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A palavra da cruz
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que
perecem, mas para nós que somos salvos é o poder de Deus.” – Paulo. (1ª Epístola
aos Coríntios, 1:18.)
A mensagem da cruz é dolorosa em todos os tempos.
Do Calvário desceu para o mundo uma voz, a princípio desagradável
e incompreensível.
No martirológio do Mestre situavam-se todos os argumentos de
negação superficialmente absoluta.
O abandono completo dos mais amados.
A sede angustiosa.
Capitulação irremediável.
Perdão espontâneo que expressava humilhação plena.
Sarcasmo e ridículo entre ladrões.
Derrota sem defensiva.
Morte infamante.
Mas o Cristo usa o fracasso aparente para ensinar o caminho
da Ressurreição Eterna, demonstrando que o “eu” nunca se dirigirá para Deus,
sem o aprimoramento e sem a sublimação de si próprio.
Ainda hoje, a linguagem da cruz é loucura para os que
permanecem interminavelmente no círculo de reencarnações de baixo teor
espiritual; semelhantes criaturas não pretendem senão mancomunar-se com a
morte, exterminando as mais belas florações do sentimento.
Dominam a muitos, incapazes do próprio domínio, ajuntam
tesouros que a imprudência desfaz e tecem fios escuros de paixões obcecantes em
que sucumbem, vezes sem conta, à maneira da aranha encarcerada nas próprias
teias.
Repitamos a mensagem da cruz ao irmão que se afoga na carne e
ele nos classificará à conta de loucos, mas todos nós, que temos sido salvos de
maiores quedas pelos avisos da fé renovadora, estamos informados de que, nos
supremos testemunhos, segue o discípulo para o Mestre, quanto o Mestre subiu
para o Pai, na glória oculta da crucificação.
98
Couraça da caridade
“Sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e da
caridade.” – Paulo. (1ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:8.)
Paulo foi infinitamente sábio quando aconselhou a couraça da
caridade aos trabalhadores da luz.
Em favor do êxito desejável na missão de amor a que nos
propomos, em companhia do Cristo, antes de tudo é indispensável preservar o
coração.
E se não agasalharmos a fonte do sentimento nas vibrações do
ardente amor, servidos por uma compreensão elevada nos círculos da experiência
santificante em que nos debatemos na arena terrestre, é muito difícil vencer na
tarefa que o Senhor nos confia.
A irritação permanente, diante da ignorância, adia as vantagens
do ensino benéfico.
A indignação excessiva, perante a fraqueza, extermina os
germes frágeis da virtude.
A ira freqüente, no campo da luta, pode multiplicar-nos os
inimigos sem qualquer proveito para a obra a que nos devotamos.
A severidade demasiada, à frente de pessoas ainda estranhas
aos benefícios da disciplina, faz-se acompanhar de efeitos contraproducentes
por escassez de educação do meio em que se manifesta.
Compreendendo, assim, que o cristão se acha num verdadeiro
estado de luta, em que, por vezes, somos defrontados por sugestões da irritação
intemperante, da indignação inoportuna, da ira injustificada ou da severidade
destrutiva, o apóstolo dos gentios receitou-nos a couraça da caridade, por
sentinela defensiva dos órgãos centrais de expressão da vida.
É indispensável armar o coração de infinito entendimento
fraterno para atender ao ministério em que nos empenhamos.
A convicção e o entusiasmo da fé bastam para começar
honrosamente, mas para continuar o serviço, e terminá-lo com êxito, ninguém
poderá prescindir da caridade paciente, benigna e invencível.
CONTINUA AMANHÃ
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