“SOMBRAS DO PASSADO”
HAROLDO FREITAS
O
Colégio e os alunos são iguais ao anterior. Não adianta trocar de Colégio,
professores e colegas, o meu ideal não muda. Preciso, literalmente, de
liberdade para ter condições de escolher o que é melhor para mim. Não uma
liberdade vigiada, ou melhor, policiada, como no tempo da Ditadura.
Caroline
tinha quinze anos. Filha de Ronaldo e Maria Aparecida, que tinham mais um
filho, o Rodrigo, atualmente, com vinte anos e no quarto ano de Medicina.
Rodrigo
nunca dera trabalho aos pais, tanto nos estudos como na sua vida particular,
inclusive na adolescência.
Carol,
ao contrário, estava deixando os pais de cabelos brancos. Estava na sexta série
há dois anos e andando com uma turma do Colégio, nada recomendável. Para tentar
mudar a situação, sua mãe, D. Cida, a transferiu para um Colégio mais rígido e
administrado por Freiras. Todavia, quanto às
amizades parece não ter dado resultado positivo. Carol continua saindo
com os colegas do antigo Colégio.
O
relacionamento entre mãe e filha era o pior possível. Não conseguiam conversar
sem discutir. A cada dia o diálogo ficava mais difícil.
Ronaldo,
executivo de uma Empresa Multinacional, devido a reuniões e viagens, passava
pouco tempo em casa. A responsabilidade da casa e educação dos filhos,
praticamente, ficava a cargo exclusivo da Cida.
Ronaldo
e Cida formavam um casal feliz e amavam-se muito. Porém, há dois anos, a vida
do casal estava tornando-se insuportável. Ronaldo fora promovido a gerente da
filial do Brasil, cargo que lhe trouxe mais prestigio, privilégios, aumento de
salário e poder.
Trouxe,
também, mais trabalho e responsabilidade. Quando não estava viajando, para as
filiais na América do Sul ou para a Matriz, em Miami, ficava em reuniões até
altas horas da noite. Nos finais de semana, quando não recebia em casa amigos e
clientes, estava visitando-os em suas casas. No princípio, Cida adorava receber
e visitar pessoas diferentes, fazer novas amizades, mas, com o passar do tempo,
aquilo foi tornando-se uma rotina cansativa e maçante. Já não tinha tempo de
ficar às sós com o marido. Quando voltavam dessas visitas e festas, estavam
exaustos.
Ronaldo
absorvido com os problemas da Empesa e a expansão dos negócios, não tinha tempo
para dar atenção à Carol e, quando Cida, nos poucos momentos de intimidades,
falava dos problemas com a filha, era motivo para discussões e brigas. Ele
alegava que tinha muitos problemas da Empresa para resolver e os domésticos ela
é que deveria resolvê-los.
Cida
amava o marido e sabia que era amada, mas, estava vendo, que aos poucos, o seu
casamento estava acabando. Tudo por causa do comportamento de Carol, o que a
fazia não ter paciência para conversar com a filha, de maneira ponderada e compreensiva.
Sabia
que ela estava errada e tinha a obrigação de consertá-la de qualquer maneira,
como se fosse um objeto ou uma máquina.
Por seu
lado, Carol que fora criada, desde o seu nascimento, com suas vontades, desejos
e caprichos atendidos sem a menor contestação, achava-se com direito,
principalmente agora que já se considerava adulta, de escolher o que era melhor
para si. Da sua turma, a única que tinha uma mãe chata e careta era ela. As
outras meninas da turma, algumas mais novas, tinham total liberdade de suas
mães, que eram modernas e tinham consciência que estava vivendo nos anos
noventa e não como a sua mãe, que parecia estar nos anos cinquenta. O
relacionamento entre as duas nem parecia de mãe e filha e sim de duas pessoas
estranhas e inimigas.
D.
Beatriz, avó de Carol por parte de pai, tivera somente um filho, o Ronaldo.
Ficara viúva a pouco mais de dez anos e não aceitava ir morar com o filho,
preferindo morar sozinha, embora tendo um ótimo relacionamento com a nora.
Gostava muito da neta e era a sua confidente, principalmente nos conflitos com
a mãe.
Cida
tinha dois irmãos, ambos, casados e era a caçula.
Continua
amanhã
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