sexta-feira, 5 de abril de 2013

SOMBRAS DO PASSADO - LIVRO DE H. FREITAS

CONTINUAÇÃO



O Ronaldo já não contestava, com veemência, as palavras de sua mãe, baseadas, unicamente, no Espiritismo. Quando discordava de alguma coisa, aceitava as novas explicações e quase sempre ficava convencido que aquela senhora que estava sentada ali, ao seu lado, tinha razão, pois além de falar com pleno conhecimento do assunto, era uma velha conhecida que, apesar de não se lembrar de onde a conhecia, acreditava em suas palavras, tendo em vista a confiança que ela lhe passava.
      Conversaram por mais de uma hora. Quando Ronaldo se despediu de sua mãe, tinha concordado que o grande problema Carol, ficaria entregue a ela e que, naquele dia, não iria à Empresa. Retornaria à sua casa, para tentar um diálogo franco e sincero com sua espoas, para salvar o seu casamento. Reconhecia que nos últimos anos se acomodara, aceitando aquela situação que estava quase ocasionado a sua separação conjugal. Embora Cida o acusasse  de ter uma amante, ele sabia, por motivos óbvios, que não era verdade, como sabia, também, que ainda a amava muito. Só não conseguia encontrar o motivo da aversão que tinha à Carol. No inicio ficava trabalhando até tarde para evitar, ao retornar para casa, ouvir as queixas de Cida a respeito da filha ou fosse obrigado a repreendê-la ou castiga-la. Chegando tarde ela já estava dormindo e só ouvia as queixas e lamentações de sua mulher, que eram tantas que chegava a pensar que ela estava inventando tudo aquilo.
     Para evitar encontrar-se com a filha nos fins de semana e, como depois que foi promovido a Gerente Geral da filial Brasileira, teria que visitar os representantes, fornecedores e clientes, em diversos Estados do Brasil, programava essas viagens para as sextas feiras, com isso, automaticamente, passava os fins de semana fora de casa. Pensava ele, que desta maneira o problema estaria resolvido. Talvez, considerando-se que o seu encontro com a filha era um problema, essa sua atitude seria a solução. Todavia, mal sabia ele que problemas bem maiores estavam surgindo, ou seja, a desconfiança de Cida sobre a sua fidelidade, a revolte de Carol, julgando-se rejeitada e, por conseguinte, o seu envolvimento com más companhias, o término do seu casamento e, finalmente, a gravidez de Carol.
     Chegando em casa não encontrou Cida. D. Glória informou que ela tinha saído logo atrás dele e que o Rodrigo tinha ido à Faculdade. Pensou, todos estão contra mim, só eu que estou preocupado com a fuga da Carol. Resolveu ir para a Empresa, lá teria outros assuntos para tratar e, provavelmente, esqueceria os problemas de casa, pelo menos durante as horas que passaria no serviço. Mas, apesar do acumulo de assuntos a ser resolvidos, não conseguia esquecer a gravidez de sua filha, a reconciliação com Cida e, principalmente, as palavras daquela senhora, através de sua mãe. Tinha certeza que a conhecia, mas não conseguia lembra-se de onde.
     Carol conseguiu abrir a janela e pular para a rua, por volta das cinco horas da manhã. Tinha pouco dinheiro na bolsa, pensou em ir para a casa de uma de suas amigas, mas imaginou que sua mãe, tão logo soubesse da sua fuga, iria iniciar as buscas justamente nas casas de suas amigas. Foi até a Rodoviária tentar comprar passagem para o litoral, onde sua avó tinha uma casa. No balcão de venda de passagens pediram a sua carteira de identidade e o atendente constatou que era menor de idade. Só poderia viajar na companhia dos pais ou com autorização do Juizado. Foi até ao posto do Juizado providenciar a Autorização, lá foi informada que só os pais poderiam tirar o documento. A expectativa de viajar estava descartada. Ficou andando pela Rodoviária. Não podia voltar para casa, pois, tinha certeza que levaria uma surra bem maior do que a da noite passada, pela fuga e para dizer o nome do pai daquele filho que carregava no ventre. Já tinha quase cinco meses de gravidez e, pelo pouco que sabia a respeito, o seu filho já estava quase totalmente formado, portanto, preferia morrer, a ter que fazer um aborto e, voltando para casa, a sua mãe a obrigaria a fazê-lo. Passava do meio dia quando sentiu fome, não tinha jantado na noite passada e nem tomado café pela manhã. Foi à Lanchonete e tomou café com pão, precisava economizar. O dinheiro era pouco e, ainda, não sabia o fazer ou para onde ia. As horas passavam lentamente, começou a escurecer. As pessoas que trabalhavam na Rodoviária, inclusive os Policiais, a olhavam com desconfiança. A tarde, um Policial perguntara se ela ia viajar e para onde. Respondeu que estava a espera da mãe que vinha do norte. A noite, sentada em um banco, adormeceu. O movimento de pessoas chegando e saindo diminuiu. De madrugada acordou com frio e fome, foi à Lanchonete e tomou mais um café com pão, agora sem leite e manteiga, era mais barato.
     O movimento da Rodoviária começou a aumentar. O dia estava amanhecendo. Passara um dia e uma noite perambulando entre pessoas que chegavam e saiam sempre apressadas, não tinha tempo nem interesse de conhecerem o drama daquela menina gravida.
     À tarde, encontrou o mesmo Policial do dia anterior, tentou esconder-se no meio das pessoas, mas o Policial a segurou pelo braço e disse para ela sair dali, imediatamente, ou a levaria para a Delegacia. Tentou convencê-lo que estava a espera da sua mãe, mas não teve êxito. Saiu andando pelas ruas, do centro de São Paulo, procurando os becos e vielas, escondendo-se, com medo de encontrar alguém conhecido. Porém, nestes becos e vielas, só encontrou vagabundos e viciados que lhe faziam as piores propostas. Já estava escurecendo, o medo aumentando, quase chegando ao desespero, de ter que passar a noite no meio daquela gente, quando encontrou um mendigo, idoso, cabelos grisalhos, que vendo o medo estampado em seu rosto, aproximou-se e perguntou o que ela estava fazendo ali.
     Veio a mente a estória que tinha inventado ao Policial e resolveu repeti-la, acrescentando que tinha passado o dia e a noite na Rodoviária

CONTINÚA AMANHÃ

Nenhum comentário: