170
Domínio espiritual
“Não estou só, porque o Pai está comigo.” – Jesus. (João,
16:32.)
Nos transes aflitivos a criatura demonstra sempre onde se localizam
as forças exteriores que lhe subjugam a alma.
Nas grandes horas de testemunho, no sofrimento ou na morte,
os avarentos clamam pelas posses efêmeras, os arbitrários exigem a obediência
de que se julgam credores, os supersentimentalistas reclamam o objeto de suas
afeições.
Jesus, todavia, no campo supremo das últimas horas
terrestres, mostra-se absoluto senhor de si mesmo, ensinando-nos a sublime
identificação com os propósitos do Pai, como o mais avançado recurso de domínio
próprio.
Ligado naturalmente às mais diversas forças, no dia do Calvário
não se prendeu a nenhuma delas.
Atendia ao governo humano lealmente, mas Pilatos não o atemoriza.
Respeitava a lei de Moisés; entretanto, Caifás não o impressiona.
Amava enternecidamente os discípulos; contudo, as razões
afetivas não lhe dominam o coração.
Cultivava com admirável devotamento o seu trabalho de
instruir e socorrer, curar e consolar; no entanto, a possibilidade de
permanecer não lhe seduz o espírito.
O ato de Judas não lhe arranca maldições.
A ingratidão dos beneficiados não lhe provoca desespero.
O pranto das mulheres de Jerusalém não lhe entibia o ânimo
firme.
O sarcasmo da multidão não lhe quebra o silêncio.
A cruz não lhe altera a serenidade.
Suspenso no madeiro, roga desculpas para a ignorância do
povo.
Sua lição de domínio espiritual é profunda e imperecível.
Revela a necessidade de sermos “nós mesmos”, nos transes mais escabrosos da
vida, de consciência tranqüila elevada à Divina Justiça e de coração fiel
dirigido pela Divina Vontade.
171
Palavras de mãe
“Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos
disser.” - (João, 2:5.)
O Evangelho é roteiro iluminado do qual Jesus é o centro divino.
Nessa Carta da Redenção, rodeando-lhe a figura celeste, existem palavras,
lembranças, dádivas e indicações muito amadas dos que lhe foram legítimos
colaboradores no mundo.
Recebemos aí recordações amigas de Paulo, de João, de Pedro,
de companheiros outros do Senhor, e que não poderemos esquecer.
Temos igualmente, no Documento Sagrado, reminiscências de
Maria. Examinemos suas preciosas palavras em Caná, cheias de sabedoria e amor
materno.
Geralmente, quando os filhos procuram a carinhosa intervenção
de mãe é que se sentem órfãos de ânimo ou necessitados de alegria. Por isso
mesmo, em todos os lugares do mundo, é comum observarmos filhos discutindo com
os pais e chorando ante corações maternos.
Interpretada com justiça por anjo tutelar do Cristianismo, às
vezes é com imensas aflições que recorremos a Maria.
Em verdade, o versículo do apóstolo João não se refere a
paisagens dolorosas. O episódio ocorre numa festa de bodas, mas podemos
aproveitar-lhe a sublime expressão simbólica.
Também nós estamos na festa de noivado do Evangelho com a
Terra. Apesar dos quase vinte séculos decorridos, o júbilo ainda é de noivado,
porquanto não se verificou até agora a perfeita união... Nesse grande concerto
da idéia renovadora, somos serventes humildes. Em muitas ocasiões, esgota-se o
vinho da esperança. Sentimo-nos extenuados, desiludidos... Imploramos ternura
maternal e eis que Maria nos responde: Fazei tudo quanto ele vos disser.
O conselho é sábio e profundo e foi colocado no princípio dos
trabalhos de salvação.
Escutando semelhante advertência de Mãe, meditemos se
realmente estaremos fazendo tudo quanto o Mestre nos disse.
172
Lágrimas
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos,
e eu vos aliviarei.” – Jesus. (Mateus, 11:28.)
Ninguém como Cristo espalhou na Terra tanta alegria e
fortaleza de ânimo. Reconhecendo isso, muitos discípulos amontoam argumentos
contra a lágrima e abominam as expressões de sofrimento.
O Paraíso já estaria na Terra se ninguém tivesse razões para
chorar. Considerando assim, Jesus, que era o Mestre da confiança e do otimismo,
chamava ao seu coração todos os que estivessem cansados e oprimidos sob o peso
de desenganos terrestres.
Não amaldiçoou os tristes: convocou-os à consolação.
Muita gente acredita na lágrima sintoma de fraqueza
espiritual. No entanto, Maria soluçou no Calvário; Pedro lastimou-se, depois da
negação; Paulo mergulhou-se em pranto às portas de Damasco; os primeiros
cristãos choraram nos circos de martírio... mas, nenhum deles derramou lágrimas
sem esperança. Prantearam e seguiram o caminho do Senhor, sofreram e anunciaram
a Boa Nova da Redenção, padeceram e morreram leais na confiança suprema.
O cansaço experimentado por amor ao Cristo converte-se em
fortaleza, as cadeias levadas ao seu olhar magnânimo transformam-se em laços
divinos de salvação.
Caracterizam-se as lágrimas através de origens específicas.
Quando nascem da dor sincera e construtiva, são filtros de redenção e vida; no
entanto, se procedem do desespero, são venenos mortais.
CONTINÚA AMANHÃ
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