Ronaldo pensara até em separação, mas
amava a esposa e era fiel. Nunca tivera uma aventura fora de casa, por mais
simples que fosse. Oportunidades não faltavam, principalmente durante as
viagens. Na solidão dos quartos de hotéis, ficava pensando o que e porque
daquela situação. O seu casamento estava, praticamente, acabado. No princípio,
com as dificuldades que passaram eram felizes. Agora, com sua vida profissional
estabilizada, boa posição social, econômica e financeira, a felicidade acabara.
Não conseguia mais passar um fim de semana
em casa com a família, preferia ficar solitário, nos quartos de hotéis, para
evitar ouvir cobranças e discutir com Cida e Carol. Já pedira conselhos à D.
Beatriz, mas ao invés de conselhos, recebia convite para participar de uma
sessão espírita, no Centro que sua mãe frequentava. Ela dizia que os problemas
que estavam aparecendo em sua casa eram motivados por dívidas contraídas em
encarnações passadas.
D. Beatriz, assim como toda família,
sempre fora católica de não perder a missa aos domingos. Após a morte do
marido, a convite de uma amiga, passou a frequentar o Centro Espírita Nossa
Casa, onde encontrou todas as respostas para as suas dúvidas sobre a vida antes
e depois da morte do corpo físico. Depois de alguns anos de estudos e
desenvolvimento da mediunidade, tornara-se uma das colaboradoras do Centro.
Além dos trabalhos de organização e assistência social aos mais necessitados,
fazia palestras e trabalhava como médium incorporadora, nas seções mediúnicas.
Nunca forçara o filho e sua família a seguirem a Doutrina Espírita, pois, sabia
que, como ela, um dia eles a descobririam.
Infelizmente, na sua maioria, essa descoberta
é feita na ocasião de dores e desesperos. Achava que a hora tinha chegado para
seu filho. Se as coisas continuassem como estavam, o final, que estava próximo,
seria a separação e o esfacelamento da família.
Ronaldo continuava católico e sempre que
podia ia à missa aos domingos. Não acreditava no Espiritismo, principalmente,
em reencarnação.
Era contra a atitude de sua mãe, ao trocar
o Catolicismo pela Doutrina Espírita e, todas as vezes que conversavam sobre o
assunto, procurava convencê-la a voltar para a Igreja Católica.
D. Beatriz fora aconselhada, pelos
mentores espirituais, a fazê-lo participar de uma reunião mediúnica, pois, a
sua casa estava cheia de Espíritos Obsessores, cuja finalidade era fazer a
separação do casal e destruição de toda a família.
Vendo que era muito difícil, ou melhor, impossível
fazê-lo mudar de ideia, resolveu falar abertamente com Cida e convidá-la a
participar de uma sessão mediúnica. Talvez, com a participação de Cida nas
sessões, pudesse levar o Ronaldo e Carol para o Centro.
No sábado, pela manhã, D. Beatriz foi a
casa do filho.
- Bom dia Cida. O Ronaldo está em casa?
- Bom dia D. Beatriz. Há muito tempo o seu
filho não passa os finais de semana em casa. Arruma uma viagem na sexta feira e
só volta na segunda ou terça feira, aliás, já falei com a senhora sobre isso.
- Já falou sim. Porém, vim falar com você
e, é bom que ele não esteja.
- Aconteceu alguma coisa? Vamos para a
sala.
- Vamos. Os meninos estão dormindo?
- O Rodrigo está, mas a Carol saiu cedo, dizendo
que ia estudar na casa de uma amiga. Agora, conte-me o que tão importante a fez
vir visitar-me em uma manhã de sábado?
- Você sabe
que sou Espírita e a muito tempo venho tentando levar o Ronaldo para participar
de uma reunião, porém, sem sucesso. Ultimamente, quando começo a falar ele se
aborrece e chega ao ponto de dizer, caso eu voltasse ao assunto ele deixaria de
ir em casa.
- Isso prova como está difícil dialogar
com o seu filho. Quando o assunto não é do seu interesse, ele encerra a
conversa, ameaçando sair de casa.
- Você não acha que está havendo alguma
coisa estranha interferindo em suas atitudes? Ele sempre foi um bom filho, um
bom esposo e um excelente pai. Não é possível que, de uma hora para outra, uma
pessoa possa se transformar dessa maneira, a não ser ocasionado por uma força
superior.
- D. Beatriz acho que ele arrumou outra mulher
e, para não ser o vilão da história, está fazendo tudo para eu abandonar a
casa. Mas, isso ele não vai conseguir, até porque, ainda o amo muito e não abandonarei
a minha casa e os meus filhos.
- Não acho que o problema seja outra mulher.
Quando ele vai lá em casa e fala sobre vocês, diz que não sabe o que está
acontecendo, pois, apesar de amá-la muito, o relacionamento entre vocês, desde
o nascimento de Carol, piora dia a dia. Diz, ainda, que esperava ver, com o
crescimento da Carol, tudo voltasse ao normal, mas, quando mais ela cresce mais
a vida de vocês torna-se um inferno.
- Isso é verdade. Esperava com o nascimento
da Carol uma maior união de nossa família, mas aconteceu o contrário. Parece
até que o nascimento de Carol foi castigo de DEUS.
Cida não deixe que os acontecimentos a faça
falar blasfêmias. Tudo acontece com a permissão de DEUS e, para o nosso bem,
para o nosso aprimoramento moral e para a nossa elevação espiritual. DEUS não
castiga ninguém. Nós é que erramos e pedimos para reparar os nossos erros e,
Ele, com justiça e bondade, CONTINÚA AMANHÃ
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