padre Júlio Maria espetou Chico Xavier durante treze anos. Só parou quando morreu. E, nesse dia, Chico ouviu o vozeirão de seu guia:

- Vamos orar pelo nosso irmão Júlio Maria. 
Com ele sempre tivemos um cooperador maravilhoso. Dava-nos coragem na luta e concitava-nos a trabalhar.

A cada ataque dos céticos, Chico escutava Emmanuel bater na mesma tecla:

- Não te aflijas com os que te atacam. O martelo que atormenta o prego com pancadas o faz mais seguro e mais firme.

O conselheiro invisível esquecia que martelos também entortam pregos.

Chico sentia os golpes e andava pela cidade arqueado, sob o peso da desconfiança alheia.

Em dezembro de 1934, o rapaz fechou os olhos e fincou o lápis no papel. As frases apareceram velozes e nada evangélicas.

Eram endereçadas a ele mesmo.

“Meu amigo,
Há mais de um decênio que não me preocupo com as parvoíces da Terra. Nem presumia a possibilidade de enviar novamente para aí a minha futilíssima correspondência, quando alguém me insinuou a idéia de vir ditar-te as minhas sandices.

Acometeu-me o desejo incoercível de atirar um dos meus petardos de troça ao gênero bípede e estalar uma boa gargalhada, sonora e sã.

Foi o que fiz. Tentei a prova.

Focalizei no meu pensamento a idéia de vir ter contigo e bastou isso para que as minhas raras faculdades de fantasma me conduzissem a esse maravilhoso recanto sertanejo em que vives, esplendor de canto agreste, quase selvagem... Busquei aproximar-me de tua individua-lidade.

Vi-te finalmente. Lá surgias ao fim de uma rua bem cuidada, onde se alinhavam casas brancas e arejadas, brasileiríssimas, abarrotadas de ar, de saúde, de sol; vinhas com o passo cansado, pele suarenta a derreter-se dentro de roupas quase ensebadas, com os pés metidos em legítimos socos do Porto, obrigando-me a evocar o cais de Lisboa...

Sem que pudesses observar-me, submeti-te a demorado exame. Procurei a tua bagagem de pensamento, encontrando na tua mocidade tudo quanto a tristeza criou de mais sombrio; em tua alma amargurada, vi apenas porções de sofrimentos, pedaços de angústia esterilizador-a, recordações tristonhas, lágrimas cristalizadas... Vi-te e ri-me. Não de ti. Ri-me da estultice do cérebro desequilibrado do asno humano, com o seu volumoso e pesado arquivo de baboseiras.”

Cansado das lamúrias de Chico Xavier, o remetente da carta recomendava o bom humor como arma:

“Convence-te de que se comete um ato desarrazoado, uma inqualificável imprudência, em chorar tolamente, em derreter-se inutilmente. Abandona essa exótica preocupação aos mais parvos do que tu. Ri-se o mundo de nós? Riamo-nos dele.

Achincalhemos os seus arremedos aos gorilas, ridicularizemos as suas intuições, onde predominam a bandalheira, os seus pulos de cabra cega; traduzamos a admiração que tudo isso nos desperta com o riso bom, que sempre apavorou os tímidos e insuficientes.”

O recado tinha a assinatura de Eça de Queiroz. O escritor português, autor de "pecados" como O Crime do Padre Amaro, dava mostras não só de sarcasmo como também de boas doses de informação sobre a polêmica em torno do Parnaso de Além-Túmulo.

Após listar a série de teorias usadas pelos críticos para decifrar o enigma Chico Xavier consciência, mediunidade, psicopatia, loucura, simulação, anormalidade, fenômeno, estupidez, espiritomania, o autor invisível não resistiu e voltou à boa e velha ironia: "Vai continuando até que te receitem a enxovia ou o manicômio. No cárcere ou no sanatório, alcançarás um período de repouso. Não te apavores".

Semanas depois, o rapaz colocou no papel um alerta sobre os riscos da vaidade e da ambição. Desta vez, quem assinava o texto era Maria João de Deus, sua mãe.

Chico Xavier decorou cada palavra. Muitas delas eram golpes secos contra sua auto estima.

Para começo de conversa, ele não deveria encarar a própria mediunidade como uma dádiva, porque, imperfeito como era, não merecia favores de Deus. Uma metáfora barroca marcou sua história:

"Seja tua mediunidade como harpa melodiosa; porém, no dia em que receberes os favores do mundo como se estivesses vendendo os seus acordes, ela se enferrujará para sempre".

Chico ficou atento às lições e passou a exercitar tanto o bom humor como a humildade ao longo dos anos.

No dia 5 de dezembro de 1934, Humberto de Campos morreu. Três meses depois, Chico teve um sonho. As cenas eram nítidas demais. Ele deparou com um grupo de desconhecidos, embaixo de uma árvore enorme e transparente como cristal, sob um céu muito azul e brilhante. Não havia casas em volta. Um dos estranhos se destacou da multidão, caminhou em sua direção, estendeu a mão e disse: "Você é o menino do Parnaso? Eu sou Humberto de Campos".

As lembranças terminaram aí, mas deixaram o rapaz cismado. Qual o sentido daquele sonho? Três meses depois, ele saberia. Textos assinados por Humberto de Campos cairiam do céu um após o outro. 

Em março de 1935, a mão de Chico colocou no papel as primeiras linhas assinadas pelo ex imortal. Sob o título "A Palavra dos Mortos", o escritor se apresentava como uma testemunha do "trabalho intenso das coletividades invisíveis pelo progresso humano". Nem parecia aquele acadêmico capaz de desafiar os poetas mortos a competir com os vivos de igual para igual, "reencarnados". Do outro lado, ele tratava de defender as mensagens dos espíritos como "um consolo aos tristes e uma esperança aos desafortunados".

Os materialistas que se cuidassem. O texto saía a jato da mão de Chico Xavier. A fé viria mais cedo ou mais tarde, pelo bem ou pelo mal: "Os homens aprenderão à custa das suas dores, com todo o fardo de suas misérias e de suas fraquezas, e as palavras do infinito cairão sobre eles como a chuva de favores do Alto".

O artigo virou introdução do livro Palavras do Infinito, de Chico Xavier, uma coletânea de ensaios assinados por Humberto de Campos e por outros mortos ilustres.

Cinco dias depois, Chico Xavier cobriria uma página em branco com novas frases assinadas pelo jornalista invisível. Era uma carta de despedida endereçada ao rapaz:
- "Tive pena quando soube que iam conduzi-lo a um teste. A curiosidade jornalística é agora levantada em torno de sua pessoa. Agora que os bisbilhoteiros o procuram, trago-lhe o meu adeus, sem prometer voltar breve".

O repórter morto saiu de cena e abriu alas para um jornalista vivo.

CONTINUA AMANHÃ

ALLAN KARDEC - O SURGIMENTO DO ESPIRITISMO - PARTE 1

sexta-feira, 13 de maio de 2011

MENSAGEM DO DIA

Dizem os chineses: Se precisar disparar a flecha da verdade, primeiro molhe a sua ponta no mel

Autor: Paulo Coelho

MENSAGEM DO DIA

Sexta feira, 13 de maio de 2011.

