sexta-feira, 29 de julho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Só mesmo no fim, olhando a estrada que percorremos, vemos quantas coisas podíamos tido e perdemos

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo
 

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ

CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO  X

Estirada no leito, chorava Marita, desconsolada.
As revelações ouvidas naquele diálogo, a curta distância, revolviam-lhe o coração, quais pinças de fogo. Sentia-se abandonada, desejava morrer.
Então – confirmava-se –, todo aquele devotamento de Gilberto
não passava da superfície. Apropriara-se-lhe da alma, empolgara-lhe os sentimentos, para deixá-la sem comiseração.
Recordava-se de que, realmente, semanas antes, indagara-lhe ele que outros idiomas conhecia. Algo vexada, informara que somente conseguira o curso primário. O moço retirara da algibeira
uma composição de Shelley. Lera o inglês e traduzira para ela os versos lindos. Em seguida, aconselhara-lhe estudos suplementares à noite. Poderia auxiliá-la, relacionava-se com professores distintos.
Ela rira-se, queria o lar, a escola do lar com ele. Apenas ali, na decepção que a molestava, compreendia a extensão do arrufo com que se despedira. Ah! sim, aspirava ao casamento com moça culta. Ignorante! – dizia para si mesma – não passo de uma ignorante.
Marina era diferente, dominava outras línguas.
Tudo já estava tramado, deliberado. À vista disso, a irmã recusava-lhe intimidade nos dias últimos.
Por mais a rodeasse de mimos, mais se afastava.
Agora reconhecia igualmente a causa de mostrar-se o rapaz enfastiado e irritadiço. Entretanto – perguntava-se, triste –, se ele a desprezava, assim, por que lhe abusara da confiança? Por que o arrebatamento com que lhe acorrentara a alma às inesquecíveis
impressões da menina que se faz repentinamente mulher? Não selara com ela um ajuste de matrimônio? Não lhe testemunhava extrema ternura nos encontros domingueiros, quando se entregavam a comunhão mais íntima? (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 109)
Incapaz de duvidar da legitimidade do carinho que recebera, voltava-se mentalmente para a irmã que lhe surrupiava as mínimas alegrias. A nova infelicidade – conjeturava – seria culpa dela.
Com toda a certeza, Marina cobiçara o rapaz, a envolvê-lo na teia de artimanhas que entretecia como ninguém. Gilberto caíra-lhe no engodo. Ave no visco. Contudo, ao descobrir toda a trama, reconhecia-se irremediavelmente lesada. Debatia-se em pranto, sob o peso das considerações familiares. Era imperioso certificar-se de que era enjeitada e ignorante. Nada sobraria para ela, tudo para a outra. Marina possuía méritos, ela não.
A exposição de Dona Márcia, naquela hora, insuflara-lhe a tortura do réu que ouve sentença inapelável. Ainda assim, chorava, inconformada. A contingência de perder Gilberto induzia-lhe
o sentimento a matar ou desaparecer. Rememorou as tragédias, lidas na imprensa, mas o fratricídio repugnava-lhe ao coração. A idéia do suicídio, contudo, qual semente a se lhe ocultar no imo do ser, evocada pelo esboço ligeiro da alma, como que germinara, de súbito. Acariciou-a, de leve, e a sugestão infeliz ganhou corpo.
Divagações negativas tomaram-na de assalto. Renunciar a Gilberto e largar os planos feitos doeriam muito mais que morrer – pensava, desolada. Mas seria justo acovardar-se, assim tanto?
Repeliu o estranho apelo e, conquanto as  ágrimas, prometeu coragem a si própria. Lutaria pela felicidade. Explicar-se-ia com o
rapaz, baniriam, juntos, a ameaça pendente. Entretanto, se Gilberto não lhe aceitasse os argumentos, que fazer do destino, se, com o golpe sofrido à frente, percebia também o fantasma da esquisita inclinação do pai adotivo pela retaguarda?
Por que a peça que a vida lhe pregava? Devia esquivar-se ao afeto do jovem que amava, numa consagração natural, para ganhar a paixão do homem maduro que se habituara a respeitar como pai e que lhe acenava com uma espécie de união para ela inaceitável? Estarrecia-se ao ouvi-lo naquela hora. Identificava-lhe (Francisco (Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 110)  o tom de alegria triunfante, ao dar-se conta da felicidade com que se desembaraçaria de Gilberto, no campo em que se prometia apresá-la.
Cláudio como que lhe falava de longe, ao dirigir-se à esposa.
Aquelas referências louvaminheiras com que a obsequiava, perante Dona Márcia, confirmavam-lhe a decisão de dobrá-la, demovêla.
Entre o asco e a piedade, rememorava-lhe as carícias, que somente naquela noite conseguira compreender.
Como desvencilhar-se?
Flor sacudida no vento da provação, perguntava por quê, por quê?...
Sopesando as ocorrências, pela primeira vez sentia medo daquele ninho familiar a que se reconhecia encadeada por filha do coração.
De repente, elevou o pensamento à memória materna... Ah! nunca imaginara que um coração feminino pudesse encontrar dilemas tão aflitivos, quanto aqueles a que se via largada, de instante para outro! Que não teria sofrido sua própria mãe, que a deixara no instante do alvorecer? Nunca soubera, ao certo, as
 ircunstâncias que lhe haviam rodeado o nascimento. Concluía agora, porém, que talvez a genitora tivesse conhecido o cálice que ela agora amargava! Que noites de agonia moral atravessara, sozinha, ao acariciá-la no ventre! Que injúrias padecera, que privações experimentara? Ela, que tudo desconhecia acerca do pai, refletia no martírio da genitora, jovem e abandonada, quando, provavelmente, lhe aguardava, em vão, o carinho e a proteção, noite a noite. Dona Márcia, ao biografar-lhe a mãezinha, dissera “moça brincalhona”. Teria sido mesmo? Possivelmente, gargalharia para não soluçar, ansiando abafar em ruídos de festa os gritos da própria alma... Quem sabe ter-se-ia dedicado a algum homem proibido, empenhado o coração a algum moço que lhe fora roubado à ternura de menina e mulher? (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 111)
Nas lágrimas que lhe corriam, suspirava por fazer-se criança...
Por que não vivera a mãezinha, a fim de lutarem juntas?
Consagrar-se-iam uma à outra. Permutariam as próprias mágoas...
Muita vez, na loja a que servia, escutava apontamentos sobre comunicações de mortos, inteirava-se de experiências sobre a continuação da vida no Além... Seria aquilo verdade? – indagavase.
Se Aracélia, libertada, estivesse em alguma parte, indiscutivelmente lhe acompanharia o calvário, compartilhar-lhe-ia o infortúnio...
Mecanicamente, implorava ao Espírito materno a abençoasse,
 ortificasse, protegesse... Conquanto sem qualquer idéia religiosa efinida, formulava prece muda, que valia por funda invocação...
Intentávamos consolá-la, buscando asserenar-lhe a mente, quando duas senhoras desencarnadas penetraram no quarto, de improviso.
Saudaram-nos, afetuosamente, revelando a condição de entidades familiares, vinculadas àquele refúgio doméstico.
Das recém-chegadas, a que nos pareceu menos experiente adiantou- se para a menina em oração. Controlava-se, dificilmente.
Tremia, ao enxugar o pranto silencioso. Inclinou-se para o leito, como qualquer mãe desventurada e aflita da Terra, quando teme acordar um ser querido...
Embora sem elucidações prévias, não nos era licito alimentar qualquer dúvida. Aquela, era a jovem do retrato que Marita conservava, em imagem, nas telas do pensamento. Aracélia, amparada pela doce afeição de venerável amiga, ali estava, diante de nós!
Mãe amorosa, vinha talvez de muito longe para acudir às angústias da filha... Enternecendo-nos, a pobre mãe ajoelhou-se para beijar-lhe os cabelos... E, oh! segredos insondáveis da Providência Divina!... Quem conseguirá definir com palavras humanas a essência do amor que Deus situou nas entranhas maternas?... (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 112)  A dama inclinou-se, muito de manso, e abraçou-a, com ternura, à maneira de planta que se fechasse sobre a única flor que lhe nascera...
A castigada menina acalmou-se, de súbito. Adivinhando a visita pela qual suspirava, alijou a tensão, percebendo-se mentalmente ocupada pela presença da genitora, cujos traços tentava,
afetuosa, lembrar e reconstituir.
Outro quadro, entretanto, superpôs-se, comovedor. Aracélia, que orava e chorava em profundo silêncio, buscava em pensamento outra mulher, cuja evocação lhe renovava as energias.
A mãe desencarnada via-se pequenina, junto da lavadeira singela que a trouxera, na reencarnação última, para o teatro da vida humana. Identificava-se criança, agarrada à saia daquela moça doente, que mergulhava as pernas no rio para ganhar o pão... Tão
 undo atingia a acústica da memória, que chegava a escutar o ruído daquelas mãos miúdas, esfregando as peças ensaboadas...
Recolhia-lhe, de novo, o olhar meigo, em que lhe pedia paciência...
Calada, na areia, por vezes esperava, esperava, depois que a mãezinha lhe repunha o corpo frágil, à curta distância, a fim de atender ao serviço... E rememorava o enlevo e o júbilo que sentia, quando os braços maternos a retomavam, para fazê-la dormir, ao som do velho estribilho, a que se acostumara no lar de telha vã....
De olhos parados, como se buscasse, além, no espaço infinito, o colo agasalhante que o tempo arrebatara, assumiu nova posição, colocando a cabeça da jovem no próprio regaço e, emocionandose até às lágrimas, qual se tivesse nos lábios aqueles lábios de mãe, humilde e enferma, que jamais esqueceria, Aracélia, em
pranto resignado, cantou suavemente diante de nós:
Lindo anjo de meus passos,
Descansa, meu doce bem;



