O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO
CAPÍTULO 23
MORAL
ESTRANHA
Quem
não odiar seu pai e sua mãe.
Abandonar
pai, mãe e filhos.
Deixai
os mortos enterrar seus mortos.
Não
vim trazer a paz, mas a divisão.
NÃO VIM
TRAZER A PAZ, MAS A DIVISÃO
Jesus, em sua profunda sabedoria, previu o que devia
acontecer.
Estas coisas eram inevitáveis, pois decorriam da
inferioridade da natureza humana, que não podia transformar-se
instantaneamente.
Foi preciso que o Cristianismo passasse por essa longa e
cruel prova de dezoito séculos para mostrar toda sua força, porque, apesar de todo
mal cometido em seu nome, dela saiu puro; nunca esteve em questão. A censura
sempre recaiu sobre aqueles que dele abusaram e, a cada ato de intolerância,
sempre se disse: Se o Cristianismo fosse bem melhor compreendido e melhor
praticado, isso não teria acontecido.
16 Quando Jesus disse: Não acrediteis que vim trazer a paz, e
sim a divisão, seu pensamento era este:
“Não acrediteis que minha doutrina se estabeleça
pacificamente.”
Ela trará lutas sangrentas, tendo por pretexto o meu nome,
porque os homens não terão me compreendido ou não terão querido me compreender.
Os irmãos, separados por suas crenças, lançarão a espada uns contra os outros,
e a divisão reinará entre os membros de uma mesma família que não tiverem a
mesma fé.
Vim lançar o fogo à Terra para limpá-la dos erros e dos
preconceitos, como se coloca fogo em um campo para destruir as ervas ruins, e
tenho pressa de que se acenda para que a purificação seja mais rápida, pois a
verdade sairá triunfante desse conflito. À guerra sucederá a paz; ao ódio dos
partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé
esclarecida. Então, quando o campo estiver preparado, Eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as
coisas, ou seja, fazer conhecer o verdadeiro sentido de minhas palavras,
que os homens mais esclarecidos poderão, enfim, compreender, pondo fim às lutas
fratricidas* que dividem os filhos do mesmo Deus. Cansados, enfim, de um
combate sem solução, que só acarreta desolação e leva o distúrbio até o seio
das famílias, os homens reconhecerão onde estão seus verdadeiros interesses
para este mundo e para o outro. Eles verão de que lado estão os amigos e os
inimigos de sua tranquilidade. “Todos então virão se abrigar sob a mesma
bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra de acordo com
a verdade e os princípios que vos ensinei.” 17 O Espiritismo vem realizar no tempo determinado as promessas do
Cristo. Entretanto, não pode fazê-lo sem antes destruir os erros.
Como Jesus, ele encontra o orgulho, o egoísmo, a ambição,
a cobiça, o fanatismo cego que, cercados em suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe
o caminho e erguem obstáculos, entraves e perseguições; eis porque também ele
precisa combater. O tempo das lutas e das perseguições sangrentas acabou, porém
aquelas que ele terá de enfrentar são todas de ordem moral, e o fim de todas
elas se aproxima.
As primeiras lutas do Cristianismo duraram séculos. Estas
que o Espiritismo enfrentará durarão apenas alguns anos, porque a luz, ao invés
de partir de um único foco, surge de todos os pontos do Globo e abrirá mais
depressa os olhos aos cegos.
18 As palavras de Jesus devem, portanto, ser entendidas como referentes
às discórdias que Ele previa, que sua doutrina iria provocar, aos conflitos
momentâneos que surgiriam como consequência, e às lutas que teria de enfrentar
antes de firmar-se, tal como aconteceu aos hebreus antes de sua entrada na
Terra da Promissão, e não como decorrência de um propósito premeditado de sua
parte para semear a desordem e a confusão. O mal viria dos homens e não d'Ele.
Era como o médico que veio curar, mas cujos remédios provocam uma crise
salutar, removendo os males do doente.
* N. E. - Fratricida: assassinato entre irmãos.
CONTINUA AMANHA
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