sábado, 11 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA



A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos
 

MENSAGEM DIÁRIA

Não procures a verdade fora de ti, ela está em ti, em teu ser. Não procures o conhecimento fora de ti, ele te aguarda em tua fé interior. Não procures a paz fora de ti, ela está instalada em teu coração. Não procures a felicidade fora de ti, ela habita em ti desde a eternidade

Autor: Mestre Khane

CONTINUAÇÃO

Chico (ou Emmanuel?) fazia questão de defender as autoridades.
Um telespectador mandou, pelo telefone, outra pergunta incômoda. No livro Cartas de uma Morta, Maria João de Deus tinha descrito Marte como um planeta habitado, mas as sondas americanas desmentiram esta notícia. O espírito da mãe de Chico Xavier teria se enganado?
Após destacar seu respeito pela ciência, Chico garantiu:
- Sabemos que o espaço não está vazio. Mas precisamos esperar o progresso científico na descoberta mais ampla e na definição mais precisa daquilo que chamamos anti matéria. Então, devemos aguardar que a ciência possa interpretar para nós a vida em outras dimensões, outros campos vibratórios.
O clima ficou bem mais leve quando Chico descreveu seu desespero naquele avião trepidante em 1959. A expectativa da morte, seus gritos apavorados, a incapacidade de prever ou não a queda, a aparição de Emmanuel em pleno vôo, irritado com a quase histeria de seu "protegido  ". Aquela história surpreendeu o público. Deu uma dimensão humana, frágil e real àquele homem estranho. Ele também tinha medo de morrer, ele também tinha dúvidas quanto ao próprio futuro. Ele não se anunciava como um vidente, um profeta, um super homem bem relacionado com Deus. Com bom humor, Chico conquistou o público.
Após duas horas e 45 minutos de inquérito, Almir Guimarães pediu ao entrevistado para colocar no papel  "uma mensagem de seus guias ". Chico respondeu com um "vamos tentar ", fechou os olhos, levou a mão esquerda à testa. O auditório ficou em silêncio absoluto, O único ruído vinha do lápis sobre a página em branco, em velocidade impressionante.
De repente, Chico parou, ajeitou os óculos, tomou fôlego e, com a voz baixa, começou a ler o texto. Era um soneto assinado pelo ex poeta, ex conferencista, ex jornalista, ex advogado, ex integrante da Academia Paulista de Letras e ex delegado auxiliar de polícia do Rio de Janeiro Cyro Costa. Um ilustre desconhecido naquele início da década de 70. Tinha morrido em 1937, após publicar dois livros.
Ninguém esperava por aquele visitante do outro mundo. Muitos apostavam num fecho de ouro com Augusto dos Anjos ou Castro Alves, só para impressionar. Mais uma vez, Chico surpreendeu. O poema, "Segundo Milênio ", resumia o clima de perplexidade geral naquele início de década atribulado:
A civilização atônita, insegura
Lembra um tesouro ao mar que a treva desfigura,
Vagando aos turbilhões de maré desvairada.
Antes de se retirar, Chico pediu licença para homenagear as mães e agradecer a todos com a oração que Maria João de Deus rezava a seu lado, "em espírito ", quando ele tinha cinco anos. As lágrimas rolaram em seu rosto enquanto ele declamava o pai nosso. O público aplaudiu de pé.
O Pinga-Fogo superou todas as expectativas. O programa foi reprisado na íntegra, a pedidos, três vezes nas semanas seguintes, sempre com audiência superior a 25% (uma enormi-dade se comparada com a média do programa naquele horário ingrato: 2%).
A entrevista e o poema foram traduzidos para o esperanto e publicados pela revista japonesa Omoto, que circulava em setenta países. Chico Xavier, o mesmo  "investigado " por David Nasser e Jean Manzon, virou colaborador fixo da revista O Cruzeiro, que passou a publicar em uma página semanal, para quase 400 mil leitores, "mensagens psicografadas " de Francisco Cândido Xavier. Em novembro, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo abriu espaço para seis aulas sobre o espiritismo. A convite dos padres Mauro Batista e Marcos Masetto, o professor espírita Herculano Pires falou para auditórios lotados com quinhentos alunos.
O programa foi um marco para o espiritismo e para Chico Xavier. Muitos espíritas enrustidos, ou católicos não praticantes, assumiram a religião. Céticos passaram a acreditar em vida depois da morte.
Os amigos mais próximos e os observadores mais atentos, acostumados à figura de Chico, tiveram um motivo bem menos metafísico para ficarem impressionados.
Eles identificaram um corpo estranho sobre a cabeça do entrevistado. Nada de outro mundo. Ao contrário. Uma peruca discreta, com poucos fios, mudou sua aparência. Chico já não era mais o senhor calvo do ano anterior.
Aquela alteração deixou muitos espíritas em estado de choque. Como alguém tão humilde capaz de se render a tanta vaidade?
Na introdução do livro Pinga-Fogo, lançado naquele ano pela Edicel, o autor do prefácio não se conteve ao descrever a aparição de Chico Xavier: "Haviam lhe posto uma peruca (talvez para atrapalhar), que juntamente com os seus óculos pretos dava-lhe um ar estranho. Parecia outro ". Na edição seguinte, a constatação  "haviam lhe posto uma peruca " veio acompanhada de um asterisco. A observação, no rodapé, era sucinta : "Chico Xavier usa peruca ".
Mesmo os amigos mais íntimos demoraram a aceitar a idéia.
Chico chegou a recorrer a uma explicação médica para justificar a novidade. Da mesma forma como atribuiu à labirintite a causa de sua mudança para Uberaba, ele responsabilizou a sinusite pela necessidade da  "prótese capilar ". O frio sobre sua cabeça intensificava sintomas da doença e chegava a afetar seu olho enfermo. Durante algum tempo, ele tentou usar boina, mas, em meio à confusão na Comunhão Espírita Cristã, muita gente arrancava a proteção de sua cabeça, até mesmo na ilusão de levar um talismã para casa. Chico ia além em seu discurso médico:
- No meu caso, a calvície é uma enfermidade catalogada em qualquer dicionário. Chama-se alopécia.
Em seguida, admitiria a tentativa de um implante, na época realizado com técnicas ainda mais duvidosas do que as atuais. Sua cabeça trazia mais feridas do que novos fios e ele não poderia exibi-la por aí. Outro motivo, mais sobrenatural, também veio à tona. A "comunicação mediúnic "" partia, muitas vezes, de seu cérebro. E Chico sofria quando alguém colocava as mãos em sua careca, sempre sensível. Os fiéis mais entusiasmados costumavam tocar nele sem maiores constrangimentos.
Chico demorou um pouco a admitir outro motivo, a vaidade pura e simples:
- Devemos cuidar de nossa aparência física, como cuidamos da parte espiritual. Não temos direito de chocar os outros e enfear o mundo com nossas deficiências.
No dia 12 de dezembro, Chico Xavier voltou ao auditório da TV Tupi para um bis do programa de maior sucesso naquele ano: o Pinga-Fogo espírita. Vestia um terno alinhado e aparentava calma, apesar da movimentação quase histérica em torno dele. O salão, com capacidade para quinhentas, abrigava oitocentas pessoas. À tarde, o superintendente da TV Tupi, Orlando Negrão, lutava para conseguir um convite para Zilda Natel, mulher do governador paulista, Laudo Natel.
A entrevista, dessa vez, não seria transmitida apenas para São Paulo. Seria veiculada por um pool formado por quatro emissoras em rede nacional. Na última hora, diante das reportagens extensas na imprensa, catorze outras TVs encomendaram videoteipes. Antes mesmo do início do programa, mais de cem perguntas já haviam chegado à Tupi por escrito ou por telefone. Outras duzentas foram enviadas por três telefones que não pararam de tocar.
O próprio Chico Xavier declarou-se surpreso com tanto interesse no início da entrevista:
- Sinceramente, devemos confessar que estamos aqui numa posição imerecida. Emprestou-se tamanha solenidade a este programa que, sinceramente, nos surpreendemos sobremaneira.
A entrevista estendeu-se por cinco horas. Chico defendeu a cirurgia plástica como uma concessão da Providência Divina, "para que venhamos a valorizar cada vez mais o veículo físico ", fez declarações de respeito a umbanda, "apesar de não estar vinculada aos princípios codificados por Karde ", defendeu a reencarnação. O caso bem humorado da noite ficou por conta do pai dele, João Cândido. Antes de morrer, o vendedor de bilhetes lotéricos prometeu ao filho:
- Quando eu for embora, pode acreditar, vai parar a roda da fortuna para você no Natal.
Após a morte do pai, Chico passou a jogar na loteria todo final de ano. Jamais ganhou.
O público se divertiu.
Mas a entrevista teve maus momentos.
No país do AI-5 e da tortura, Chico Xavier fez um discurso capaz de emocionar o general Médici, então presidente do Brasil:
- Precisamos honorificar a posição daqueles que nos governam e que vigiam os nossos destinos. Devemos pedir para que tenhamos a custódia das Forças Armadas até que possamos encontrar um caminho em que elas continuem nos auxiliando como sempre para que não descambemos para qualquer desfiladeiro de desordem. A oração e vigilância, preconizadas por Jesus, se estampam com clareza em nosso governo atual...
O segundo Pinga-Fogo do ano terminou com um poema intitulado "Brasil ". Chico colocou no papel, com os olhos fechados, versos como:
"Dos sonhos de Tiradentes/
Que se alteiam sempre mais/
Fizeste apóstolos, gênios/
Estadistas, generais ".
A assinatura: Castro Alves.
A revista Veja decifrou o discurso militarista de Chico Xavier como uma estratégia. Com os elogios generalescos, ele se livraria do risco de sofrer censura, como havia acontecido com o umbandista carioca Seu Sete da Lira, atração dos programas Sílvio Santos, Flávio Cavalcanti e Chacrinha naquele ano.
Se foi mesmo uma tática, ela funcionou. A Escola Superior de Guerra convidou Chico a dar uma palestra a seus alunos. Ele aceitou o convite. No final da conferência, os cadetes se perfilaram e, em fila, cantaram para ele o hino de sua escola.
O jornal Última Hora criticou a performance do entrevistado:
- Sorriso por sorriso, o de Sílvio Santos é mais cativante. Simpatia por simpatia, a de Hebe Camargo é mais convincente. O gesto de ajustar os óculos tem mais charme executado pelas mãos de Flávio Cavalcanti. A voz afetada de Norminha, personagem de Jô Soares, é mais espontânea.

