CONTINUAÇÃO
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Ante o sublime
“Não faças tu comum o que Deus purificou.” – (Atos, 10:15.)
Existem expressões no Evangelho que, à maneira de flores a se
salientarem num ramo divino, devem ser retiradas do conjunto para que nos
deslumbremos ante o seu brilho e perfume peculiares.
A voz celeste, que se dirige a Simão Pedro, nos Atos, abrange
horizontes muito mais vastos que o problema individual do apóstolo.
O homem comum está rodeado de glórias na Terra, entretanto,
considera-se num campo de vulgaridades, incapaz de valorizar as riquezas que o
cercam.
Cego diante do espetáculo soberbo da vida que lhe emoldura o
desenvolvimento, tripudia sobre as preciosidades do mundo, sem meditar no
paciente esforço dos séculos que a Sabedoria Infinita utilizou no
aperfeiçoamento e na seleção dos valores que o rodeiam.
Quantos milênios terá exigido a formação da rocha?
Quantos ingredientes se harmonizam na elaboração de um
simples raio de sol?
Quantos óbices foram vencidos para que a flor se materializasse?
Quanto esforço custou a domesticação das árvores e dos animais?
Quantos séculos terá empregado a Paciência do Céu na estruturação
complexa da máquina orgânica em que o Espírito encarnado se manifesta?
A razão é luz gradativa, diante do sublime.
Não te esqueças, meu irmão, de que o Senhor te situou a
experiência terrestre num verdadeiro paraíso, onde a semente minúscula retribui
na média do infinito por um e onde águas e flores, solo e atmosfera te convidam
a produzir, em favor da multiplicação dos Tesouros Eternos.
Cada dia, louva o Senhor que te agraciou com as oportunidades
valiosas e com os dons divinos.
Pensa, estuda, trabalha e serve.
Não suponhas comum o que Deus purificou e engrandeceu.
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Pelas obras
“E que os tenhais em grande estima e amor por causa da
sua obra.” – Paulo. (1ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:13.)
Esta passagem de Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses,
é singularmente expressiva para a nossa luta cotidiana.
Todos experimentamos a tendência de consagrar a maior estima
apenas àqueles que leiam a vida pela cartilha dos nossos pontos de vista. Nosso
devotamento é sempre caloroso para quantos nos esposem os modos de ver, os
hábitos enraizados e os princípios sociais; todavia, nem sempre nossas
interpretações são as melhores, nossos costumes os mais nobres e nossas
diretrizes as mais elogiáveis.
Daí procede o impositivo de desintegração da concha do nosso
egoísmo para dedicarmos nossa amizade e respeito aos companheiros, não pela
servidão afetiva com que se liguem ao nosso roteiro pessoal, mas pela
fidelidade com que se norteiam em favor do bem comum.
Se amamos alguém tão-só pela beleza física, é provável
encontremos amanhã o objeto de nossa afeição a caminho do monturo.
Se estimamos em algum amigo apenas a oratória brilhante, é
possível esteja ele em aflitiva mudez, dentro em breve.
Se nos consagramos a determinada criatura só porque nos
obedeça cegamente, é provável estejamos provocando a queda de outros nos mesmos
erros em que temos incidido tantas vezes.
É imprescindível aperfeiçoar nosso modo de ver e de sentir, a
fim de avançarmos no rumo da vida superior.
Busquemos as criaturas, acima de tudo, pelas obras com que
beneficiam o tempo e o espaço em que nos movimentamos, porque, um dia, compreenderemos
que o melhor raramente é aquele que concorda conosco, mas é sempre aquele que
concorda com o Senhor, colaborando com ele, na melhoria da vida, dentro e fora
de nós.
CONTINUA AMANHÃ