CONTINUA AMANHÃ

O ESMAGAMENTO DO MAL - CHICO XAVIER

quinta-feira, 28 de julho de 2011

MOMENTO DE REFLEXÃO


A ESCOLHA  ACERTADA

A época era de dificuldades. Os dramas humanos se multiplicavam nas estradas da china, sem que ninguém tivesse muito tempo para olhar para o lado e tentar auxiliar o vizinho.

Foi durante a guerra civil chinesa, que sucedeu ao conflito mundial da segunda guerra.

Wong e sua esposa Lee, com as quatro filhas, tinham urgência em sair de Hong Kong. Ele era um ilustre professor procurado pelas forças que oprimiam o país.

Enquanto ele tentava conseguir um meio de transporte que, por muito dinheiro, os pudesse levar para o campo, à casa de um tio, onde se poderiam ocultar, tentando salvar as próprias vidas, Lee acomodava as pequenas ao seu redor.

Ela precisava cuidar da bagagem, porque na confusão das ruas não eram poucos os que se aproveitavam para saquear os descuidados.

Precisava também atender as crianças que, um tanto assustadas, em meio à movimentação intensa, choramingavam, agarradas às suas vestes.

Num tempo que pareceu eterno, o marido chegou com um Jinriquixá, uma espécie de carrinho, puxado por um homem. Mas, enquanto ele providenciava a acomodação das malas, embrulhos e valises no pequeno transporte, um outro se aproximou.

Com certeza, vislumbrando a chance de um bom dinheiro, ofereceu-se para levar a família ao seu destino. Esperto, sabendo do preço elevado que o outro fizera, propôs um valor menor.

O professor Wong, homem prático, aceitou. Porém, Lee, a esposa, disse que não era correto deixar o homem que antes fora contratado. Afinal, ele perdera seu tempo, andara até ali puxando seu veículo e merecia respeito.

Falou de forma tão incisiva que o marido aceitou suas ponderações e lá se foram, no transporte mais caro.

A viagem não teve maiores dificuldades. Uns sustos aqui e ali, à conta de homens inescrupulosos pelo caminho, contudo, chegaram bem ao final da viagem.

Quer dizer, quase ao final. Porque o tio de Wong morava do outro lado do canal, e o Jinriquixá não ousou atravessá-lo.