A paz vem quando a tempestade passa, mas quando a tempestade passa as cicatrizes ficam e ficamos dependendo do tempo para esquecé-las

Autor: Patrick Sandre

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - MUITO PRAZER EMMANUEL - 2ª PARTE

CONTINUAÇÃO

- Se eles voltam a nos fazer concorrência com seus versos perante o público e, sobretudo, perante os editores, dispensando-lhes o pagamento dos direitos autorais, que destino terão os vivos que lutam hoje com tantas e tão poderosas dificuldades?
Antes de pôr o ponto final, o escritor desafiou os rivais do outro mundo a ressuscitarem: "Venham fazer concorrência em cima da terra, com o arroz e o feijão pela hora da vida. Do contrário, não vale".
Dois anos depois, Humberto de Campos morreria e vestiria a camisa dos espíritos.
A segunda edição do Parnaso de Além Túmulo exibiria logo na introdução um artigo com sua assinatura, acompanhado de uma ressalva entre parênteses: espírito. Ele já havia mudado de time e não achava assim tão desleal a  "concorrência" entre vivos e mortos.
Antes de se retirar do planeta, o escritor assinou outra crítica sobre o livro de Chico Xavier,  "Como Cantam os Mortos", também publicado na primeira página do Diário Carioca. A manchete do dia  "São Paulo em armas contra a ditadura" – descrevia como o general Isidoro Dias Lopes tinha derrubado, com suas tropas, o interventor de São Paulo, Pedro de Toledo, e colocado no poder uma junta governativa formada por ele próprio, pelo deposto e por Francisco Morato.
O cronista do Diário Carioca estava mais preocupado com assuntos do além.
Impressionado com os versos do Parnaso de Além Túmulo, ele pediu uma opinião sobre o livro ao colega de academia e de redação Augusto de Lima e ouviu uma ironia: Chico seria a versão mineira do Barão de Münchhausen e estaria às voltas com fantasias mirabolantes. Humberto desconsiderou o ceticismo do amigo.
Após esmiuçar os poemas do caipira de Pedro Leopoldo, enterrou de vez a hipótese de Chico escrever a la manière dos poetas mortos e convocou outros críticos : "Parnaso de Além Túmulo merece a atenção dos estudiosos, que poderão dizer o que há nele de sobrenatural ou de mistificação".
A convocação surtiu efeito. O poeta e escritor José Álvaro Santos leu as críticas, comprou Parnaso de Além Túmulo, analisou os poemas e, em janeiro de 1933, desembarcou em Pedro Leopoldo para conhecer o autor do livro. Encontrou o rapaz atrás do balcão no armazém de José Felizardo Sobrinho, visitou sua casa pobre, repleta de irmãos, e ficou impressionado com a rotina do rapaz. Trabalho braçal das 7h da manhã às 8h da noite por um salário de quarenta mil réis mensais, O poeta não merecia perder tanto tempo com questões menores.
José Álvaro Santos fez uma proposta a João Cândido Xavier: arrumaria um bom emprego para seu filho em Belo Horizonte. Bastava que Chico o acompanhasse até a capital mineira. Em três meses, no máximo, o rapaz estaria contratado. Os olhos do pai cresceram diante da perspectiva. O dinheiro andava curto demais.
João argumentou com o filho e, mais tarde, Chico recorreu a seu amigo invisível, Emmanuel. Escutou conselho contrário ao do pai - deveria continuar onde estava -, e tomou a decisão: ficaria com a família. No dia seguinte, João Cândido voltou a pedir socorro e Chico voltou a pedir uma orientação ao guia. A contra ordem veio do além.
A tentativa é inoportuna e desaconselhável, mas não desejamos que contraries teu pai.
João Cândido conseguiu três meses de licença para o filho no armazém de José Felizardo Sobrinho, Chico se despediu dos companheiros do Centro Luiz Gonzaga e embarcou com o desconhecido em direção a uma chácara a três quilômetros do bairro da Gameleira, em Belo Horizonte.
O autor do Parnaso de Além Túmulo, mulato, mal vestido, com expressão atordoada, virou atração na casa. Intelectuais mineiros se reuniam em torno dele e comentavam, diante de seus olhos arregalados, os estudos de Coorkes e Richet sobre a mediunidade, os pastiches de Paul Reboux, os poemas de Baudelaire, Musset, Bilac, Augusto dos Anjos.
O matuto acompanhava tudo em silêncio. Uma vez ou outra, respondia com monossílabos a perguntas sobre os poemas ditados do outro mundo. Tinha medo de cometer disparates.
No meio da noite, sozinho no quarto, respirava aliviado diante das visões do guia e da mãe. As aparições repetiam conselhos sobre a prudência e o respeito aos outros e Emmanuel ainda aproveitava para tirar dúvidas literárias do protegido. Explicava, por exemplo, que Paul Reboux era mestre em imitar o estilo de outros poetas.
Enquanto esperava o serviço prometido, Chico acompanhava, à distância, entre as árvores da chácara, a construção de um sanatório em terreno vizinho. Estava triste, tenso. O hospital, no terreno vizinho, crescia a cada dia e o emprego não saía. Os três meses se esgotaram.
Ele não podia mais ficar à toa. Precisava ajudar a família. Em março de 1933, Chico se despediu de José Álvaro Santos e, sozinho, tomou o rumo da Central do Brasil.
Enquanto esperava o trem para Pedro Leopoldo, foi surpreendido por dois amigos de seu ex anfitrião. Traziam uma ótima notícia: ele estava empregado.
O rapaz se lembrou do pai, da pobreza, dos irmãos e sentiu vontade de abraçar os dois. Quase chegou à euforia quando ouviu as outras boas novas: teria os estudos pagos no melhor colégio da cidade e ainda receberia dinheiro extra para ajudar em casa.
Havia apenas uma condição: Chico deveria assumir a autoria de Parnaso de Além Túmulo e negar a existência dos espíritos durante duas palestras, uma no auditório da Escola Normal e outra no Teatro Municipal.
O rapaz murchou. Mas ainda teve fôlego para reagir:
- Não posso mentir para mim mesmo. Ouço a voz de minha mãe, escrevo poemas que não são meus. Como posso renegar a verdade?
- Chico, você conhece um passarinho chamado sofrê? Não. O sofrê é um pássaro que imita os outros. Você nasceu com a vocação desse passarinho entre os poetas. Não acredite em espíritos. Esses poemas que você julga psicografar são seus, somente seus.
Nesse momento, Emmanuel apareceu com um de seus trocadilhos:
- Sim, volte a Pedro Leopoldo e procuremos trabalhar. Você não é um sofrê, mas precisa sofrer para aprender.
O rapaz voltou para casa e foi recebido por um pai inconformado. João Cândido encheu a boca para chamar o filho de ingrato. Chico já esperava aquela reação.
Correu para o armazém de José Felizardo Sobrinho, refugiou-se atrás do balcão e sentiu até certo entusiasmo em cortar toucinho para os fregueses e varrer o chão. Estava se sentindo tão à vontade na cidade natal que no dia 23 de setembro daquele ano, às 21h, assinou, como Primeiro Secretário, a ata de posse da primeira diretoria do Pedro Leopoldo Futebol Clube. Parecia até um jovem comum. Quem sabe um dia entrasse em campo e marcasse um gol? Quem sabe chegasse a um bar e pedisse uma cerveja bem gelada ou convidasse uma moça para o cinema? Não. Chico tinha mais o que fazer.


CONTINUA AMANHÃ

CHICO XAVIER - FRASES, PENSAMENTOS, MENSAGENS

quinta-feira, 12 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Quinta feira, 12 de maio de 2011.

