164
Não perturbeis
“Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” –
Jesus. (Mateus, 19:6.)
A palavra divina não se refere apenas aos casos do coração.
Os laços afetivos caracterizam-se por alicerces sagrados e os compromissos
conjugais ou domésticos sempre atendem a superiores desígnios. O homem não
ludibriará os impositivos da lei, abusando de facilidades materiais para
lisonjear os sentidos. Quebrando a ordem que lhe rege os caminhos,
desorganizará a própria existência. Os princípios equilibrantes da vida
surgirão sempre, corrigindo e restaurando...
A advertência de Jesus, porém, apresenta para nós
significação mais vasta.
“Não separeis o que Deus ajuntou” corresponde também ao “não
perturbeis o que Deus harmonizou”.
Ninguém alegue desconhecimento do propósito divino. O dever,
por mais duro, constitui sempre a Vontade do Senhor. E a consciência, sentinela
vigilante do Eterno, a menos que esteja o homem dormindo no nível do bruto,
permanece apta a discernir o que constitui “obrigação” e o que representa
“fuga”.
O Pai criou seres e reuniu-os. Criou igualmente situações e
coisas, ajustando-as para o bem comum.
Quem desarmoniza as obras divinas, prepare-se para a recomposição.
Quem lesa o Pai, algema o próprio “eu” aos resultados de sua ação infeliz e,
por vezes, gasta séculos, desatando grilhões...
Na atualidade terrestre, esmagadora percentagem dos homens
constitui-se de milhões em serviço reparador, depois de haverem separado o que
Deus ajuntou, perturbando, com o mal, o que a Providência estabelecera para o
bem.
Prestigiemos as organizações do Justo Juiz que a noção do
dever identifica para nós em todos os quadros do mundo. Às vezes, é possível
perturbar-lhe as obras com sorrisos, mas seremos invariavelmente forçados a
repará-las com suor e lágrimas.
165
Bens externos
“A vida de um homem não consiste na abundância das
coisas que possui.” – Jesus. (Lucas, 12:15.)
“A vida de um homem não consiste na abundância das coisas que
possui.”
A palavra do Mestre está cheia de oportunidade para quaisquer
círculos de atividade humana, em todos os tempos.
Um homem poderá reter vasta porção de dinheiro. Porém, que
fará dele?
Poderá exercer extensa autoridade. Entretanto, como se comportará
dentro dela?
Poderá dispor de muitas propriedades. Todavia, de que modo
utiliza os patrimônios provisórios?
Terá muitos projetos elevados. Quantos edificou?
Poderá guardar inúmeros ideais de perfeição. Mas estará atendendo
aos nobres princípios de que é portador?
Terá escrito milhares de páginas. Qual a substância de sua obra?
Contará muitos anos de existência no corpo. No entanto, que
fez do tempo?
Poderá contar com numerosos amigos. Como se conduz perante as
afeições que o cercam?
Nossa vida não consiste da riqueza numérica de coisas e
graças, aquisições nominais e títulos exteriores. Nossa paz e felicidade
dependem do uso que fizermos, onde nos encontramos hoje, aqui e agora, das
oportunidades e dons, situações e favores, recebidos do Altíssimo.
Não procures amontoar levianamente o que deténs por
empréstimo. Mobiliza, com critério, os recursos depositados em tuas mãos.
O Senhor não te identificará pelos tesouros que ajuntaste, pelas
bênçãos que retiveste, pelos anos que viveste no corpo físico. Reconhecer-te-á
pelo emprego dos teus dons, pelo valor de tuas realizações e pelas obras que
deixaste, em torno dos próprios pés.
166
Posses definitivas
“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.”
– Jesus. (João, 10:10.)
Se a paz da criatura não consiste na abundância do que possui
na Terra, depende da abundância de valores definitivos de que a alma é
possuída.
Em razão disso, o Divino Mestre veio até nós para que sejamos
portadores de vida transbordante, repleta de luz, amor e eternidade.
Em favor de nós mesmos, jamais deveríamos esquecer os dons
substanciais a serem amealhados em nosso próprio espírito.
No jogo de forças exteriores jamais encontraremos a
iluminação necessária.
Maravilhosa é a primavera terrena, mas o inverno virá depois
dela.
A mocidade do corpo é fase de embriagantes prazeres; no
entanto, a velhice não tardará.
O vaso físico mais íntegro e harmonioso experimentará, um
dia, a enfermidade ou a morte.
Toda manifestação de existência na Terra é processo de transformação
permanente.
É imprescindível construir o castelo interior, de onde possamos
erguer sentimentos aos campos mais altos da vida.
Encheu-nos Jesus de sua presença sublime, não para que
possuamos facilidades efêmeras, mas para sermos possuídos pelas riquezas
imperecíveis; não para que nos cerquemos de favores externos e, sim, para concentrarmos
em nós as aquisições definitivas.
Sejamos portadores da vida imortal.
Não nos visitou o Cristo, como doador de benefícios vulgares.
Veio ligar-nos a lâmpada do coração à usina do Amor de Deus, convertendo-nos em
luzes inextinguíveis.
CONTINÚA AMANHÃ
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