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PACIÊNCIA EM TI - DIVBALDO FRA\NCO

sexta-feira, 10 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA


É a nossa conduta verdadeira, e não a nossa crença aparente, que nos identifica perante Deus e os homens.

Autor: Dinamor

MENSAGEM DIÁRIA

Os ventos que às vezes levam algo que amamos são os mesmos ventos que nos trazem algo que aprendemos a amar . Por isso, não devemos chorar pelo que nos foi tirado, e sim aprender a amar o que nos foi dado, pois tudo que é realmente nosso o vento nunca irá levar.

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - A VIDA DESAPROPRIADA - PARTE 1

A VIDA DESAPROPRIADA

Em 1969, Chico Xavier pingou, finalmente, o ponto final em seu centésimo livro: Poetas Redivivos. Sentiu vontade de correr pelas ruas, de gritar, de festejar. Tinha cumprido o acordo assumido com Emmanuel dez anos antes. Aos 59 anos, estava pronto para diminuir o ritmo. Chegou até a avisar o amigo Ranieri:
- Já escrevi muito. Livros, livros, livros. Agora é preciso o povo executar. A mensagem já está dada.
O anúncio foi precipitado. Chico ouviu uma contra ordem de seu guia e ficou perplexo:
- Estou na obrigação de dizer a você que os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram uma instrução: ela determina que sua atual reencarnação seja desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espírita cristãos. Sua existência, do ponto de vista físico, fica à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto seu corpo se mostre apto para nossas atividades.
Chico não se conformou:
- Devo trabalhar na recepção de mensagens e livros até o fim da minha vida atual?
- Sim, não temos outra alternativa.
O autor dos cem livros insistiu:
- E se eu não quiser? A doutrina espírita ensina que somos portadores do livre arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos.
Emmanuel sorriu e deu o veredito:
- A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao cristianismo redivivo terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico.
Assunto encerrado.
Chico manteve a conversa em segredo. Os espíritas estavam em festa mais uma vez. Comemoraram o centésimo livro de Chico como o milésimo gol de Pelé. O número redondo era um recorde. Chico era saudado como o único, entre os escritores vivos, com cem obras publicadas no país. Vendia dez vezes mais que Carlos Drummond de Andrade.
Só o best seller Jorge Amado era páreo para ele. Entre os autores brasileiros de sucesso, era o mais eclético. Sua obra incluía reportagens, poemas, crônicas, títulos infantis, contos e romances históricos.
Num dos jantares oferecidos a ele, o "desapropriado " dispensou os elogios e apelou para mais um de seus trocadilhos:
- Este é meu livro número cem, mas com  "s  "
Ele insistia: todos os livros eram dos espíritos. E abria mão, em cartório, dos direitos autorais.
Os observadores espíritas mais atentos faziam as contas e analisavam a lógica matemática da obra de Chico Xavier. Ele tinha colocado no papel os primeiros quarenta títulos a uma velocidade de dois livros por ano. Os trinta seguintes chegaram às livrarias no pique de três publicações anuais. Depois, já aposentado, a média subiu para quatro. Para os mais entusiasmados, não restava qualquer dúvida: a obra obedecia a um planejamento minucioso do outro mundo. Nos anos 70, sem nenhum parceiro, Chico escreveria oito livros por ano.
Na noite de 28 de julho de 1971, Chico Xavier entrou na arena: o auditório da TV Tupi de São Paulo. Quase quinhentas pessoas cercavam o palco. Calvo, com a cabeça grande demais para o corpo franzino, Chico cumprimentou a multidão e, com um sorriso tímido, dirigiu-se sozinho ao centro do tablado, em direção à mesa reservada para ele. Após ajeitar-se na poltrona, ajustou os óculos, engoliu em seco. O responsável por 107 livros ditados por quase quinhentos defuntos estava prestes a se submeter a uma sabatina via satélite. E, o melhor (ou pior), ao vivo.
Chico Xavier entrou na roda. Uma roda viva chamada Pinga-Fogo, o programa de entrevistas mais demolidor da época. As perguntas viriam de todos os lados: da platéia, dos telespectadores, de uma bancada formada por cinco entrevistadores. Além dos três jornalistas da equipe da TV Tupi Saulo Gomes, Reali Júnior e Helle Alves -, dois convidados cuidariam da  "inquisição  ": o católico João de Scantimburgo e o espírita Herculano Pires. Como mediador, o jornalista Almir Guimarães.
O tribunal estava montado. Réu, advogados de defesa e acusação, juiz, todos a postos. Às 23h30, Chico deu o seu boa noite. Com fala pausada, baixa, monocórdia, disse a primeira das muitas frases estranhas da noite:
- Estou confiante no espírito de Emmanuel, que prometeu assistir-nos pessoalmente.
Estava tenso. Quantas pessoas estariam sintonizadas naquele canal? Talvez entrasse em pânico se soubesse a resposta: 75% dos televisores paulistas ficaram ligados no Pinga Fogo até o fim, às 3h da manhã. Pobres, milionários, padres, céticos, políticos, psiquiatras dormiram de madrugada naquela terça-feira para acompanhar as opiniões extravagantes de Chico Xavier sobre reencarnação, sexo, catolicismo, fornos crematórios e bebês de proveta.
Nada menos que duzentos telespectadores telefonaram ao longo das quase três horas de entrevista.
João de Scantimburgo ajudou a espantar o sono do público em duelos como este:
- Os que não crêem nos seus dotes defendem a tese de que o senhor registra no papel, por meio de escrita automática ou inconsciente, reminiscências de leituras. Não terá o senhor repetido de Augusto dos Anjos, por exemplo, os versos que leu e reteve na memória?
Sem gaguejar, Chico Xavier deu a resposta de sempre:
- Se eu disser que estes livros pertencem a mim, estarei cometendo uma fraude pela qual vou responder de maneira muito grave depois da partida deste mundo.
Após resumir seu currículo escolar limitado ao quarto ano primário, ele fez questão de defender a própria ignorância. Não tinha a menor idéia do que escrevia enquanto passava para o papel grande parte dos livros psicografados.
João de Scantimburgo não se convencia.
O senhor é um homem que tem grande fluência ao falar.
O senhor constrói com perfeição a frase, o senhor tem lógica na exposição da sua doutrina. Logo, o senhor é um autodidata, que se compenetrou da doutrina que esposou e a estudou profundamente e passou a exercer o seu trabalho expondo essa doutrina. Chico apelou para a presença de Emmanuel:
- Qualquer estrutura fraseológica mais feliz de que eu possa ser portador se deve à influência de Emmanuel, à presença dele junto a mim, compreendendo a responsabilidade de um programa como este.
De vez em quando, ao longo da entrevista, ele diria:
- Emmanuel pede para mencionar... Emmanuel pede para lembrar... Emmanuel, que está presente, diz...
Mais tarde, Chico Xavier descreveu aos amigos mais íntimos os bastidores invisíveis daquela saga televisiva. Emmanuel teria se fundido a ele em simbiose.
Semiconsciente o tempo inteiro, Chico teria repetido, como um amplificador, as respostas ditadas por seu guia. Só soube mesmo do teor da entrevista quando assistiu à reprise do programa em Uberaba.
Scantimburgo duvidava de fenômenos como este. E lançava perguntas escorregadias. Por que filósofos como Platão, Aristóteles e Kant não enviavam do além obras para os médiuns? Seria difícil demais  "traduzir " as idéias deles? Chico (ou Emmanuel) respondeu com uma hipótese incômoda:
- Com todo o respeito ao senhor, eu me permitiria perguntar se eles também não seriam médiuns.
Scantimburgo perdeu a paciência:
- Este programa é de perguntas e não de debate.
Chico concordou, tranqüilo, para evitar atritos. Exibiu seu talento para a diplomacia várias vezes. Como ao declarar um imenso respeito pela Igreja Católica, " em cujo seio formei a minha fé ". Ou ao evitar mencionar o nome dos países que estavam legalizando o aborto, para não ser injusto com "povos que amamos e respeitamos muito  ". Como sempre, ele mediu cada palavra e pediu perdão ao usar a expressão  "assassinando " crianças  quando criticou o aborto.
Naquela noitada, o espírita falou menos sobre a doutrina e mais sobre temas polêmicos na época. Muito mais liberal do que o papa e os bispos, ele apontou nos bebês de proveta a possibilidade de diminuir o sofrimento da mulher no parto e os riscos de vida dos fetos. Viu nas então revolucionárias e controvertidas pílulas anticoncepcionais a chance de mulheres e homens ficarem livres do  "delito do aborto  "e ainda defendeu o homossexualismo e a bissexualidade como "condições da alma humana  " que não deveriam ser encaradas como "fenômenos espantosos, atacáveis pelo ridículo da humanidade  ".
Fazia questão de destacar, a cada resposta mais elaborada, a presença de Emmanuel. Telespectadores começaram a se acostumar com a idéia. O guia de Chico analisou até a cremação, com palavreado um tanto rebuscado:
- Ela é legítima para todos aqueles que a desejam, desde que haja um período de pelo menos 72 horas de expectação para a ocorrência em qualquer forno crematório, o que poderá se verificar com o depósito de despojos humanos em ambiente frio...
Ou seja: o corpo deveria ser conservado em baixas temperaturas antes de ser lançado às labaredas.
O jornalista Reali Júnior cobrou uma posição mais ativa do espiritismo na luta por uma distribuição de renda mais justa no país. Dom Hélder Câmara projetava-se na batalha contra os problemas sociais e enfrentava com coragem a resistência de militares e conservadores. Chico limitava-se a promover campanhas beneficentes, atribuía o sofrimento de cada um à necessidade de  "resgatar dívidas passadas  ", distribuía sopas, roupas, remédios e só. Por que ele, como líder religioso, não cobrava uma política mais eficiente do governo em vez de apenas acenar com paliativos? Os espíritas seriam adeptos do conformismo? Com calma, Chico defendeu a doutrina:
- O espiritismo nos pede paciência para esperar os processos da evolução e as ações dos homens dignos que presidem os governos.

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AMIZADE VERDADEIRA = MENSAGEM DE REFLEXÃO

quinta-feira, 9 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Não perguntes a felicidade quem ela é, nem de onde vem... Apenas, abra a porta para que entre... E feche-a para que não fuja

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Se o seu coração é capaz de sentir os seus sonhos, e se você os deseja realmente, não se desespere por nada, pois quando você olhar para o céu e ver as estrelas brilhando acredite: esse é o momento em que os seus sonhos poderão ser verdadeiros

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - OS MORTOS ESTÃO VIVOS - PARTE 5

CONTINUAÇÃO

Desde a separação, Waldo Vieira nunca mais se encontrou com o antigo parceiro.
Em 1991, tentou conversar com ele. Os auxiliares de Chico afastaram-no com uma desculpa: Chico estava viajando. O "completista " preferiu ficar em casa, sozinho, recolhido em seu quarto, escrevendo.
Tinha mais o que fazer.
Em 1967, Chico lutava para atingir o centésimo livro e encerrar a maratona literária. Estava exausto. Logo após a separação, colocou no papel o livro Encontro Marcado, assinado por Emmanuel. Uma coletânea de conselhos bastante úteis para quem, como ele, sofria com mais um desencontro na vida. Uma das frases era consoladora: "A pedra que acidentalmente nos fira será provavelmente a peça que sustentará a segurança da construção ".
O autor de 92 livros, muitos deles já traduzidos para o espanhol, esperanto e inglês, nem teve tempo para se lamentar. Aquele era o ano do quadragésimo aniversário de sua mediunidade. E os espíritas estavam em festa. Os fãs mais exaltados faziam Chico recorrer à ironia ao chamá-lo de papa do espiritismo.
Só se for a papa do angu na panela.
Até o padre Sinfrônio, de Pedro Leopoldo, fez as pazes com o conterrâneo. Ele hasteou a bandeira branca e convidou o "rival " a participar de um encontro de educadores promovido pela Escola da Imaculada Conceição. Naquele ano, Chico recebeu o título de cidadania da cidade natal e, com lágrimas nos olhos, agradeceu a todos por tudo, logo após afirmar não merecer tamanha honraria. Era o primeiro de uma série quase interminável de títulos. No ano seguinte, seria a vez de Uberaba dar o título a seu morador mais ilustre. Os donos de hotéis apoiaram com fervor...
Chico agradecia as homenagens, atribuía todo o crédito aos espíritos e a Emmanuel e gerava ensaios científico espirituais. Um deles, assinado pelo professor Herculano Pires, definia o quase sessentão como um "ser interexistente ". alguém capaz de existir no  "aqui e no agora " como homem no mundo e, no além, como  "homem fora do mundo ". Alguém capaz de experimentar, ao mesmo tempo, duas vidas: a de vigília e a hipnótica. Um  "médium humilde desprezado e depreciado pela inteligência brasileira  ".
Os mais matemáticos calculavam: nos quarenta anos de mediunidade, Chico teria ficado o correspondente a oito anos em transe.
Chico demorou a entender o tal conceito de interexistência.
Foi preciso Herculano morrer para Chico decifrar a expressão.
Ele passava para o papel, em sessão pública, o recado de um rapaz morto para sua mãe, quando escutou o convite de um "  espírito amigo  ":
- Precisamos de você neste instante numa reunião no plano espiritual. Por favor, me acompanhe até lá.
Com a permissão de Emmanuel, sem ninguém notar, ele se retirou da sala, deixou seu corpo na cadeira e andou quilômetros até chegar a um salão. Lá dentro, todos estavam em silêncio. O presidente da sessão: Herculano Pires. Chico soube, em pensamento, que deveria substituir um médium ausente. Uma mãe aflita esperava notícias de seu filho. Os dois estavam mortos, mas em planos diferentes. Enquanto seu corpo psicografava uma mensagem em Uberaba, ele passava para o papel outro texto em um ponto qualquer do espaço.
Após a dupla jornada de trabalho, o professor se aproximou e perguntou:
Você entendeu agora o que é ser interexistente?
Como presente de aniversário mediúnico, Chico ganhou de Emmanuel mais responsabilidade. Daquele ano em diante, ele teria autorização para colocar no papel, com assiduidade, em sessões públicas, os textos ditados pelos mortos a suas famílias. Chico sairia da fase do varejo e iria para o estágio do atacado na chamada  "literatura de consolação  ". A cada semana, ele poria no papel a média de três mensagens particulares. A nova missão talvez substituísse em breve a dos livros, quando ele concluísse seu centésimo título.
E era uma tarefa arriscada. A tensão dos parentes em busca de notícias de seus mortos chegava ao descontrole. Numa noite, em sessão pública, um espírita, amigo de Chico Xavier, duvidou de uma mensagem mandada por um familiar do outro mundo e cuspiu no rosto do médium. Chico se enxugou com um lenço, desabafou com amigos e, em casa, chorou. Emmanuel apareceu. Em vez de palavras de consolo, mais uma ordem:
- - Quando alguém cuspir em seu rosto, diga simplesmente que a chuva molhou sua face, se alguém pedir explicações. Não reclame.
Chico evitava as queixas e escrevia sem parar, apesar das dores provocadas por um tumor na próstata. Agüentou o sofrimento enquanto pôde. Mas a cirurgia era inevitável.
Zé Arigó, o médium que incorporava o Dr. Fritz e realizava cirurgias sem anestesia, se ofereceu para operar o colega. Chico recusou a oferta e preferiu se internar numa clínica em São Paulo. Antes, tomou o cuidado de entregar ao Dr. Elias Barbosa documentos particulares.
- Ninguém sabe o que pode acontecer.
Ele foi para o centro cirúrgico e provocou mais uma polêmica. Por que não aceitou a oferta do Dr. Fritz, tão requisitado na época? Ele duvidava do poder dos espíritos?
O protegido de Emmanuel se limitou a repetir a mesma resposta dada a Arigó:
- Como eu ficaria diante de tanto sofredor que me procura e que vai a caminho do bisturi como o boi para o matadouro? E eu vou querer facilidades? Eu tenho que me operar como os outros, sofrendo como eles.
Anos mais tarde, num desabafo, Chico deixaria de lado a diplomacia e diria:
- Sou contra essa história de meter o canivete no corpo dos outros sem ser médico. O médico estudou bastante anatomia, patologia e, por isso, está habilitado a fazer uma cirurgia. Por que eu, sendo médium, vou agora pegar uma faca e abrir o corpo de um cristão sem ser considerado um criminoso?
Já recuperado da cirurgia de próstata, Chico recebeu outra orientação de seu guia: às vésperas de concluir seu livro número cem, ele poderia dar entrevistas na TV para atingir um número maior de pessoas. No dia 6 de maio de 1968, ele conversou com o repórter Saulo Gomes, da TV Tupi de São Paulo, na Comunhão Espírita Cristã.
Deu uma aula de espiritismo. Para ele, os sovinas, ao guardarem dinheiro, operavam no organismo social o correspondente a uma trombose na circulação do sangue. A caridade era uma boa saída. O suicídio gerava conseqüências desastrosas. Ele reencontrou amigos suicidas, mortos com tiros no ouvido, reencarnados como "crianças retardadas em estado de extrema idiotia ". No final, Chico colocou no papel, de olhos fechados, em velocidade, um texto assinado por Emmanuel. Temperada por revelações e surpresas do outro mundo, a entrevista fez tanto sucesso que acabou sendo exibida em quase todas as capitais.
Chico não sabia, mas aquele era apenas um ensaio para a maratona televisiva dos anos 70.

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VONTADE DE SEUS - MENSAGEM DE JOANA DE ANGELIS

quarta-feira, 8 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

O tolo faz o que não pode deixar de fazer, o sábio deixa de lado o que não sabe fazer.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional.

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - OS MORTOS ESTÃO VIVOS - PARTE 4