Muitos se preocupam com o que os outros dizem a seu respeito, poucos com sua consciência .

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DO DIA

Quinta feira, 12 de maio de 2011.

Quando adiamos a colheita, os frutos apodrecem. Mas quando adiamos os problemas, eles não param de crescer

Autor: Paulo Coelho

quarta-feira, 11 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Quarta feira, 11 de maio de 2011.

Do que serviria a vida se não fosse para corrigir os erros, vencer os preconceitos e alegrar cada dia nosso coração e nossos pensamentos?

Autor: Romam Roland

MENSAGEM DO DIA

Quarta feira, 11 de maio de 2011.

O amor muitas vezes nos confunde porque nos iludimos com coisas que, no ponto de vista de outras, são apenas AVENTURA

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - O MENINO MAL ASSOMBRADO - 4ª PARTE

CONTINUAÇÃO

ele assinou embaixo F. Xavier - e se sentiu culpado quando recebeu de um crítico português uma carta recheada de pontos de exclamação e adjetivos entusiasmados.

Recebi elogios por um trabalho que não me pertencia.

Em 1931, Chico já não sentia a pressão alucinada na cabeça nem o enrijecimento doloroso no braço. Tinha aprendido a se entregar, a não criar resistência. Às vezes, um volume imaterial aparecia diante de seus olhos e era dali, daquelas páginas invisíveis, que Chico copiava os textos do outro mundo. Em outras ocasiões, escrevia como se alguém lhe ditasse as mensagens e, enquanto colocava as palavras no papel, experimentava no braço a sensação de fluidos elétricos e, no cérebro, vibrações indefiníveis. De vez em quando, esse estado atingia o auge e Chico perdia a sensação do próprio corpo. Sem medo, já podia ser o instrumento passivo dos mortos vivos.

Um feiticeiro. Um maluco incapaz de separar o sonho da realidade. Os rumores persistiam na cidade. Um padre de Belo Horizonte fez um discurso inflamado na igreja de Pedro Leopoldo contra o espiritismo e encerrou o sermão mandando Chico Xavier para o inferno. O rapaz, impressionado, correu para o colo invisível da mãe, contou seu drama e ouviu dela o muxoxo:

- E daí? Ele te mandou para o inferno, mas você não vai. Fique na Terra mesmo...

Poucas semanas depois, um intelectual, também de Minas, desembarcou na cidade. Chico vestiu sua melhor roupa e, com a pasta de poemas debaixo do braço, foi levado por um amigo até o forasteiro. O literato passou os olhos pelos versos, classificou tudo como "bobagem" e, com os olhos fixos no autor, encheu a boca:

- Este rapaz é uma besta.

O amigo de Chico defendeu a inteligência dele, sua dedicação aos espíritos, seu cuidado com os poemas vindos do outro mundo. O intelectual reviu seu julgamento.

É uma besta espírita.

Chico, inconformado, buscou abrigo, mais uma vez, sob as saias de Maria João de Deus.

Viu como eu fui insultado?

Ouviu mais um muxoxo materno:

- Não vejo insulto algum. Acho até que você foi muito honrado. Uma besta é um animal de trabalho. E é valioso e útil, a serviço do espiritismo, quando não dá coices.

Preocupado com a própria "rebeldia" e em estado de depressão, Chico teve mais uma visão.

Um burro teimoso atrelado a uma carroça carregada de documentos puxava a carga e encarava com inveja os companheiros livres no pasto. De vez em quando, enquanto era alimentado com água e alfafa, assistia, de longe, às brigas violentas entre os colegas. Uma sucessão de coices sanguinolentos. Chico olhou aquele burro e pensou: talvez fosse melhor estar sob freios do que estar solto no pasto da vida para escoicear e ser escoiceado.

- Aprendi a lição - disse ele, pronto para receber os arreios.

Chico já estava cansado. Trabalhava, lutava no centro, fazia caridade, escrevia quase por compulsão e continuava desacreditado. Ele reclamava dos incrédulos, se queixava dos comentários envenenados e se entregava à reza. Após uma das várias orações, Maria João de Deus voltou à cena e, em vez de um conselho, sugeriu um remédio.

- Meu filho, para curar essas inquietações, você deve usar água da paz.

Chico saiu à procura do remédio em todas as farmácias de Pedro Leopoldo. Nada.

Recorreu a Belo Horizonte. Nada de novo. Ao fim de duas semanas, comunicou à mãe o fracasso da busca. A aparição ensinou:

- Não precisava viajar. Você poderá obter o remédio em casa mesmo. Pode ser a água do pote.

- Como assim?

- Quando alguém lhe fizer provocações, beba um pouco de água pura e conserve-a na boca.

Não a lance fora nem a engula. Enquanto persistir a tentação de responder, guarde a água da paz banhando a língua.

Chico engoliu a lição do silêncio. E digeriu.

Nessa noite, sentiu o braço movido por alguém.

Tomou o lápis e despejou os versos:

"Meu amigo, se desejas:
paz crescente e guerra pouca,
ajuda sem reclamar
e aprende a calar a boca".

Dessa vez, o recado veio com assinatura: Casimiro Cunha, poeta de Vassouras, morto em 1914.

As visitas do outro mundo começaram a se identificar a partir de 1931. Uma tarde, Chico regava os canteiros de alho na horta de José Felizardo, quando uma voz lhe pediu que ouvisse com atenção um poema inédito: "Vozes de uma Sombra". O dono da voz e dos versos se anunciou como Augusto dos Anjos. E começou a lançar no ar palavras insólitas.

"Donde venho?

Das eras remotíssimas/

Das substâncias elementaríssimas/

Emergindo das cósmicas matérias".

Chico ouvia, regava o alho e perdia o fio da meada.

"Venho dos invisíveis protozoários/

Da confusão dos seres embrionários/

Das células primevas, das bactérias..."

A voz pedia toda a atenção. Precisava recitar os versos naquele momento, durante o entardecer, e naquele cenário. Tudo o inspirava. Chico deveria ouvir as palavras, familiarizar-se com elas e decifrá-las para mais tarde colocar as rimas no papel sem dificuldade.

Corpos multiformes, vultoso abdômen, intensas torpitudes, larvas rudes, animálculo medonho, fótons, galáxias.

O rapaz tropeçava nas sílabas e nos significados daquele palavrório. E, com o regador a tiracolo, parecia um imenso ponto de interrogação.

O poeta invisível perdeu a paciência com a dificuldade do matuto de Pedro Leopoldo em entender os versos e entregou-se a Deus:

- Quer saber de uma coisa? Vou escrever o que puder, pois sua cabeça não agüenta mesmo.

O poema foi destaque do primeiro livro publicado por Chico Xavier, Parnaso de Além-Túmulo, ao lado de outros 56 atribuídos a catorze poetas, todos enterrados.

Para não se perder em meio às palavras desconhecidas, Chico costumava recorrer ao dicionário. Só assim descobria o sentido de algumas delas e corrigia a ortografia de outras.

Os poemas saíam de sua mão acompanhados de assinaturas inacreditáveis: Castro Alves, Alphonsus de Guimarães, Olavo Bilac. Até Dom Pedro II tomou coragem e arriscou versos sobre um Brasil "triste e saudoso", que rimava com "bonançoso", e sobre uma "alma torturada", que combinava com "pátria idolatrada".

