sábado, 9 de julho de 2011

MOMENTO DE REFLEXÃO

SABER AGRADECER

Muitos de nós costumamos reclamar das dificuldades do mundo, mas será que temos pensado nas facilidades que são colocadas em nossas mãos?

Apressamo-nos em quitar a conta de luz elétrica para não pagar a multa cobrada pelo atraso. Todavia, a usina solar que nos fornece claridade, calor e vida, não é lembrada em nossa conversa diária.

Reclamamos quando pagamos a conta de água encanada, mas sequer nos lembramos da gratuidade da água das chuvas e das fontes cristalinas que enriquecem a vida.

Gastamos elevada soma de dinheiro na aquisição de gêneros alimentícios que nos atendam ao paladar, contudo, o oxigênio, elemento mais importante a sustentar-nos o organismo, é utilizado em nosso sangue sem pesar-nos no orçamento.

Despendemos altos valores para renovar o guarda-roupa, e apesar disso, não nos lembramos o quanto devemos ao corpo de carne a resguardar-nos o espírito.

Remuneramos muito bem o profissional especializado pela adaptação de um só dente artificial; entretanto, nada tivemos que pagar para obter a dentadura natural completa. . .

Pagamos pelas drágeas medicamentosas para acalmar leve dor de cabeça, e esquecemos de que recebemos de graça a faculdade de pensar.

Pagamos altas quantias para assistir a um espetáculo esportivo ou artístico, contudo, podemos contemplar de graça o solo cheio de flores e o céu faiscante de estrelas...

Para ouvir as melodias de uma orquestra qualquer, temos que desembolsar quantia significativa, no entanto, ouvimos diariamente a divina música da natureza, sem consumir um único centavo...

Observando essas pequenas situações, nos daremos conta de que temos mais para agradecer do que para reclamar.

O que normalmente ocorre, é que o hábito de agradecer ainda não faz parte de nós.

Conforme a recomendação de Paulo, o apóstolo, devemos dar graças por tudo.

Um dia, uma senhora ouviu um orador fazer essa recomendação e logo que ele concluiu sua fala, ela aproximou-se dele e lhe falou:

Ah, meu amigo, como é que eu posso dar graças por tudo, se a minha mãe está internada num hospital há meses, fazendo tratamentos dolorosos?

Pense, minha amiga, que tantas mães morrem nas sarjetas sem cuidados médicos nem assistência amiga de um familiar, e a sua genitora pode dispor de um hospital e de toda uma equipe de médicos e enfermeiros para atendê-la.

A senhora retrucou:

É, meu amigo, mas eu só sobrevivo à custa de dez remédios diferentes que tomo todos os dias...

O orador, que realmente desejava mostrar-lhe que tinha motivos para agradecer, respondeu compassivo:

Veja a senhora que existem tantas pessoas que não têm recursos para comprar um único remédio para aliviar a dor, enquanto a senhora pode comprar dez...

Por fim, a senhora entendeu que tinha motivos de sobra para agradecer a Deus por tudo...

* * *

Deus nos dá sempre o de que necessitamos, embora nem sempre seja o que gostaríamos de receber.

É que Deus sabe o que é melhor para nosso progresso. Como Pai justo e bom, não leva em conta nossas reclamações e oferece-nos sempre um novo dia repleto de oportunidades para que gravitemos para Seu amor, que é fonte inesgotável de bênçãos.

PENSAMENTO DO DIA

Dificuldades reais podem ser resolvidas apenas as imaginárias são insuperáveis

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


Se seus sonhos estiverem nas nuvens, não se preocupe, pois eles estão no lugar certo, agora construa os alicerces

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 05

CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO 4

Acomodados, de novo, no aposento próximo, buscava soerguero ânimo de Neves, positivamente desapontado.
Arrojara-se o companheiro ao clima da dignidade ofendida, dando a impressão de que a família encarnada ainda lhe pertencia.
Exprobrava a conduta do genro. Exalçava os merecimentos da filha. Aludia ao passado, quando ele próprio vencera lances difíceis na luta sentimental. Desculpava-se.
Ouvia-lhe, condoído, os apontamentos, a refletir, de minha parte, quanto à dificuldade com que somos todos nós defrontados para dissipar a ilusão da posse sobre os outros. Não fosse a obrigação de respeitar-lhe os sentimentos e, certo, me exorbitaria, ali mesmo, em comprida tirada filosófica, recomendando o desprendimento: contudo, logrei apenas confortá-lo:
– Não se aflija. Desde muito aprendi que para as pessoas desencarnadas, quase sempre, as portas do lar se fecham no mundo, quando a morte lhes cerra os olhos.
Entretanto, não pude prosseguir.
À guisa de duas crianças enlevadas e jubilosas, Nemésio e Marina penetraram a câmara, fugindo claramente à presença da enferma.
Guardavam no semblante a expressão dos namorados felizes, quando alimentam o clássico “enfim sós”, trancando-se contentes.
Dispus-me, instintivamente, a sair, mas Neves sustou-me o
impulso de retirada, convidando-me, aturdido:
– Fique, fique... Não louvo a indiscrição; no entanto, estou, ao lado de minha filha, em sentido direto, simplesmente há alguns dias e devo saber o que ocorre, para ser útil...
(Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 30)
A esse tempo, Nemésio enlaçara a enfermeira, qual se voltasse, de improviso, aos arrebatamentos da juventude. Amimava-lhe as mãos miúdas e os cabelos sedosos, reportando-se ao futuro.
Justificava-se, copiando as preocupações de um adolescente, interessado em vacinar a escolhida contra o ciúme. Deveriam ser bons para Beatriz, às portas do fim, e agradecer ao destino que os livrava dos aborrecimentos e percalços de um desquite, mesmo amigável... Ouvira o médico, na véspera, informando-se de que a doente não conseguiria viver mais que algumas semanas. E sorria, qual menino travesso, explicando que não admitia a sobrevivência da alma; no entanto, a seu ver, se houvesse vida além da morte, não desejava que a esposa partisse, nutrindo por eles ressentimentos quaisquer. Apaixonado, procurava convencer-se de que se via correspondido, cravando a atenção nos olhos enigmáticos da companheira, a quem se reconhecia imanizado por intensa atração.
Marina retribuía, como quem se deixava querer bem; no entanto, apresentava o fenômeno singular da emoção jungida a ele e o pensamento voltado ao outro, empenhando-se, por todos os meios, a encontrar nesse outro o incentivo necessário a essa mesma emoção.
Nemésio comentava os próprios empeços, sensibilizado.
Confessava-lhe devoção inexcedível. Não a queria de ânimo inquieto. De futuro, abandonaria os negócios. Viveriam felizes, na casinha de São Conrado, que transformaria em bangalô confortável, entre o verde do mar e o verde da terra. Mandaria aprestar a reconstrução em estilo novo, a fim de que a moradia os recebesse, no momento oportuno. Que ela confiasse. Aguardaria apenas a modificação do próprio estado social para conferir-lhe o título de esposa, esposa para sempre.
Isso tudo era dito num jogo de manifestações carinhosas em que a sinceridade prevalecia num lado e o cálculo no outro.
(Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 31)
Assinalei, porém, estranha ocorrência.
Ele e ela comunicavam-se, entre si, as mais ternas expansões de encantamento recíproco, sem ser dissoluto, e pareciam aderir, automaticamente, às impressões que esboçávamos, de vez que acompanhávamos os mínimos gestos dos dois, com aguçada observação, prejulgando-lhes os desígnios com o fundo de nossas próprias experiências inferiores já superadas.
Semelhantes registros que formulamos, com absoluta imparcialidade, são dignos de nota, porquanto, atento qual me achava ao estudo, vimo-nos obrigados a reconhecer que a nossa expectativa maliciosa, aliada ao espírito de censura, estabelecia correntes mentais estimulantes da turvação psíquica de que ambos se viam acometidos, correntes essas que, partindo de nós na direção deles, como que lhes agravava o apetite sensual.
O marido de Beatriz acentuava, em transportes de felicidade juvenil, embora a voz ciciante, o anseio com que lhe aguardava o carinho permanente no refúgio caseiro.
De inopinado, porém, a jovem prorrompeu em pranto copioso.
O companheiro beijou-lhe a face, aspirando a aliviar-lhe a tensão convulsiva.
De nosso lado, entretanto, reparávamos que Marina se fixava, cada vez mais, no moço cuja figura se lhe engastava à imaginação.
Escabroso, sem dúvida, o conflito de que se verificava possuída, à vista da sinceridade inequívoca de todas as promessas que
lhe eram endereçadas.
Olvidando os compromissos abraçados, perante a esposa, que lhe requisitava, naquela hora, mais amplas evidências de fidelidade e ternura, bandeara-se o chefe da casa, apaixonadamente, para ela, entregando-se-lhe sem reservas. Inteligente bastante para (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 32) entender quanto se lhe debilitara o raciocínio de homem circunspecto, a menina identificava a fase perigosa da partida infeliz a que se lançara e aturdia-se, ali, confundida entre aflições e remorsosa lhe arpoarem o coração.
Compelidos pelas circunstâncias à penetração dos assuntos em exame, assinalávamos as telas mentais da moça, a se lhe derramarem do íntimo, irradiando-lhe a história.
Fizera-se querida pelo maduro genro de Neves, sem dedicarlhe outros sentimentos que não fossem reconhecimento e admiração...
Todavia, agora que os acontecimentos lhe impeliam a alma na direção de laços mais profundos, tremia pelas indébitas concessões
que lhe havia feito. Remoia-lhe no espírito as recônditas reminiscências de sua aventura afetiva, recapitulando todos os sucessos pelos quais havia atraído o protetor experiente aos seus métodos sutis de sedução, para concluir, assustada, que amava até à loucura aquele rapaz franzino, que se lhe destacava do pensamento, através de cativantes apelos da memória.
Dentro dela, embatia-se guerra terrível de emoções e sensações.
Nemésio consolava-a, formulando frases de paternal solicitude.
E, ao responder-lhe às reiteradas perguntas, quanto ao choro intempestivo, a jovem adotou largo processo de perfeita dissimulação, invocando problemas domésticos para articular evasivas com que encobria a realidade.
Tentando esquivar-se de si mesma, reportou-se a supostas agruras do lar. Salientou exigências maternas, falou em dificuldades financeiras, alegou fantásticas humilhações que colhia no trato da irmã adotiva, mencionou incompreensões do genitor, em rixas constantes nos círculos da família...
O interlocutor reconfortou-a. Que não se amofinasse. Não estaria a sós. Partilhar-lhe-ia todos os impedimentos e dissabores, (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 33) fossem quais fossem. Tivesse paciência. O desenlace de Beatriz,indicado para breves dias, ser-lhes-ia o marco fundamental da
ventura definitiva.
Exprimia-se Nemésio em tom de súplica. E talvez percebendo que apenas à força de palavras não conseguiria subtraí-la aos soluços, arrancou de pasta próxima um livro de cheques, colocando-lhe expressivo concurso amoedado nas mãos que o lençomolhado umedecera.
A moça pareceu mais comovida, exibindo no rosto a apreensão de quem se recriminava sem qualquer justificativa de consciência, ao passo que ele a enlaçava, afetuoso. No silêncio que sobreveio, voltei-me para Neves, mas não consegui pronunciarpalavra.
Não obstante desencarnado, o amigo se me afigurava agora um homem positivamente vulgar da Terra, que a revolta azedava.
Sobrecenho crispado alterava-lhe a feição no desequilíbrio vibratório que precede as grandes crises de violência.
Receava se lhe transfigurasse a calamidade emotiva em agressão,mas sucedeu o imprevisto.
A súbitas, venerando amigo espiritual penetrou a câmara.
Arrebatadora expressão de simpatia marcava-lhe a presença.
Radioso halo circundava-lhe a cabeça; no entanto, não era a luz suave a se lhe extravasar docemente da aura de sabedoria que me impressionava e sim a substância invisível de amor que lhe emanava da individualidade sublime.
Fitei-lhe os olhos, de relance, com a idéia enternecedora de quem revia um companheiro, longamente esperado por aflitivas saudades acumuladas no coração.
Fluidos calmantes banhavam-me todo, qual se fosse visitado no âmago do ser por inexplicáveis radiações de envolvente

CONTINUA AMANHÃ

O PROBLEMAS DAS DROGAS NO ESPÍRITO - PARTE 02

sexta-feira, 8 de julho de 2011

MOMENTO DE REFLEXÃO

PALAVRAS

Quantas vezes, ao longo da vida, observamos as bênçãos e os estragos causados por uma palavra.

Palavras o vento leva - diz o provérbio popular.

Mas nem sempre é assim. Há palavras que dificilmente conseguimos esquecer.

Muitas vezes, as palavras transmitem a gratidão de que está plena nossa alma. Então, elas tomam a forma de doces expressões.

Em outras ocasiões, elas servem para demonstrar o desgosto que nutrimos. Tornam-se amargas como o fel.

Há momentos em que as palavras são encorajadoras, leves, repletas de luz. São a manifestação da amizade e do amor.

Em outros momentos, elas são como ácido: agridem os que as ouvem.

São tristes e dolorosas. Nesse instante, são as condutoras do desencanto e da infelicidade.

Sobre a natureza das palavras há uma reflexão a fazer: elas são a expressão daquilo que carregamos na alma.

Foi o próprio Jesus quem advertiu: Os lábios falam daquilo que está cheio o coração. Que grande verdade!

As palavras apenas traduzem o que ocorre dentro de nós.

Se acalentamos mágoa, desejo de vingança, revolta, ódio e dor, nossos lábios se abrirão para deixar sair uma torrente de palavras rudes.

E quem nos ouvir entenderá que trazemos o coração obscurecido por sentimentos doentios.

Haverá, inclusive, quem passe a nos evitar, a fim de não ter contato com essa descarga de mau humor ou de depressão.

Por outro lado, se nos expressamos mediante palavras de engrandecimento, bem-estar, alegria e paz, nossa boca se tornará instrumento da esperança e da fraternidade.

E quem nos ouvir deduzirá que trazemos a alma clara, iluminada por sentimentos saudáveis.

Haverá até quem nos procure, para ter contato com a torrente de otimismo e serenidade que deixamos escapar dos lábios.

É bem verdade que passamos a maior parte do tempo alternando entre momentos risonhos e os de raiva ou tristeza.

Por isso, o nosso desafio diário é tornar cada vez mais freqüentes os estados de ânimo felizes.

Nossa tarefa é nos educar para que nossos lábios sejam instrumentos do bem que habita em nós.

É essencial moderar a língua, medir as palavras, pensar antes de falar.

Melhor ainda: é imprescindível educar os sentimentos, disciplinar a mente, ser firme no combate ao desejo por reclamações, fofocas e comentários ferinos.

Somos Espíritos imortais, responsáveis pelo impacto de nossas palavras, pensamentos e atitudes.

Responderemos a Deus e à nossa consciência, por todas as palavras ferinas que dirigirmos aos outros.

Sim, pois as palavras têm força e podem causar tremendos impactos sobre a vida alheia. Que este impacto seja, então, positivo.

Que cada uma de nossas palavras seja de estímulo, amizade, fraternidade, pacificação.

Mesmo quando discordarmos, sejamos moderados, prudentes e bondosos.

Não esqueçamos: sempre há um sabor para pôr nas palavras: a doçura do mel ou o amargor do fel.

A escolha é inteiramente de cada um.

PENSAMENTO DO DIA

Aquele que é simples não tenta esconder o que é feio ou desperdício, porque em sua pureza esses traços inexistem. Há realeza nas maneiras e graciosidade no comportamento, mas isto não rouba sua originalidade nem o compele à artificialidade

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Se um dia quiser chorar... Me chame. Não prometo que te farei sorrir... Mas eu posso chorar com você. Se um dia você quiser fugir não hesite em me chamar... Não prometo que irei pedir pra você parar... Mas eu posso fugir com você. Se um dia você não quiser dar ouvidos a ninguém, me chame... Eu prometo ficar bem quietinho. Mas se um dia você chamar e não receber resposta... Venha depressa... Talvez eu precise de você

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHCICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 04

CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO 3

Na peça isolada, o amigo cravou os olhos lúcidos nos meus e obtemperou:
– Após a desencarnação, achamo-nos na segunda fase da própria existência e ninguém, na Terra, imagina as novas condições que nos tomam de assalto... De começo, renovamos a vida...
Equipes salvadoras, apoio na prece, estudo das vibrações, escola da caridade. Ensaiamos, felizes, o culto dos grandes sentimentos humanos... Depois, quando trazidos, de retorno, ao trabalho mais íntimo, na arena doméstica, que supúnhamos varrida para sempre da memória, como na situação especial de meu caso, a didática é outra... É preciso espremer o sangue do coração para confirmar o que ensinamos com a cabeça... Avalie que me encontro nesta casa, em serviço, apenas há vinte dias e já recebi tantas punhaladas
na alma, que, não fossem as necessidades de minha filha, teria fugido, incontinenti... Sem minhas observações pessoais, não teria admitido tanta leviandade em meu genro... Bilontra, fanfarrão despudorado.
– Sim, sim... – tentei cortar as doloridas alegações.
Comentei, breve, a excelência do olvido de todo mal, argumentei quanto ao merecimento do auxílio silencioso, através da oração.
Neves sorriu, meio desconsolado, e ajuntou:
– Compreendo que você se reporta à vantagem do pensamento positivo na fixação do bem e creia que, de minha parte, farei quanto puder para não esquecê-lo. Agora, porém, tolere, por favor, as minhas considerações talvez descabidas. .. A Medicina é ciência luminosa, recheada de raciocínios puros; no entanto, muitas vezes é obrigada a descer da alta cultura para dissecar os
cadáveres...
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 23
Endereçou-me o olhar de alguém que anseia derramar-se noutro alguém e continuou:
– Saiba você que na quinta noite de minha permanência aqui, notando Beatriz em aguda crise de sofrimento, diligenciei buscar meu genro para assisti-la em pessoa... E sabe onde o encontrei?
Nada de escritório, segundo a falsa informação que deixara em casa. Indignado, fui surpreendê-lo numa furna penumbrosa, em plena madrugada, junto da menina que você acaba de conhecer.
Os dois unidos, qual marido e mulher. Champanha correndo e
música lasciva. Entidades perturbadoras e perturbadas, jungidas ao corpo dos bailarinos, enquanto outras iam e vinham, a se inclinarem
sobre taças, cujo conteúdo lábios entediados não haviam conseguido sorver totalmente. Em recanto multicolorido, onde algumas jovens exibiam formas semi-nuas em coleios esquisitos, vampiros articulavam trejeitos, completando, em sentido menos digno, os quadros que o mau-gosto humano pretendia apresentar, em nome da arte. Tudo rasteiro, impróprio, inconveniente... Fisguei
meu genro e a colaboradora, nos braços um do outro, recordei minha filha doente e revoltei-me. Súbito desespero apossou-se de mim. Oscilou minha razão escurecida, pois cheguei a justificar,
de relance, a deplorável atitude dos companheiros desencarnados que se transformam em vingadores intransigentes. O “homem velho” que eu fora e o “homem renovado” que aspiro a ser digladiavam
em minhas fibras recônditas...
Estacou numa pausa, rearticulando os pensamentos, e continuou:
– Tinha visto, apavorado, em outro tempo, aqueles que se animalizavam, depois da morte, nos lares que lhes haviam sido reduto à felicidade, a se precipitarem, violentos, sobre os entes amados que lhes desertavam da afeição... Funcionara, entusiasmado, em diversas comissões socorristas, procurando esclarecêlos e modificá-los para o bem, a fazer-lhes sentir que as lutas morais, depois da desencarnação, se erigiriam igualmente em penosa herança para todos aqueles com os quais se desarmonizavam;
advertia-os de que o túmulo esperava também quantos, na Terra, lhes sonegavam lealdade e ternura... E, bastas vezes, lograva acalmá-los para a retirada benéfica. Mas ali.. Imprudentemente
agastado contra a insensibilidade do homem que me desposara a filha querida, vi-me chamado a praticar os bons conselhos que havia administrado...
O amigo fez ligeiro intervalo, enxugou as lágrimas que lhe corriam no rosto, ao evocar a própria inconformação, e completou a frase, aditando:
– Mas não pude. Tomado de cólera incoercível, avancei, qual fera desacorrentada, e, irrefletidamente, esmurrei-lhe a face. Ele deixou-se cair nos ombros da companheira, acusando agoniada indisposição, como se estivesse sob o impacto de súbita lipotimia...
Dispunha-me, em seguida, a torcer-lhe o corpo, em meus braços rijos; entretanto, não consegui. Uma senhora desencarnada, de semblante nobre e calmo, aproximou, desarmando-me o íntimo.
Não entremostrava sinais exteriores de elevação. Patenteavase, aliás, tão profundamente humana, quanto nós mesmos. Diferenciava-se apenas através de minúsculo distintivo luminoso, que lhe brilhava palidamente no peito, qual jóia rara a emitir discreta radiação. Afagou-me, de leve, a cabeça e induziu-me à serenidade.
Envergonhado, fitei-a, constrangido. A dama inesperada não me censurou, nem fez qualquer alusão ao meu gesto infeliz. Ao revés, falou-me com bondade, quanto à filha doente. Demonstrava
conhecer Beatriz, tanto quanto eu próprio. E acabou convidandome a sair do recinto, para acompanhá-la até ao quarto da enferma.
Atendi sem relutância. E porque a gentil interventora, no trajeto, somente se reportasse aos méritos da compreensão e da tolerância, sem qualquer referência aos desvarios da casa que vínhamos de deixar, procurei reprimir-me, para cogitar, exclusivamente, de (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 25) socorro à filha em dificuldade. A mensageira anônima recolocoume no lar, despedindo-se, delicada; e depois disso não mais a vi, pelo que, ainda agora, me lembro dela, positivamente intrigado...
Ensaiava alguma observação reconfortante, rememorando minhas experiências, quando Neves, interpretando-me os pensamentos, obtemperou depois de longa pausa:
– Você, André, nunca se viu defrontado por acontecimentos assim desagradáveis?
Recordei, emocionadamente, as primeiras impressões que me haviam transtornado a sensibilidade, após a desencarnação. Reconstituí na memória todas as telas em que me surpreendera desanimado, excitado, dilacerado, vencido...
As transformações domésticas, os empeços familiares, os impositivos da luta humana e as sugestões da natureza física que me haviam alterado a esposa e os filhos, na Terra, quando se reconheceram sem a minha presença direta, retornaram-me ao coração.
Senti-me mais estreitamente ligado ao meu interlocutor, assimilando-lhe o torturado influxo mental, e comentei:
– Sim, meu amigo, atravessada a grande barreira, os meus problemas, a princípio, foram enormes...
Entretanto, não foi possível desabafar-me. Cavalheiro maduro e simpático penetrou o recinto, compreensivelmente sem perceber-nos.
Neves, contrafeito, indicou-o, explicando-me:
– É Nemésio, meu genro...
O recém-chegado mirou-se, atenciosamente, em espelho próximo, repassou lenço alvo sobre a testa suarenta e, quando reajustava a gravata bem-posta, escutou prolongado suspiro. Lançou-se,incontinenti, para a câmara contígua e seguimo-lo. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 26).
Marina veio recebê-lo com amável sorriso, conduzindo-o à cabeceira da senhora, que passou a fitá-lo entre confortada e abatida.
Dona Beatriz estendeu a mão descarnada que o marido beijou.
Trocando com ela enternecido olhar, acomodou-se Nemésio rente aos travesseiros, a endereçar-lhe perguntas carinhosas, ao mesmo tempo que lhe alisava a descuidada cabeleira.
A doente pronunciou algumas palavras breves, diligenciando agradá-lo, e ajuntou:
– Nemésio, você me perdoará se volto ao caso de Olímpia...
A pobre criatura perdeu a casa quase que totalmente... É necessário que você lhe garanta abrigo seguro... Penso nela com os filhos ao desamparo. Tire-me dessa aflição...
O interpelado mostrou profunda emotividade e respondeu, cortês:
– Beatriz, não há dúvida alguma. Já enviei um amigo, construtor experiente, ao local. Não se preocupe, tudo faremos sem qualquer sacrifício. Questão de tempo...
– Receio partir de uma hora para outra...
– Partir para onde?
Nemésio acariciou-lhe a fronte descolorida, sacou um sorrisoamargo e prosseguiu:
– Enquanto você estiver em tratamento, nossas viagens estão sustadas. Não é hora de São Lourenço...
– Minha estação curativa será outra.
– Não me fale em pessimismo... Ora, ora... Onde a primavera de nossa casa? Você anda esquecida de que nos ensinou a colocar alegria em tudo? Largue os ares sombrios... Ainda ontem, ouvi nosso médico. Você entrará em convalescença, já, já... Amanhã tomarei providências definitivas para que o barraco seja levantado. (Francisco
Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 27) Você estará restabelecida em breve e ambos iremos ao primeiro café em casa de nossa Olímpia...
Dona Beatriz, ante o carinho dele, pareceu reanimar-se. Entreabriu-se-lhe a boca num largo sorriso, que se me afigurou umaflor de esperança num cacto de sofrimento.
Aqueles olhos imensamente lúcidos derramaram duas lágrimasde felicidade que o esposo enxugou com gracioso gesto. Naface amarelada, lampejaram raios de confiança.
Experimentando-se mentalmente renovada, a enferma acreditou no reerguimento do corpo físico e ansiou viver, viver por muito tempo ainda no aconchego familiar. Manifestando o próprio reconforto, solicitou de Marina uma chávena de leite.
A enfermeira atendeu, comovida. E, enquanto a doente sorvia o líqüido, gole a gole, refleti na bondade daquele homem que a palavra do companheiro me apresentara noutras cores.
O pensamento de Nemésio revelara-se-nos, até ali, claro e puro.
Trazia Dona Beatriz no cérebro, nos olhos, nos ouvidos, no coração. Dispensava-lhe a compreensão de um amigo, a ternura de um pai.
Neves endereçava-me estranho olhar, qual se estivesse, tanto quanto eu, defrontado por indizível assombro.
Alguns momentos escoaram-se, rápidos.
Quando a enferma devolveu a xícara, outro quadro se nos desdobrou à visão.
Nemésio levantara-se rente ao leito e, por trás da cabeceira alteada, estendeu a Marina, que se mantinha do lado oposto, a mão grossa e hirsuta a que ela entregou a destra alva e leve.
O marido passou, então, a falar brandas palavras para a esposa satisfeita, afagando, simultaneamente, os róseos dedos da jovem que, pouco a pouco, se desinibia, através do olhar brejeiro.
(Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 28).
Contemplei Nemésio, admirado. Alteravam-se-lhe agora os pensamentos, que me pareceram, então, incompatíveis com a sensação de respeitabilidade que ele nos inspirava.
Voltei-me, instintivamente, para Neves e ele, indicando-me as duas mãos que se acariciavam, uma à outra, exclamou para mim:
– Este homem é um enigma.

CONTINUA AMANHÃ

O PROBLEMA DAS DROGAS NO ESPÍRITO - PARTE 1

quinta-feira, 7 de julho de 2011

MOMENTO DE REFLEXÃO

COMPAIXÃO

Hamilton é um homem simples. Trabalha como operador de escavadeira, na cidade de Salvador, Bahia.

Naquela manhã ele recebeu uma missão difícil de realizar: deveria destruir as duas casas singelas onde Telma morava com o marido, sete filhos e mais cinco parentes.

O terreno em que Telma construíra suas casinhas, fora doado a sua mãe por um antigo patrão, mas o patrão teria vendido essa propriedade a um engenheiro.

O suposto comprador entrou na justiça com o pedido de reintegração de posse e o processo foi julgado a seu favor.

A família de Telma deveria ser despejada.

E lá foi Hamilton...

Tomou o volante da máquina e apontou para as casas, mas não conseguiu avançar.

A cena era comovente...

