CONTINUAÇÃO
CAPÍTULO 33
A CAMINHO DA CROSTA
Após nos refazermos pela manhã, considerando a viagem ainda
longa, despedimo-nos, comovidos. Pelo menos, quanto a
mim, podia afirmar que me afastava com mágoa, tão belas as
lições ali colhidas!
Alfredo e a esposa nos abraçaram, sensibilizados, desejandonos
jornada feliz e êxito no trabalho.
Vários amigos da véspera estavam presentes, saudando-nos
jubilosos.
Tomamos o carro, agradavelmente surpreendidos.
Ser-me-ia muito difícil descrever a pequena máquina, que
mais se assemelhava a pequeno automóvel de asas, a deslocar-se
impulsionado por fluidos elétricos acumulados.
Sempre atencioso, Aniceto explicou:
– Aceitei a cooperação do aparelho, não porque os deseja escravizados
ao menor esforço, mas porque a permanência, embora
ligeira, no Posto de Socorro, constituiu ensejo dos mais frutuosos
à aquisição de conhecimentos necessários. Receberam vocês
lições intensivas, relativamente aos nossos irmãos perturbados e
sofredores, bem como sobre os efeitos da prece. Desse modo,
temos nosso expediente bastante adiantado, considerando que se
encontram ambos em tarefa de observação e aprendizado, acima
de tudo.
E, depois de pequena pausa, continuou:
– Não creiam, todavia, que possamos aproveitar a máquina
até a Crosta.
Calculo que só poderemos voar até ao meio-dia. Em
seguida, prosseguiremos a pé.
Aniceto calou-se por instantes, sorriu noutra expressão fisionômica,
e acentuou:
– Isto, porém, acontecerá somente enquanto não hajam vocês
criado asas espirituais, que possam vencer todas as resistências
vibratórias.
Semelhante realização pode não estar distante.
Dependerá
do esforço que desejarem despender no trabalho aquisitivo.
Todo aquele que opere, e coopere de espírito voltado para
Deus, poderá aguardar sempre o melhor.
Não é promessa de amizade.
É lei.
O pequeno aparelho nos conduziu por enormes distâncias,
sempre no ar, mas conservando-se a reduzida altura do solo.
Quase precisamente ao meio-dia, estacionamos em humilde
pouso, destinado a abastecimento e reparação de maquinaria de
natureza daquela em que havíamos viajado.
Despediu-se de nós o condutor, que nos desejou boa viagem,
preparando-se para regressar.
A paisagem tornou-se, então, muito fria e diferente.
Não estávamos
em caminho trevoso, mas muito escuro e nevoento.
Tornara-se densa a atmosfera, alterando-nos a respiração.
Aniceto contemplou, conosco, a vastidão caliginosa e falou
em tom grave:
– Com quatro horas de locomoção, estaremos na Crosta.
Reparem
as sombras que nos rodeiam, identifiquem a mudança
geral.
Infelizmente, as emissões vibratórias da Humanidade encarnada
são de natureza bastante inferior, em nos referindo à
maioria das criaturas terrestres, e estas regiões estão repletas de
resíduos escuros, de matéria mental dos encarnados e desencarnados
de baixa condição.
Atravessaremos grandes zonas, não propriamente
tenebrosas, mas muito obscuras ao nosso olhar.
Daqui a
duas horas, porém, encontraremos sinais da luz solar.
Nossa peregrinação, francamente, foi muito pesada e dolorosa,
e, somente aí, avaliei, de fato, a enorme diferença da estrada
comum, que liga a Crosta a “Nosso Lar” e aquela que agora percorríamos
a pé, vencendo obstáculos de vulto.
Imaginei, comovido,
o sacrifício dos grandes missionários espirituais que assistem
o homem, compreendendo, então, quão meritório lhes é o serviço
e como necessitam disposições especiais e extraordinário bom
ânimo, para auxiliarem as criaturas encarnadas, de maneira constante.
