Castelos de areia
Sol a pino. Maresia. Ondas ritmadas.
Na praia, está um menino.
Ajoelhado, ele cava a areia com uma
pá de plástico e a joga dentro de um balde vermelho. Em seguida, vira o balde
sobre a superfície e o levanta.
Encantado, o pequeno arquiteto vê
surgir diante de si um castelo de areia.
Ele continuará a trabalhar a tarde inteira.
Cavando os fossos. Modelando as paredes.
As rolhas de garrafa serão as
sentinelas. Os palitos de sorvete serão as pontes. E um castelo de areia será
construído.
* * *
Cidade grande. Ruas movimentadas.
Ronco dos motores dos automóveis.
Um homem está no escritório. Em sua
escrivaninha, ele organiza pilhas de papéis e distribui tarefas. Coloca o fone
ao ouvido e faz uma chamada.
Como num passe de mágica, contratos
são assinados e, para grande felicidade do homem, são fechados grandes
negócios.
Ele trabalhará a vida inteira.
Formulando planos. Prevendo o futuro.
As rendas anuais serão as sentinelas.
Os ganhos de capital serão as pontes. Um império será construído.
Dois construtores de dois castelos.
Ambos têm muita coisa em comum: fazem grandezas com pequeninos grãos...
Constroem algo do nada. São
diligentes e determinados. E, para ambos, a maré subirá, e tudo terminará.
Contudo, é nesse ponto que as
semelhanças terminam. Porque o menino vê o fim, ao passo que o homem o ignora.
Observe o menino na hora do
crepúsculo.
Quando as ondas se aproximam, o
menino sábio pula e bate palmas.
Não há tristeza. Nem medo. Nem
arrependimento. Ele sabia que isso aconteceria. Não se surpreende.
E, quando a enorme onda bate em seu
castelo e sua obra-prima é arrastada para o mar, ele sorri...
Sorri, recolhe a pá, o balde, segura
a mão do pai e vai para casa.
O adulto, contudo, não é tão sábio
assim. Quando a onda dos anos desmorona seu castelo, ele se atemoriza...
Cerca seu monumento de areia, a fim
de protegê-lo.
Tenta impedir que as ondas alcancem
as paredes. Encharcado de água salgada e tremendo de frio, ele resmunga para a
próxima onda.
É o meu castelo, diz em tom de
afronta.
O mar não precisa responder. Ambos
sabem a quem a areia pertence...
Talvez você não saiba muito sobre
castelos de areia. Mas as crianças sabem.
Observe-as e aprenda. Vá em frente e
construa, mas construa com o coração de uma criança.
Quando chegar a hora do pôr do sol e
a maré levar tudo embora, aplauda. Aplauda o processo da vida, segure a mão do
Pai e vá para casa.
* * *
A vida tem sua dinâmica própria, e
obedece a Leis transcendentes, que nem sempre conseguimos compreender
totalmente...
Mas o certo é que a roda da vida gira
e nos oferece lições importantes para serem apreendidas e vividas.
Resta-nos conhecer e confiar.
Observar e aprender.
Por isso, vá em frente e construa,
mas construa com o coração de uma criança.
E quando chegar a hora do pôr do sol
e a maré levar tudo embora aplauda. Aplauda o processo da vida, segure a mão do
Pai e vá para casa.
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