Saltando do veículo, o casal dividiu a bagagem entre si e as pequerruchas, que tiveram também que carregar alguns embrulhos, apesar do pequeno tamanho, e atravessaram a ponte a pé.

Chegando à casa do tio e recebidos, com surpresa natural, começaram a se acomodar nos poucos cômodos. Depois que alimentou as filhas e as deitou para o descanso, transcorridas em torno de duas horas da chegada, Lee se deu conta que faltava uma mala.

"Meu Deus!" Gritou ela. Logo aquela em que havia escondido todo o dinheiro que haviam conseguido juntar, antes da fuga.

E agora? O coração em descompasso, pôs-se a chorar, abraçada ao marido.

"Como continuar a fuga sem dinheiro? Como dar continuidade à vida, sem nada a não ser as roupas e quatro bocas famintas para alimentar?"

Enquanto se dispunha, afinal, a secar as lágrimas, erguer a cabeça e recomeçar as lutas para a sobrevivência, alguém bateu na porta.

Todos se olharam temerosos. Seriam andarilhos salteadores? Seriam guerrilheiros que haviam descoberto a fuga?

O tio, procurando demonstrar uma calma que longe estava de sentir, abriu a porta. A punição por acolher fugitivos era severa. Talvez a morte.

Mas, na porta, estava o condutor... Com a mala. Viera devolvê-la, tão logo se dera conta que fora esquecida em seu transporte.

Fizera um longo trajeto de volta, ousara atravessar a ponte, somente para entregar a uma família fugitiva, a bagagem, com todo o seu conteúdo intacto.

O tio nem esboçou atitude. Todos ficaram parados, sem reação, pelo inusitado do momento. 

Um gesto de honestidade em meio à confusão que vivia o país e onde muitos somente pensavam em tomar de outros, à força, o que pudessem.

Lee ajoelhou-se e agradeceu a Deus que lhe havia inspirado para fazer a viagem com aquele homem, apesar do preço mais elevado.

***

A gratidão nasce nos momentos mais inusitados e a honestidade se revela nos corações bem formados.

Mesmo em meio ao caos, o homem guarda na intimidade valores reais dos quais lança mão em momentos precisos.

Por vezes, um simples gesto pode resultar em muitas bênçãos. Como o de Lee, em manter a fidelidade ao contrato verbal acertado com um desconhecido, em um momento de angústia e quase pavor, que alcançou ressonância em outro coração, quiçá, tão perseguido e maltratado como o dela mesma.

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em história real narrada pela filha do professor Wong, Shou Wen Allegretti.

PENSAMENTO DO DIA

Quem pisa em pétalas e planta espinhos corre o risco de escorregar nas pétalas que amassou e cair sentado nos espinhos que plantou