Chico aproveitava cada minuto livre para escrever. E, no início, quando a eletricidade nem tinha chegado a Pedro Leopoldo, era surpreendido por acidentes estranhos.

Enquanto prestava atenção aos ditados do além ou sentia as mãos guiadas à revelia, ventos súbitos lançavam velas acesas sobre as mensagens e derrubavam o tinteiro sobre o papel. O rapaz encarava os obstáculos como provação e seguia adiante.

A notícia de suas estripulias lítero espirituais começou a correr. Por essa época, Chico estava no enterro de um amigo, quando um jovem padre se aproximou e perguntou se era verdade que ele recebia mensagens do outro mundo.

Chico confirmou. E o padre aconselhou cautela.

- Os espíritos das trevas têm muita astúcia para seduzir para o mal.

- Mas os espíritos que se comunicam através de mim só ensinam o bem.

Diante da resposta, o padre lançou o desafio.

Puxou um papel em branco do bolso e perguntou se ali, naquele momento, no cemitério, haveria um espírito disposto a se manifestar. Chico, sem hesitar, pegou o papel, se concentrou e, minutos depois, escreveu um soneto intitulado "Adeus". A primeira das quatro estrofes:

"O sino plange em terna suavidade/
no ambiente balsâmico da igreja/
entre as naves, no altar, em tudo adeja/
o perfume dos goivos da saudade".

Assinado: Auta de Souza.

Numa noite de 1931, quando escrevia mais um dos poemas de seu livro de estréia, Chico sentiu o olho esquerdo invadido por fragmentos de areia. Esfregou os grãos imaginários, mas a coceira continuou. Experimentou fixar a lâmpada com a pupila incomodada, mas em vez da luz acesa viu um foco difuso. Mal conseguia enxergar os versos recém escritos e assinados por Casimiro de Abreu. O rapaz ficou assustado e rezou mais uma vez. O Dr. Bezerra apareceu para ele, tateou o olho e diagnosticou:

- Sua vista amoleceu por razões que não podemos saber agora. Prepare-se para ir a tratamento em Belo Horizonte, para que sua família não diga que você ficou sem se tratar por nossa causa. Dois dias depois, um amigo o levou à capital mineira e um oftalmologista diagnosticou:

- Isso é um tipo de catarata obscura e inoperável.

Chico nunca mais se livrou dos grãos de areia e ficou desconfiado de ter sido atacado por "falanges das trevas" interessadas em prejudicar sua tarefa mediúnica. Desde então, todos os dias, ele medicaria o olho doente com colírios à base de cortisona e cloranfenicol.

Na época em que sofria com os primeiros sintomas da catarata, Chico recebeu mais um pedido de socorro no Centro Luiz Gonzaga: um cego, guiado por um bêbado, tinha despencado de uma altura de quatro metros. Desmaiado e ensangüentado, já estava há horas embaixo de um viaduto da cidade.

O rapaz correu para ajudar. Alugou um quarto num velho pardieiro para o homem e conseguiu um médico de graça. Mas o doente precisava de companhia durante o dia, enquanto Chico trabalhava no bar de José Felizardo. O caixeiro publicou um anúncio no jornal semanal da cidade pedindo socorro. Seis dias depois, duas moças apareceram dispostas a ajudar o enfermo durante o dia. Trabalhavam à noite: eram prostitutas. A recuperação do doente durou um mês. Após acompanhar as rezas de Chico, as duas decidiram mudar de vida. Foram para Belo Horizonte. Uma se empregou numa tinturaria, a outra tornou-se enfermeira.

Foi o primeiro de uma série de encontros entre Chico e as "nossas irmãs que comercializam a força sexual", segundo um dos eufemismos usados por ele. Meses depois, um amigo de seu pai o convidou para dar um passeio à noite e o levou ao bordel. Chico não se apavorou nem se inibiu. Perguntou o porquê daquele programa.

O acompanhante confessou: estava atendendo a um pedido do pai de Chico, preocupado com a virgindade tardia do filho. O rapaz perdeu a paciência e, rispidamente, disse que se quisesse ir até ali não precisaria de guia.

Ao entrar no salão, ele foi reconhecido.

Vejam quem está aqui... Vamos fazer uma prece juntos.

As mulheres não estavam brincando. De repente, o bordel virou um centro espírita improvisado. Preces, passes, "uma grande alegria cristã", segundo Chico. "Uma chatice", segundo quatro candidatos a uma noitada nada católica.

O rapaz saiu de lá intacto.


CONTINUA AMANHÃ

ALLAN KARDEC - FRASES E PENSAMENTOS

terça-feira, 10 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Terça feira, 10 de maio de 2011.

Às vezes perdemos grandes oportunidades pelo simples medo de tentar. Nunca deixe que isso lhe aconteça. Vá em frente e lute pelo que deseja.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DO DIA


Terça feira, 10 de maio de 2011.

Não há alegria para o coração de um pai, que valha a certeza da felicidade de um filho .

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - O MENINO MAL ASSOMBRADO - 3ª PARTE

CONTINUAÇÃO

Pela manhã, em 7 de maio de 1927, o casal atacou com passes e rezas a doença: um "espírito obsessor". Chico acompanhou o ritual e participou, assim, de sua primeira experiência no espiritismo. Nesse dia, recebeu de José Hermínio Perácio explicações sobre os fantasmas que o cercavam desde menino, foi apresentado ao Evangelho Segundo o Espiritismo e ao O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, e conheceu uma palavra chave: mediunidade. O médium seria um intérprete dos espíritos na Terra.

A irmã melhorou e, no dia seguinte, embarcou com José Hermínio e Carmem para a fazenda deles. Precisava de tratamento prolongado. Na mesma semana, Chico voltou à igreja. Mas apenas para se despedir do padre. Mais uma vez, se ajoelhou no confessionário e contou tudo: o tratamento da irmã, sua melhora, a sessão de passes, as idéias de Kardec, sua intenção de se dedicar à mediunidade. Scarzello disse que não conhecia o espiritismo e, por isso, não podia julgar. Sabia apenas que a Igreja rejeitava o espiritismo e que Chico era jovem demais para assumir compromissos e tomar decisões. O rapaz estava irredutível e o padre ficou em silêncio.

Chico não queria deixar o ex confessor contrariado e pediu a ele sua mão. O padre estendeu a mão direita. Depois de beijá-la, o ex católico fez mais um pedido. Queria ser abençoado. Scarzello atendeu.

- Seja feliz, meu filho. Rogarei à Mãe Santíssima para que te abençoe e proteja.

Chico levantou-se e saiu. Quando chegou à porta, olhou para trás. O padre o acompanhava com os olhos e sorria. Nunca mais se viram.

No dia 21 de junho de 1927, Chico já ajudava na fundação do primeiro centro espírita da cidade, num barracão onde morava o irmão dele, José Xavier. O dono da casa assumiu a presidência, Chico ficou como secretário e seu patrão, José Felizardo, virou tesoureiro. Faltava o nome do centro. Todos pensaram, pensaram e decidiram: Luiz Gonzaga. Uma home-nagem ao aviador Charles Lindbergh, que tinha atravessado o oceano Atlântico, sem escalas, a bordo de seu avião, o Spirit of St. Louis.

Ninguém ali sabia, mas o piloto quis homenagear, com o nome da aeronave, o rei da França e não São Luiz Gonzaga. De qualquer forma, o batismo do centro não foi tão despro-positado assim. O monarca francês tinha protegido Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita, no século passado e, portanto, merecia algum respeito.

Em julho, menos de três meses após a primeira sessão de rezas e passes, a irmã de Chico voltou para casa sã e salva. Na noite do dia 8 de julho, todos se reuniram para agradecer a cura. Carmem Perácio, que acompanhou Maria Xavier até Pedro Leopoldo, participou da sessão e ouviu uma voz aconselhando Chico a tomar o lápis.

Ele obedeceu e, de repente, se sentiu fora de seu corpo. As paredes desapareceram, o telhado se desfez e, no lugar do teto, ele viu estrelas.

Olhando em volta, notou uma assembléia de "entidades" que o fitavam. Para ele, eram os habitantes do arco íris. Naquela noite, Chico preencheu dezessete páginas. Sem rasuras, sem borracha, em velocidade. Quem assinou foi um "amigo espiritual". Quando o rapaz pôs o ponto final tinha as pernas trêmulas e o coração acelerado.

Dois dias depois, Carmem e o marido convidaram Chico a passar uns dias na fazenda. Eles rezavam quando Carmem, mais uma vez, ouviu uma voz suave. Era um tal de Emmanuel, "amigo espiritual" de Chico. Depois do som, veio a imagem. Um jovem imponente, com vestes sacerdotais e aura brilhante.

- Irmã, fale ao Chico para ele tomar papel e lápis.

Chico Xavier não viu nem ouviu nada. Buscaram o material, ele segurou o lápis e as frases começaram a se espalhar pelas páginas. No texto, referências ao tratamento da irmã, detalhes sobre a vida dos irmãos e um recado pessoal:

- "Eis que nos achamos juntos novamente. Os livros à nossa frente [O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos] são dois tesouros de luz. Estude-os, cumpra seus deveres e, em breve, a bondade divina nos permitirá mostrar a você seus novos caminhos". A assinatura não era de Emmanuel, mas de Maria João de Deus. Após sete anos de ausência, ela dava novos sinais.

No fim daquele ano, havia muitos candidatos à mediunidade no Centro Luiz Gonzaga. Uns queriam receber recados do além, outros estavam loucos para incorporar espíritos.
O entusiasmo era contagiante quando, em outubro, desembarcaram em Pedro Leopoldo quatro moças ensandecidas, todas filhas de Rita Silva. Vinham da região de Pirapora.

A mãe estava desesperada. E não era para menos: o quarteto se mordia, se debatia, gritava. Uma das vítimas precisou ser acorrentada para chegar até ali inteira.

Chico, mais uma vez, lançou sobre o papel mensagem assinada por Maria João de Deus:

- "Meus amigos, temos desejado o trabalho e o trabalho nos foi enviado por Jesus. Nossas irmãs doentes devem ser amparadas aqui no centro. A fraternidade é a luz do espiritismo. Procuremos servir com Jesus".

Era uma noite de segunda-feira. Quando chegou a reunião de sexta, sobraram na sala José, Chico e as loucas. Mais ninguém. Eles rezaram, rezaram, leram o Evangelho, tentaram conversar com os "obsessores", ou melhor, com as assombrações responsáveis pelos tormentos das coitadas, e nada. O tratamento seria longo.

Numa das noites, a situação piorou. José teria que viajar a serviço - era seleiro - e, para não deixar Chico sozinho com as moças "obsediadas", pediu ajuda a um recém-chegado, o Manuel. Segundo os vizinhos, ele era capaz de acalmar os espíritos das trevas. O forasteiro aceitou o convite e, na hora combinada, apareceu no Centro Espírita Luiz Gonzaga armado com uma Bíblia puída.

A sessão começou pacífica. Como sempre, depois das preces, Chico emprestou seu corpo aos habitantes do além. Primeiro, veio um "espírito amigo" para orientar Manuel:
- Quando o perseguidor se apossar do médium, aplique o Evangelho com veemência.

Não demorou muito e um novo visitante do outro mundo apareceu. Estava descontrola-do.

Manuel nem pensou duas vezes. Tomou a Bíblia e bateu com ela muitas vezes sobre a cabeça de Chico, gritando, irritado:

- Pois tome Evangelho, tome Evangelho.

O tal espírito perseguidor desapareceu, a sessão foi encerrada e Chico sofreu violenta torção no pescoço. Mais tarde, ele se divertiria com a história, certo de que foi uma das poucas pessoas no mundo a levar surra de Bíblia. Só com muito custo, após muita reza, as quatro irmãs voltaram para casa sem a companhia de assombrações.

As histórias se espalhavam, viravam lenda. De Belo Horizonte, começavam a aparecer curiosos. Um deles, em um carro novo em folha, estacionou perto de Chico e perguntou ao rapazola de calças curtas onde morava o tal Chico Xavier. O rapaz ficou sem graça. Teria que decepcionar o forasteiro.

- Sou eu.

O visitante encarou os sapatos puídos e enlameados do rapaz, engatou a primeira e acelerou após se despedir:

- Se você não arrumou nem pra você, imagine pra mim.

No final do ano, em 29 de outubro de 1928, o Centro Espírita Luiz Gonzaga mudou de endereço: saiu do barracão de José Xavier e se espalhou por uma sala alugada na casa de José Felizardo Sobrinho. Ganhou até um novo estatuto. Quem assinou a "acta de installação" foi o secretário Francisco Xavier:

“Aos vinte e nove de outubro de mil novecentos e vinte e oito, às oito horas da noite, foi reorganizado o Centro Espírita Luiz Gonzaga.

Ficou decidido entre todos os presentes que ficasse estabelecida a mensalidade de um mil réis e que fosse alugado a vinte mil réis mensais o salão da residência do senhor José Felizardo Sobrinho para que aí fique installada a sede interina da associação...”

A programação no centro seria intensa. As segundas, quartas e sextas-feiras, sessões públicas de estudo e divulgação da doutrina "espírita-socientifica-cristã".

As quintas, sessões privadas e de caridade.

"Para todos os efeitos, firmo a presente ata que assino".

Menos de três meses depois, em 18 de janeiro de 1929, uma sexta-feira, Carmem Perácio viu cair do teto, após a sessão evangélica, uma chuva de livros sobre a cabeça de Chico.

Contou a visão ao rapaz e ele tratou de dispensar o presente dos céus.

Não mereço que os espíritos me tragam lírios.

Não entendeu direito. Mais uma vez, não viu nem ouviu nada.

Logo ele começou a cobrir páginas e páginas com poemas. Alguns ele assumia como seus.

Como o dedicado ao amigo José Tosta, logo após a morte dele, em 27 de abril de 1929. A primeira estrofe estava longe de ser divina:

"Companheiro que à Pátria regressaste/ entre auréolas de luzes majestosas/ a levar tantas flores perfumosas/ a Jesus, tanto amor, que tanto amaste". Nessa época, ele ainda era o "poeta espírita que desabrocha em Pedro Leopoldo", como definiu Pereira Guedes, um dos divulgadores do espiritismo que o ajudaram a se lançar.

Os melhores poemas escritos por Chico eram obras sem dono. O poeta negava a autoria dos versos. Eles apareciam quando o rapaz, aflito, sentia uma pressão na cabeça como se um cinto de chumbo comprimisse seu cérebro - e um peso no braço direito, como se ele se transformasse numa barra de ferro e fosse arrastado por forças poderosas.

Os textos se acumulavam anônimos e repetiam a mesma cartilha: amor, compreensão, tolerância.

