domingo, 14 de agosto de 2016

MOMENTO DE REFLEXÃO



O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

CAPÍTULO  23
MORAL ESTRANHA
Quem não odiar seu pai e sua mãe.
Abandonar pai, mãe e filhos.
Deixai os mortos enterrar seus mortos.
Não vim trazer a paz, mas a divisão.

QUEM NÃO ODIAR SEU PAI E SUA MÃE

1. Havia uma grande multidão acompanhando Jesus, e, voltando para eles, lhes disse: Se alguém vier a mim e não odiar a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e, até mesmo, sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
Assim, todo aquele que não carrega sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo, e todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo. (Lucas, 14:25 a 27, 33)
2. Aquele que ama mais seu pai ou sua mãe do que a mim, não é digno de mim; aquele que ama mais a seu filho ou à sua filha do que a mim, não é digno de mim. (Mateus, 10:37)
3. Certas palavras, aliás, muito raras, fazem um contraste tão estranho na linguagem atribuída ao Cristo que, instintivamente, repelimos o seu sentido literal sem que a perfeição de sua doutrina nada sofra com isso. Escritas após sua morte, uma vez que nenhum Evangelho foi escrito enquanto vivia, podemos supor que, nesses casos, a ideia principal do seu pensamento não foi bem traduzida ou, o que não é menos provável, que o sentido original tenha sofrido alguma alteração ao passar pela tradução de uma língua para outra. Basta que um erro tenha sido cometido uma só vez para que fosse repetido pelos copistas, como se vê, com frequência, nos fatos históricos.
A palavra odiar, nesta frase do evangelista Lucas: Se alguém vier a mim e não odiar seu pai e sua mãe, está nesse caso. Ninguém pode ter a idéia de atribuí-la a Jesus. Seria inútil discuti-la e, pior ainda seria procurar justificá-la. Seria preciso saber inicialmente se Ele a pronunciou e, em caso afirmativo, saber se, na língua em que falava, essa palavra tinha o mesmo significado que na nossa. Noutra passagem do evangelista João: Aquele que odeia sua vida neste mundo conserva-a para a vida eterna, é claro que ela não traduz a idéia que lhe atribuímos.
A língua hebraica era pobre e tinha muitas palavras com diversas significações. É o que acontece, por exemplo, n’A Gênese: a palavra que indica as fases da criação serve, também, para expressar um período de tempo qualquer e, ainda, o período diurno, de que derivou sua tradução para a palavra dia e a crença de que o mundo fora feito em seis dias. Também ocorre o mesmo com a palavra que designava um camelo e um cabo, pois os cabos eram feitos de pelo de camelo, e que foi traduzida por camelo na alegoria do buraco da agulha. (Veja nesta obra Cap. 16:2.)(1)
É preciso, além de tudo, considerar os costumes e o caráter dos povos que influem na natureza particular das línguas. Sem esse conhecimento, o sentido verdadeiro das palavras nos escapa e, de uma língua para a outra, a mesma palavra tem um significado de maior ou menor energia. Pode ser uma injúria ou uma blasfêmia em uma e ter um sentido insignificante em outra, conforme a idéia que se queira exprimir. Numa mesma língua, ocorre também que o sentido de certas palavras se altera com o passar dos séculos, e é por isso que uma tradução rigorosamente ao pé da letra nem sempre revela perfeitamente o pensamento original para manter a exatidão é preciso, às vezes, empregar não as palavras correspondentes à tradução, mas, sim, palavras que sejam equivalentes ou semelhantes.
Estas observações encontram uma aplicação especial na interpretação das Sagradas Escrituras e nos Evangelhos em particular. Se não considerarmos o meio em que Jesus vivia, ficaremos sujeitos a enganos sobre o sentido de certas expressões e de certos fatos, em virtude do hábito de as entendermos de acordo com os nossos pontos de vista atuais. A palavra odiar, empregada neste caso, não pode ser entendida com a sua significação moderna, visto que seria contrária à essência dos ensinamentos de Jesus. (Veja nesta obra Cap. 14:5 e seguintes.)
CONTINUA AMANHA

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