O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO
CAPÍTULO 4.
CONTINUAÇÃO
crença fosse um erro, Jesus não teria deixado de
combatê-la, como combateu tantas outras. Longe disso, Jesus a confirmou com
toda a sua autoridade e colocou-a como ensinamento e como uma condição
necessária quando disse: Ninguém pode
ver o reino de Deus se não nascer
de novo. E insistiu, acrescentando: Não vos espanteis se vos digo
que é preciso que nasçais de novo.
7. Estas palavras: “Se
um homem não renascer da água e do Espírito”, foram interpretadas no
sentido da regeneração pela água do batismo.
Porém o texto primitivo trazia simplesmente: Não renascer da água e do Espírito, enquanto, em algumas
traduções, a expressão do Espírito foi
substituída por do Espírito Santo,
o que não corresponde mais ao
mesmo pensamento. Esse ponto capital sobressai dos
primeiros comentários feitos sobre os Evangelhos, assim
como isso será um dia constatado sem equívoco possível.(1)*
8. Para compreender o verdadeiro sentido dessas palavras, é
preciso igualmente entender o significado da palavra água, que foi empregado ali com um sentido diferente do que lhe
é próprio.
Os conhecimentos dos antigos sobre as ciências físicas
eram muito imperfeitos. Acreditavam que a Terra tinha saído das águas, e por
isso julgavam a água como
elemento gerador absoluto. É assim que na Gênese* está escrito: O Espírito de Deus era levado sobre as
águas; flutuava sobre a superfície das
águas. Que o firmamento seja feito
no meio das águas. Que as águas que estão sob o céu se reúnam em um único lugar e que o elemento árido
apareça. Que as águas produzam
animais vivos que nadem na água, e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento.
Conforme essa crença, a água tinha se tornado o símbolo da
natureza material, como o Espírito era o da natureza inteligente. Estas
palavras: Se o homem não renascer da
água e do Espírito, ou em água e
em Espírito, significam então: “Se o homem não renascer com seu corpo e
sua alma”. É neste sentido que foram entendidas naqueles tempos.
A mesma interpretação, aliás, é confirmada por estas
outras palavras de Jesus: O que nasceu
da carne é carne e o que nasceu do Espírito é Espírito, as quais dão a
exata diferença entre o Espírito e o corpo. O que nasceu da carne é carne indica claramente que só o corpo
procede do corpo e que o Espírito é independente dele.
(1) Dentre as traduções dos Evangelhos para o francês, a
de Osterwald está conforme o texto primitivo. Ela traz: se não renascer da água e do Espírito. Na de Sacy diz: do Espírito Santo. A de Lamentais: do Espírito Santo. (Nota de Allan
Kardec).
* N.E. - As modernas traduções no Brasil, de João Ferreira
de Almeida, trazem: quem não nascer da água e do Espírito, e na de Humberto
Rohden temos: quem não nascer de novo pela água e pelo espírito.
* N.E. - Gênese: primeiro livro do Velho Testamento,
escrito por Moisés.
9. O
Espírito sopra onde quer; escutais sua voz, mas não sabeis nem de onde vem, nem
para onde vai, pode-se
entender como a alma do homem
ou o Espírito de Deus que dá a
vida a quem Ele quer. “Não
sabeis de onde vem, nem para onde vai” significa que não se conhece o que foi, nem o que será o Espírito. Se o
Espírito, ou alma, fosse criado
ao mesmo tempo em que o corpo, se saberia de onde veio, uma vez que se conheceria seu começo. De todos os modos, esta passagem é a confirmação
do princípio da preexistência da
alma e, por conseguinte, da pluralidade das existências.
10.
Acontece que, desde o tempo de João Batista até o presente, o reino dos Céus é
tomado pela violência, e são os violentos que o arrebatam; pois todos os
profetas, e também a lei, assim profetizaram. E se quereis entender o que vos
digo, ele mesmo é o Elias que há de vir.
Ouça
aquele que tem ouvidos para ouvir. (Mateus, 11:12 a 15)
11. Se o princípio da reencarnação expresso no Evangelho do apóstolo
João podia, a rigor, ser interpretado num sentido puramente místico, não
acontece o mesmo nesta passagem do apóstolo Mateus, que não deixa nenhuma
dúvida quando diz: ele mesmo é o Elias
que há de vir. Aqui, não
há nem sentido figurado, nem símbolos: é uma afirmação positiva. Desde o tempo de João Batista até o
presente, o reino dos Céus é
tomado pela violência.
Que significam estas palavras, uma vez que João Batista
ainda vivia naquela época? Jesus as explica dizendo: Se quereis entender o que
digo, ele mesmo é o Elias que há de vir. Portanto, João não sendo outro
senão Elias, Jesus se refere ao tempo em que João vivia sob o nome de Elias. Até o presente, o reino dos Céus é tomado
pela violência é outra referência à violência da lei mosaica que
determinava o extermínio dos infiéis para ganhar a Terra da Promissão, paraíso
dos hebreus, enquanto, pelo ensinamento da lei de Jesus, ganha-se o Céu pela
caridade e doçura.
Depois acrescenta: Ouça
aquele que tem ouvidos para ouvir. Estas palavras, muitas vezes
repetidas por Jesus, confirmam claramente que nem todos estavam em condições de
compreender certas verdades.
12.
Aqueles que do vosso povo morreram, viverão novamente; os que estavam mortos ao
redor de mim ressuscitarão. Despertai de vosso sono e cantai os louvores a
Deus, vós que habitais no pó; pois o orvalho que cai sobre vós é um orvalho de
luz, e arruinareis a terra e o reino dos gigantes. (Isaías, 26:19)
13. Essa passagem de Isaías é também muito clara sobre a sobrevivência
da alma após a morte. Se após a morte os Espíritos ficassem em algum lugar e lá
permanecessem para sempre, teria dito: ainda
vivem.
Porém, ao dizer que viverão
novamente, entende-se que devem voltar a viver, e isto só pode ser numa
nova reencarnação. Entendida
CONTINUA AMANHÃ
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