CONTINUAÇÃO

Rezou e chorou. Antes de voltarem ao Brasil, passaram por Lisboa, onde deixaram textos escritos em bom português. Num deles, assinado por Emmanuel, vinha a convocação.
- Atendamos à caridade que suprime a penúria do corpo, mas não menosprezemos o socorro às necessidades da alma. Divulguemos a luz da Doutrina Espírita. Auxiliemos o próximo a discernir e pensar.
Chico repetia palavras de Cristo: Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres.
Emmanuel completava com mão de ferro: os mortos estão vivos. Livres para sermos felizes em nossas obrigações e para sermos mais responsáveis perante Deus.
Nessa primeira viagem, Chico e Waldo lançaram sementes kardecistas no exterior. No ano seguinte, eles voltaram aos Estados Unidos para fiscalizar a plantação. Antes de partir, em abril, Chico pediu a retificação de seu nome. Estava cansado de usar, em documentos oficiais, o Francisco de Paula Cândido. O juiz Fábio Teixeira Rodrigues Chaves autorizou. E a certidão de nascimento dele, em Pedro Leopoldo, mereceu um reparo na margem direita ao lado do registro original: onde está o nascimento de Francisco de Paula Cândido, fique constando Francisco Cândido Xavier.
Com seu "nome artístico " reconhecido, ele viajou disposto a dar um passo importante: o lançamento da versão em inglês do livro Ideal Espírita. Para atrair mais leitores, o título se transformou em The World of The Spirits e chegou às lojas com o selo da respeitada Philo-sophycal Library. Chico ficou eufórico. A viagem era um sucesso.
Mrs. Phillis Haddad contribuiu para o otimismo do espírita. Inspirada, ela deu provas de estar em sintonia com o outro mundo e tocou num dos pontos mais sensíveis de Chico: colocou no papel recados assinados por uma certa Maria João de Deus.
Aos espíritas já irritados com a badalação da dupla no exterior, a FEB apresentou, em sua revista O Reformador, um artigo assinado por Salim Salomão intitulado: "Por que Estados Unidos ".
Era quase um pedido de desculpas pelo sumiço dos dois: Os guias espirituais dos infatigáveis médiuns apontaram-lhes a necessidade de aprendizado da língua inglesa a fim de que as recepções de mensagens nesse idioma se tornem menos difíceis e mais rápidas. Daí também a necessidade de suas ausências do Brasil e do seu treinamento intensivo em estudos do inglês, o que vêm fazendo com admirável progresso, pontualidade e dedicação.
A viagem renderia. Livros como Agenda Cristã e Nosso Lar seriam vertidos para o inglês, japonês e tcheco. O kardecismo começaria a engatinhar nos Estados Unidos.
Um Centro de Sheilla seria inaugurado em Miami, ao lado de outros dois centros. Nova York sediaria três casas espíritas, a Califórnia ficaria com duas e Filadélfia com outra nos trinta anos seguintes. Nada muito estimulante. The World of The Spirits venderia, no primeiro ano, 216 exemplares. Chico achou ótimo.
Antes de voltar ao Brasil, o porta voz dos mortos visitou outro cemitério, o Memorial Park, em Hollywood. Estava no local certo na hora exata. Embaixo de uma árvore, com a cabeça no colo de uma senhora, descansava, a cerca de dez metros de seu túmulo, a mulher mais trepidante daquela época, a sexy symbol Marilyn Monroe. A precursora de Madonna já estava enterrada há três anos e a imprensa ainda debatia hipóteses sobre as circunstâncias de sua morte por overdose de tranqüilizantes, no auge do sucesso, aos 36 anos.
A maioria defendia a tese do suicídio puro e simples. Outros falavam em acidente - a loura fatal não queria morrer quando misturou altas doses do tranqüilizante Nembutal com álcool. Os mais criativos arriscavam teorias bem mais arrojadas: a atriz tinha sido vítima de um complô. Máfia, FBI, Os Kennedy, Fidel Castro? Siglas e nomes vieram à tona.
Pois bem. Marilyn Monroe iria falar.
Chico Xavier, de Pedro Leopoldo, viu quando seu velho conhecido, o repórter Humberto de Campos, se aproximou da estrela.
- Sou um amigo do Brasil que deseja ouvi-la.
- Um brasileiro a procurar-me depois da morte? Em que poderia ser útil?
A mulher mais esfuziante dos últimos tempos estava irreconhecível. Na conversa, bastante reveladora, ela tratou de desmentir os boatos sobre seu suicídio. Os vivos falam sobre os mortos o que lhes vêm à cabeça, sem que os mortos possam lhes dar a resposta devida.
Depois do desabafo, ela apresentou sua versão: Ingeri, quase semi inconsciente, sob profunda depressão, os elementos mortíferos que me expulsaram do corpo, na suposição de que tomava uma simples dose de pílulas mensageiras do sono.
Isso mesmo: os adeptos da tese do acidente acertaram.
Rica, irresistível, famosa, Marilyn vivia desorientada. E, com conhecimento de causa, após um período de mea culpa no além, tratou de dar um conselho às mulheres: Não se iludam a respeito da beleza e fortuna, emancipação e sucesso. Isso dá popularidade e popularidade é um trapézio no qual raras criaturas conseguem dar espetáculo de grandeza moral, incessantemente, no circo do cotidiano.
Após recorrer à metáfora circense, ela tratou de definir a liberdade como um bem que deveria ser administrado com bom senso, O sexo, "canal de renascimento e renovação ", poderia ser guiado para as "trevas " e "tumultuado por inteligências animalizadas ", nos níveis mais baixos de evolução, se não fosse respeitado por "sensata administração de valores ".