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

A melhor hora para arrepender-se é antes de cometer o erro

Autor: Josh Billings

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ

CONTINUAÇÃO

a mim, que sou mãe, de tudo o que se passa. Você sabe que ela é profundamente sensível e carinhosa. Tem muita pena do chefe e tenta reconfortá-lo... – Reconfortá-lo? – gracejou Cláudio, retomando a galhofa.
– Não adiantam sarcasmos – rogou Dona Márcia, afetando desapontamento. – Nossa filha vem agindo corretamente. Tanto assim que a nossa conversa deve esclarecer grave assunto.
E, alterando o tom de voz, que se fez mais persuasivo e mais doce:
– Você não ignora que Marita se enamorou, há meses, de Gilberto, o filho dos Torres. Vendo, de minha parte, os dois, em ligação constante, acreditei piamente que o jovem nutrisse por ela
uma inclinação segura.
Misturando reserva e malícia, passou a historiar-lhe as entrevistas, os passeios, os telefonemas, os bilhetes... Salientou que se afligira ao apanhá-los, a sós, numa excursão domingueira, em plena floresta da Tijuca, dias atrás. Admitia que seria preciso examinar-lhes o caso. Aborrecera-se ao descobri-los, assim, positivamente isolados, sob as árvores. Mulher e mãe, inquietava-se ao pensar na filha adotiva...
Cláudio, nessa altura, marcava-lhe os avisos, de olhos em fogo e coração aos saltos.
Então Márcia também sabia... Aquele jeito arisco da esposa nas confidências não o enganava. Indubitavelmente, ela senhoreava minúcias que preferia esconder. Não chegava Paquetá. A mataria, igualmente, fora teatro dos colóquios e beijos que detestava.
Não esperava aquele noticiário miúdo na própria casa. Não supunha a mulher, assim, consciente da situação de que se conjeturava exclusivo conhecedor... Naquele minuto, olvidava a menina que se lhe desenvolvera nos braços, anulava-se na condição do pai, chamado a zelar-lhe o nome. Irrompia nele o animal ferido, o (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 104)  homem selvagem que lhe dormia habitualmente na polidez, espicaçado pelo ciúme.
Esfregando os dedos contra as palmas das mãos, num gesto que lhe particularizava o desagrado, levantou-se, deu alguns passos pela sala e resmungou: – Ingratidão!
A esposa usufruía a cena com a volúpia de quem alcançava os próprios fins, porquanto, desde o princípio da conversação, aspirava a estabelecer um clima favorável à filha legítima, a detrimento da outra. Julgava que o marido, com semelhante exprobração, resumia numa palavra o asco que provavelmente albergaria contra o procedimento da pupila que desejava arredar. Muito distante da
realidade, não percebia que a indignação dele se arraigava no azedume do apaixonado que se vê preterido e, por isso, ensaiava um sorriso triunfante... Nós, porém, conseguíamos analisar-lhe as telas mentais e verificar quanto lhe doía o desprezo. Via-se, espiritualmente, ao pé
do jovem, medindo forças. Ah! se lhe fosse dado enxergá-lo, naquela hora, ao alcance das mãos! Certo lhe despejaria todo o peso da cólera na constituição de menino e moço, esfrangalhandolhe os ossos... – Comove-me a sua reação contra Marita!...
Registrando a frase reticenciosa da companheira, deu-se conta do papel desaconselhável que começava a assumir. Quase que se denunciara, de todo. Ultrapassara os limites da circunspeção que
lhe cabia conservar no próprio interesse e deliberou recompor-se.
Reconheceu que Márcia lhe apreciava a repulsa, crendo vê-lo unicamente no lugar de pai, machucado pelas circunstâncias, e deixou que ela se acomodasse a essa interpretação, encastelandose, mentalmente, na defensiva. Reprimiu o desespero que o possuía, sentando-se, de novo, a relaxar os nervos tensos. Apagou (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 105)  exteriormente todos os sinais de excitação, aparentou calma súbita.
A senhora, que ambicionava amontoar vantagens para a filha, longe de imaginar-se iludida naquele jogo, em que marido e mulher se nos representavam dois parceiros astuciosos, nos golpes estudados um contra o outro, falou serena, presumindo controlar agora toda a situação:
– Sua atitude respeitável de pai me encoraja e me alegra. Graças a Deus, sinto em você o chefe da casa e da família.
Cláudio ouvia, atento.
É necessário que você saiba – prosseguiu ela – que Gilberto não quer coisa nenhuma com Marita, que vive a derreter-se sem razão. O rapaz é apaixonado por Marina e tudo indica possibilidades de um casamento vantajoso, que não podemos jogar fora.
O interlocutor ardiloso deduziu que chegara para ele a oportunidade da vingança. Fingindo desconhecer a trama de sentimentos em que ambas as jovens se enredavam, comentou, em voz alta, os novos aspectos do problema, a fim de ser claramente escutado por Marita, que sabia de atalaia, no quarto próximo. Depois de encarecer a excelência do caráter da filha adotiva, destacando o apreço e a ternura com que se dedicaria a protegê-la, acentuou, jocoso:
– Ah! o biltre!... então, essa farsa de vaguear com Marita, arrastando-a por aí, não é senão alcovitice e trampolinagem... O peralta está carambolando. É o bilhar dos namorados, bate-se numa bola para acertar em outra...
E relacionou pobres moças, traídas na confiança, explicou que Marita era suscetível de uma psicose de duras conseqüências.
Se Gilberto estava propenso a desposar Marina, que se manifestasse.
Não oporia embargos, no entanto, exigia franqueza. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 106)  Dona Márcia, repentinamente lisonjeada, ao colher-lhe as disposições tão favoráveis, arrolou as confidências da filha.
O rapaz confessara-se. Admirava-lhe não só os encantos pessoais, mas gabava-lhe a educação fina. De começo, apenas se cumprimentavam, de quando em quando. Ele, porém, tivera necessidade da cooperação de alguém que o auxiliasse na tradução de alguns textos franceses. Marina expusera a competência adquirida,
O trabalho realizado erigia-se em característicos tão primorosos que obtivera louvor na Embaixada. Desde essa empresa, trabalhavam quase que unidos. Marina revelara-lhe que o próprio senhor Nemésio, sempre solícito, passara a nomeá-la por nora.
Cláudio, acintosamente, dizia, de quando em quando:
– Márcia, não estou ouvindo bem, fale um pouco mais alto.
A companheira, elevando sempre a modulação da voz, contou que os dois, embora a situação constrangedora da saúde de Dona Beatriz, no momento, traduziam poesias deliciosas de autores
ingleses, marginando-as de trechos sentimentais que lhes expressavam a ternura recíproca, compondo lindo álbum cuja leitura lhe
arrancara lágrimas de enternecimento. O amor entre ambos era claro como água. Indispensável apoiarem a filha, na concretização de suas esperanças. Afirmava-se confortada em reconhecer, a tempo, que a cultura de Gilberto não se compadecia com as deficiências de Marita, para quem o moço não seria, por isso, um partido feliz. Asseverava, convicta, que competia a ele, Cláudio, e a ela a orientação do assunto. Ponderou ainda que o auxílio dispensado por Marina a Dona Beatriz estreitara as relações entre os jovens e, supondo o esposo agastado à vista de contrariedades prováveis para a filha adotiva, acrescentou, entre desabrida e chistosa, que Marita se arranjaria, na época oportuna. Inclinações de moças, problemas delas.
O marido não acreditou em tópico nenhum do que ouvira.
Pai, desiludira-se com a filha. As investidas noturnas pelos recantos (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 107) boêmios, as maneiras inconfessáveis, no trato com o chefe de serviço, não lhe deixavam dúvidas. Ao revés, as noticias entusiásticas de Márcia acordavam-no para realidades mais agressivas.
Inferia que Marina andava sem escrúpulos entre o velho e o moço.
De outro modo, na condição de esposo, não lograria embair-se. A companheira figurava-se-lhe a mulher desleal aos compromissos domésticos, mulher que ele mesmo plasmara com os seus exemplos de homem refratário ao equilíbrio emotivo. Impossível queixar-se. Com a tarimba da sociedade menos digna, fizera-se Márcia astuciosa, cruel. Dissimulava para ganhar. Certamente, não lhe confiava quanto sabia. Estaria informada de todas as ligações escusas da filha com o senhor Torres, tanto quanto ele próprio.
Capearia as inconveniências, incentivaria, talvez, a leviandade com propósitos de lucro; entretanto, aquele era o momento de
atrair a confiança de Marita e, à face dessa razão que se lhe alteava no ânimo empedernido, calou a revolta e partilhou a farsa, afiançando confiar na menina que amavam por filha. Tentaria distraí-la, renová-la e, de acordo com ela, Márcia, procuraria incluí-la num roteiro de turismo a Buenos Aires, para o qual fora convidado por amigos, no banco. Marita esqueceria, esqueceria.
O entendimento avançava, mas o serviço nos convocou ao aposento próximo, onde a mágoa da jovem explodia, inarticulada, em vibrações de intensa dor.