Sentada na calçada, com alguns dos filhos, estava Telma.

Com seu salário de merendeira certamente não teria condições de alugar uma casa para abrigar sua família numerosa.

Com a cabeça apoiada nas mãos, Telma chorava discretamente.

Hamilton, pai de nove crianças, não resistiu e também chorou.

Desligou a máquina. Desobedecendo a ordem de um dos policiais que estava lá para garantir o despejo ele se recusou a executar o serviço.

"Endureça seu coração e cumpra a ordem", falou o policial.

O operário não se moveu. Pela desobediência recebeu ordem de prisão.

Como era hipertenso, Hamilton passou mal e teve de ser levado ao hospital.

A história entrou nos noticiários da noite.

Hamilton teve a prisão revogada e virou herói nacional.

Duas semanas depois, a prefeitura de salvador anunciava que regularizaria o terreno de Telma, para que ela pudesse morar sem temer outra ação de despejo.

A compaixão é um sentimento nobre que brota nos corações daqueles que se deixam sensibilizar pelo sofrimento dos outros.

Sem se importar somente com a parentela corporal, quem tem compaixão se coloca no lugar daqueles que sofrem, mesmo que jamais os tenha visto.

É um sentimento que, segundo Jesus, deveria animar o coração do cristão verdadeiro.

Colocar-se no lugar dos semelhantes, fazer o que gostaria que lhe fosse feito: eis um princípio de fraternidade e solidariedade verdadeiras.

Como Hamilton, o operário que virou herói nacional, existem muitos anônimos que lutam pelos direitos dos outros com disposição e coragem.

E a compaixão é muito comum onde a pobreza é mais acentuada.

Quem sofre ou já sofreu, geralmente se compadece quando percebe alguém sofrendo.

Essa empatia, no entanto, não se constitui regra, pois existem pessoas que são indiferentes ao sofrimento alheio, ainda que conheçam de perto o que é sofrer.

Jesus, O Mestre, ergueu bem alto, essa bandeira, recomendando que façamos ao próximo o que gostaríamos que o próximo nos fizesse.

E quem não gostaria de receber do próximo só sentimentos de compaixão e indulgência?

Bem, a receita está aí. E a humanidade já a conhece há, pelo menos, dois milênios.

É simples e não precisa ter dinheiro nem poder para exercê-la. Basta ter um coração piedoso, como o de Hamilton.

***

A piedade fraternal, que é o amor em começo, filha dileta da caridade excelsa, logo descobre como co-participar de todo esse triste festival de angústias no cenário desolador das dores humanas.

PENSAMENTO DO DIA

As mais lindas coisas da vida, não podem ser vistas nem tocadas, mas sim, sentidas pelo coração.

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA

Se as coisas foram feitas para usarmos e as pessoas para amarmos, então por que se usam as pessoas e amam-se as coisas?

