sábado, 28 de maio de 2011

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - HUMBERTO DE CAMPOS - O ESCÂNDALO - PARTE 8


CONTINUAÇÃO

Um dia, um amigo, Jofre Leles, contou um caso estranho para o vidente de Pedro Leopoldo. Ele tinha encontrado, por acaso, às margens do rio Mucuri, em Teófilo Otoni, restos de uma espada. Desde então, vivia sonhando com lutas sangrentas. Chico pegou o objeto e se limitou a acariciá-lo bem devagar.
Capitão Jofre, esta espada lhe pertence há muito tempo. Por volta de 1840, você, nas vestes de um capitão da milícia mineira, guerreou bravamente na cidade de Filadélfia, hoje Teófilo Otoni, durante sua revolução, a chamada Revolução Liberal. Foi ferido e a espada lá ficou.
Jofre olhou desconfiado. Diante da dúvida e da surpresa do amigo, Chico garantiu:
- No pedaço de lâmina oxidado, estava gravada sua insígnia de capitão de cem anos atrás, a mesma que ele usava agora, na Polícia Militar.
Ao chegar a Belo Horizonte, Jofre fez de tudo para limpar o metal e, com muito custo, encontrou embaixo do encardido, sobre o aço brilhante, duas palavras latinas: honor e fides (honra e fidelidade).
As surpresas eram diárias. Arnaldo Rocha e Ennio ficavam cismados nas vezes em que ajudavam Chico a organizar sua correspondência, uma batelada de cartas todos os dias. Elas vinham de diversos estados do Brasil, principalmente de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. Arnaldo e Ennio abriam os envelopes e classificavam as consultas por assunto. Chico apenas tocava os pacotes e os separava em montes diferentes: pedidos de receitas, requisição de mensagens de mortos queridos, pedidos de conselhos.
Alguns, ele colocava no bolso do paletó. Sem ler.
Quarenta anos depois, uma de suas amigas mais fiéis, Neusa Arantes, ficaria perplexa diante da leitura dinâmica do médium. Ele pegava um livro, folheava três ou quatro páginas e dizia:
- Já li.
Diante da descrença da companheira, Chico contava a história do começo ao fim.
O poder mediúnico do tato seria estudado pelo espírita Ernesto Bozzano e até renderia um livro com título científico: Enigmas da Psicometria.
Os casos sobre Chico Xavier espalhavam-se como lendas.
Em Belo Horizonte, ele quase fez uma de suas admiradoras perder a voz. Após uma palestra na Semana do Livro Espírita, ele se levantou da mesa, aproximou-se dela, uma desconhecida, e a cumprimentou:
- Muito prazer, dona Daise.
A moça, sem graça, corrigiu a pronúncia:
- Dayse (Deise).
Chico desculpou-se:
- É que estou lendo seu nome como ele está escrito.
Detalhe: Dayse não usava crachá de identificação.
Outro dos amigos de Chico, Clóvis Tavares, também levou um susto quando Chico lhe pediu, tímido, em meio a uma caminhada:
- Nosso querido Emmanuel está me dizendo que você tem lido Charles Wagner. Ele lhe pede que me empreste algum livro desse autor. Diz que eu preciso conhecê-lo.
Como ele conhecia aquele detalhe? Os livros estavam em Campos...
As próprias irmãs de Chico, Dália e Lucília, começavam a acreditar nos poderes fantásticos dele. Numa tarde, as duas reclamavam da vida enquanto lavavam roupa e colocavam água no feijão. O irmão mais velho, responsável pela fiscalização da casa na ausência quase permanente de João Cândido, estava na Fazenda Modelo. E elas aproveitaram para desabafar. Estavam cansadas de tanta trabalheira lavar e passar roupa, fazer comida, varrer chão.
- Precisamos de uma empregada.
Chico chegou no fim da tarde irritado e desfiou um discurso machista:
- Em primeiro lugar, não é "empregada " que se diz, O certo é falar  "moça para ajudar em casa " Em segundo lugar, vocês devem se acostumar com o trabalho doméstico. Senão, quando se casarem, vão ser chamadas de preguiçosas pelos maridos.
Outra volta do trabalho de Chico foi bem mais dramática. Quando entrou em casa, encontrou seu cachorro de estimação, Lorde, agonizando na cozinha. Ele se contorcia, revirava os olhos e, com o rabo entre as pernas, gania. Lucília e Dália acompanhavam o sofrimento à distância. Chico se ajoelhou e, sacudido por soluços, descreveu uma cena invisível: um outro cão, vindo do além, lambia o companheiro para atenuar seu sofrimento nos últimos momentos.
Um ano depois, o rapaz comentou em conversa com amigos, diante das irmãs:
- Eu tinha um cão maravilhoso. Mas, como ele fazia xixi pela casa inteira, Dália e Lucília acharam melhor envenená-lo.
As duas coraram. Chico fingiu ter se conformado. Na verdade, ficou chocado com o assassinato do cachorro. Era fascinado por animais. Encarava os bichos como irmãos caçulas do homem e cuidava deles com obstinação. Até mesmo quando assumia o papel de pescador. Numa tarde, vencido pela insistência dos amigos, aceitou um convite para pescar. Pôs o chapéu na cabeça e, ao lado dos companheiros, tomou o rumo do ribeirão. Sorridente, acomodou-se em um barranco e lançou a linha na água.
Seus vizinhos fisgavam um peixe depois do outro. Nenhum lambari se aproximava de Chico. Um dos amigos estranhou tanta falta de sorte. Chico acabou confessando: não tinha colocado isca no anzol para  "não incomodar os bichinhos "

CONTINUA AMANHÃ

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