173
Zelo do bem
“E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do
bem?” – (1ª Epístola de Pedro, 3:13.)
Temer os que praticam o mal é demonstrar que o bem ainda não
se nos radicou na alma convenientemente.
A interrogação de Pedro reveste-se de enorme sentido.
Se existe sólido propósito do bem nos teus caminhos, se és
cuidadoso em sua prática, quem mobilizará tamanho poder para anular as
edificações de Deus?
O problema reside, entretanto, na necessidade de entendimento.
Somos ainda incapazes de examinar todos os aspectos de uma questão, todos os
contornos de uma paisagem. O que hoje nos parece a felicidade real pode ser
amanhã cruel desengano. Nossos desejos humanos modificam-se aos jorros
purificadores da fonte evolutiva. Urge, pois, afeiçoarmo-nos à Lei Divina, refletir-lhe
os princípios sagrados e submeter-nos aos Superiores Desígnios, trabalhando
incessantemente para o bem, onde estivermos.
Os melindres pessoais, as falsas necessidades, os
preconceitos cristalizados, operam muita vez a cegueira do espírito. Procedem daí
imensos desastres para todos os que guardam a intenção de bem fazer, dando ouvidos,
porém, ao personalismo inferior.
Quem cultiva a obediência ao Pai, no coração, sabe encontrar
as oportunidades de construir com o seu amor.
Os que alcançam, portanto, a compreensão legítima não podem
temer o mal. Nunca se perdem na secura da exigência nem nos desvios do
sentimentalismo. Para essas almas, que encontraram no íntimo de si próprias o
prazer de servir sem indagar, os insucessos, as provas, as enfermidades e os
obstáculos são simplesmente novas decisões das Forças Divinas, relativamente à
tarefa que lhes dizem respeito, destinadas a conduzi-las para a vida maior.
174
Pão de cada dia
“Dá-nos cada dia o nosso pão.” – Jesus. (Lucas, 11:3.)
Já pensaste no pão de cada dia?
À força de possuí-lo, em abundância, o homem costuma desvalorizá-lo,
à maneira da criatura irrefletida que somente medita na saúde, ao sobrevir a
enfermidade.
Se a maioria dos filhos da Terra estivessem à altura de atender
à gratidão nos seus aspectos reais, bastaria o pão cotidiano para que não
faltassem às coletividades terrestres perfeitas noções da existência de Deus.
Tão magnânima é a bondade celestial que, promovendo recursos para a manutenção
dos homens, escapa à admiração das criaturas, a fim de que compreendam melhor a
vida, integrando-se nas responsabilidades que lhes dizem respeito, nas
organizações de trabalho a que foram chamadas, com a finalidade de realizarem o
aprimoramento próprio.
O Altíssimo deixa aos homens a crença de que o pão terrestre
é conquista deles, para que se aperfeiçoem convenientemente no dom de servir.
Em verdade, no entanto, o pão de cada dia, para todas as refeições do mundo,
procede da Providência Divina.
O homem cavará o solo, espalhará as sementes, defenderá o serviço
e cooperará com a Natureza, mas a germinação, o crescimento, a florescência e a
frutificação pertencem ao Todo-Misericordioso.
No alimento de cada dia prevalece sublime ensinamento de
colaboração entre o Criador e a criatura, que raras pessoas se dispõem a
observar. Esforça-se o homem e o Senhor lhe concede as utilidades.
O servo trabalha e o Altíssimo lhe abençoa o suor.
É nesse processo de íntima cooperação e natural entendimento
que o Pai espera colher, um dia, os doces frutos da perfeição no espírito dos
filhos.
175
Cooperação
“E ele respondeu: Como poderei entender se alguém me
não ensinar?” – (Atos, 8:31.)
Desde a vinda de Jesus, o movimento de educação renovadora
para o bem é dos mais impressionantes no seio da Humanidade.
Em toda parte, ergueram-se templos, divulgaram-se livros
portadores de princípios sagrados.
Percebe-se em toda essa atividade a atuação sutil e magnânima
do Mestre que não perde ocasião de atrair as criaturas de Deus para o Infinito
Amor. Desse quadro bendito de trabalho destaca-se, porém, a cooperação
fraternal que o Cristo nos deixou, como norma imprescindível ao desdobramento
da iluminação eterna do mundo.
Ninguém guarde a presunção de elevar-se sem o auxílio dos
outros, embora não deva buscar a condição parasitária para a ascensão.
Referimo-nos à solidariedade, ao amparo proveitoso, ao concurso edificante. Os
que aprendem alguma coisa sempre se valem dos homens que já passaram, e não
seguem além se lhes falta o interesse dos contemporâneos, ainda que esse interesse
seja mínimo.
Os apóstolos necessitaram do Cristo que, por sua vez, fez
questão de prender os ensinamentos, de que era o divino emissário, às antigas
leis.
Paulo de Tarso precisou de Ananias para entender a própria
situação.
Observemos o versículo acima, extraído dos Atos dos Apóstolos.
Filipe achava-se despreocupado, quando um anjo do Senhor o mandou para o
caminho que descia de Jerusalém para Gaza. O discípulo atende e aí encontra um
homem que lia a Lei sem compreendê-la. E entram ambos em santificado esforço de
cooperação.
Ninguém permanece abandonado. Os mensageiros do Cristo
socorrem sempre nas estradas mais desertas. É necessário, porém, que a alma
aceite a sua condição de necessidade e não despreze o ato de aprender com
humildade, pois não devemos esquecer, através do texto evangélico, que o mendigo
de entendimento era o mordomo-mor da rainha dos etíopes, superintendente de
todos os seus tesouros. Além disso, ele ia de carro e Filipe, a pé.
CONTINÚA AMANHÃ
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