O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO
CAPÍTULO 5 - BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
CONTINUAÇÃO
ESQUECIMENTO DO PASSADO
1. É sem razão que se aponta o fato de o Espírito não se
lembrar das suas vidas anteriores como um obstáculo para que ele possa tirar proveito
das experiências que nelas viveu. Se Deus julgou conveniente lançar um véu
sobre o passado, é porque isso deve ser útil. De fato, essa lembrança
provocaria inconvenientes muito graves; poderia, em alguns casos, nos humilhar
muito, ou ainda excitar nosso orgulho e, por isso mesmo, dificultar nosso
livre-arbítrio•. Em outros casos ocasionaria inevitável perturbação às relações
sociais.
Muitas vezes, o Espírito renasce no mesmo meio em que já
viveu e se encontra relacionado com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal
que lhes tenha feito. Se reconhecesse nelas as que odiou, talvez seu ódio se
revelasse outra vez, e sempre se sentiria humilhado diante daqueles que tivesse
ofendido.
Para o nosso aperfeiçoamento, Deus nos dá precisamente o
que necessitamos e nos é suficiente: a voz da consciência e nossas tendências instintivas,
e nos tira o que poderia prejudicar-nos.
O homem traz, ao nascer, aquilo que adquiriu; nasce como
se fez. Cada existência é para ele um novo ponto de partida. Pouco lhe importa
saber o que foi: se está sendo punido, é porque fez o mal.
Suas más tendências atuais indicam-lhe o que deve corrigir
em si mesmo e é nisso que deve concentrar toda a sua atenção, já que o que for
completamente corrigido nenhum traço deixará. A voz da consciência o adverte do
bem e do mal e para que tome boas resoluções, e lhe dá as forças para resistir
às más tentações.
Além disso, esse esquecimento acontece apenas durante a
vida corpórea. Ao voltar à vida espiritual, o Espírito readquire a lembrança do
passado: trata-se apenas de uma interrupção temporária, tal como acontece na
vida terrena, durante o sono, e que não nos impede de lembrar, no dia seguinte,
o que fizemos na véspera e nos dias anteriores.
Mas não é apenas depois da morte que o Espírito recobra a lembrança
de seu passado. Pode-se dizer que ele nunca a perde, pois a experiência prova
que quando encarnado, durante o sono do corpo, ele goza de certa liberdade e
tem consciência de seus atos anteriores. Ele sabe por que sofre, e da justiça
desse sofrimento. Assim, ele pode adquirir novas forças nestes instantes do
sono do corpo, da emancipação da alma, desde que saiba aproveitar esses
momentos dos quais guardará uma leve lembrança, que se apagará durante o dia, para
não lhe causar sofrimento e não prejudicar suas relações sociais.
MOTIVOS DE RESIGNAÇÃO
12. Por estas palavras: Bem-aventurados
os aflitos, pois serão consolados,
Jesus indica, ao mesmo tempo, a recompensa que espera os que
sofrem e a resignação que os faz compreender o porquê do sofrimento como o
início da cura.
Estas palavras podem ser também entendidas assim: Deveis
considerar-vos felizes por sofrer, visto que vossas dores aqui na Terra são os pagamentos
das dívidas de vossas faltas passadas, e essas dores suportadas pacientemente
na Terra vos poupam séculos de sofrimento na vida futura. Deveis estar felizes,
por Deus reduzir vossa dívida, permitindo pagá-la no presente, o que vos
assegura a tranquilidade para o futuro.
O homem que sofre assemelha-se a um devedor de uma grande quantia
e a quem o credor diz: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte, dou-te
quitação de toda a dívida, e estarás livre. Se não o fizeres, te cobrarei até
que me pagues o último centavo”. Qual o devedor que não ficaria feliz mesmo
passando por privações para se libertar de uma grande dívida, sabendo que
pagaria apenas a centésima parte do que devia? Ao invés de reclamar do seu
credor, não lhe agradeceria?
CONTINUA AMANHÃ
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