Os monstros, que fugiam à nossa aproximação, escondendose
no fundo sombrio da paisagem, eram indescritíveis e, obedecendo
a determinações de Aniceto, não posso ensaiar qualquer
informe nesse sentido, a fim de não criar imagens mentais de
ordem inferior no espírito dos que, acaso, venham a ler estas
humildes notícias.
No horário previsto por nosso orientador, começamos a vislumbrar,
de novo, a luz do Sol, como se estivéssemos em madrugada
clara.
O espetáculo era magnífico e novo para mim.
Calor
brando começou a revigorar-nos.
Aniceto fixou o quadro maravilhoso dos raios de luz atravessando
as sombras, e falou, de olhos úmidos:
– Agradeçamos ao Senhor dos Mundos a bênção do Sol! Na
Natureza física, é a mais alta imagem de Deus que conhecemos.
Temo-lo, nas mais variadas combinações, segundo a substância
das esferas que habitamos, dentro do sistema.
Ele está em “Nosso
Lar”, de acordo com os elementos básicos de vida, e permanece
na Terra segundo as qualidades magnéticas da Crosta. É visto em
Júpiter de maneira diferente, ilumina Vênus com outra modalidade
de luz. Aparece em Saturno noutra roupagem brilhante.
Entretanto,
é sempre o mesmo, sempre a radiosa sede de nossas energias
vitais!
Avançamos, comovidos, e, dai a algum tempo, surgiu-nos o
astro sublime, na posição que antecede o crepúsculo.
Doutras vezes, viajando sempre através da estrada luminosa e
fácil de ser percorrida, em vista das possibilidades de volitação,
não fizera maior reparo.
Agora, porém, que atravessara névoas
compactas, anotava diferenças profundas.
A certa distância, surgia a Terra, não na forma esférica, porque
nos achávamos não longe da Crosta, mas como paisagem
além, a interpenetrar-se nas extensas regiões espirituais.
O Sol resplandecia, rumo ao Poente, como enorme lâmpada
de ouro.
Aniceto, que parecia alegrar-se sobremaneira, exclamou:
– Entramos na zona de influenciação direta da Crosta.
Poderemos,
doravante, praticar a volitação, utilizando nossos conhecimentos
de transformação da força centrípeta.
A luz que nos banha
resulta do contacto magnético entre a energia positiva do Sol e a
força negativa da massa planetária. Prossigamos.
Não tardaremos
a entrar no Rio de Janeiro.
A essa altura, assaltou-me o desejo de perguntar alguma coisa
relativamente à direção.
– Como nos orientaremos? – indaguei, curioso.
– Antes de tudo – respondeu o instrutor – é preciso não esquecer
que nossas colônias estão situadas no campo magnético da
América do Sul.
Qualquer bússola seria sensível, de agora em
diante, mas, em nosso caso, é indispensável educar o pensamento
e orientar-nos dentro da energia que lhe é peculiar.
Empregamos, de novo, a capacidade volitante e, dentro em
pouco, as matas de Petrópolis estavam à vista.
Mais alguns minutos
e perlustrávamos as grandes artérias cariocas. Por sugestão do instrutor, abeiramo-nos do mar, em exercício respiratório de
maior expressão.
Vicente e eu estávamos positivamente exaustos. Reconhecíamos
que o esforço fora significativo para nossas escassas forças.
Indiferentes à nossa presença, os transeuntes passavam apressados,
de mente chumbada aos problemas de ordem material.
Fonfonavam ônibus repletos. A grande baía figurava-se-nos cheia
de forças renovadoras.
Quando se acendiam as primeiras luzes elétricas, Aniceto
convidou-nos, amavelmente:
– Vamos ao reconforto! Vocês estão fatigadíssimos.
Irei mostrar-
lhes que “Nosso Lar” tem, igualmente, alguns refúgios na
Crosta.
CONTINUA AMANHÃ
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