Propriedades
“Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso
coração.”
Jesus (Mateus, 6: 21)
“O homem só possuí em plena propriedade aquilo que lhe é dado
levar deste mundo.”
(Cap. 16; Item 9)
Em tudo o que se refira à
propriedade, enumera, acima de tudo, aquelas que partilhas por dons inexprimível da Infinita Bondade, e que, por se haverem incorporado
tranquilamente ao teu modo de ser, quase sempre delas não fazes conta.
Diariamente, recolhes, com absoluta
Indiferença, as cintilações da coroa solar a se derramarem, por forças divinas,
no regaço da terra, transfigurando-se em calor e pão, no entanto, basta pequeno
rebanho de nuvens na atmosfera para que te revoltes contra o frio.
Dispões das águas circulantes que,
em mananciais e poços, rios e chuvas, te felicitam a existência, sem que te
lembres disso, e, ante o breve empecilho do encanamento no recinto doméstico,
entregaste sem defesa a pensamentos de irritação.
Flores aos milhares, na estrada e
no campo, convidam-te a meditar na grandeza da Inteligência Divina, conversando
contigo pelo idioma particular do perfume e, em muitas circunstâncias, não
hesitas esfacela-las sob os pés, deitando reclamações se pequenino seixo te
penetra o sapato.
Correntes aéreas trazem de longe,
princípios nutrientes, sustentando-te a vida e lhes consomes as energias, à
feição da criança que se rejubila inconsciente e feliz no seio materno e se o
vento agita leve camada de pó, costumas acusar desagrado e intemperança.
Possuis no corpo todo um castelo de
faculdades prodigiosas que te enseja pelas ogivas dos sentidos a contemplação e
a análise do Universo, permitindo-te ver e ouvir, falar e orientar, aprender e
discernir, sem que lhe percebas, do pronto, o ilimitado valor, e dificilmente
deixas de clamar contra os excedentes que assinalas no caminho dos semelhantes,
sem refletir nos aborrecimentos e nas provas que a posse efêmera disso ou
daquilo lhes acarreta à existência.
Não invejes a propriedade
transitória dos outros.
Ignoras porque motivo à fortuna
amoedada lhes aumenta a responsabilidade e requeima a cabeça.
Sobretudo, nunca relaciones a
ausência do supérfluo.
Considera os talentos imperecíveis
que já reténs na intimidade da própria alma e lembra-te de que transportam nos
coração e nas mãos os recursos inefáveis de estender, infinitamente, os
tesouros do trabalho e as riquezas do amor.
CONTINUA AMANHÃ
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