Tirai a pedra
Naquele entardecer, em Betânia, o sol
já buscava a linha do horizonte, quando Jesus, atendendo ao pedido das amigas
Marta e Maria, irmãs de Lázaro, dirige-se até o túmulo onde fora sepultado o
amigo.
Uma pequena multidão rodeava a
sepultura. Amigos de Lázaro, curiosos, cépticos.
Muitos talvez para lá se dirigiram
porque sabiam que o Mestre estaria presente.
Quiçá quisessem testar a capacidade
do carpinteiro de Nazaré, pois se falava que Ele realizava prodígios.
Restituía a visão a cegos, limpava
leprosos, levantava paralíticos, reanimava desalentados e sofredores.
O meigo Rabi, de olhar sereno,
caminha até a porta do túmulo onde estava Lázaro morto havia vários dias.
Entre Jesus e o morto havia uma
pedra.
Entre a claridade e a sombra havia
uma barreira, um obstáculo enorme e pesado.
No estreito cubículo onde Lázaro
começava a apodrecer, e no amplo mundo exterior, onde o Cristo meditava duas
estranhas realidades se defrontavam.
Estranhas, diferentes, antagônicas...
A vida e a morte.
Fora, a luz do sol, a natureza em
festa...
Dentro, no estreito cubículo onde
estava Lázaro, a escuridão e a inércia...
Lázaro, separado da vida, mergulhado
na morte, não podia, evidentemente, ouvir de Jesus a palavra renovadora, suave
e enérgica, ao mesmo tempo.
Não tinha olhos para ver, nem ouvidos
para ouvir, nem sentidos para perceber a realidade que o procurava.
Apelou então Jesus para a cooperação
dos seus amigos: Tirai a pedra!
Em outras palavras: Tirai o entulho
mental que impede a visão dos magníficos panoramas da vida imortal.
Os amigos do morto retiraram a pedra
sob a inspiração de Jesus.
A claridade do sol que descambava
penetrou, como uma réstia de esperança, no fundo da caverna onde tinham posto o
irmão de Marta e Maria, o amigo do Senhor...
Lázaro sai!
E Lázaro saiu. Da morte para a vida,
da sombra para a luz...
* * *
Quando estamos mortos para a verdade,
insensíveis ante o esplendor da imortalidade gloriosa, a palavra do Mestre não
consegue ressoar em nosso universo íntimo, tornando-se indispensável, à maneira
de Lázaro, que outras mãos nos ajudem.
E tantos amigos espirituais
retransmitem ao nosso coração a mensagem renovadora do Cristo, reeducam-nos
para a vida melhor, afastando de nossa sepultura espiritual a pedra do egoísmo
que há milênios nos ofusca a consciência, enregela-nos o coração e
petrifica-nos o sentimento.
Ainda assim, é preciso que façamos a
nossa parte: levantarmos e sairmos em busca da luz, permitindo que ela penetre
a nossa intimidade e ilumine os mais profundos escaninhos da nossa alma.
* * *
Lázaro não estava realmente morto.
Quando os laços que prendem o
Espírito ao corpo se rompem, não há mais possibilidade de reanimá-lo.
Lázaro, possivelmente, fora acometido
por uma crise de letargia.
A letargia é uma enfermidade na qual
há suspensão das forças vitais em geral, dando ao corpo todas as aparências da
morte.
Jesus sabendo disso chama-o de volta
à vida.
Redação do
Momento Espírita, com base no livro Estudando o Evangelho, de Martins Peralva,
ed. Feb.
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