CONTINUA AMANHÃ

MEDITAÇÃO PARA AUTO CURA

quarta-feira, 27 de julho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Diz uma lenda chinesa que amizades verdadeiras são como árvores de raízes profundas: nenhuma tempestade consegue arrancar

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Viva com tanto amor no coração que, se por engano você for para o inferno, o próprio demônio lhe trará de volta ao paraíso

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANRÉ LUIZ


CONTINUAÇÃO

Em outras ocasiões, chegara a enunciar semelhante inquirição, com palavras redondas, claramente pronunciadas e repetidas.
Por que tanto ódio? indagava a si mesma. Não contava receber uma ternura que os atritos incessantes haviam incinerado entre ambos; contudo, cria-se com direito a pequeno retalho de acatamento.
Se ele adoecia, de leve, conquanto não o amasse, vigiava-lhe a cabeceira. Zurzia o clínico da família pelo telefone. Todas as providências à hora. Entretanto, ao referir-lhe o tratamento que reputava importante, a fim de evitar uma cirurgia comprometedora, recebia dois monossílabos secos que o marido lhe pespegava no rosto, como se a repelisse com dois calhaus.
Persistindo o silêncio que se alongava, Cláudio fez menção de retirar-se; contudo, a esposa frustrou-lhe o impulso, exclamando, agora irritadiça:
– Não saia. É preciso que você fique. Esta casa não é minha só. Acaso, não está vendo? Marina e Marita... Criam-se os filhos com desvelo, com carinho... Em crianças, são anjos; crescidos, são pesadelos. Tenho sofrido calada, mas agora... Isso não pode continuar sem que você se mexa. Entre uma e outra, não é possível a indiferença. Acolhi essa menina estranha em meus braços como se fosse minha própria filha. Suportei afrontas, esqueci minha saúde, meu tempo... Não me poupei, fiz o que pude... Nada lhe faltou, entretanto, hoje...
– Hoje, o quê? – revidou o esposo, admirado.
– Pois você não percebe a humilhação a que Marina se expõe? – acentuou a companheira, em lágrimas súbitas, qual se estivesse habituada a chorar, quando quisesse. – Você não enxerga as dificuldades de nossa filha?
Cláudio riu-se, como quem decidira zombetear.
– Márcia, deixe de cenas... Você fala em Marina, como se a nossa desmiolada estivesse na forca. Não entendo. Vejo-a feliz e (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 100) desorientada, como nunca. Se me detiver em qualquer problema dela, será para admoestá-la, reprimi-la. Não fosse você com o desregramento de suas concessões e com os seus maus exemplos,
haveria de corrigi-la, ainda que obrigado a interná-la no hospício...
– Que ouço, meu Deus? – gritou a senhora.
Estancara-se-lhe o pranto, alarmada que se achava, ao verificar o rumo improviso do entendimento.
– Você ouve a pura verdade – prosseguiu Cláudio, implacável.
– Ainda anteontem, impelido por dever da profissão a comparecer num coquetel, oferecido a um dos chefes, numa casa de regalias noturnas, fui constrangido a pretextar uma enxaqueca e afastar-me. Sabe por quê? Nossa filha, que você pretende inculcar por santa, estava lá, positivamente nos braços de um cavalheiro maduro e bem-posto, que não a beijava paternalmente. Senti tanta vergonha, que pedi a um colega me representasse, e sai, à pressa, antes que Marina me percebesse.
– Oh! a pobrezinha! ... – objetou Dona Márcia, faces em fogo, tremendamente revoltada.
Naquele instante, os dois tiravam, mecanicamente, os últimos disfarces. Postavam-se, em espírito, um à frente do outro, com rudeza indissimulável. Dois inimigos soberanos, aversão contra aversão.
E o diálogo azedo continuou:
– Pobrezinha, por quê?
A esposa mediu-o, de alto a baixo, com um olhar de zombaria, e passou a acusá-lo:
– Não quero discutir agora a sua presença de homem velho e casado, numa casa de tolerância, pois não acredito nessa história de homenagens a chefes, em horas avançadas da noite. Você foi (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 101) sempre imoral, indigno, mentiroso, mas, por amor à família, esqueço tudo isso, para que você conheça toda a situação...
Refletindo na conveniência de sensibilizá-lo para os efeitos a que se propunha, Dona Márcia baixou calculadamente a escala de rispidez, abrandando a inflexão da voz que se tornara por demais agressiva.
– Cláudio, atenda – continuou quase melíflua –, Marina, obediente, nunca me ocultou a verdade. Não proceda com malícia; desde a piora da esposa do senhor Nemésio, vem repartindo, caridosamente, o tempo, entre as obrigações do emprego e o lar do chefe, onde a infeliz senhora vem morrendo, pouco a pouco...
Impossível que você não lhe admire a abnegação, porque, de modo algum, precisaria interessar-se pela vida íntima da família Torres, a ponto de velar junto deles, por várias noites consecutivas, por simples espírito de sacrifício... Não sei se você chega a vê-la, quando volta de manhã, mostrando fundas olheiras e faces pisadas.
Na mente inventiva do interlocutor, entretanto, operava-se complicada reviravolta. Assinalando as palavras injuriosas de Dona Márcia, sentira ímpetos de esbofeteá-la. A indignação ruborizara- o; todavia, conteve-se. Não que desistisse de revidar chasqueando, mas permanecia convicto de que Marita escutava. Aspirava a conquistá-la a qualquer preço. Mormente agora que se declarara, não estava inclinado a recuar. Prosseguiria.
Dona Márcia, enganada, aceitara a versão do pesadelo e acreditava que a moça dormisse, de vez que lhe recebera a presença no quarto sem dizer palavra.
Ele, porém, sabia-se ouvido, examinado. Não adotaria qualquer procedimento incompatível com a galanteria que começara a desenvolver. Se esbravejasse, agravaria a distância. Deliberou agüentar remoques e insultos, fossem quais fossem, estudando como orientar-se na conversa para tirar o melhor partido. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 102).
Além disso, o amigo desencarnado, ao lado dele, acalentavalhe a rijeza de alma, insuflando-lhe idéias. A fabulação de um complementava-se no outro. Concluíam, juntos, que se fazia mais razoável para eles examinar minudências e falar com intenção.
Manejariam Márcia para alcançar Marita. A interlocutora serlhes-ia instrumento. Usa-la-iam por trampolim, rumo ao alvo.
Todas essas considerações relampeavam no espírito de Cláudio, enquanto a senhora se empenhava justificar-se, na defesa da filha. Dominado pelos novos pensamentos, não sorriu, mas suavizou a expressão, como quem se resigna aos ditames da paciência.
Algo desarmada por aquela impassibilidade que se lhe figurava benevolência, Dona Márcia continuou:
– Acontece que o senhor Torres se encontra francamente desarvorado, diante da tragédia que a fortuna dele não pode conjurar.
Dinheiro farto e coração abatido, negócios prosperando e morte à vista. Nossa menina compadeceu-se. Tanto amparou a doente que acabou descobrindo os sofrimentos do homem que se aproxima, conscientemente, da viuvez... É por isso que vem buscando revigorá-lo, como pode...
– Mas, assim como estão fazendo? Afogando-se em bebidas e prazeres noturnos, em que os dois se assemelham a duas crianças destemperadas? Não os vi rezando pela tranqüilidade da enferma...
– Deixe de ironias. Você, com toda a certeza, numa situação igual, não se consolaria com lágrimas, procuraria distrações. Não há inconveniente algum em que o senhor Torres, numa hora dessas, se dirija para um ambiente alegre, a fim de ganhar forças, e não vejo maldade em que trate Marina por filha dele próprio, afagando-a por boneca mimada que sempre foi. Muito justo, muito claro. Dona Beatriz e o esposo conseguiram somente um filho, não tiveram, como nós, a ternura de uma filhinha no lar e nem adotaram alguma pequenina estranha a eles. Marina dá conta

