quinta-feira, 28 de março de 2013

SOMBRAS DO PASSADO - LIVRO DE H. FREITAS

CONTINUAÇÃO

     Cida saiu da biblioteca batendo a porta com força. Ronaldo sentou-se em frente à filha, que por sua vez, estava sentada ao lado da avó, ouvindo toda aquela discussão, sem parar de chorar. Ronaldo falou rispidamente.
     - Pare com esse choro. Devia chorar antes de fazer a besteira, agora não vai resolver nada.
     - Diga o nome do moleque que fez isso com você que o obrigarei a reparar o mal que praticou ou lhe darei uma surra que o fará se arrepender ter nascido e nunca mais desonrará filha de família.
     - Papai, não adianta o senhor quem é o pai do meu filho. Não o amo e não quero casar com ele. Portanto, o que adiantaria o senhor dar uma surra nele?
     - Você vai dizer quem é o vagabundo, nem que eu tenha que surrá-la até você confessar.
     Falando aos gritos, Ronaldo levantou e deu uma bofetada no rosto da filha.
     D. Beatriz levantou-se e colocando-se em frente de Ronaldo, disse:
     - Você ficou louco? Não permitirei que volte a bater em Carol. Sente-se e vamos conversar como pessoas civilizadas.
     - Mamãe, pelo amor que a senhora teve para com o meu pai, saia e deixe-me as sós com esta vagabunda, que vai aprender a ser uma moça direita.
     - Filho, apesar de, atualmente, vivermos em mundos diferentes continuo amando o seu pai como ele continua amando-me também, mais quem vai sair é você. Deixe-nos sozinhas. Vocês não souberam cria-la, acompanha-la e, principalmente, antes de serem pais, deveriam ter sido amigos. Neste momento, você dois não têm condições psicológicas para interagirem com a situação.
     - Mamãe o caso não é viver a situação e sim acabar com o problema uma vez por todas. E as duas únicas soluções que vejo são: o casamento ou o aborto.
     - Muito bem, esta é a sua maneira de ver, porém, eu lhe peço que me deixe conversar com a Carol. Quem sabe, talvez possamos resolver a questão de outra maneira. Tome um bom banho e vá para o Escritório. Você chegou de viagem e deve ter muita coisa pendente a sua espera.
     - Realmente mamãe, preciso ir ao Escritório. Arranque o nome desse vagabundo, pois à noite, quando retornar, quero tomar algumas providencias.
     Ronaldo saiu da Biblioteca e D. Beatriz voltou a sentar ao lado de Carol que, imediatamente, colocou a cabeça no colo da avó, que começou acaricia-la, alisando os seus cabelos. Ficaram assim por mais de dez minutos, sem pronunciarem uma única palavra. Carol quebrou o silencio, dizendo:
     - Vovó a senhora acha que devo casar-me com uma pessoa que não amo ou fazer um aborto, matando um inocente, como querem os meus pais?
     - Não. As duas alternativas que eles lhes deram são absurdas e contrárias ao bom senso e a lógica. Todavia, eu me pergunto: Porque você se entregou a um rapaz a quem não ama? Principalmente, facilitando a gravidez? Hoje existem muitos métodos para evita-la. Realmente não consigo entender a sua atitude. Na minha época de juventude uma moça solteira grávida era caso raro e quando acontecia, geralmente, ela se entrava por amor. O rapaz assumia a responsabilidade, casando-se de imediato. Quando não acontecia o casamento, a família mandava a jovem para o interior ou, até mesmo para o exterior, a fim de esconder o fato. Havia, como até hoje, alguns pais radicais que expulsavam as filhas de casa.
     - Os tempos mudaram vovó. Hoje, a maioria das jovens, por falta de atenção dos pais, é revoltada e procura todos os motivos e meios para castigá-los.
     - Em parte você tem razão, mas não seria mais viável que vocês procurassem o diálogo? Até porque, os maiores prejudicados são vocês.
     Antes de Carol responder, Cida entrou na Biblioteca e, aos gritos, disse:
     - Carol já para o seu quarto. Ficará de castigo até resolver dizer o nome do vagabundo. Não sairá nem para as refeições, a Glória as levará ao quarto.
     - Calma Cida, procure entender o momento difícil que a sua filha está passando. Agora, mais do que nunca, ela está precisando de compreensão, carinho e amor.
     D. Beatriz procurava amenizar a situação e diminuir a raiva e a revolta de sua nora.
     - A senhora acha que o meu momento está maravilhoso? E a vergonha que vamos passar com os comentários e mexericos dos vizinhos e amigos? Quem é a culpada desta desgraça que caiu em nossa casa? A única e exclusiva desta desgraça é essa vagabunda. Demos tudo do melhor. Bons Colégios, boa mesada, bons exemplos, como eu, seu pai e seu irmão. Nada lhe faltou e em troca olhe o que ela nos deu.
     - Vocês deram, realmente, muita coisa, mas esqueceram de dar amor, carinho, amizade, diálogo e, principalmente, limite. Concordar, dizer sim é mais prático, mais cômodo e simples. O limite tem, necessariamente, de ser acompanhado de explicação r justificativa, para poder ser aceito sem ressentimentos. Será que a culpada é só a Carol?
     - D. Beatriz eu lhe peço, pela nossa amizade, não interfira neste caso. Só eu e o seu filho temos o direito e obrigação de resolvê-lo. Porém, o seu filho, como sempre, está se omitindo

CONTINUA AMANHÃ

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