QUINTA MENSAGEM
Meu pai Lineu e querida Mãezinha Elza:
Estou
presente com os meus votos de paz e saúde, luz e amor.
A
saudade é um ímã a que raras criaturas conseguem resistir. Quero dizer que a
mãezinha Elza pensou no dia dos supostos Finados me recordou a figura,
mentalizando-se com tamanha perfeição de estrutura e me falou de saudades com
sentimentos tão altos que não pude refrear o propósito de reencontrá-los,
através do papel e do lápis, qual se estivéssemos grafando notícias aos
queridos destinatários no próprio correio.
É
importante tudo isso para mim que, aos poucos, vou me habituando a esse tipo de
relacionamento.
Sentir-me-ia
feliz se pudesse transmitir a todos a certeza de que os finados não existem.
Somos
os mortos-vivos das histórias domésticas, tentando varar as barreiras
vibratórias que nos separam um dos outros.
A
força básica que nos compele a crer na morte é justamente a saudade que nos
fere a todos, em cada paisagem social e em todos os grupos de atividades
humanas. Dói de tal modo no coração essa presença do vazio imaginário que, na
retaguarda, nos impele a procurar, por todos os meios ao nosso alcance, o fio
de comunicação com os que ficaram na vida física a comungar conosco as mesmas
lembranças e, por vezes, as mesmas lágrimas.
Este,
mamãe, é o motivo pelo qual me vejo aqui em companhia do vovô Aristides (4), a
fim de informar ao seu carinho e ao carinho de meu pai que estamos bem,
desejando aos nossos entes amados tudo aquilo que a vida nos possa oferecer de
bom e belo.
Vejo
aqui, além de nós, outros corações sensíveis que se recordam dos seus entes
queridos e podemos dizer a cada um que a morte é um fenômeno sem substância ou
acontecimento que apenas reconduz a mente humana a recordar as suas fontes de
origem.
A
todos os companheiros e companheiras que se agrupam aqui, desejo entregar a
mensagem de vida previsível que nos é trazida por nossa própria fé.
Regozijem-se todos com esta realidade porque a verdade é semelhante ao espelho
que não aclara retoques ou enfeites desnecessários.
A
esse respeito, meu pai, tenho mantido vários diálogos com vovô Aristides, que é
incisivo em suas respostas:
“Cada
existência, meu filho, é um ato do drama evolutivo em que vivemos; cada
existência que se segue à outra é um traço de continuidade da peça em que nos
integramos para a conquista de nós mesmos. Muitas vezes temos vindo à Atena do
mundo na condição de guerreiros, na suposição de que as aquisições exteriores
nos conduziriam às finalidades desejadas, mas apenas no instante em que nos
conhecemos é que encontramos o verdadeiro caminho. Pense nisso e escrevendo aos
nossos irmãos, sobre o dia de Finados, vocês talvez se reencontrem quanto às
necessidades essenciais da vida”.
Estou
nesta fase, buscando descobrir-me.
Veja,
mãezinha, que o caminho das saudades é o mais acessível para os nossos
reencontros até agora e agradeço-lhe o chamamento de mãe que me fala tão alto
ao campo do coração.
Se
eu pudesse, rogaria a cada um dos nossos irmãos presentes destacarem um pequeno
farnel para uma família em dificuldades maiores que as nossas, na certeza de
que esse expediente nos fortificaria muito mais que as palavras quentes de
lamentações e sofrimento.
Uma
rosa para a terra que nos conserva as lembranças e um pão para os lares que
sofrem privações e obstáculos numerosos, em nossa memória. Se a rosa for
artificial, mais gratos nos tornamos, porque a flor não terá custado qualquer
desgosto à planta maternal em cujos braços desabrochou.
Mãezinha
procure difundir essa prática, desse modo. Qual acontece no Natal de Jesus,
estaremos dividindo nosso próprio conforto com aqueles que carecem dos
elementos mais simples da terra para sobreviverem. Isso não é impossível e a
alegria repartida ser-nos-á força e estímulo para colaborar com mais carinho
nos setores do bem.
