CONTINUAÇÃO
162
Esperemos
“Não esmagará a cana quebrada e não apagará o morrão
que fumega, até que faça triunfar o juízo.” – (Mateus, 12:20.)
Evita as sentenças definitivas, em face dos quadros formados
pelo mal.
Da lama do pântano, o Supremo Senhor aproveita a fertilidade.
Da pedra áspera, vale-se da solidez.
Da areia seca, retira utilidades valiosas.
Da substância amarga, extrai remédio salutar.
O criminoso de hoje pode ser prestimoso companheiro amanhã.
O malfeitor, em certas circunstâncias, apresenta qualidades
nobres, até então ignoradas, de que a vida se aproveita para gravar poemas de
amor e luz.
Deus não é autor de esmagamento.
É Pai de misericórdia.
Não destrói a cana quebrada, nem apaga o morrão que fumega.
Suas mãos reparam estragos, seu hálito divino recompõe e
renova sempre.
Não desprezes, pois, as luzes vacilantes e as virtudes
imprecisas. Não abandones a terra pantanosa, nem desampares o arvoredo sufocado
pela erva daninha.
Trabalha pelo bem e ajuda incessantemente.
Se Deus, Senhor Absoluto da Eternidade, espera com paciência,
por que motivo, nós outros, servos imperfeitos do trabalho relativo, não
poderemos esperar?
163
Não crer
“Mas quem não crer será condenado.” – Jesus. (Marcos, 16:16.)
Os que não crêem são os que ficam. Para eles, todas as expressões
da vida se reduzem a sensações finitas, destinadas à escura voragem da morte.
Os que alçam o coração para a vida mais alta estão salvos.
Seus dias de trabalho são degraus de infinita escada de luz. A custa de
valoroso esforço e pesada luta, distanciam-se dos semelhantes e, apesar de
reconhecerem a própria imperfeição, classificam a paisagem em torno e
identificam os caminhos evolutivos. Tomados de bom ânimo, sentem-se na tarefa
laboriosa de ascensão à montanha do amor e da sabedoria.
No entanto, os que não crêem limitam os próprios horizontes e
nada enxergam senão com os olhos destinados ao sepulcro, adormecidos quanto à
reflexão e ao discernimento.
Afirmou Jesus que eles se encontram condenados.
À primeira vista, semelhante declaração parece em desacordo
com a magnanimidade do Mestre.
Condenados a que e por quem?
A justiça de Deus conjuga-se à misericórdia e o inferno
sem-fim é imagem dogmática.
Todavia, é imperioso reconhecer que quantos não crêem, na
grandeza do próprio destino, sentenciam a si mesmos às mais baixas esferas da
vida. Pelo hábito de apenas admitirem o visível, permanecerão beijando o pó, em
razão da voluntária incapacidade de acesso aos planos superiores, enquanto os
outros caminham para a certeza da vida imortal.
A crença é lâmpada amiga, cujo clarão é mantido pelo infinito
sol da fé. O vento da negação e da dúvida jamais consegue apagá-la.
A descrença, contudo, só conhece a vida pelas sombras que os
seus movimentos projetam e nada entende além da noite e do pântano a que se
condena por deliberação própria.
164
Não perturbeis
“Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” –
Jesus. (Mateus, 19:6.)
A palavra divina não se refere apenas aos casos do coração.
Os laços afetivos caracterizam-se por alicerces sagrados e os compromissos
conjugais ou domésticos sempre atendem a superiores desígnios. O homem não
ludibriará os impositivos da lei, abusando de facilidades materiais para
lisonjear os sentidos. Quebrando a ordem que lhe rege os caminhos,
desorganizará a própria existência. Os princípios equilibrantes da vida
surgirão sempre, corrigindo e restaurando...
A advertência de Jesus, porém, apresenta para nós
significação mais vasta.
“Não separeis o que Deus ajuntou” corresponde também ao “não
perturbeis o que Deus harmonizou”.
Ninguém alegue desconhecimento do propósito divino. O dever,
por mais duro, constitui sempre a Vontade do Senhor. E a consciência, sentinela
vigilante do Eterno, a menos que esteja o homem dormindo no nível do bruto,
permanece apta a discernir o que constitui “obrigação” e o que representa
“fuga”.
O Pai criou seres e reuniu-os. Criou igualmente situações e
coisas, ajustando-as para o bem comum.
Quem desarmoniza as obras divinas, prepare-se para a recomposição.
Quem lesa o Pai, algema o próprio “eu” aos resultados de sua ação infeliz e,
por vezes, gasta séculos, desatando grilhões...
Na atualidade terrestre, esmagadora percentagem dos homens
constitui-se de milhões em serviço reparador, depois de haverem separado o que
Deus ajuntou, perturbando, com o mal, o que a Providência estabelecera para o
bem.
Prestigiemos as organizações do Justo Juiz que a noção do
dever identifica para nós em todos os quadros do mundo. Às vezes, é possível
perturbar-lhe as obras com sorrisos, mas seremos invariavelmente forçados a
repará-las com suor e lágrimas.
CONTINÚA AMANHÃ
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