sexta-feira, 25 de maio de 2012

OS MENSAGEIROS - LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO 

CAPÍTULO 35 
CULTO DOMÉSTICO 

 Nas primeiras horas da noite, Dona Isabel abandonou a agulha e convidou os filhinhos para o culto doméstico. 
Notando o interesse que me despertavam as crianças, Aniceto explicou: – As meninas são entidades amigas de “Nosso Lar”, que vieram para serviço espiritual e resgate necessário, na Terra. 
O mesmo, porém, não acontece ao pequeno, que procede de região inferior. 
De fato, eu identificava perfeitamente a situação, O rapazola não se revestia de substância luminosa e atendia ao convite materno, não como quem se alegra, mas como quem obedece. 
Com tamanha naturalidade se sentaram todos em torno da mesa, que compreendi a antigüidade daquele abençoado costume familiar. 
A filha mais velha, que atendia por Joaninha, trazia cadernos de anotações e recortes de jornais. 
A viúva sentou-se à cabeceira e, após meditar breves instantes, recomendou à pequena Neli, de nove anos, fizesse a oração inicial do culto, pedindo a Jesus o esclarecimento espiritual. 
Todos os trabalhadores invisíveis sentaram-se, respeitosos. 
Isidoro e alguns companheiros mais íntimos do casal permaneceram ao lado de Dona Isabel, sendo quase todos vistos e ouvidos por ela. 
Tão logo começou aquele serviço espiritual da família, as luzes ambientes se tornaram muito mais intensas. 
Profunda sensação de paz envolvia-me o coração. 
A pequena Neli, em voz comovente, fez a prece:  Senhor, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus. 
Se está em vosso santo desígnio que recebamos mais luz, permiti, Senhor, tenhamos bastante compreensão no trabalho evangélico! 
Dai-nos o pão da alma, a água da vida eterna! Sede em nossos corações, agora e sempre. 
Assim seja!... Dona Isabel pediu à filha mais velha lesse uma página instrutiva e consoladora e, em seguida, algum fato interessante do noticiário comum, ao que Joaninha atendeu, lendo pequeno capitulo de um livro doutrinário sobre a irreflexão, e um episódio triste de jornal leigo. 
A primogênita de Isidoro, que revelava muita doçura e afabilidade, parecia impressionada. 
Tratava-se de uma jovem de bairro distante, vitima de suicídio doloroso. 
O repórter gravara a cena com característicos muito fortes. 
A leitora estava trêmula, sensibilizada. 
Assim que Joaninha terminou, Dona Isabel abriu o Novo Testamento, como se estivesse procedendo ao acaso, mas, em verdade, eu via que Isidoro, do nosso plano, intervinha na operação, ajudando a focalizar o assunto da noite. 
A seguir, fixou o olhar na página pequenina e falou: – A mensagem-versículo de hoje, meus filhos, está no capítulo 13 do Evangelho de São Mateus. 
E lendo o versículo 31, fê-lo em voz alta: – “Outra parábola lhes propôs, dizendo: – O Reino dos Céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu campo.” Observei, então, um fenômeno curioso. 
Um amigo espiritual, que reconheci de nobilíssima condição, pelas vestes resplandecentes, colocou a destra sobre a fronte da generosa viúva. 
Antes que lhe perguntasse, Aniceto explicou em voz quase imperceptível: Aquele é o nosso irmão Fábio Aleto, que vai dar a interpretação espiritual do texto lido. 
Os que estiverem nas mesmas condições dele, poderão ouvir-lhe os pensamentos; mas, os que estiverem em zona mental inferior, receberão os valores interpretativos, como acontece entre os encarnados, isto é, teremos a luz espiritual do verbo de Fábio na tradução do verbo materializado de Isabel. 
Nosso mentor não poderia ser mais explícito. Em poucas palavras fornecera-me a súmula da extensa lição. 
Notei que a viúva de Isidoro entrara em profunda concentração por alguns momentos, como se estivesse absorvendo a luz que a rodeava. 
Em seguida, revelando extraordinária firmeza no olhar, iniciou o comentário: – “Lemos hoje, meus filhos, uma página sobre a irreflexão e a notícia de um suicídio em tristíssimas circunstâncias. 
