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O novo mandamento
“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros, como eu vos amei.” – Jesus. (João, 13:34.)
A leitura despercebida do texto induziria o leitor a sentir
nessas palavras do Mestre absoluta identidade com o seu ensinamento relativo à
regra áurea.
Entretanto, é preciso salientar a diferença.
O “ama a teu próximo como a ti mesmo” é diverso do “que vos ameis
uns aos outros como eu vos amei”.
O primeiro institui um dever, em cuja execução não é razoável
que o homem cogite da compreensão alheia. O aprendiz amará o próximo como a si
mesmo.
Jesus, porém, engrandeceu a fórmula, criando o novo mandamento
na comunidade cristã. O Mestre refere-se a isso na derradeira reunião com os
amigos queridos, na intimidade dos corações.
A recomendação “que vos ameis uns aos outros como eu vos
amei” assegura o regime da verdadeira solidariedade entre os discípulos,
garante a confiança fraternal e a certeza do entendimento recíproco.
Em todas as relações comuns, o cristão amará o próximo como a
si mesmo, reconhecendo, contudo, que no lar de sua fé conta com irmãos que se
amparam efetivamente uns aos outros.
Esse é o novo mandamento que estabeleceu a intimidade
legítima entre os que se entregaram ao Cristo, significando que, em seus
ambientes de trabalho, há quem se sacrifique e quem compreenda o sacrifício,
quem ame e se sinta amado, quem faz o bem e quem saiba agradecer.
Em qualquer círculo do Evangelho, onde essa característica
não assinala as manifestações dos companheiros entre si, os argumentos da Boa
Nova podem haver atingido os cérebros indagadores, mas ainda não penetraram o
santuário dos corações.
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Façamos nossa Luz
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens.” –
Jesus. (Mateus, 5:16.)
Ante a glória dos mundos evolvidos, das esferas sublimes que
povoam o Universo, o estreito campo em que nos agitamos, na Crosta Planetária,
é limitado círculo de ação.
Se o problema, no entanto, fosse apenas o de espaço, nada teríamos
a lamentar.
A casa pequena e humilde, iluminada de Sol e alegria, é
paraíso de felicidade.
A angústia de nosso plano procede da sombra.
A escuridão invade os caminhos em todas as direções. Trevas
que nascem da ignorância, da maldade, da insensatez, envolvendo povos,
instituições e pessoas. Nevoeiros que assaltam consciências, raciocínios e sentimentos.
Em meio da grande noite, é necessário acendamos nossa luz.
Sem isso é impossível encontrar o caminho da libertação. Sem a irradiação
brilhante de nosso próprio ser, não poderemos ser vistos com facilidade pelos
Mensageiros Divinos, que ajudam em nome do Altíssimo, e nem auxiliaremos
efetivamente a quem quer que seja.
É indispensável organizar o santuário interior e iluminá-lo,
a fim de que as trevas não nos dominem.
É possível marchar, valendo-nos de luzes alheias. Todavia,
sem claridade que nos seja própria, padeceremos constante ameaça de queda. Os
proprietários das lâmpadas acesas podem afastar-se de nós, convocados pelos
montes de elevação que ainda não merecemos.
Vale-te, pois, dos luzeiros do caminho, aplica o pavio da
boa-vontade ao óleo do serviço e da humildade e acende o teu archote para a
jornada. Agradece ao que te ilumina por uma hora, por alguns dias ou por muitos
anos, mas não olvides tua candeia, se não desejas resvalar nos precipícios da
estrada longa!...
O problema fundamental da redenção, meu amigo, não se resume
a palavras faladas ou escritas. É muito fácil pronunciar belos discursos e prestar
excelentes informações, guardando, embora, a cegueira nos próprios olhos.
Nossa necessidade básica é de luz própria, de esclarecimento
íntimo, de auto-educação, de conversão substancial do “eu” ao Reino de Deus.
Podes falar maravilhosamente acerca da vida, argumentar com
brilho sobre a fé, ensinar os valores da crença, comer o pão da consolação,
exaltar a paz, recolher as flores do bem, aproveitar os frutos da generosidade
alheia, conquistar a coroa efêmera do louvor fácil, amontoar títulos diversos
que te exornem a personalidade em trânsito pelos vales do mundo...
Tudo isso, em verdade, pode fazer o espírito que se demora,
indefinidamente, em certos ângulos da estrada.
Todavia, avançar sem luz é impossível.
– Fim –
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