Marilyn Monroe só não gostava de lembrar o momento de sua morte:
Quando minha governanta bateu na porta do quarto, inquieta ao ver a luz acesa, acordei sentindo-me duas pessoas a um só tempo. Gritei apavorada sem saber, de imediato, identificar-me.
- Seus planos para o futuro?
- Primeiro quero melhorar. Em seguida, como a aluna no educandário da vida, preciso repetir as lições e provas em que falhei. Por agora não devo e nem posso ter outro objetivo que não seja reencarnar, lutar, sofrer e reaprender.
Humberto agradeceu pela entrevista exclusiva e Marilyn voltou para o colo de sua companheira.
Chico Xavier chegou a Uberaba com a entrevista bomba assinada pelo Irmão X e com uma outra novidade também surpreendente: estava sozinho. Waldo Vieira tinha ido para o outro lado do mundo, o Japão. Iria fazer um curso de pós graduação em plástica e cosmética em Tóquio. Meses depois, ele voltaria para a Comunhão Espírita Cristã apenas para arrumar as malas e sumir do mapa em direção ao Rio, onde abriria um consultório.
Chico Xavier garantia estar conformado com a separação. E previa em entrevistas na época: Waldo será invariavelmente o médico humanitário e o abnegado missionário da doutrina espírita que todos nós conhecemos.
Errou em cheio.
Após deixar sua assinatura ao lado da de Francisco Cândido Xavier em dezessete livros, o "médico humanitário " virou as costas para o espiritismo,  "estreito demais ", e seguiu carreira solo. Estava cansado de Chico, "tão frágil, tão suscetível, tão chorão ", estava cansado da sacralização em torno de seu parceiro e do  "populismo   " das sopas diárias, das peregrinações semanais e das distribuições natalinas.
Queria distância da culpa cristã, da caridade, das lições evangélicas. Ele não iria se conformar, não iria agradecer a Deus por seus sofrimentos, não viveria atrelado a guias espirituais, não se submeteria a ser um eterno datilógrafo de textos do além.
Waldo abandonou a doutrina espírita e definiu sua saída da Comunhão como "uma benção ". Leitor voraz, dono de uma biblioteca com 60 mil exemplares, ele fundaria não uma seita, mas uma ciência batizada de  "projeciologia ". Iria estudar as projeções de consciência, as experiências fora do corpo físico. Em 1986, lançaria um livro sobre o assunto - um calhamaço de mil páginas coberto por 1.907 citações extraídas de mais de 5.500 títulos específicos.
Os cientificismos de André Luiz, no complexo Mecanismos da Mediunidade, são até bastante acessíveis se comparados à linguagem usada no mundo novo de Waldo. Tanto que ele lançaria um  "miniglossário da conscienciologia " para quem quisesse entender seu dialeto. No livro de bolso, o leitor teria acesso a informações como esta:
"Acoplamento áurico interfusão das energias holochacrais entre duas consciências " .
Mas o que é holochacra? O livro explica: "Paracorpo energético da conscin ".
Conscin? Isso mesmo, a "consciência intrafísica a personalidade humana, o cidadão ou cidadã da Socin  ".
Nesse universo sofisticado, a mediunidade é considerada um "pré maternal, uma bobagem ", o espiritismo não passa de uma superstição e Kardec já está superado.
A pessoa capaz de projetar a própria consciência estaria anos luz à frente do médium. A projeciologia eliminaria o intermediário, o atravessador. Se uma pessoa quisesse entrar em contato com o "espírito ", por exemplo, bastaria sair conscientemente de seu corpo físico e procurar seu morto em outra dimensão. Ou seja: a mãe, arrasada com a morte de seu filho, poderia fazer um curso de projeciologia, treinar bastante e ir para o espaço. Haveria o risco de ela se perder no meio do caminho.
- Mas quem não corre riscos? pergunta Waldo.
Quase 27 anos após se tornar um dissidente de Chico Xavier, Waldo só interromperia os ataques para confirmar: Emmanuel e André Luiz existem mesmo. A mediunidade e a psicografia são reais.
Chico Xavier seria um "completista ", segundo termo inventado por André Luiz. Ou seja: cumpriu à risca a programação traçada no outro mundo para ele.
Com longas barbas brancas e seu discurso demolidor, Waldo Vieira seria acusado por vários espíritas de estar cercado de espíritos obsessores. Ao saber das acusações, ele se limitaria a gargalhar.
- Eu ameaço o espiritismo. Eu acabo com os atravessadores.
Os espíritas mais indignados chegaram a prever a   "desencarnação  " do ex médium.
Ele teria traído sua missão e poderia pagar por isso. Waldo provocaria:
- Eu só tenho medo do espírito obsessor do cachorro do vizinho.
Em seu último livro, 600 Experimentos da Conscienciologia, Waldo dedicou um capítulo a Jesus Cristo. E lançou uma série de adjetivos implacáveis contra o homem mais importante do espiritismo e mais adorado por Chico Xavier. Para o ex parceiro de Chico, JC (como ele chama Jesus) é um  "teólatra populista inamovível ". um "catequista inveterado e fanático ", um "rezador de retiros espirituais ", um "autopromotor da autolatria cega ", um "doutrinador e repressor acrítico ", um "sectarista ginecófobo apaixonado   ".