Autor: Desconhecido

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ

CONTINUAÇÃO

Capítulo 2
Repousava Dona Beatriz no leito bem-posto, patenteando enorme
cansaço.
A doença, decerto, consumia-lhe a forma física, desde muito, porquanto aos quarenta e sete anos de idade mostrava o rosto
singularmente engelhado e o corpo leve.
Refletia, ensimesmada, tristonha... Fácil de se lhe ver a preocupação, ante a crise iminente. Idéias a lhe fluírem, vivas e nobres, indicavam que se habituara à certeza da desencarnação
próxima. Notava-se-lhe fixada no pensamento a convicção do
viajante que atingira o término de espinhosa trilha, da qual, por
fim, lhe competia sair.
Conquanto tranqüila, inquietava-se pelos vínculos que a prendiam no mundo. Apesar disso, visualizava as portas do Além, plasmando formosos quadros íntimos, como quem sonha à luz da vigília, e recordava Neves, o pai que perdera na infância, qual se visse prestes a recuperá-lo, em definitivo, tal a extensão do amor que os acolchetava um ao outro.
Observávamos, porém, sem dificuldade, que a alma afetuosa da enferma se dividia mais fortemente, na Terra, entre o esposo e o filho, dos quais se reconhecia em gradativo processo de inevitável
separação.
No aposento acolhedor, que alguns adereços ataviavam, tudo transparecia limpeza, reconforto, assistência, carinho.
Ante o leito, encontramos sisudo enfermeiro desencarnado que Neves abraçou, demonstrando guardá-lo à conta de imensa estima.
E apresentou-nos:
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 17
– Amaro, temos aqui André Luiz, amigo e médico que, doravante,
nos partilhará os serviços.
Saudamo-nos cordialmente.
Neves inquiriu, atencioso:
– O irmão Félix veio hoje?
– Sim, como sempre.
Informei-me, então, de que o irmão Félix, desde muitos anos, era o superintendente de importante casa socorrista, ligada ao Ministério da Regeneração, em Nosso Lar2. Famoso pela bondade
e paciência, era conhecido como sendo um apóstolo da abnegação
e do bom-senso.
Não dispúnhamos, entretanto, de qualquer tempo para considerações pessoais.
Dona Beatriz experimentava dores agudas e o companheiro mostrou o propósito de aliviá-la, através do passe confortativo, enquanto a senhora se via aparentemente a sós. Em grande prostração física, revelava profunda sensibilidade mediúnica.
Oh! os sublimes pensamentos do leito de dor!... De olhos cerrados, a doente, embora não assinalasse a presença paterna, lembrava a ternura do genitor, que lhe parecia distante e inacessível no tempo. Identificava-se, de novo, com a ingenuidade infantil...
Na acústica da memória, ouvia as canções do lar, voltava, encantada, às horas da meninice... Reconstituindo na imaginação as relíquias do berço, sentia-se no regaço paternal, à maneira da ave de regresso à penugem do ninho!
Dona Beatriz chorava. Lágrimas de enternecimento inexprimível
perolavam-lhe a face. E sem que a boca enunciasse o menor 2 Organizações no Plano dos Espíritos. (Nota do Autor Espiritual) Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 18 movimento, clamava intimamente com toda a alma: “pai, meu pai!...”
Meditai, vós que, no mundo, admitis para os desencarnados a indiferença da cinza! Para lá dos túmulos, amor e saudade muitas vezes se transformam, no vaso do coração, em pranto comburente!
Neves cambaleou, agoniado... Enlacei-o, contudo, a pedir-lhe coragem. A ventania da angústia, porém, sobre o ânimo do companheiro atribulado, perdurou apenas alguns momentos. Refeito, a recompor o semblante que o sofrimento transfigurara, espalmou a destra na fronte da filha e orou, suplicando o amparo da Bondade Divina.
Chispas de luz, quais minúsculas flamas azulíneas, evolavamlhe do tórax, a se projetarem naquele corpo fatigado, revestindo-o de energias calmantes.
Emocionado, observei que Dona Beatriz se acomodava a suave torpor. E antes que pudesse enunciar qualquer impressão, uma jovem, figurando-se nas vinte primaveras da experiência física, entrou cautelosamente no quarto. Renteou conosco, sem percebernos, de leve, e tomou o pulso da enferma, verificando-lhe as condições.
A recém-chegada esboçou o gesto de quem reconhecia tudo em ordem. Encaminhou-se, logo após, na direção de pequenino armário próximo e, munindo-se dos recursos necessários, voltou à cabeceira da dona da casa, aplicando-lhe injeção anestesiante.
Dona Beatriz não mostrou a mínima reação, continuando a
descansar, sem dormir.
O concurso magnético de minutos antes insensibilizara-lhe os centros nervosos.
Perfeitamente tranqüila, a moça, na qual observávamos a posição da enfermeira improvisada, retirou-se para um dos ângulos
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 19 do aposento, a largar-se em acolhedora poltrona de vime. Em seguida, descerrou um dos segmentos da janela quadripartida, atraindo a corrente de ar fresco que nos bafejou sem alarde.
Respirando à saciedade, a jovem, com grande surpresa para mim, acendeu um cigarro e passou a fumar distraidamente, dando a idéia de quem diligenciava fugir de si mesma.
Neves fitou-a, deitando-lhe significativo olhar em que se mesclavam piedade e revolta e, indicando-a, discreto, informoume:
– Trata-se de Marina, contadora de meu genro, que se dedica ao comércio de imóveis... Agora, a pedido dele, desempenha funções de assistente...
Evidente sarcasmo transparecia-lhe da palavra reticenciosa.
– Imagine! – voltou a dizer – fumar aqui. numa câmara de dor, onde a morte está sendo esperada!...
Contemplei Marina, cujos olhos denotavam recôndita inquietude.
Manifestando ainda alguns laivos de respeitosa estima para com a nobre senhora estirada no leito, soprava, para além da janela, as baforadas cinzentas que lhe escapavam da boca.
Repartindo a própria atenção entre ela e Amaro, o nosso amigo da esfera espiritual, Neves, conquanto mudo e constrangido, parecia querer falar à vontade e desinibir-se.
Tentei, porém, adquirir mais amplo conhecimento da posição.
Aproximei-me reverentemente da jovem, no propósito de sondá-la em silêncio e colher-lhe as vibrações mais intimas; contudo, recuei assustado.
Estranhas formas-pensamentos, retratando-lhe os hábitos e anseios, em contradição com os nossos propósitos de socorrer a Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 20 doente, fizeram-me para logo sentir que Marina se achava ali, acontragosto. A sua mente vagueava longe...
Quadros vivos de esfuziante agitação ressumavam-lhe na cabeça...
De olhar parado, escutava, adentro de si própria, a música brejeira da noite festiva, que atravessara na véspera, e experimentava ainda na garganta a impressão do gim que sorvera, abundante.
Apesar de surgir-nos, superficialmente, à guisa de menina crescida, sob o turbilhão de névoa fumarenta, exibia telas mentais complexas, a lhe relampaguearem na aura imprecisa.
Trazido pelas circunstâncias a colaborar na solução de um processo assistencial, sem qualquer intuito menos digno, passei a estudar-lhe o comportamento isolado. A Medicina terrestre, no futuro, para atender com eficácia, ao doente, examinar-lhe-á, com minúcias, a feição espiritual de todas as peças humanas que lhe articulam a equipe.
Respeitoso, iniciei os apontamentos de ampla anamnese psicológica.
Marina apresentou, a princípio, a figura de um homem amadurecido, cunhada por sua própria imaginação, a repetir-se-lhe, muitas vezes, acima da fronte.
Ela e ele, juntos... Percebia-se-lhes, de pronto, a intimidade, adivinhava-se-lhes o romance... Fisicamente, semelhavam pai e filha; entretanto, pelas atitudes sentimentais, não conseguiam disfarçar a estuante paixão um pelo outro. Nos painéis sutis que surgiam e se desfaziam, alternadamente, mostravam-se ambos extasiados, ébrios de prazer, fosse aboletados no automóvel de luxo ou enlaçados na areia morna das praias, conchegados sob a proteção de arvoredo tranqüilo ou sorridentes em tumultuados abrigos de encantamento noturno... Deslumbrantes paisagens de Copacabana ao Leblon desfilavam por admirável fundo pictórico.
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 21
A moça entrefechava as pálpebras para senhorear, com mais segurança, as reminiscências que lhe empolgavam os sentidos, para, logo após, mentalizar, surpreendentemente, outro homem, tão jovem quanto ela mesma, evidenciando-se-nos entregue às cenas de um filme interior, diferente... Formava novo tipo de palco para exibir a lembrança das próprias aventuras, no qual se destacava igualmente ao pé do rapaz, como se estivesse afeiçoada aos mesmos sítios, desfrutando companhias diversas... Ela e ele também juntos, no mesmo carro entrevisto ou na condição de pedestres felizes, saboreando refrescos ou repousando em animados
entendimentos nos jardins públicos, sugerindo o encontro de
crianças enamoradas, a entretecerem aspirações e sonhos..
Naqueles rápidos minutos de fixação espiritual, em que se exteriorizava tal qual era, Marina revelava a personalidade dúplice da mulher dividida entre o carinho de dois homens, jugulada por pensamentos de medo e inquietude, ansiedade e arrependimento.
Neves, que de algum modo me partilhava a inspeção, quebrou a calma reinante, enunciando, abatido:
– Está vendo? Julga que é fácil para mim, pai da doente, suportar
aqui semelhante criatura?
Tratei de consolá-lo e, por solicitação dele próprio, passamos a pequeno salão de leitura, contíguo ao aposento da enferma, a fim de que pudéssemos refletir e conversar

CONTINUA AMANHÃ

MENSAGEM ESPIRITA - 1ª PARTE

quarta-feira, 6 de julho de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Seja você mesmo sua própria luz, iluminando a todos com suas palavras de conforto e incentivo, com seu sorriso de entusiasmo e de encorajamento, com seu exemplo de fé e otimismo

Autor: Desconhecido

MENSAGEM DIÁRIA


A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios... Por isso, cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento de sua vida, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos..