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CALMA - EMMANUEL E CHICO XAVIER

terça-feira, 26 de julho de 2011

PENSAMENTO DO DIA


Os homens altercam pela religião, escrevem sobre ela, lutam por ela, fazem tudo, menos viver por ela

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

O vento e as ondas estão sempre a favor de quem sabe navegar

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ

CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO 9

Instalados na sala de visita, os cônjuges entrefitaram-se de estranha maneira. Adversários declarados, em tréguas cordiais.
Dona Márcia definia-se. Espécime comum das damas que lutam, garbosas, contra as arremetidas do tempo. Ninguém lhe atribuiria os quarenta janeiros integralmente dobados. Os cabelos abundantes, que os líquidos medicinais mantinham perfeitamente escuros e brilhantes, acomodavam-se num penteado gracioso que lhe guarnecia o rosto, semelhante ao das pessoas que se maquilam para efeitos de arte e que nunca se deixam analisar realmente sem que a água quantiosa lhes restitua os poros à carícia da Natureza.
Delgada, na magreza característica dos que usam moderadores do apetite para a manutenção do peso ideal, apresentava-se em figurino da alta. O fundo alvo do linho, ligeiramente estampado de pequeninas flores róseas, dava-lhe ao vestido primoroso certa diafaneidade que lhe realçava a beleza quase outoniça.
Era a mesma criatura das telas mentais de Marina, exibindose, porém, de modo diverso, espécie de livro, claramente identificável, mas exposto numa encadernação mais viva e mais rica.
Pela herança e pela convivência, talhara, sem dúvida, o aspecto da filha única, porquanto, sentada agora, lembrava Marina em todos os traços, conquanto muito mais asserenada e amadurecida.
Longe de aparentarem a verdadeira condição de mãe e filha, podiam ser interpretadas à conta de irmãs, salientando-se que Dona Márcia se revelava talvez mais simpática, pela brandura estudada dos gestos.
Via-se-lhe com tranqüilidade o sorriso espontâneo, sorriso, no entanto, que mostrava o engenhoso artifício dos que se distanciam deliberadamente dos problemas alheios para que não lhes constituam (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 96) empeço ao avanço. Doçura trabalhada do egoísmo atencioso, pronto a sorrir, nunca a se incomodar.
Ainda assim, os olhos, ah! os olhos traíam-lhe a alma sibilina.
Fisgados no esposo, pareciam interessados em agarrar-lhe as mínimas reações, em proveito próprio.
Ela não aspirava a conhecer qualquer vestígio da conduta dele, anelava encobrir-se. Serena e bem-posta, renteando o marido, dava a impressão de um viajante hábil, preocupado em ilaquear o guarda-barreira, a fim de seguir, incólume, caminho adiante, sem largar as aquisições clandestinas. Por outro lado, o marido assemelhava-se ao guarda-barreira, calejado no suborno, mais aplicado em resguardar-se, que em denunciar viajores, tão matreiros quanto ele próprio. Naquela hora, sobretudo, em que fora quase detido em culpa flagrante, esmerava-se em mesuras. Amodorravase para ouvi-la, com a pachorra de um cão astucioso que parasse de caminhar, atento às falcatruas do gato.
Para Cláudio, em tal circunstância, valia estudar tudo, ouvir tudo. Afinal, aquilo era inevitável. Márcia chegara ao quarto de Marita num momento psicológico. Imperioso esfumar-lhe qualquer dúvida ocorrente, à custa de uma tolerância que não mais praticava, desde muito. Para isso, estirava-se, ali, sossegado e complacente.
Nos dois, porém, flutuava a desconfiança recíproca. Duas bocas que se entendiam, duas cabeças que discordavam uma da
outra. Cada frase vinha pré-fabricada na garganta, dissimulando o pensamento.
Adocicando a voz, a esposa comentou os aborrecimentos no bufete do baile beneficente em que havia funcionado. Muita gente.
Alguns jovens embriagados, forjando obstáculos. Garotos furtando. Por tudo isso, estafara-se. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 97)
Desconfiando que o marido, não obstante mostrar-se quase afetuoso, não se inclinaria a longa conversação, quis reter o momento raro, tornando-se mais terna.
Afável, estendeu-lhe prateada carteira. Cláudio agradeceu. Não queria fumar. Ela, no entanto, bateu, várias vezes, a ponta do cigarro, de encontro a pequenina bolsa metálica, fez fogo num isqueiro diminuto e, após envolver-se em baforadas, relaxou-se na poltrona, sugerindo a intenção de exprimir-se mais à vontade.
– Imagine você – aduziu, cuidadosa –, que embora o sarau esteja longe de terminar, larguei tudo. O leilão de prendas esperava por mim, quando senti um constrangimento esquisito. Tive medo.
Passei minhas obrigações para Dona Margarida e voltei. Atormentava-me, supondo houvesse algo atrapalhado em casa, alguma ligação elétrica esquecida, a presença de algum malfeitor. Vejo, porém, que você talvez tenha tido o mesmo palpite e chegou antes, retificando o fogão... Felizmente, tudo passou... Mesmo assim, reconheço que o meu regresso foi providencial, pois, desde muitos dias, venho espreitando um momentinho em que você
esteja calmo e bem-humorado, como agora, para tratarmos, juntos, de assunto sério... Coisa que nos toca de perto, que não posso decidir sem você...
Neves e eu notamos, para logo, o regime de choques e contrachoques em que respiravam aquelas duas almas adversas, aprisionadas socialmente uma à outra, por exigências da provação.
Inferindo que a companheira se lhe aproveitaria da benevolência eventual para chamá-lo a questões de responsabilidade, Cláudio despiu a máscara afetiva com que a brindara, de início, e, taciturno, colocou-se em guarda. Do sorriso, tornou ao sobrecenho. Fino sarcasmo tisnou-lhe os modos. Comandou a palavra, buscando, em vão, disfarçar o azedume. Afirmou-se fadigado, alegou esgotamento adquirido em horários de serviço extra e rematou, pedindo (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 98) à esposa resumisse, quanto possível, o que tinha a dizer-lhe.
Queria ler, pensar, refazer-se.
A esposa fingiu não ver o olhar irônico que ele lhe endereçava e começou referindo-se ao cansaço de que se sentia possuída.
Possivelmente, ele próprio ignorasse; entretanto, submeterase a vários exames, por solicitação do ginecologista. Desde muito, atravessava as noites em claro, sofria palpitações, sufocações, sensação estranha de peso, calores no peito. O médico acreditava em menopausa precoce e receitara. Ela, contudo, supunha-se depauperada, neurastênica. Exauria-se nos problemas domésticos.
A arrumadeira despedira-se. E, desde que se fora, via-se obrigada a passar roupa, encerar e, de certo modo, auxiliar no fogão para que Dona Justa não esmorecesse. O conserto da geladeira custara um dinheirão. As contas, no fim do mês, haviam aumentado.
Marina trouxera duas gratificações que recebera em serviço extraordinário, mas, ainda assim, estava onerada. Tinha necessidade de quinze mil cruzeiros.
Nesse tópico da entrevista, o interlocutor fitou-a, sarcástico, e indagou:
– É só?
A interrogação, carregada de zombaria, pairou no ar da mesma forma que uma chicotada cortante.
Dona Márcia emudeceu, ao impacto da desconsideração inesperada.
O marido não dispensara sequer a mínima atenção aos padecimentos orgânicos de que se queixara. Desconhecia-lhe, de propósito, os achaques. Enquanto relacionava os incômodos de que se via acometida, assustara-se ao divisar-lhe a dura expressão dos olhos frios. Conhecia aquela atitude gelada de profundo desdém.
Ao passo que se lamentava, tinha a impressão de que ele, Cláudio, lhe perguntava em pensamento: “por que não acaba você de morrer?