CONTINUA AMANHÃ

ENTREVISTA COM DEUS - MENSAGEM DE REFLEXÃO

terça-feira, 7 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA


Quem quer fazer, arruma um meio, quem não quer, uma desculpa.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente.

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - OS MORTOS ESTÃO VIVOS - PARTE 3

CONTINUAÇÃO

Mas, diante dos jornalistas, Otília foi uma decepção. A figura que apareceu,  "saída  "de seu corpo, era a sua cara. Os repórteres exibiram fotos de Chico de braços dados com a visitante do além, a "irmã Josefa ", e destacaram a semelhança entre "espírito " e médium. Chico calou-se sobre o assunto.
Só seis anos depois, ele analisou a noite decepcionante. Oito repórteres e não dois, como combinado, apareceram para tentar comprovar fraudes. O clima ficou carregado na sala e a médium só conseguiu materializar o próprio  "perispírito "(espécie de corpo fluídico do espírito, sempre parecido com o corpo físico) e as roupas de freira.
Quando ele falou, já era tarde. Otília Diogo tinha sido presa com uma maleta recheada de roupas utilizadas em  "materializações ". O hábito de irmã Josefa também estava lá. A transformista confessou até mesmo ter pago uma cirurgia plástica facial com exibições   "espíritas " na casa do cirurgião.
Atrás das grades, desta vez numa delegacia, ela explicou ter perdido a mediunidade em 1965, um ano após as sessões em Uberaba. Não se conformou e decidiu apelar para truques. Chico Xavier, em entrevista à revista O Cruzeiro, voltou a definir todo médium como  "uma criatura humana, com defeitos, qualidades e anseios humanos ". Para ele, havia os espíritas capazes de superar as vaidades e viver para o outro e havia, também, aqueles que não suportavam os baques  "reservados por Deus como provação  ".
Otília era do segundo time.
Em junho de 1964, Chico, com o aval de Emmanuel e com o apoio de Waldo Vieira, decidiu ceder à Comunhão Espírita Cristã os direitos de livros escritos por ele e seu parceiro. Pela primeira vez, ele seria beneficiado, embora indiretamente. O centro, cada vez maior, contraía dívidas e já não podia contar apenas com a ajuda esporádica e voluntária de amigos ricos e de gente grata a Chico Xavier.
O prédio crescia a cada ano. O barraco de cinco anos antes já era acompanhado por galpão, sala de refeições, livraria, depósito. Um afilhado de Chico, Hermínio Cassemiro, filho de José Felizardo Sobrinho, de Pedro Leopoldo, visitou o prédio e ficou impressionado com a quantidade de cobertores, remédios e alimentos acumulados.
Chico garantiu ao conterrâneo.
Uberaba tem mais campo para mim.
Na despedida, parou diante de algumas flores e afirmou:
- O sonho de sua mãe, Júlia, era ter na janela do quarto um canteiro para plantar as damas da noite. Eu plantei as flores aqui e ela me visita toda noite.
Escurecia. Hermínio voltou para casa com uma das flores no bolso.
Os generais tomavam conta do país e Chico Xavier, com a ajuda do jovem Waldo Vieira, promovia mais uma distribuição de Natal. No dia 13 de janeiro de 1965, uma fila de 11.765 pessoas se estendeu diante da Comunhão Espírita para buscar sacolas com roupas e alimentos. Com a ajuda de seus amigos de São Paulo e de outros estados, conseguiram arrecadar 8.337 peças de roupas, 993 pares de sapatos, 311 enxovais infantis, 1.926 brinquedos, 4.320 lápis, 500 livros, 335 sacas de arroz, 218 quilos de balas, 11.815 sanduíches.
Eram raros os que agradeciam ao receber as doações.
Alguns assistentes de Chico, de vez em quando, citavam um bilhete que teria sido enviado por são Vicente de Paulo aos auxiliares nas campanhas de atendimento aos pobres:
- Muita tolerância com os hóspedes de Jesus, pois eles são impacientes e exigentes.
Entre os "hóspedes de Jesus " não estavam apenas os pobres. Comerciantes, acompa-nhados de amigos e parentes, também enfrentavam o calor para buscar os donativos, enfiá-los em Kombis e transformá-los em lucro. Um amigo de Chico denunciou a presença constante na fila de uma mulher rica, conhecida na cidade. Todo fim de ano, ela fazia questão de levar sacolas para casa. Era um roubo. Havia gente passando fome em todo canto e ela tirava comida da boca de quem precisava.
Chico escapou da polêmica mais uma vez:
- Que humildade a desta senhora! Enfrenta uma fila com sol ou chuva e, pacientemente, aguarda sua vez para pegar mantimentos.
As distribuições anuais às vezes terminavam em briga e sempre provocavam confusão. Pobres de cidades vizinhas chegavam a Uberaba e ficavam por ali mesmo. Afinal de contas, os centros espíritas também distribuíam sopa todo dia ou toda semana e ainda providenciavam atendimento médico e dentário gratuitos. Chico nem respondia a quem o acusava de atrair miseráveis à cidade. Fazia caridade a qualquer preço.
Os adversários reclamavam e Chico estudava, de acordo com orientação ouvida de Emmanuel, estatísticas sobre suicídios publicadas pelas Nações Unidas no Demographic YearBook, em 1964. A Áustria liderava o número de suicidas (1.598 em 1962) e era seguida pela Alemanha, Suíça, Japão, França, Bélgica, Inglaterra, Estados Unidos, Polônia e Portugal. Nenhum país sub desenvolvido entrava na lista. Conclusão: o suicídio teria ligações com o vazio provocado pelo materialismo. Ou seja: faltava espiritualidade naqueles países.
Chico e Waldo começaram a arrumar as malas para viajar ao exterior.