Os companheiros do centro liam a papelada e sugeriam a publicação. Só havia um problema.

Quem assinaria as obras? Chico consultou o irmão, José Cândido, e eles decidiram pedir conselhos ao diretor do jornal espírita carioca Aurora, Inácio Bittencourt. O jornalista convenceu o rapaz de Pedro Leopoldo a colocar seu nome embaixo dos poemas. "F. Xavier" começou a aparecer em várias publicações com o consentimento dos escritores invisíveis.

Chico nunca se esqueceu de como o soneto "Nossa Senhora da Amargura" chegou às suas mãos e se espalhou pelo papel. Uma noite, ele rezava quando viu aproximar-se uma jovem reluzente. Pediu papel e lápis e começou a escrever. A aparição chorava tanto que Chico começou a se debulhar em lágrimas também.

No final das contas, ele já não sabia se os seus olhos eram os dela ou vice-versa. Muito mais tarde identificaria a dona daquelas pupilas: a poeta Auta de Souza, do Rio Grande do Norte, que morreu em 1901, com 24 anos.

Na época,

CONTINUA AMANHÃ

FRASES DE ALLAN KARDEC -

segunda-feira, 9 de maio de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Segunda feira, 09 de maio de 2011.

A liberdade consiste em fazer tudo o que não prejudica os outros.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DO DIA

Segunda feira, 09 de maio de 2011.

Na vida, são necessários momentos difícies para que possamos superá-los e mostrar a nós mesmos o que realmente somos capazes de fazer

Autor: Paulo DJ

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - O MENINO MAL ASSOMBRADO - 2ª PARTE

CONTINUAÇÃO

Após reunir as crianças, Cidália decidiu colocá-las no colégio. Não seria nada fácil. O salário mal dava para o indispensável. Como comprar caderno, lápis, livros?

Pediu a ajuda de Chico. Plantaria uma horta, e ele venderia os legumes.

O menino abriu um sorriso e arregaçou as mangas. Sempre descalço, carregou baldes com água, encheu balaios com esterco colhido no campo e, em poucas semanas, já percorria as ruas da cidade com um cesto de verduras a tiracolo. Cada maço de couve ou cada repolho valia um tostão. Até dezembro de 1918, de tostão em tostão, eles conseguiram juntar 32 mil réis. Em janeiro, Chico já estava matriculado no Grupo Escolar São José.

Mas as alucinações persistiam. O menino se levantava da cama no meio da noite, batia papo com fantasmas e, muitas vezes, estragava o café da manhã do pai com notícias de parentes mortos e descrições de viagens por cenários fantásticos. Cidália escutava, não entendia, mas jurava acreditar no garoto.

- Um dia, quem sabe, vai aparecer alguém que entenda você e explique suas visões e as vozes que você escuta - dizia para Chico. Mas ela estava preocupada.

O menino deveria poupar o pai de suas histórias. Para ele, o filho estava mesmo endemoniado. Talvez Deus desse um jeito. João Cândido levou o "aluado" até o padre Sebastião Scarzello.

O menino ajoelhou-se no confessionário e desfiou seu rosário de histórias mirabolantes.

Nas missas, pela manhã, figuras reluzentes transformavam as hóstias em focos de luz e defuntos conhecidos de Pedro Leopoldo reapareciam com rosas nas mãos.

Contra delírios tão estapafúrdios, só mesmo uma saraivada de rezas, uma série de novenas pelo descanso dos mortos e muito trabalho. Foi o padre Scarzello quem livrou o menino do risco de ser internado como louco. A salvação não veio com as mil ave marias ou com as pedras equilibradas na cabeça por Chico durante as procissões.

Veio com o salário. A fábrica de tecidos estava empregando crianças para o turno da noite e o padre aconselhou Chico a se candidatar à vaga.

Só assim o pai tiraria aquela idéia da cabeça.

Melhor um filho com dinheiro para ajudar em casa do que um maluco hospitalizado.

Com nove anos, Chico começou a trabalhar como tecelão. Entrava às 3h da tarde, saía à 1h da manhã, dormia até as 6h, ia para a escola, saía às 11h, almoçava, dormia uma hora depois do almoço, entrava de novo na fábrica. Nem parecia aquele menino mal-assombrado.

Era só fachada.

Depois do trabalho, corria para o quintal. Ia conversar com Cidália, sempre debruçada sobre a roupa suja no tanque. Nesses encontros, ele costumava enxergar, próximas ao varal, figuras cobertas com mantos coloridos. Perguntava à segunda mãe quem era aquela gente e ficava sem resposta.

Um dia, o garoto arriscou uma tese, baseado na profusão de azuis, vermelhos, verdes e amarelos.

- Acho que eles moram no arco-íris.

Cidália desconversava:

- Sou muito ignorante, mas acredito em você.

Só não entendo direito.

O padre Scarzello decidiu ser mais rigoroso e aconselhou o pai a afastar Chico da má influência dos livros, revistas e jornais.

João fez uma fogueira com as páginas proibidas. Inconformado com o pai e o padre, Chico recorreu à mãe invisível.

- Eles estão contra mim. Acham que estou perturbado.

Ouviu mais um conselho:

- Aprenda a calar-se. Quando se lembrar, por exemplo, de alguma lição ou experiência recebida em sonho, fique em silêncio. Mais tarde talvez você possa falar.

Chico calou-se. Restringiu seus desabafos à confissão. Azar dele. O padre Scarzello decidiu, a pedido do pai do menino, ter uma conversa mais dura com o garoto.

E renegou os pretensos bate papos entre Chico e a mãe.

Ninguém volta a conversar depois da morte. O demônio procura perturbar-lhe o caminho.

- Mas, padre, foi minha mãe quem veio.

- Foi o demônio.

À noite, depois de muito choro, Chico sonhou que encontrava Maria João de Deus. Foi a segunda despedida deles. A mãe lhe cobrou obediência a João Cândido e ao padre, pediu que não brigasse por sua causa e avisou que sumiria de vista.

Chico acordou sacudido por soluços e enxugou os olhos, resignado. Só a veria de novo sete anos depois.

Na escola, fatos estranhos aconteciam. Muitas vezes, o menino sentia mãos inexistentes sobre as suas, guiando seus movimentos. Os colegas se chateavam com as visões do filho de João Cândido e, durante o recreio, tentavam colocar, a socos e pontapés, um pouco de juízo naquela cabeça dura. Intimidado, Chico abriu mão do descanso entre as aulas.

Em 1922, o país comemorava o centenário da Independência. O governo de Minas instituiu vários prêmios de redação para alunos da quarta série primária.

Chico estava prestes a começar o texto quando viu um homem a seu lado ditando o que ele deveria escrever. Perguntou ao companheiro de banco se ele estava vendo algo.

O colega negou.

Chico pediu licença à professora, Rosária Laranjeira, uma católica fervorosa, aproxi-mou-se do estrado onde ela ficava e lhe contou o que estava acontecendo.

- O que o homem está mandando você escrever?

Chico repetiu a frase:

- O Brasil, descoberto por Pedro Álvares Cabral, pode ser comparado ao mais precioso diamante do mundo, que logo passou a ser engastado na coroa portuguesa...

Dona Rosária disse que não era nada normal que ele visse pessoas que ninguém via, garantiu que ele deveria estar ouvindo a si mesmo e mandou-o de volta à carteira.

Não importava se o texto fosse ditado ou não por algum homem invisível. O importante era concluí-lo.