Autor: Charles Chaplin

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ


CONTINUAÇÃO

Essas ponderações afogueavam-me o pensamento, reparando a tristeza e o cansaço do meu amigo Pedro Neves, devotado servidor do Ministério do Auxílio.1
Partilhando expedições arrojadas e valorosas em atividade benemérita, ainda não lhe víramos hesitações quaisquer. Veterano de empreendimentos socorristas, jamais entremostrara desânimo ou fraqueza, por mais opressivo se lhe evidenciasse o peso de compromissos e obrigações.
Advogado que fora, na existência última, caracterizava-se por extrema lucidez, no exame dos problemas que as eventualidades do caminho apresentassem.
Sempre denodado e humilde; agora, porém, enunciava sensíveis alterações de comportamento.
Soubera-o com breves encargos, na esfera física, para atender,
de modo mais direto, a necessidades de ordem familiar, cuja extensão e natureza não me houvera sido possível perceber.
Desde então, mostrava-se arredio e desencantado, copiando o feitio de companheiros recém-chegados da Terra. Isolava-se em funda reflexão. Fugia à conversação fraterna. Queixava-se disso
ou daquilo. E vez por outra, em serviço, denotava lágrimas que não chegavam a cair.
Ninguém ousava sondar-lhe o sofrimento, tal a fibra moral em que se lhe exprimiam as atitudes.
Provocando, porém, algumas horas de desafogo, num banco de jardim, busquei habilmente lançá-lo à extroversão, alegando dificuldades que me preocupavam. Referi-me aos descendentes que deixara no mundo e às inquietações que me causavam.
1 Organização de “Nosso Lar”. (Nota do Autor espiritual)
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 12
Pressentia-lhe na tristeza a presença de lutas domésticas a lhe torturarem a alma, quais ulcerações em recidiva, e não me enganei.
O amigo absorveu a isca afetiva e desenovelou os sentimentos.
A principio, falou vagamente das apreensões que lhe assomavam ao espírito agoniado. Aspirava a esquecer, alhear-se; no entanto... a retaguarda familiar no mundo lhe infligia dolorosas reminiscências difíceis de extirpar.
– É a esposa quem o aflige, assim tanto? – aventurei, procurando localizar o carnicão da mágoa que lhe abria as comportas do pranto silencioso.
Pedro fitou-me com a postura dolorida de um cão batido e respondeu:
– Há momentos, André, nos quais será preciso biografar-nos, ainda que superficialmente, para vascolejar o pretérito e extrair
dele a verdade, somente a verdade...
Meditou, algo sufocado por instantes, e prosseguiu:
– Não sou homem que me deixe governar por sentimentalismos, embora aprecie as emoções pelo justo valor. Além disso, a experiência, desde muito, me ensinou a raciocinar. Há quarenta anos moro aqui e, há quase quarenta anos, a esposa compeliu-me a absoluto desinteresse do coração. Deixei-a quando a mocidade das energias físicas lhe estuava no sangue e Enedina, compreensivelmente, não pôde sustentar-se a distância das exigências femininas.
E prosseguiu esclarecendo que ela se associara a outro homem, num segundo casamento, entregando-lhe seus três filhos por enteados. Esse novo marido, entretanto, arredou-a completamente de sua convivência espiritual. Homem ambicioso, senhoreou os cabedais que ele ajuntara, logrando multiplicá-los imensamente, à
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 13 força de astúcia em arrojadas empresas comerciais. E agiu com tanta leviandade que a esposa, dantes simples, se apaixonou pelas comodidades demasiadas, gastando o tempo terrestre em prodigalidades e tafulices, até que se rojou às derradeiras viciações nos desvarios do sexo. Observando o esposo em aventuras galantes, de modo permanente, na posição de cavalheiro rico e desocupado, quis desforrar-se, estabelecendo para si mesma desordenado culto ao prazer, mal sabendo que apenas se transviava, em lamentáveis desequilíbrios.
– E meus dois filhos, Jorge e Ernesto, ludibriados pelo fascínio do ouro com que o padrasto lhes comprava a subserviência, enlouqueceram no mesmo delírio do dinheiro fácil e se animalizaram
a tal ponto que nem de leve guardam qualquer traço de minha memória, não obstante serem atualmente negociantes abastados, em idade madura...
– A esposa, no entanto, ainda se encontra no mundo físico? – arrisquei, cortando a pausa longa, para que a explicação não esmorecesse.
– Minha pobre Enedina voltou, há dez anos, abandonando o corpo pela imposição da icterícia, que lhe apareceu por verdugo invisível, evocado pelas bebidas alcoólicas. Fitando-a, edemaciada, vencida, ensaiei alarmado todos os processos de socorro à minha disposição... Atemorizava-me a perspectiva de vê-la escravizada às forças aviltantes a que se jungira sem perceber; ansiava
retê-la no corpo de carne, como quem resguarda uma criança inconsciente em disfarçado refúgio. Entretanto, ai de mim! Colhida por entidades infelizes, às quais se consorciou levianamente, em vão procurei estender-lhe algum consolo, porquanto ela mesma, depois de desencarnada, se compraz na viciação, tentando a fuga impossível de si própria. Não há outro recurso senão esperar,
esperar...
– E os filhos?
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 14
– Jorge e Ernesto, hipnotizados pela riqueza material, para mim fizeram-se inabordáveis. Mentalmente, não me registram a lembrança. Intentando captar-lhes cooperação e simpatia, o padrasto chegou a insinuar que não seriam meus filhos e sim dele próprio, através de união com minha esposa. ao tempo de minha
experiência terrestre, o que Enedina, infelizmente, não desmentiu...
O companheiro esboçou um sorriso amarelo e considerou:
– Imagine! Na carne, o medo é comum, à frente dos desencarnados e, em meu caso, fui eu quem se afastou do ambiente doméstico, sob sensações de insopitável horror... Ainda assim, a bondade de Deus não me arrojou à solidão, em se tratando da
ternura familiar. Tenho uma filha de quem jamais me separei pelos laços do espírito... Beatriz, que deixei na flor da meninice, suportou pacientemente as afrontas e conservou-se fiel ao meu nome. Somos, assim, duas almas, na mesma faixa de entendimento...
Pedro enxugou os olhos e acrescentou:
– Agora, com quase meio século de existência entre os homens, presa embora ao carinho que consagra ao esposo e ao filho único, prepara-se Beatriz para o regresso... Minha filha vem atravessando os derradeiros dias terrenos, com o corpo torturado pelo câncer...
– Mas, atormenta-se você por isso? A idéia do reencontro pacífico não será, antes, motivo para alegrar-se?
– E os problemas, meu amigo? Os problemas do grupo consangüíneo?
Por muitos anos, estive à margem de todas as tricas do navio familiar... Fizera-me ao oceano largo da vida... Agora, por amor à filha inesquecível, sou compelido a topar, com espírito de caridade, a irreflexão e o descaramento. Estou inapto, desambientado...
Desde que me postei à cabeceira da doente querida, vejo Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 15  na condição do aluno debilitado pela expectativa de erros constantes..
Dispunha-se Neves a prosseguir, mas urgente chamado de serviço nos impeliu à separação e, conquanto diligenciando acalmá- lo, despedi-me, sob o compromisso de irmanar-me a ele, nas tarefas de assistência à enferma, de modo mais intenso, a partir do dia seguinte.

CONTINUA AMANHÃ

ZIBIA GASPARETTO - ELES CONTINUAM ENTRE NÓS

terça-feira, 5 de julho de 2011

PENSAMENTO DO DIA


Não jogue espinhos na estrada, na volta você pode estar de pés descalços
Autor: Desconhecido


MENSAGEM DIÁRIA

Se o seu coração é absoluto e sincero, você naturalmente se sente satisfeito e confiante, não tem nenhuma razão para sentir medo dos outros

Autor: Dalai Lama

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ = PARTE 1

PRECE AO LIMIAR

Pai de Infinita Bondade!
Este é um livro em que permitiste ao nosso André Luis traçar, em lances palpitantes da existência, alguns conceitos da Espiritualidade Superior, em torno de sexo e destino – fotografia verbal de nossas realidades amargas que entremeaste de esperanças eternas.
Entregando-o aos companheiros reencarnados no mundo, queremos recordar Jesus – o Enviado de Tua Ilimitada Misericórdia – naquele dia de sol em Jerusalém...
Na praça repleta de acusadores, escribas e fariseus apresentaram-lhe sofredora mulher que diziam haver apanhado emtransgressão, ao mesmo tempo que o inquiriam, experimentandolhea conduta:
– Mestre, esta mulher foi encontrada em adultério... A lei manda apedrejar. Tu, porém, que dizes?
O Mestre contemplou demoradamente os zeladores de Moisés, e, porque nada mais adiantaria explicar-lhes ao cérebro embotado de preconceitos, disse-lhes, alongando a palavra a todos os moralistas dos séculos porvindouros:
– Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra!...
Jerusalém, agora, é o mundo!
Na praça extensa das convenções humanas, empenha-se o materialismo na dissolução dos valores morais, com escárnio manifesto à dignidade humana, enquanto religiões veneráveis digladiam com a Natureza, tentando, em vão, bloquear a vida, qual se quisessem ilaquear a si próprias. Ao tremendo conflito dessas forças gigantescas que lutam pelo domínio moral da Terra, enviaste a Doutrina Espírita, em nome do Evangelho do CrisFrancisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 6
to, para asserenar os corações e comunicar-lhes que o amor é a
essência do Universo; que as criaturas te nasceram do hálito
divino para se amarem umas às outras; que o sexo é legado sublime
e que o lar é refúgio santificante, esclarecendo, porém, que
o amor e o sexo plasmam responsabilidades naturais na consciência
de cada um e que ninguém lesa alguém nos tesouros afetivos,
sem dolorosas reparações.
Este volume pretende afirmar, ainda, que, se não podes subtrair
os culpados às conseqüências do erro em que se tornaram
incursos, não permites que os vencidos sejam desamparados,
desde que te aceitem a luz retificadora para o caminho. Mostra
que, em tua bênção, os delinqüentes de ontem, hoje redimidos, se
transfiguram em teus mensageiros de redenção para aqueles
mesmos que lhes caíram, outrora, nas ciladas sombrias.
Abençoa, pois, o presente relato estuante de verdade e esperança,
e, ao confiá-lo aos nossos irmãos do mundo, deixa possamos
lembrar-lhes que a existência física, seja na infância ou na
mocidade, na madureza ou na velhice, é sempre dom inefável que
nos cabe honorificar e que, mesmo detendo um corpo carnal
rastejante ou disforme, mutilado ou enfermiço, devemos repetir
diante da tua Sabedoria Incomensurável:
– Obrigado, meu Deus!
EMMANUEL
Uberaba, 4 de julho de 1963.
(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier.)
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 7

SEXO E DESTINO

Sexo e destino, amor e consciência, liberdade e compromisso,
culpa e resgate, lar e reencarnação constituem os temas deste
livro, nascido na forja da realidade cotidiana.
Entretanto, leitor amigo, após a oração do benfeitor, que se
pronunciou no limiar, nada mais nos compete que não seja entregar-
te a narrativa que a Divina Providência nos permitiu alinhavar,
não pelo exclusivo propósito de desnudar a verdade, mas sim
no objetivo de aprender com a biblioteca da experiência.
Cremos seja desnecessário esclarecer que os nomes dos protagonistas
desta história real foram substituídos por óbvias razões
e que a presente biografia de grupo não pertence a outras criaturas
senão a eles mesmos que no-la permitiram redigir, para a nossa
edificação, depois de naturalmente consultados.
Solicitamos, ainda, permissão para dizer-te que não foi retirado
um só til das verdades que a entretecem – verdades da verdade,
que, fremindo de capítulo a capítulo, carreia consigo, em passagens
numerosas, a luz de nossas esperanças e o amargo sabor de
nossas lágrimas.
ANDRÉ LUIZ
Uberaba, 4 de julho de 1963.
(Página recebida pelo médium Waldo Vieira.)
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 8

Primeira Parte

Médium:
Waldo Vieira
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 9

Capítulo 1

Qual acontece entre os homens, no Mundo Espiritual que os
rodeia, sofrimento e expectação esmerilam a alma, disciplinando,
aperfeiçoando, reconstruindo...
Enquanto envergamos a veste física, habitualmente imaginamos
o paraíso das religiões encravado para lá da morte. Sonhamos
o apaziguamento integral dos sentidos, o acesso à alegria inefável
que anestesie toda lembrança convertida em chaga mental. No
entanto, atravessada a fronteira de cinza, eis-nos erguidos à responsabilidade
inevitável, ante o reencontro da própria consciência.
Uma vida humana, a continuar-se naturalmente no Além, assume,
assim, a forma de partida, em dois tempos distintos. Diferem
campos e vestimentas; entretanto, a luta da personalidade, de
um renascimento a outro na Terra, afigura-se laborioso prélio em
duas fases. Anverso e reverso da experiência. O berço inicia, o
túmulo desdobra. Com raríssimas exceções na regra, somente a
reencarnação consegue transfigurar-nos de modo fundamental.
Deixamos no esquife o casulo mirrado e transportamos conosco,
na mesma ficha de identificação pessoal, para outras esferas,
os ingredientes espirituais que cultivamos e atraímos.
Inteligências em evolução na eternidade do espaço e do tempo,
os Espíritos domiciliados na Moradia Terrestre, em abandonando
o invólucro de matéria mais densa, assemelham-se, figuradamente,
aos insetos. Larvas existem que se retiram do ovo e
revelam-se na condição de parasitas, enquanto que outras se transformam,
de imediato, em falenas de prodigiosa beleza, ganhando
altura.
Encontramos criaturas que se afastam do estojo carnal, entrando
em largos processos obsessivos, nos quais se movimentam
Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 10
à custa de forças alheias, ao lado de outras que, de pronto, se
elevam, aprimoradas e belas, a planos superiores da evolução. E
entre as que se agarram profundamente às sensações da natureza
física e as que conquistam a sublime ascensão para estágios edificantes,
no Grande Além, surge a gama infinita das posições em
que se graduam.
Emergindo na Espiritualidade, após a desencarnação, sofremos,
a princípio, o desencanto de todos os que esperavam pelo
céu teológico, fácil de granjear.
A verdade aparece por alavanca renovadora.
Padecendo ainda espessa amnésia, relativamente ao passado
remoto, que descansa nos porões da memória, somos então defrontados
por velhos preconceitos que se nos entrechocam no
íntimo, tombando despedaçados. Suspiramos pela inércia que não
existe. Exigimos resposta afirmativa aos absurdos da fé convencionalista
e dogmática que reclama a integração com Deus para si
só, excluindo, pretensiosamente, da Paternidade Divina, os que
não lhe comunguem a visão acanhada.
De semelhantes conflitos, por vezes terríveis e extenuantes,
nos recessos da mente, muitos de nós saímos abatidos ou revoltados
para extensas incursões no vampirismo ou no desespero; a
maior parte dos desencarnados, porém, a pouco e pouco se acomoda
às circunstâncias, aceitando a continuidade do trabalho na
reeducação própria, com os resultados da existência aparentemente
encerrada no mundo, à espera da reencarnação que possibilite
renovação e recomeço...

CONTINUA AMANHÃ