Em maio de 1965, os dois embarcaram para os Estados Unidos. Já era hora de levar o espiritismo segundo Kardec aos americanos. Acompanhados por dois amigos, Maria Aparecida Pimental e Irineu Alves, eles chegaram a Washington na tarde de 22 de maio, um sábado. No dia seguinte, visitaram um templo espírita na cidade para agradecer ao plano espiritual pela chance da viagem. Sem aviso prévio, foram até o The Church of Two Worlds (A Igreja dos Dois Mundos), dirigido pelo médium Gordon Burroughs.
Eram 15h. Eles se sentaram no último banco e ficaram em silêncio, acompanhando as preces, cânticos e comentários sobre a doutrina. Ninguém os conhecia ali.
No final da reunião, uma senhora indicou os quatro  "irmãos de outro país " ali presentes e falou sobre a tarefa deles nos Estados Unidos: levar a renovação espiritual e estimular a aproximação fraterna. Logo depois, em transe, anunciou a presença dos espíritos de um teacher e um doctor junto aos visitantes brasileiros. Chico e Waldo já tinham percebido a companhia de Emmanuel e de André Luiz.
Em julho, Waldo Vieira colocou no papel um texto com a assinatura do doctor.
"Pontos fundamentais para o espírita em viagem ". Era uma cartilha para kardecistas que viajassem para o exterior pela primeira vez. Os conselhos, assinados por André Luiz, pareciam ter sido escritos por Chico Xavier. Para início de conversa, a palavra estrangeiro deveria ser riscada do dicionário.   "Os filhos de outros povos devem ser tratados como verdadeiros irmãos ". Era preciso fugir da exibição pessoal, guardar discrição e simplicidade, evitar críticas e discussões, anedotas e aforismos de mau gosto, além de comparações pejorativas capazes de humilhar os anfitriões. Para ser mais útil, cada um deveria estudar a língua e os costumes do país visitado.
O quarteto tinha muito trabalho a fazer. Allan Kardec era um ilustre desconhecido nos Estados Unidos, mesmo entre os espíritas. Eles cultuavam a reencarnação, acreditavam em fenômenos como a materialização, mas ainda eram leigos em relação ao Evangelho ditado pelo francês no século passado. Chico e Waldo se dedicaram, então, à segunda parte do plano: fundar um centro kardecista. Já tinham até um contato em Washington: Salim Salomão Haddad e sua mulher, Phillis. O casal tinha conhecido Chico Xavier ainda em Pedro Leopoldo, em 1956.
Chico elegeu o turco Salim, que conhecia sete línguas, presidente do centro, batizado de Christian Spirit Center (Centro Espírita Cristão). A sede funcionaria na casa dos dois. Durante três semanas, o brasileiro ficou hospedado ali. Como sempre, trabalhou e estudou compulsivamente. De manhã, recebia aulas de inglês da filha mais velha do casal; à tarde, era a vez de Phillis assumir o papel de professora e à noite o marido virava mestre. Chico aprendeu em 15 dias o que poucos conseguiriam aprender em um ano.
O aluno era um fenômeno, mas não tinha, segundo os professores, know how suficiente para escrever os textos que, em poucos minutos, ele colocou no papel, com a assinatura de um certo Ernest O'Brien. As palavras em inglês saíam de sua mão em velocidade absurda até mesmo para os americanos e deixavam Mrs. Phillis boquiaberta. Um dos artigos, intitulado "Family ", começava com uma descrição das primeiras impressões logo após a morte:
- Trernendous surprise takes place in our mmd at the rnornent of death. Contrary of our own former opinions we are alive. The body carne back to the inorganic Kingdon as subject of universal change and we recognize that death is a rebirth (Tremenda surpresa ocorre em nossa mente no momento da morte. A despeito de nossas próprias opiniões anteriores, continuamos vivos. O corpo retorna ao reino inorgânico, sujeito que está à mutação universal, enquanto reconhecemos que a morte é um renascimento)
Waldo Vieira não ficava atrás e também apresentava textos assinados por O'Brien:
- On what basis shall we localize the problem of death? Ofcourse, there is no death. Life itself dernands death as a rebirth (Em que base devemos colocar o problema da morte? Naturalmente, a morte não existe. A própria vida exige a morte como um renascimento).
O suicídio seria pura perda de tempo. A vida era inevitável. Entre uma aula e uma "mensagem ", Chico Xavier escrevia livros e, de vez em quando, saía para passear com os anfitriões pela cidade. Mrs. Phillis guardou duas frases de Chico durante a estada:
- A gente precisa perdoar setenta vezes sete diariamente.
- Um tanto mais de paciência todos os dias.
Depois de Washington, Nova York. Ali, Chico se encontrou com o médico Eurípedes Tahan, o parceiro de Maria Olina na Casa Espírita de Sheilla. Tahan fazia pós graduação em pesquisa de transplante de fígado e, estimulado por Chico, matriculou-se com ele em um curso noturno de inglês. Durante três semanas, o mineiro de Pedro Leopoldo participou das aulas. A professora ficou impressionada com sua facilidade para o idioma.
No fim de uma das aulas, um rapaz da Nicarágua se aproximou de Chico e Eurípedes e desabafou, sem mais nem menos: enfrentava problemas com a mulher e precisava de ajuda. Chico resolveu visitá-lo naquela noite mesmo. O médico o acompanhou e estranhou seu comportamento na casa do nicaragüense. Mal chegou e começou a conversar com a mulher dele em espanhol fluente. O bate papo demorou quarenta minutos. Chico parecia outra pessoa. Quando saíram, explicou:  "Era a avó daquela senhora. Eu a estava ajudando, dando conselhos..."
Chico e Waldo saíram dos Estados Unidos e aterrissaram na França. Chico, é claro, fez questão de visitar o túmulo de Allan Kardec, no cemitério Père Lachaise.

