153
Passes
“E rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está
moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare, e viva.” – (Marcos,
5:23.)
Jesus impunha as mãos nos enfermos e transmitia-lhes os bens
da saúde. Seu amoroso poder conhecia os menores desequilíbrios da Natureza e os
recursos para restaurar a harmonia indispensável.
Nenhum ato do Divino Mestre é destituído de significação.
Reconhecendo essa verdade, os apóstolos passaram a impor as mãos fraternas em
nome do Senhor e tornavam-se instrumentos da Divina Misericórdia.
Atualmente, no Cristianismo redivivo, temos, de novo, o
movimento socorrista do plano invisível, através da imposição das mãos. Os
passes, como transfusões de forças psíquicas, em que preciosas energias
espirituais fluem dos mensageiros do Cristo para os doadores e beneficiários,
representam a continuidade do esforço do Mestre para atenuar os sofrimentos do
mundo.
Seria audácia por parte dos discípulos novos a expectativa de
resultados tão sublimes quanto os obtidos por Jesus junto aos paralíticos,
perturbados e agonizantes.
O Mestre sabe, enquanto nós outros estamos aprendendo a
conhecer. É necessário, contudo, não desprezar-lhe a lição, continuando, por
nossa vez, a obra de amor, através das mãos fraternas.
Onde exista sincera atitude mental do bem, pode estender-se o
serviço providencial de Jesus.
Não importa a fórmula exterior. Cumpre-nos reconhecer que o
bem pode e deve ser ministrado em seu nome.
154
Renunciar
“E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs,
pai, mãe, mulher, filhos ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes
tanto e herdará a vida eterna.” – Jesus (Mateus, 19:29.)
Neste versículo do Evangelho de Mateus, o Mestre Divino nos
induz ao dever de renunciar aos bens do mundo para alcançar a vida eterna. Há
necessidade, proclama o Messias, de abandonar pai e mãe, mulher e irmãos do
mundo. No entanto, é necessário esclarecer como renunciar.
Jesus explica que o êxito pertencerá aos que assim procederem
por amor de seu nome.
A primeira vista, o alvitre divino parece contra-senso.
Como olvidar os sagrados deveres da existência, se o Cristo
veio até nós para santificá-los?
Os discípulos precipitados não souberam atingir o sentido do
texto, nos tempos mais antigos.
Numerosos irmãos de ideal recolheram-se à sombra do claustro,
esquecendo obrigações superiores e inadiáveis.
Fácil, porém, reconhecer como o Cristo renunciou.
Aos companheiros que o abandonaram aparece, glorioso, na
ressurreição. Não obstante as hesitações dos amigos, divide com eles, no
cenáculo, os júbilos eternos. Aos homens ingratos que o crucificaram oferece
sublime roteiro de salvação com o Evangelho e nunca se descuidou um minuto das
criaturas.
Observemos, portanto, o que representa renunciar por amor ao
Cristo. É perder as esperanças da Terra, conquistando as do Céu.
Se os pais são incompreensíveis, se a companheira é ingrata,
se os irmãos parecem cruéis, é preciso renunciar à alegria de tê-los melhores
ou perfeitos, unindo-nos, ainda mais, a eles todos, a fim de trabalhar no aperfeiçoamento
com Jesus.
Acaso, não encontras compreensão no lar? os amigos e irmãos
são indiferentes e rudes?
Permanece ao lado deles, mesmo assim, esperando para mais
tarde o júbilo de encontrar os que se afinam perfeitamente contigo. Somente
desse modo renunciarás aos teus, fazendo-lhes todo o bem por dedicação ao
Mestre, e, somente com semelhante renúncia, alcançarás a vida eterna.
155
Entre os cristãos
“Mas entre vós não será assim.” – Jesus. (Marcos, 10:43.)
Desde as eras mais remotas, trabalham os agrupamentos religiosos
pela obtenção dos favores celestes.
Nos tempos mais antigos, recordava-se da Providência tão-só
nas ocasiões dolorosas e graves. Os crentes ofereciam sacrifícios pela
felicidade doméstica, quando a enfermidade lhes invadia a casa; as multidões
edificavam templos, em surgindo calamidades públicas.
Deus era compreendido apenas através dos dias felizes.
A tempestade purificadora pertencia aos gênios perversos.
Cristo, porém, inaugurou uma nova época. A humildade foi o
seu caminho, o amor e o trabalho o seu exemplo, o martírio a sua palma de
vitória. Deixou a compreensão de que, entre os seus discípulos, o princípio de
fé jamais será o da conquista fácil de favores do céu, mas o de esforço ativo
pela iluminação própria e pela execução dos desígnios de Deus, através das
horas calmas ou tempestuosas da vida.
A maior lição do Mestre dos mestres é a de que ao invés de
formularmos votos e sacrifícios convencionais, promessas e ações mecânicas,
como a escapar dos deveres que nos competem, constitui-nos obrigação primária
entregarmo-nos, humildes, aos sábios imperativos da Providência, submetendo-nos
à vontade justa e misericordiosa de Deus, para que sejamos aprimorados em suas
mãos.
CONTINÚA AMANHÃ
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