quarta-feira, 27 de março de 2013

SOMBRAS DO PASSADO - LIVRO DE H. FREITAS

CONTINUAÇÃO



     - Você está chorando? Venha almoçar comigo e conversaremos melhor.
     - Neste momento bem que gostaria de ter alguém amigo para ouvir-me e não existe alguém melhor que a senhora. Entretanto, ontem a noite quando falei com o papai ele disse para eu não sair de casa que ele viria diretamente do aeroporto para conversar comigo. Proibiu-me até de ir ao Colégio.
     - Neste caso, parece-me que o assunto não é tão normal como você disse. Vou imediatamente para aí.
     - Vovó não fique preocupada, mas com a senhora ao meu lado ficarei mais forte, mais protegida.
     - Já estou saindo, até logo.
     - Até logo vovó, a senhora é maravilhosa.
     D. Beatriz desligou o telefone, tirou o carro da garagem e seguiu para a casa do filho.
     Cida, chorando, foi ao encontro do marido que acabara de desembarcar.
     - Ronaldo aconteceu uma desgraça em nossa. Aliás, desgraça prevista por todos, menos por você, que nunca ligou para a sua filha.
     - Calma Cida, deixe de escândalos. Vamos para casa, lá conversaremos melhor.
     - Como você quer que fique calma? Já pensou na vergonha que vamos passar, junto aos nossos vizinhos e amigos?
     - Você tinha que ter pensado nisto antes, agora não adianta. Já aconteceu.
     Chegaram ao estacionamento. Ronaldo foi dirigindo, pensativo e calado. Porém, Cida não parava de falar.
     - Se você tivesse dado assistência e ajudado a cria-la, isso não teria acontecido. Mas o que você fez? Omissão, omissão, omissão. Com desculpa de serviço, nunca teve tempo para ela, aliás, nem para ela e nem para mim. Ultimamente, até nos finais de semana você arruma desculpa para passar fora de casa. Se não fosse apanhá-lo no aeroporto, provavelmente, iria para o Escritório e só chegaria, em casa, tarde da noite, como das outras vezes.
     - Por favor, cale essa boca ou largo tudo e viajo hoje mesmo para o exterior. Tenho uma reunião na Matriz e aproveito para ficar livre de você e das consequências que a sua incompetência de mãe proporcionou.
     - Só faltava essa. A sua filha erra você se acovarda me acusa de incompetente e, ainda, ameaça me abandonar. A muito tempo desconfiava que você tinha outra mulher, agora tenho certeza. Ela estava no avião com você? Por que não desceu de braço dado com ela? Poderíamos dar carona. Que burra que fui, avisando que viria apanhá-lo, deveria ter vindo de surpresa.
     - Pare de falar bobagens. Quanto a ser burra talvez você tenha razão. Não necessariamente, mas muitas vezes, incompetência é burrice.
     Cida continuou falando sem parar. Ronaldo, pensativo, calado, parecia que estava sozinho dentro do carro, o que a deixava com mais raiva. Quando chegaram em casa encontraram D. Beatriz, na Biblioteca, conversando com Carol.
     Ao entrar na Biblioteca, Ronaldo, dirigindo-se à D. Beatriz, falou em tom ríspido.
     - Mamãe, por favor, gostaria de falar em particular com esta vagabunda.
     - Meu filho, em primeiro lugar, bom dia, em segundo, essa vagabunda, como você disse, é a sua filha e, pelo que sei gravidez não é vagabundagem e, finalmente, como sua mãe e avó de Carol, tenho direito e obrigação de participar dessa conversa.
     - Mamãe desculpe. Além de estar arrasado pela noticia que a Cida me deu ontem à noite, o que me fez passar a noite acordado, desde o momento que ela me apanhou no aeroporto até chegarmos aqui, não parou de me acusar e falar bobagens. Realmente, estou muito nervoso e a sua presença é benéfica.
     - Compreendo a situação de vocês, mas não podem perder a cabeça e transformar uma simples e bendita gravidez em desgraça nacional.
     - Ora D. Beatriz, para a senhora é uma simples e bendita gravidez porque a filha não é sua e a vergonha junto aos nossos vizinhos e amigos não é a senhora que vai passar. Acho melhor a senhora não participar da nossa conversa com a Carol.
     - A minha mãe vai ficar e participar. Se você não está satisfeita pode se retirar.
     - Vou me retirar sim, antes, porém, gostaria de avisá-los que já tomei uma decisão. Caso ela continue escondendo o nome do vagabundo ou não se case dentro de um mês, tomarei as devidas providencias para ela abortar esse bastardo.
     - Minha filha tenha calma e serenidade para aceitar as provações da vida. Não blasfeme contra um inocente que, além de ser seu neto é, principalmente, filho de DEUS. Nada acontece por acaso e sem o consentimento do nosso Pai Celestial.
     - Essa conversa é muito bonita para que não está vivenciando o problema, como a senhora. Gostaria de saber se agiria dessa maneira se a filha fosse sua.
     - Cida, por favor, vamos para com esse assunto para não criarmos outro problema. O que devemos resolver de imediato é o caso Carol. Quando a sua decisão, embora ache que em parte você tem razão, mas, enquanto eu morar nesta casa, a decisão final será sempre a minha – Ronaldo terminou a frase aos gritos.

CONTINUAÇÃO

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