O preço de uma vida
No momento em que nosso país discute
a descriminalização do aborto e que tantas vozes se erguem na defesa da
eliminação da vida, uma pausa para reflexão se faz devida.
Quanto vale uma vida? Será que, por
não ser ainda alguém que contribui para a sociedade, por não ter voz
suficientemente alta para se defender, o embrião ou o feto merece a morte?
O que pretendemos com tal
posicionamento?
Recordamos que na China, a partir de
1981, entrou em vigor a lei de um único filho.
Desde então, tem crescido o número de
crianças, sobretudo meninas, abandonadas ao nascer.
A jornalista Xinran, hoje radicada em
Londres, conta uma de suas experiências dolorosas, do ano de 1990.
Era uma manhã de inverno. Ao passar
por um banheiro público, uma multidão ruidosa estava rodeando uma sacola de
roupas, entregue ao vento da estrada.
A jornalista se aproximou e recolheu
a trouxinha: era uma menina de apenas alguns dias.
Estava azul de tão gelada e o pequeno
nariz tremia.
Ninguém ajudou Xinran. Ninguém moveu
um dedo para salvar a criança.
Ela a levou ao hospital pagou pelos
primeiros socorros, mas ninguém ali estava com pressa de salvar aquela
recém-nascida.
Somente quando Xinran apanhou seu
gravador e começou a relatar o que via, um médico parou e levou o bebê para a
emergência.
Uma enfermeira disse: Perdoe-nos a frieza.
Há bebês abandonados demais. Ajudamos mais de dez, mas depois ninguém queria se
responsabilizar pelo futuro deles.
A vida se tornou ali tão banal, a
sorte das meninas recém-nascidas é tão incerta que se prefere deixá-las morrer.
Será que é algo assim que desejamos
para nosso país? Que a vida em formação se torne de importância nenhuma, de
forma a que possa ser eliminada, em pleno florescer?
Pensemos nisso.
Hoje se decide pela morte de milhares
de brasileiros que nunca chegarão a ver a luz do sol.
Logo mais, poderemos ter leis que
dirão quem pode ou não continuar vivo.
Um idoso que somente onera a sua
família merecerá continuar a viver?
Um portador de anomalia grave ou
deficiência mental?
Quem está desempregado, quem não
contribui eficazmente para a sociedade!?
Para onde caminharemos?
Manifestemo-nos. Digamos aos nossos
representantes que somos cristãos e prezamos a vida, que nos é dada por Deus,
não competindo ao homem destruí-la, por livre deliberação.
Felizmente, para a pequenina chinesa,
a voz da jornalista soou forte. Ela transmitiu a história em seu programa de
rádio.
As linhas telefônicas foram tomadas
por chamadas de ouvintes. Alguns muito zangados pela sua atitude de salvar uma
vida. Outras, solidárias.
Três meses depois, a menininha foi
entregue a sua nova família: uma professora e um advogado. E ganhou um nome:
Better, que, em inglês, significa A melhor.
* * *
Recordemos que um dia, nós mesmos,
frágeis, pequenos, aconchegamo-nos em um útero, rogando a um coração de mulher
por vida e por amor.
E se hoje estamos escrevendo, lendo
ou ouvindo este texto é porque nos foi permitido nascer.
Pensemos nisso.
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