Afirma o jornal que a jovem suicida se matou por excessivo amor; entretanto, pelo que vimos aprendendo, estamos certos de que ninguém comete erros por amar verdadeiramente. 
Os que amam, de fato, são cultivadores da vida e nunca espalham a morte. 
A pobrezinha estava doente, perturbada, irrefletida. 
Entregou-se à paixão que confunde o raciocínio e rebaixa o sentimento. 
E nós sabemos que, da paixão ao sofrimento, ou à morte, não é longa a distância. 
Lembremos, todavia, essa amiga desconhecida, com um pensamento de simpatia fraternal. 
Que Jesus a proteja nos caminhos novos. 
Não estamos examinando um ato, que ao Senhor compete julgar, mas um fato, de cuja expressão devemos extrair o ensinamento justo. “A mensagem evangélica desta noite assevera, pela palavra do nosso Divino Mestre aos discípulos, que o reino dos céus é também “semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu coração”. 
Devemos ver, neste passo, meus filhos, a lição das coisas mínimas. 
A esfera carnal onde vivemos está  repleta de irreflexões de toda sorte. 
Raras criaturas começam a refletir seriamente na vida e nos deveres, antes do leito da morte física. 
Não devemos fixar o pensamento tão só nessa jovem que se suicidou em condições tão dramáticas, ao nos referirmos aos ensinos de agora. 
Há homens e mulheres, com maiores responsabilidades, em todos os bairros, que evidenciam paixões nefastas e destruidoras no campo dos sentimentos, dos negócios, das relações sociais. 
As mentes desequilibradas pela irreflexão permanecem, neste mundo, quase por toda a parte. 
É que nos temos descuidado das coisas pequeninas. 
Grande é o oceano, minúscula é a gota, mas o oceano não é senão a massa das gotas reunidas. 
Falanos o Mestre, em divino simbolismo, da semente de mostarda. 
Recordemos que o campo do nosso coração está cheio de ervas espinhosas, demorando, talvez, há muitos séculos, em terrível esterilidade. 
Naturalmente, não deveremos esperar colheitas milagrosas. 
É indispensável amanhar a terra e cuidar do plantio. 
A semente de mostarda, a que se refere Jesus, constitui o gesto, a palavra, o pensamento da criatura. “Há muitas pessoas que falam bastante em humildade, mas nunca revelam um gesto de obediência. 
Jamais realizaremos a bondade, sem começarmos a ser bons. 
Alguma coisa pequenina há de ser feita, antes de edificarmos as grandes coisas. 
O Senhor ensinou, muitas vezes, que o reino dos céus está dentro de nós. 
Ora, é portanto em nós mesmos que devemos desenvolver o trabalho máximo de realização divina, sem o que não passaremos de grandes irrefletidos. 
A floresta também começou de sementes minúsculas. 
E nós, espiritualmente falando, temos vivido em densa floresta de males, criados por nós mesmos, em razão da invigilância na escolha de sementes espirituais. 
A palestra de uma hora, o pensamento de um dia, o gesto de um momento, podem representar muito em nossas vidas. 
Tenhamos cuidado com as coisas pequeninas e selecionemos os grãos de mostarda do reino dos céus. 
Lembremos que Jesus nada ensinou em vão. Toda vez que ‘pegarmos’ desses grãos, consoante a Palavra Divina, semeando-os no campo íntimo, receberemos do Senhor todo o auxilio necessário. 
Conceder-nos-á a chuva das bênçãos, o sol do amor eterno, a vitalidade sublime da esfera superior. 
Nossa semeadura crescerá e, em breve tempo, atingiremos elevadas edificações. 
Aprendamos, meus filhos, a ciência de começar, lembrando a bondade de Jesus a cada instante. 
O Mestre não nos desampara, segue-nos amorosamente, inspira-nos o coração. 
Tenhamos, sobretudo, confiança e alegria!” Reparei que Fábio retirou a mão da fronte da viúva e observei que ela entrava a meditar, como quem sentira o afastamento da idéia em curso. 
Havia grande comoção na assembléia invisível às crianças que, por sua vez, também pareciam impressionadas. 
Dona Isabel voltou a contemplar maternalmente os filhos, e falou: – Procuremos, agora, conversar um pouco. 

CONTINUA AMANHÃ

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