CONTINUA AMANHÃ

CONFIEMOS ALEGREMENTE

segunda-feira, 6 de junho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Os elogios são como a moeda falsa, que não empobrece a quem despende, mas ilude sempre a quem recebe.

Autor: Afrânio Peixoto

MENSAGEM DIÁRIA

Não abra mão dos seus sonhos, eles são o seu maior patrimônio. O homem começa a envelhecer quando as lamentações começam a tomar o lugar dos sonhos

Autor: Desconhecido

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - OS MORTOS ESTÃO VIVOS - PARTE 2


CONTINUAÇÃO

Numa tarde, o Dr. Elias Barbosa conheceu um pouco da  "terapia de casais " defendida por Chico Xavier. Ele almoçou com o médium e seu companheiro Waldo num restaurante em São Paulo e, ao pedir a conta, teve uma surpresa. Uma mulher, na mesa ao lado, já tinha pago a despesa. Ao lado do marido, ela se aproximou com um buquê e o entregou a Chico, comovida. Mais tarde, ele explicou. Aquela senhora tinha chegado atônita à Comunhão Espírita. Estava em crise com o marido, disposta a se separar. Chico se limitou a aconselhar:
- Trate seu marido como um filho.
Deu certo. Édipo venceu. O casamento também.
Em 1962, Chico Xavier já mobilizava milhões de espíritas e católicos no Brasil.
Para formar livros e leitores, o escrevente aposentado se impunha um ritmo estressante.
Acordava todos os dias às seis horas e, antes mesmo de tomar café, regava a horta. Às sextas e sábados, dias de sessões públicas, deixava o sono de lado para cumprir uma programação quase insuportável.
Chico costumava chegar ao centro meia hora antes da abertura dos portões, marcada para as 20h. Quando a fila começava a andar, ele já estava sentado à cabeceira da mesa folheando o Evangelho Segundo o Espiritismo ou o Livro dos Espíritos à procura de um bom trecho para ser lido e comentado naquela noite. Após escolher os oradores entre os companheiros espíritas, ele se refugiava num pequeno quarto destinado ao receituário. Os comentaristas se dedicavam a discursos quase intermináveis sobre a importância da paciência, do perdão e da caridade, e Chico passava para o papel as dicas do Dr. Bezerra. Muitas vezes, atendia a trezentas pessoas por noite. Por volta das 21h as receitas começavam a sair por uma abertura na porta do cômodo onde ele trabalhava.
Em noites de casa cheia, Chico ficava até meia noite confinado. Quando voltava para a mesa, os espectadores só faltavam aplaudir, não só por sua presença, mas pelo fim dos comentários evangélicos. A presidente do centro pedia silêncio, meditação, prece. Chico fechava os olhos, segurava o lápis e as frases se espalhavam pelo papel. Waldo em geral o acompanhava no dueto do além. Às vezes, quando um parava, o outro começava, e os dois produziam textos complementares assinados pelo mesmo  "autor  ".
O espetáculo atingia o clímax quando Chico preenchia as páginas em branco com as esperadas "mensagens particulares  ". Nessas longas noites mais produtivas o ritual costumava se prolongar até as 3h. Era a hora de a multidão se aglomerar em volta de Chico. Risonho, de pé, com uma paciência indestrutível, ele atendia a centenas de pessoas, autografava livros, contava casos, ouvia histórias, ria, orientava. Era rara a noite em que não precisava recorrer à velha frase:
- O telefone só toca de lá pra cá.
Mães levavam os filhos para ele tocar, outras se limitavam a chorar em silêncio, alguns desmaiavam. As cenas de idolatria se seguiam madrugada adentro.
Um dos visitantes mais assíduos era um rapaz chamado Jorge. Sempre descalço, enfiado em roupas remendadas e fedorentas, ele vinha da favela e, ao ver Chico Xavier, abria um sorriso dolorido. Carregava no lábio inferior uma ferida crônica, que se abria e sangrava a cada riso. Era sempre assim. Além do machucado, sua boca trazia dentes apodrecidos. O hálito beirava o insuportável. Quase todos no centro, e em todo canto, fugiam dele. Chico o recebia com um abraço demorado e a pergunta de praxe:
- Jorge, como vai a vida?
- Ah, tio Chico, a vida é uma beleza.
A conversa às vezes se estendia por cinco, dez, quinze minutos. A fila parava, gente suspirava, os mais impacientes olhavam para os lados, se coçavam, bufavam, rezavam.
Jorge falava da briga dos gatos, da goteira sobre a cama, do ninho no telhado. Só calava após muita falação.
Quando todos já saboreavam o fim do suplício, Chico anunciava:
- Agora, o nosso Jorge vai declamar alguns versos.
Ele recitava algumas rimas e Chico cobrava, então, o grand finale:
- Na nossa despedida, declame o poema de que mais gosto.
- Qual, tio Chico?
- Aquele da moça.
Jorge tomava fôlego, olhava para os lados para conferir a atenção do público, e enchia a boca:
Menina, penteia o cabelo,
joga as tranças pra cacunda.
Queira Deus que não te leve
de domingo pra segunda.
O riso era geral. A sensação de alívio estimulava o senso de humor. Jorge se aproximava de Chico, recebia dele alguns cruzeiros e os guardava na capanga.
Em seguida, se jogava sobre o anfitrião, dizia as últimas palavras a um palmo de seu nariz, beijava sua mão. Chico retribuía. Não só beijava a mão de Jorge como sapecava um beijo em seu rosto. Para encerrar, o rapaz deixava nas bochechas de Chico as manchas de sangue de seu lábio.
Os amigos ficavam impressionados. Nunca, em vários anos, Chico esboçou um recuo instintivo. Nunca levou o lenço ao rosto após a saída de Jorge.
A romaria só terminava por volta das 4h, quando Chico convidava os mais resistentes a tomar chá e café, acompanhados de pão e rosca, na cozinha. Era a hora da conversa descontraída. Muitas e muitas vezes, já eram 5h quando o anfitrião se despedia dos últimos visitantes.
Em janeiro de 1963, Chico Xavier colocou o lápis no papel e as páginas em branco se encheram de rimas assinadas por um de seus compositores preferidos, o sambista Noel Rosa. Eram sambas de exaltação ao Rio e a Deus.
O samba não é pecado
se nasce do coração
Jesus nasceu festejado
no meio de uma canção.
Meu Rio belo e risonho,
canto ainda a serenata
em tuas praias de sonhos
em tuas noites de prata
Atraídos por surpresas como essa, os visitantes engrossavam a fila em frente à Comunhão Espírita Cristã. A confusão se alastrava pelo chão de terra da rua Eurípedes Barsanulfo. Centenas de carros de todos os estados procuravam uma boa vaga entre os postes de madeira e as cercas de arame farpado. Os guardas apitavam e o choro e os gritos das crianças se misturavam aos resmungos e gemidos de velhos e doentes e ao coro dos vendedores de balas, pipocas, picolé. As ruas em volta do centro ficavam estreitas para tanta gente as sextas e sábados.
O centro acompanhava o movimento e crescia. O galpão já podia abrigar entre oitocentas e mil pessoas.
Na noite de 28 de junho de 1963, Chico deixou mais uma mãe exultante. A felizarda foi Júlia Gomes de Oliveira, paulista de Barretos. Um texto assinado por seu filho, Wilson de Oliveira, caiu do céu. O morto mandava notícias um mês após ter se afogado numa represa.
Júlia sofria a dor da perda e da culpa. Foi ela quem convidou o filho para o passeio.
A carta do além tirava os dois pesos dos ombros da mãe e terminava com uma assinatura quase idêntica à exibida na carteira de identidade do morto. Júlia, comovida, exibiu o documento e a mensagem a quem quisesse ver e comparar. Na semana seguinte, começou a atender um pedido vindo do outro mundo:
- Ampare as crianças sofredoras.
O contato com a multidão era quebrado pela solidão de levar ao papel mais poemas do além. Desta vez, os versos não renderiam uma edição reforçada do Parnaso de Além Túmulo.
O dueto com Waldo Vieira iria gerar a Antologia dos Imortais. Ainda faltavam 27 livros para chegar ao título número cem. Chico assinava os capítulos ímpares, Waldo, os pares. Os poemas eram evangelicamente corretos. Quase todos os poetas "representados " se dedicavam a confirmar a vida depois da morte, a criar rimas em torno da reencarnação e a divulgar, assim, o espiritismo. Entre os autores, apareceu Zeferino Brasil, aquele jornalista gaúcho que defendeu a autenticidade dos poemas escritos por Chico em seu livro de estréia.
Augusto dos Anjos também deu o ar de sua graça. Nem parecia ter se incomodado com as censuras espirituais na sexta edição do Parnaso de Além Túmulo. Fiel à cartilha espírita, ele descreveu seu retorno a Terra, mas não resistiu a criticar o caos deste mundo, a exalação de todos os detritos e os túmulos de esterco.
Em  "Morte Húmida ", ele narrava a agonia de um doente vítima de úlcera:
A morte chega brusca, horrenda e terna
Corre na goela hirta fino gume.
E, quando tudo parecia perdido, concluía feliz, espírita.
A alma ditosa nasceu noutro nível
É o parto novo...
E a vida imperecível
Desabrocha qual lírio sobre o estrume.
Em fevereiro de 1964, as vésperas do golpe militar, Chico não resistiu e, seduzido pelas materializações promovidas pela médium Otília Diogo, de Campinas, se animou a exibir os poderes dela a um repórter e a um fotógrafo da revista O Cruzeiro.
Tomou a decisão após participar de uma sessão privativa comandada pela moça.
Naquele primeiro show para Chico Xavier, ela ficou amarrada a uma cadeira, cercada por grades. De repente, luzes pipocaram pela sala escura e um cheiro forte de perfume se espalhou pela casa. Otília gemia enquanto o ectoplasma se desprendia de seu corpo e ganhava a forma de uma criança que, fora das grades, cantava. Chico assinou embaixo: os fenômenos eram autênticos. Otília Diogo dava mesmo vida a outras criaturas: uma das aparições mais assíduas era de uma freira, a "irmã Josefa ".

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