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Vê e segue
“Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo.” – (João, 9:25.)
Apesar de o trabalho renovador do Evangelho, nos círculos da
consolação e da pregação, desdobrar-se, diante das massas, semeando milagres de
reconforto na alma do povo, o serviço sutil e quase desconhecido do
aproveitamento da Boa Nova é sempre individual e intransferível.
Os aprendizes da vida cristã, na atividade vulgar do caminho,
desfrutam do conceito de normalidade, mas se não gozam de vantagens observáveis
no imediatismo da experiência humana, quais sejam as da consolação, do estímulo
ou da prosperidade material, de maneira a gravarem o ensinamento vivo de Jesus,
nas próprias vidas, passam à categoria de pessoas estranhas, muita vez ante os
próprios companheiros de ministério.
Chegado a semelhante posição, e se sabe aproveitar a sublime
oportunidade pela submissão e diligência, o discípulo experimenta completa transposição
de plano.
Modifica a tabela de valores que o rodeiam.
Sabe onde se ocultam os fundamentos eternos.
Descortina esferas novas de luta, através da visão interior
que outros não compreendem.
Descobre diferentes motivos de elevação, por intermédio do
sacrifício pessoal, e identifica fontes mais altas de incentivo ao esforço
próprio.
Em vista disso, freqüentemente provoca discussões acesas, com
respeito à atitude que adota à frente de Jesus.
Por ver, com mais clareza, as instruções reveladas pelo
Mestre, é tido à conta de fanático ou retrógrado, idiota ou louco.
Se, porém, procuras efetivamente a redenção com o Senhor,
prossegue seguro de ti mesmo; repara, sem aflição e sem desânimo, as contendas
que a ação genuína de Jesus em ti recebe de corações incompreensivos e
estacionários, repete as palavras do cego que alcançou a visão e segue para
diante.
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Além dos outros
“Não fazem os publicanos também o mesmo?” – Jesus.
(Mateus, 5:46.)
Trabalhar no horário comum irrepreensivelmente, cuidar dos
deveres domésticos, satisfazer exigências legais e exercitar a correção de
proceder, fazendo o bastante na esfera das obrigações inadiáveis, são tarefas
peculiares a crentes e descrentes na senda diária.
Jesus, contudo, espera algo mais do discípulo.
Correspondes aos impositivos do trabalho diuturno, criando
coragem, alegria e estímulo, em derredor de ti?
Sabes improvisar o bem, onde outras pessoas se mostraram
infrutíferas?
Aproveitas, com êxito, o material que outrem desprezou por
imprestável?
Aguardas, com paciência, onde outros desesperaram?
Na posição de crente, conservas o espírito de serviço, onde o
descrente congelou o espírito de ação?
Partilhas a alegria de teus amigos, sem inveja e sem ciúme, e
participas do sofrimento de teus adversários, sem falsa superioridade e sem
alarde?
Que dás de ti mesmo no ministério da caridade? Garantir o
continuísmo da espécie, revelar utilidade geral e adaptar-se aos movimentos da
vida são característicos dos próprios irracionais.
O homem vulgar, de muitos milênios para cá, vem comendo e
bebendo, dormindo e agindo sem diferenças fundamentais, na ordem coletiva. De
vinte séculos a esta parte, todavia, abençoada luz resplandece na Terra com os
ensinamentos do Cristo, convidando-nos a escalar os cimos da espiritualidade
superior. Nem todos a percebem, ainda, não obstante envolver a todos. Mas, para
quantos se felicitam em suas bênçãos extraordinárias, surge o desafio do
Mestre, indagando sobre o que de extraordinário estamos fazendo.
CONTINUA AMANHÃ
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