Algumas semanas depois, a Secretaria de Educação de Minas divulgou os resultados do concurso, disputado por milhares de estudantes. Chico Xavier, de Pedro Leopoldo, recebeu menção honrosa. A turma ficou dividida, Colegas espalharam o boato de que o garoto tinha copiado o trecho premiado de um livro qualquer. Outros, a minoria, apostaram nos dons, mediúnicos ou literários, do amigo.

Os grupos se formaram e alguém, na sala, lançou o desafio. Se o texto dele foi ditado por alguma pessoa do outro mundo, por que esse homem não reaparecia para escrever sobre algum assunto proposto pelos colegas?

No exato momento do desafio, Chico viu a assombração pronta para escrever e comunicou o fato à professora. Ela resistiu à idéia, mas a pressão dos colegas foi mais forte.

Enquanto Chico caminhava até o quadro negro, uma das alunas, Oscarlina Lerroy, propôs o assunto: areia.

- Tenho carregado muita areia para ajudar meu pai numa construção.

As gargalhadas ecoaram na sala. O tema era insignificante, ridículo. Chico pegou o giz.

Silêncio absoluto. Palavras inusitadas se arrastaram pelo quadro negro:

"Meus filhos, ninguém escarneça da criação. O grão de areia é quase nada, mas parece uma estrela pequenina refletindo o sol de Deus".

Após o espetáculo, dona Rosária proibiu qualquer comentário na sala de aula sobre pessoas invisíveis.

Chico concluiu o primário em 1923, após repetir a quarta série. A repetência não foi provocada por falta de estudo, mas de saúde. O menino enfrentava problemas respiratórios.

Seu pulmão sofria com a poeira do algodão na fábrica de tecidos. A professora se apegou tanto a ele que, quando foi transferida para Belo Horizonte, pediu a João Cândido para levar o garoto com ela. O pai não autorizou. Precisava do salário de Chico.

No ano seguinte, por recomendação médica, o garoto trocou a tecelagem pelo Bar do Dove, de Claudomiro Rocha. Varria o chão, lavava a louça, cozinhava e continuava mal-assombrado. Quando já tinha quinze anos, pediu socorro ao padre Scarzello.

Em meio a uma crise de choro, Chico se queixou do assédio incessante de um espírito sofredor.

O padre, impressionado com a devoção do rapaz a Jesus, lhe disse para não se desesperar com as vozes e visões.

Se elas vieram da parte de Deus, ele irá te abençoar e te dar forças para fazer o que deve ser feito.

Após o discurso, saiu com o garoto da igreja e lhe comprou um par de sapatos. Chico deixou de andar descalço.

O salário do Bar do Dove era miserável e, depois de dois anos de dificuldades, o garoto se mudou para o armazém de José Felizardo Sobrinho, o ex marido de Rita de Cássia, já morta e substituída por Júlia Antônia de Carvalho. Com um facão afiado na mão, o garoto estava sempre pronto a cortar toucinho para o freguês e ficava feliz da vida quando o patrão vendia fiado. Atrás do balcão, pesava o arroz, cortava a lingüiça, arrumava as prateleiras. Atendia a todos, paciente, das 6h30 da manhã às 8h da noite. No final do mês, recebia 13 mil réis. Uma ninharia. Mas não reclamava. Seu único drama era vender cachaça. O sujeito bebia e Chico tinha que carregar.

Nessa época, ele fez amizade com a nova mulher de Felizardo. Bordava com ela e ensaiava, a seu lado, pinceladas sobre panos presos a arcos de madeira.

Namoradas?

Nenhuma. Só se permitia arroubos apaixonados por encomenda, quando, a pedido dos amigos, escrevia cartas de amor às namoradas deles. O rapaz era esquisito mesmo.

Comungava, confessava, ia à missa, acompanhava procissões e trabalhava muito.

Além do normal.

Em 1927, uma das irmãs de Chico, Maria Xavier, ficou doente. Delirava, arregalava os olhos, se contorcia, suava frio, urrava impropérios.

Médico nenhum deu jeito. A situação era tão dramática que João Cândido decidiu passar por cima do padre e apelar para um casal de amigos espíritas. Foi até a Fazenda de Maquiné, em Curvelo, a cem quilômetros de Pedro Leopoldo, e voltou de lá com José Hermínio Perácio e sua mulher Carmem.

CONTINUA AMANHÃ

MINHA LUZ - Música Espírita

domingo, 8 de maio de 2011

MENSAGEM DO DIA

Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - O MENINO MAL ASSOMBRADO - 1ª PARTE


O MENINO MAL-ASSOMBRADO


O pai, João Cândido Xavier, balançava a cabeça e resmungava. É louco.

A madrinha, Rita de Cássia, reagia às alucinações do menino com golpes de vara de marmelo. Entre uma surra e outra, enterrava garfos na barriga do afilhado e berrava:

- Este moleque tem o diabo no corpo.

Nem o padre Sebastião Scarzello conseguiu fazer de Chico Xavier um garoto "normal".

Após as confissões, preces e penitências, Chico tagarelava com a mãe já morta, via hóstias cintilantes na comunhão, escrevia na sala de aula textos ditados por seres invisíveis e tornava-se, assim, o assunto mais exótico da cidade. Na empoeirada e católica Pedro Leopoldo, a 35 quilômetros de Belo Horizonte, era difícil encontrar quem apostasse na sanidade de Chico Xavier.

Para espantar o diabo e pagar os pecados, o garoto seguia à risca as receitas paroquiais.

Chegou a desfilar em procissão com uma pedra de quinze quilos na cabeça e a repetir mil vezes seguidas a ave maria. Rezava e contava. Não foi fácil. Um espírito desocupado fazia caras e bocas para atrapalhar seus cálculos.

Na igreja, assombrações flutuavam sobre os bancos e beijavam os santos.

Chico divulgava estas e outras histórias do outro mundo para os adultos.

Resultado: mais surras e mais risco de ser transferido de Pedro Leopoldo para Barbacena, a capital dos hospícios.

João Cândido estudava com carinho a hipótese de internar o filho. Uma idéia antiga.

A Primeira Guerra Mundial começava a assombrar o mundo, e Chico já estava às voltas com fantasmas. Uma noite, seu pai conversava com a mulher, Maria João de Deus, sobre o aborto sofrido por uma vizinha, e desancava a moça. O filho interrompeu o julgamento e, do alto de seus quatro anos, proferiu a sentença:

- O senhor está desinformado sobre o assunto.

O que houve foi um problema de nidação inadequada do ovo, de modo que a criança adquiriu posição ectópica.

Naquela casa pobre de Pedro Leopoldo, a frase soava tão fora de propósito quanto à notícia de que, na longínqua Europa, a Alemanha acabava de declarar guerra à Rússia.

João Cândido arregalou os olhos e balbuciou:

- O que é nidação? O que é ectópica?

Chico não sabia. Tinha repetido palavras sopradas por uma voz.

Os amigos da família Xavier, aqueles que desconheciam o discurso médico feito pelo menino aos quatro anos, arriscavam uma explicação para as alucinações de Chico: a morte da mãe, quando ele tinha cinco anos. Maria João de Deus foi embora cedo demais e, ao se despedir, deixou em casa um garoto ao mesmo tempo magoado e impressionado.