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É NECESSÁ\RIO ACORDAR - EMMANUEL E CHICO XAVIER

segunda-feira, 25 de julho de 2011

MENSAGEM PARA REFLEXÃO

FIO DE CABELO

Uma mulher acordou uma manhã após a quimioterapia, olhou no espelho e percebeu que tinha somente três fios de cabelo na cabeça.
- Bom (ela disse), acho que vou trançar meus cabelos hoje. Assim ela fez e teve um dia maravilhoso.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e viu que tinha somente dois fios de cabelo na cabeça.
- Hummm (ela disse), acho que vou repartir meu cabelo no meio hoje.
Assim ela fez e teve um dia magnífico.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que tinha apenas um fio de cabelo na cabeça.
- Bem (ela disse), hoje vou amarrar meu cabelo como um rabo de cavalo.
Assim ela fez e teve um dia divertido.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que não havia um único fio de cabelo na cabeça.
- Yeeesss... (ela exclamou), hoje não tenho que pentear meu cabelo.
ATITUDE É TUDO!
Seja mais humano e agradável com as pessoas.
Cada uma das pessoas com quem você convive está travando algum tipo de batalha.
Viva com simplicidade.
Ame generosamente.
Cuide-se intensamente.
Fale com gentileza.
E, principalmente, não reclame.
Se preocupe em agradecer pelo que você é, e por tudo o que tem!
E deixe o restante com Deus.

PENSAMENTO DO DIA

Eu nunca ofendi alguém. Apenas disse verdades que incomodavam os outros

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Estamos tão preocupados com o que queremos ter, que esquecemos de agradecer o que já temos

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHCICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ


CONTINUAÇÃO

– Marita, pareço um velho, mas você me fará jovem... O coração é seu, seu...
O obsessor, com trejeitos de lascívia, prelibava o lance final.
Marita, no entanto, percebendo a intenção inequívoca do homem apaixonado, que arrojava o rosto maduro e bem tratado sobre o dela, intentou recuar.
– Não, não! – gemeu, suplicante, ao sentir-lhe o hálito.
Cláudio, porém, cujas forças jaziam somadas à valentia do “outro”, enlaçava-lhe o busto, copiando o procedimento de um jovem mal comportado.
Qual se houvéramos combinado previamente a defesa, Neves e eu saltamos na direção dela, ofertando-lhe as mãos, para que pudesse arrancar-se, e a vítima, crendo apoiar-se nos próprios recursos, conseguiu levantar-se num prodígio de ligeireza, estacando, à frente dele, que a fitava, agora, com a expressão desconfiada de um animal repentinamente ferido.
– Papai, não me faça mais infeliz... Poupe-me a humilhação!...
O dono da casa, ao impacto da recusa imprevista, pareceu desligar-se do amigo desencarnado, lembrando a fera que se desvencilhasse, de inopino, do encantamento mantido pelo domador; entretanto, o parceiro trazia uma carga de paixão vigorosa demais para desistir facilmente. Retomou, impetuoso, o próprio domínio, a ponto de antepor a máscara fisionômica ao semblante de Cláudio. Cerrava os punhos, despedia cólera letal. Estabeleciase pavoroso conflito na mente de cada um. Num deles, o desapontamento e o desespero, no outro, a malignidade e a agressão.
O pai adotivo, carregando o estranho fardo de angústia, mesclada de revolta, incapaz de compreender os sentimentos contraditórios que o faziam avizinhar-se da loucura, passou a clamar, inconsiderado: (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 92)
– Isto é a explosão de muitos sofrimentos acumulados. Fiz tudo para esquecer e não pude... Que fazer com esta inclinação que me arrasta? Sou palha no vento, minha filha! Desde que a vi menina, carrego esta idéia fixa... Se eu fosse religioso, diria que um demônio mora dentro de mim. Um demônio que me atira constantemente sobre você. Em sua presença, quero pensar em você, como sendo minha filha, crescida em meus braços e não posso... Li muitos livros de Ciência para saber o que se passa, mas o enigma continua. Quis procurar um médico; entretanto, senti vergonha de mim próprio... É só você que eu vejo em tudo! Odeio Márcia, desprezo Marina... Tenho acalentado a esperança de uma viuvez que nunca chega, a fim de oferecer-me a você, sem condições...
Tenho ciúmes, ciúmes que me afogam a alma em labaredas...
Detesto esse rapaz leviano, inconsciente...
A voz de Cláudio amaciara-se, adquirindo tom lacrimoso. Identificava-se-lhe o abalo sentimental. O perseguidor duplicou em desprezo tudo o que ele exprimia em emotividade, provocando inesperada reviravolta. O pai enternecido deu lugar ao enamorado violento. Avinagrara-se a ternura, semelhando calda azedada.
Revelando súbito transtorno, deitou à filha adotiva um olhar de escárnio, traumatizando-a de horror, a esbravejar, dementado: – “Não, não posso humilhar-me assim. Você sabe que não sou nenhum tonto. Há quinze dias, acompanhei vocês dois a Paquetá, sem que me vissem... Segui-lhes o passo descuidado e feliz, como se eu fosse um cão escoiceado pelo destino... Ao cair da noite, vi quando vocês dois se enlaçaram, trocando promessas e falando bobagens, na Ribeira... Arrastei-me no matagal e vi tudo... Desde então, enlouqueci... Pelo jeito, vocês andam acanalhados, há muito tempo... Você! você, que eu supunha intangível, entregue a um menino doido!... Ingênua! Julga que não tenho motivos para expulsá-la! Você imagina que me falta coragem para chamar às contas esse filho de papai rico?” (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 93)
Alterando o tratamento paternal de que se valia, rugiu, brutalizado: – Marita, fique sabendo que você agora não é mais criança!
Você é apenas mulher, não passa de mulher, mulher...
A jovem soluçava. Reconhecendo-se descoberta nas mais íntimas nuanças da conduta impensada, não ousava erguer a fronte. Neves, incapaz de remover o próprio assombro, abeirou-se de mim, rezingando: – Você está vendo? Este homem será louco ou desbriado?
Temendo-lhe a impulsividade, fi-lo recordar as atitudes ponderosas e cristãs do irmão Félix, informando, discretamente, que me achava em oração, a exorar o auxílio da esfera superior, porquanto, ali, não dispúnhamos de maiores recursos para impedir um assalto passional de penosas conseqüências. – Oração? – chasqueou o companheiro, positivamente desencantado
– não creio que os anjos se ocupem de casos como este.
Aqui, meu amigo, e em outros lugares onde tenho visto muito bicho velho fantasiado de gente, só a polícia...
Efetivamente, os anjos pessoalmente não nos atenderam às rogativas silenciosas, enunciadas desde o início da cena desagradável; no entanto, o socorro apareceu.
Ouviu-se barulho de ferrolho em ação e alguém penetrou em casa, ruidosamente.
Sobreveio o choque providencial.
Cláudio, em sobressalto, desligou-se do hipnotizador, que se lhe postou de lado, um tanto desenxabido.
Marita cobrou energias, regressando ao leito, enquanto o chefe do lar se recompunha à pressa.
Espantados, notamos, porém, a surpreendente capacidade de fabulação da qual Nogueira dava mostras. Ele próprio, sem qual (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 94) quer ingerência do obsessor, começou a tramar em pensamento a desculpa com que se justificaria.
Agindo quase que mecanicamente, libertou a porta que havia prendido, perspicaz, abriu janela próxima e, de imediato, esbelta senhora surgiu, indagando, apreensiva:
– Que é que há?
Tratava-se da esposa que voltara, de imprevisto.
Dona Márcia alegava susto, asseverando ter ouvido um vozeirão ao chegar. Cláudio, no entanto, repondo a máscara das conveniências, entornou pela boca a versão que inventara, ali, naquele momento, diante de nós.
Fixou a moça, de modo significativo, e tranqüilizou a senhora, dizendo-lhe, com a maior sem-cerimônia, que chegara a casa, momentos antes, encontrando o gás do fogão a volatilizar-se.
Fechara as saídas que a cozinheira deixara abertas e exortou a que se lhe chamasse a atenção, no dia seguinte. Dona Justa, a companheira do serviço doméstico, devia examinar os aparelhos da casa, minuciosamente, antes de se retirar. Acentuou que, atemorizado, descerrara as janelas, arejando o ambiente. Quando envergava o pijama, aduziu com absoluta seriedade a lhe transparecer do semblante, ouvira gemidos agoniados. Correu ao aposento das meninas, surpreendendo Marita a gritar, inconsciente. Sonâmbula, sonâmbula como sempre... Acordara-a, atarantado, averiguando, porém, que tudo estava em ordem.
A jovem, mergulhada na penumbra, cobriu o rosto com o lenço para ocultar as lágrimas, abandonando-se à inércia, como se transferisse a cabeça de um sono para outro.
A recém-chegada riu-se, sem suspeitar, de leve, do vulcão que faceava, e, qual se desejasse compensar-lhe a indiferença, Cláudio, de volta ao salão, esboçou um aceno gentil, convidando Márcia a descansar.

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