Como
vê o papai, as ideias me explodem na cabeça: entretanto a paciência deve ser a
guardiã dessas instruções, porque só através de muita paciência convenceremos
os nossos irmãos da terra quanto à realidade que pertence a todos nós. Acima,
minha resposta.
Mãezinha
Elza no íntimo perguntou o que teria o seu filho a dizer numa data expressiva
quanto esta, o tradicional Dois de Novembro, que desejo desperte luminoso e
belo para todos os nossos irmãos em humanidade.
Mãezinha,
já que nos referimos a supostos falecidos, quero dizer-lhes que eu vi suas
indagações carinhosas, juntamente com as da vovó Joana, quanto ao paradeiro do
meu avô João Ferreira Telles (28). Outra vez a saudade, filha do amor,
funcionando no coração da querida vovó, que até hoje registra a ausência do
companheiro.
Sei
que ele a visita frequentemente em Ituverava e, sem desejar antecipação nos
projetos do meu avô, posso informá-lo de que ele aceitou determinados serviços
sacrificiais, em plano espiritual diferente daquele em que hoje tenho a minha
provisória habitação, a fim de conquistar o direito de possuir uma residência
própria, na qual esperará a vovó com a ternura do homem que aguarda a noiva
querida. Com isso não me refiro a qualquer possibilidade de morte para a vovó,
a quem desejo muitos e muitos anos de vida e bondade no plano físico a fim de
prosseguir o seu apostolado de mãe espiritual para tanta gente.
Desejo
simplesmente salientar que o vovô João traz o coração renascido em primavera de
sonhos e tudo fará de modo que um dia poderá mostrar com santo orgulho, haurido
no trabalho, o novo ninho em que os dois se reencontrem para servirem aos
desígnios de Deus em outras dimensões.
Às
vezes vovó Joana indaga se o vovô não lhe recebe as orações. Recebe sim e se
sente feliz em ser lembrado por ela na espiritualidade maior não há desencontro
nem velhice e a alma retorna o seu jardim interior de ideais sublimados em novo
nível de vivência.
Reporto-me
a essas notícias para que se veja que os “finados” estão vivos e quantos
partiram amando as próprias responsabilidades são trabalhadores ativos, agindo
na vanguarda com o objetivo de oferecerem o melhor de suas vidas aos que ficam
temporariamente na terra, com a obrigação de voltarem ao plano das realidades imperecíveis.
Pai,
perdoa-me semelhantes registros, mas desejo infundir em mãezinha Elza e em vovó
Joana a certeza de que todos aqueles que se lembram dos que os antecederam na
grande mudança são também por estes lembrados na mesma tônica de amor que lhes
prendem as recordações.
Agradeço
as atenções que o Saturnino (13) tem dado aos meus pedidos, tanto quanto sou
grata à querida irmã Sandra Maria (7) por estar sempre recordando aos meus
sobrinhos a imagem do tio que continua a amá-los no mesmo grau de carinho com
que os beijava na existência do corpo pesado.
A
todos as minhas lembranças, sem me recorda com silencioso afeto, muitas vezes a
renovar-me as energias, fortalecendo-me para o trabalho. Muito carinho à vovó
Joana, a quem dedico esta mensagem, na qual me dirijo a todos os irmãos
presentes sobre o dia de amanhã, dia dos supostos finados.
Querido
papai, estou muito grato pelo prosseguimento de seus estudos sobre a
reencarnação e creia que a nossa ligação é inalterável.
Mais
tarde escreverei sobre a alegria de reencontrar o meu trisavô, em cuja pessoa
julgava estar abraçando um amigo, sem maiores raízes com a nossa vida familiar.
A
reunião deve continuar no esquema dos nossos mentores espirituais e reúno papai
e mamãe no respeitoso beijo do filho que lhes pertence pelo coração.
Lineu de Paula Leão Junior
01 de novembro de 1986
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