Pouco antes de morrer, ela pediu ao marido que distribuísse os nove filhos pelas casas de amigos e parentes. Só assim João Cândido, vendedor de bilhetes de loteria, conseguiria viajar pelas cidades vizinhas em busca de dinheiro.

No pé da cama onde a mãe agonizava, atormentada por crises de angina, Chico cobrou:

- Por que a senhora está dando seus filhos para os outros? Não quer mais a gente, é isso?

Maria explicou que iria para o hospital e garantiu com voz firme:

- Se alguém falar que eu morri, é mentira. Não acredite. Vou ficar quieta, dormindo. E voltarei.

Chico acreditou. No dia seguinte, a mãe morreu e João Cândido entregou à madrinha, Rita de Cássia, um menino com idéias estranhas.

Depois do enterro de Maria João de Deus, em 29 de setembro de 1915, o garoto teve que esticar as pernas para acompanhar a madrinha. Na volta do cemitério, ela não encurtou os passos para andar de mãos dadas com o afilhado, como fazia a mãe dele. Ofegante, o menino alcançou Rita, mas o esforço foi um desperdício. Sua mão ficou balançando a procura dos dedos da madrinha.

- Ainda hoje sinto no braço a sensação do vazio, da procura inútil lamentou Chico, 65 anos depois, já conformado. Foi minha educadora.

Se a dor ensina, Rita de Cássia foi mesmo uma professora exemplar. Chico Xavier recebeu aulas diárias durante os dois anos em que morou com ela e o marido, o comerciante José Felizardo Sobrinho, sempre ausente. Logo nos primeiros dias, enfrentou o primeiro teste. Bastou uma ida ao banheiro para encontrar, na volta, a cama ensopada de urina. A madrinha perguntou o que tinha acontecido. Chico, sem culpa no cartório e com a cabeça cheia de sermões católicos, nem titubeou. Jogou a culpa no diabo.

A surra foi demorada. Ele nem imaginava, mas o responsável pela sujeira tinha sido seu vizinho de cama, Moacir, de doze anos, sobrinho tratado como filho por Rita.

O garoto tinha derramado um penico sobre o lençol.

Chico apanhava e queria rezar. Aos cinco anos, já sabia o pai nosso de cor. Foi criado em meio a preces. Quando ele tinha dois anos, Maria João de Deus já apontava o céu estrelado e dizia:

- Foi Deus quem fez tudo isso.

Às vezes, exibia um retrato de Jesus e alertava:

- A maior ofensa que podemos fazer à nossa consciência é negar a existência de Deus. A mãe reunia os filhos para a oração da noite, confessava aos sábados, comungava aos domingos.

Na casa da madrinha, as rezas eram raras e as surras, fartas.

Numa delas, Rita se empolgou e enfiou com força demais o garfo na barriga do afilhado. A ferida demorou a cicatrizar e, para evitar o atrito da pele com a roupa, a madrinha obrigou o menino a usar uma espécie de camisola conhecida como mandrião, vestida por meninas e confeccionada com tecido de ensacar farinha.

Para piorar, o pano ainda tinha listras azuis. Os vizinhos se divertiram com a fantasia.

Nos anos 50, foi apontado por alguns amigos como o precursor da moda saco, um sucesso na época.

O menino não conseguia achar graça. Chorava muito e só tinha sossego quando a madrinha tomava o rumo da estação para ver o trem de luxo passar. Ela adorava admirar os passageiros da primeira classe. Tão chiques, tão belle époque.

Numa das escapadelas de Rita, Chico correu para o quintal e se ajoelhou embaixo de uma bananeira. Repetia o pai nosso quando, de repente, viu na sua frente Maria João de Deus.

Até que enfim. Ela cumpriu o prometido. Adeus surras e garfos.

Chico se agarrou à recém chegada e pediu socorro.

- Carregue-me com a senhora, não me deixe aqui, eu estou apanhando muito.

A aparição desfez as ilusões do desesperado.

- Tenha paciência. Quem não sofre não aprende a lutar. Se você parar de reclamar e tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos.

Em seguida, evaporou. Chico ficou ali, no quintal, sozinho, gritando pela mãe.

Daquele dia em diante, apanhou calado, sem chorar, para desespero da madrinha, que adotou um novo grito de guerra:

- Além de louco, é cínico.

O menino se defendia da acusação com um argumento absurdo. Toda vez que suportava as surras em silêncio, com paciência, via sua mãe. A vara de marmelo zunia, Chico engolia o choro e depois se refugiava no quintal para ouvir os surrados conselhos maternos: era preciso sofrer resignado, era fundamental obedecer sempre, porque logo um anjo bom apareceria para ajudá-lo. O menino ficava esperando.

Numa tarde, a "educadora" Rita de Cássia brindou o aluno com uma prova surpresa.

Moacir, primo de Chico, apareceu com uma ferida na perna esquerda. Fleming ainda não tinha descoberto a penicilina e o machucado não cicatrizava. A madrinha, preocupada com o sobrinho, mandou chamar dona Ana Batista, uma benzedeira de Matuto, hoje Santo Antônio da Barra, cidade vizinha de Pedro Leopoldo. A curandeira examinou o ferimento e aviou a receita. Só uma simpatia daria jeito.

Uma criança deve lamber a ferida três sextas-feiras seguidas, pela manhã, em jejum.

- Chico serve? perguntou a madrinha.

O garoto ficou em pânico. Correu para debaixo das bananeiras e ouviu o repetido conselho materno:

- Você deve obedecer. Mais vale lamber feridas que aborrecer os outros. Você é uma criança e não deve contrariar sua madrinha.

- E isso vai curar o Moacir?

- Não, porque não é remédio. Mas dará bom resultado para você, porque a obediência acalmará sua madrinha.

Chico perdeu a paciência. Por que sua mãe não voltava para casa? Onde estava o tal anjo bom?

A aparição acalmou o menino:

- Seja humilde. Se você lamber a ferida, faremos o remédio para curá-la.

No dia seguinte, pela manhã e em jejum, Chico iniciou a missão. Fechava os olhos, pedia forças à mãe e lambia a perna do garoto. O gosto era amargo e ele só queria ter a língua maior para acabar logo com o suplício. Na terceira sexta-feira, o ferimento estava cicatrizado. Pela primeira vez, Rita de Cássia elogiou o afilhado:

- Muito bem, Chico. Você obedeceu direitinho. Louvado seja Deus.

O menino não sabia, mas passaria a vida lambendo feridas alheias.

As aulas na casa de Rita de Cássia terminaram dois meses depois, quando João Cândido Xavier se casou com Cidália Batista. A primeira medida da mulher foi recolher os nove filhos do primeiro casamento do marido, dispersos pelas casas de parentes e amigos.

Chico chegou por último. Quando apareceu, enfiado num camisolão, foi recebido com curiosidade por Cidália. Ela reparou na barriga inchada do menino e tentou levantar sua roupa para examinar o abdômen. Não conseguiu. Chico, então com sete anos, se desvencilhou, tímido. Havia gente demais em volta.

Cidália o pegou pela mão e o tirou da sala, a passos lentos, no ritmo de Maria João de Deus.

A sós, a mulher de João Cândido levantou o camisolão do garoto e levou um susto ao deparar com a ferida aberta a garfadas.

- Enquanto eu viver, ninguém mais vai pôr as mãos em você.

Diante da promessa, Chico teve certeza: aquele era o tal anjo anunciado pela mãe.

CONTINUA AMANHÃ

HOMENAGEM ÀS MÃES