O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO
CAPÍTULO 2
MEU REINO
NÃO É DESTE MUNDO
A
vida futura
A
realeza de Jesus
O
ponto de vista
A REALEZA
DE JESUS
O reino de Jesus não é deste mundo, é o que todos
entendem.
Mas, na Terra, não terá Jesus uma realeza? O título de rei
nem sempre implica o exercício do poder provisório. Ele é dado por meio de uma concordância
de todos aos que, por sua genialidade, colocam se em primeiro plano numa
atividade qualquer, dominando seu século e influindo sobre o progresso da
Humanidade. É nesse sentido que se diz: O rei ou o príncipe dos filósofos, dos
artistas, dos poetas, dos escritores, etc. Essa realeza, nascida do mérito
pessoal, consagrada no tempo, não tem, muitas vezes, maior valor e importância
do que aquele que leva a coroa? Ela é imortal e sempre abençoada pelas gerações
futuras, enquanto a outra é jogo de oportunidades e, às vezes, amaldiçoada. A
realeza terrena termina com a vida; a realeza moral ainda governa,
sobrepondo-se além da morte. Sob esse aspecto, Jesus não é um rei mais poderoso
do que todos os soberanos? Foi, pois, com razão que disse a Pilatos: Eu sou rei, mas meu reino não é deste mundo.
O PONTO DE VISTA
A
ideia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no futuro,
e essa fé tem enormes consequências sobre a moralização dos homens, uma vez que
muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram a vida terrena. Para
aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a
vida corporal não é mais do que uma passagem, uma curta permanência em um país
ingrato. Os reveses e as amarguras da vida terrena não são mais do que
incidentes que recebe com paciência, pois sabe que são de curta duração e devem
ser seguidos por um estado mais feliz. A morte não tem mais nada de assustador;
não é mais a porta do nada, mas a da libertação, que abre para o exilado* a entrada
de uma morada de felicidade e de paz. Sabendo que está num lugar temporário e
não definitivo, recebe as preocupações da vida com mais tolerância, resultando
daí, para ele, uma calma de espírito que suaviza a amargura.
Sem a certeza da vida futura, o homem concentra todos os
seus pensamentos na vida terrena. Incerto quanto ao futuro, dedica tudo ao
presente. Não enxergando bens mais preciosos do que os da Terra, faz como a
criança que não vê outra coisa além de seus brinquedos.
Eis porque tudo faz para conseguir os únicos bens que para
ele tem valor. A perda do menor de seus bens é um doloroso desgosto. Um
descontentamento, uma esperança frustrada, uma ambição não satisfeita, uma
injustiça de que é vítima, a vaidade ou o orgulho feridos constituem os tormentos
que fazem de sua vida uma eterna angústia, entregando-se assim, voluntariamente, a uma verdadeira tortura todos
os instantes. Sob o ponto de
vista da vida terrena, no centro do qual o homem está colocado, tudo toma, ao
seu redor, enormes proporções.
O mal que o atinja, assim como o bem que toque aos outros,
tudo adquire aos seus olhos uma grande importância, tal como para aquele que
está no interior de uma cidade, tudo parece grande: os homens que ocupam altos
cargos e também os monumentos; mas, ao subir uma montanha, homens e coisas vão
lhe parecer bem pequenos.
Assim ocorre com aquele que encara a vida terrena do ponto
de vista da vida futura: a Humanidade, como as estrelas do firmamento, perde-se
na imensidão. Percebe, então, que grandes e pequenos se confundem como formigas
sobre um monte de terra; que proletários e soberanos são da mesma estatura, e
lamenta que essas criaturas frágeis e transitórias se preocupem tanto para conseguir
um lugar que os eleve tão pouco e que por tão pouco tempo conservarão. Assim é
que a importância atribuída aos bens terrenos está sempre na razão inversa da
fé na vida futura.
Se for desse modo, ninguém mais se ocupando das coisas da Terra,
tudo correrá perigo, é o que se pode pensar. Mas não é assim. Instintivamente, o
homem procura o seu bem-estar e, mesmo tendo a certeza de só ficar num lugar
por pouco tempo, ele ainda quererá estar o melhor ou o menos mal possível. Não
há ninguém que, achando um espinho debaixo da sua mão, não a tire para não se
picar.
Portanto, a procura do bem-estar força o homem a melhorar
todas as coisas, impulsionado que é pelo instinto do progresso e da
conservação, que está nas leis naturais. Ele trabalha, portanto, por
necessidade, por gosto e por dever, e com isso realiza os planos da Providência,
que o colocou na Terra com esse objetivo. Só aquele que considera a vida futura
pode atribuir ao presente uma importância relativa e se consolar facilmente com
seus insucessos, pensando na sorte que o aguarda.
Deus não condena, portanto, os prazeres terrenos, mas,
sim, o abuso que deles se faça em prejuízo das coisas da alma. É contra esse
abuso que se devem acautelar os que ouvem estas palavras de
Jesus: Meu reino
não é deste mundo.
Aquele que concentra seus pensamentos na vida terrena é
como um homem pobre que perde tudo o que possui e se desespera, ao passo que
aquele que crê na vida futura é semelhante a um homem rico que perde uma
pequena soma sem se perturbar.
O Espiritismo alarga o pensamento do homem e abre-lhe
novos horizontes, mostra-nos que esta vida é apenas um elo do conjunto de
grandiosidade e harmonia da obra do Criador, ao invés da visão estreita e
mesquinha que faz com que o homem se concentre na vida presente, como se ela
fosse o único e frágil eixo do seu futuro para a eternidade. Mostra os laços
que unem todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo
e os seres de todos os mundos. Dá, assim, uma base e uma razão de ser à fraternidade
universal, enquanto a doutrina da criação da alma no momento do nascimento de
cada corpo torna todos os seres estranhos uns aos outros. Essa solidariedade
das partes de um mesmo todo explica o que parecia ser inexplicável, se apenas
considerarmos um único ponto de vista. É esse conjunto de conhecimentos que os
homens no tempo do Cristo não podiam entender, e foi por isso que reservou o
seu conhecimento para mais tarde.
CONTINUA AMANHÃ
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