quinta-feira, 7 de julho de 2016

MOMENTO DE REFLEXÃO



O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

CAPÍTULO 16
NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON
Salvação dos ricos   
Resguardar-se da avareza • Jesus na casa de Zaqueu
Parábola do mau rico • Parábola dos talentos
Utilidade providencial da riqueza. Provas da riqueza e da miséria
Desigualdade das riquezas   
Instruções dos Espíritos:
 A verdadeira propriedade
Emprego da riqueza • Desprendimento dos bens terrenos
Transmissão da riqueza 
DESPRENDIMENTO DOS BENS TERRENOS
Lacordaire - Constantina, Argel, 1863.
deixar a seus filhos a maior quantidade de bens possíveis, e evitar deixá-los na miséria. Isto é bastante justo e paternal, convenhamos, e não se pode censurá-lo por isso, mas será este o objetivo que o orienta?
Não é isso frequentemente uma desculpa para com sua consciência, para justificar aos próprios olhos e aos olhos do mundo o apego pessoal aos bens terrenos? Admitindo-se que o amor paternal seja seu único propósito, será motivo para esquecer-se de seus irmãos perante Deus? Se ele mesmo já tem o supérfluo, deixará seus filhos na miséria só porque terão um pouco menos desse supérfluo? Não estará dando-lhes uma lição de egoísmo a endurecer-lhes os corações?
Não será sufocar neles o amor ao próximo? Pais e mães cometeis um grande erro se acreditais que, desse modo, aumentais a afeição de vossos filhos por vós; ao ensinar-lhes a ser egoístas para com os outros, ensinais a sê-lo para convosco.
Quando um homem trabalhou bastante, e com o suor do seu rosto acumulou bens, ouvireis dizer frequentemente que, quando o dinheiro é ganho, sabemos dar-lhe valor. É a mais pura verdade. Pois bem! Que este homem que confessa conhecer todo valor do dinheiro faça a caridade segundo suas possibilidades, e terá maior mérito do que aquele que, nascido na fartura, ignora as rudes fadigas do trabalho. Mas, se esse homem que se recorda de suas lutas, seus esforços, tornar-se egoísta, impiedoso para com os pobres, será bem mais culpado do que aquele outro; pois, quanto mais cada um conhece por si mesmo as dores ocultas da miséria, tanto mais deve se empenhar em ajudar aos outros.
Infelizmente, o homem de posses sempre carrega consigo outro sentimento tão forte quanto o apego à riqueza: o orgulho. É comum ver-se o novo-rico atormentar o infeliz que implora sua ajuda, com a história de seus trabalhos e suas habilidades, ao invés de ajudá-lo, e por fim dizer-lhe: “faça como eu fiz”. Em sua opinião, a bondade de Deus não influiu em nada na sua riqueza; o mérito cabe somente a ele; seu orgulho põe-lhe uma venda nos olhos e um tampão nos ouvidos.
Apesar de toda sua inteligência e toda sua capacidade, não compreende que Deus pode derrubá-lo com uma só palavra.
Desperdiçar a riqueza não é desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. O homem, como depositário desses bens, não tem direito de esbanjá-los ou usá-los só em seu proveito.
O gasto irresponsável não é generosidade. É, muitas vezes, uma forma de egoísmo. Aquele que esbanja ouro para satisfazer uma fantasia talvez não dê um centavo para prestar auxílio. O desapego aos bens terrenos consiste em apreciar a riqueza no seu justo valor, saber usufruir dela em benefício de todos e não somente para si, em não sacrificar por sua causa os interesses da vida futura e, se Deus a retirar, perdê-la sem reclamar. Se, por infortúnios imprevistos, vos tornardes como Jó*, dizei como ele: Senhor, vós me destes, vós me tirastes; que seja feita a vossa vontade. Eis o verdadeiro desprendimento.
Sede, antes de tudo, submissos; tende fé n’Aquele que, assim como vos deu e tirou, pode devolver-vos; resisti com coragem ao abatimento, ao desespero que paralisa vossas forças; não vos esqueçais nunca de que, quando Deus vos prova por uma aflição, sempre coloca uma consolação ao lado de uma rude prova. Pensai também que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra, e esse pensamento vos ajudará a desapegar destes últimos. Quanto menos valor se dá a uma coisa, menos sensível se fica à sua perda. O homem que se apega aos bens da Terra é como uma criança que apenas vê o momento presente; aquele que não é apegado é como o adulto, que vê coisas mais importantes, pois compreende essas palavras proféticas do Salvador: Meu reino não é deste mundo.
O Senhor não ordena a ninguém desfazer-se do que possua para se reduzir a mendigo voluntário, porque, então, se tornaria uma carga para a sociedade. Agir desse modo seria compreender mal o desprendimento aos bens terrenos; é um egoísmo de outro modo. Seria fugir à responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre aquele que a possui. Deus a dá a quem Lhe parece ser bom para administrá-la em benefício de todos; o rico tem, portanto, uma missão que pode tornar-se bela e proveitosa para si mesmo. Rejeitar a riqueza, quando é dada por Deus, é renunciar ao benefício do bem que se pode fazer administrando-a com sabedoria. Saber passar sem ela quando não a temos, saber empregá-la utilmente quando a recebemos, saber sacrificá-la quando for necessário é agir de acordo com a vontade do Senhor. Que diga, pois, aquele que recebe o que o mundo chama de uma boa fortuna: meu Deus, vós me enviastes um novo encargo; dai-me a força para desempenhá-lo conforme vossa santa vontade.
Eis, meus amigos, o que vos queria ensinar quanto ao desprendimento dos bens terrenos; posso resumir dizendo: contentai-vos com pouco. Se fordes pobres, não invejeis aos ricos, pois a riqueza não é necessária para a felicidade. Sois ricos, não vos esqueçais de que vossos bens vos foram confiados, e que deveis justificar o seu emprego, como uma prestação de contas de um empréstimo. Não sejais depositários infiéis, fazendo com que eles sirvam apenas para a satisfação de vosso orgulho e sensualidade; não vos acrediteis com o direito de dispor para vós unicamente o que recebestes, não como doação, mas somente como um empréstimo. Se não sabeis restituir, não tendes o direito de pedir, e lembrai-vos de que aquele que dá aos pobres salda a dívida que contrai para com Deus.
* N. E. - Jó: patriarca judeu escreveu o Livro de Jó, que encerra grande sabedoria sobre a renúncia e a confiança em Deus (Velho Testamento).

CONTINUA AMANHA

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