147
Um desafio
“E agora por que te deténs?” – (Atos, 22:16.)
Relatando à multidão sua inesquecível experiência às portas
de Damasco, o Apóstolo dos gentios conta que, em face da perplexidade que o
defrontara, perguntou-lhe Ananias, em advertência fraterna:
“E agora por que te deténs?”
A interrogação merece meditada por todos os que já receberam
convites, apelos, dádivas ou socorros do plano espiritual.
Inumeráveis beneficiários do Evangelho prendem-se a
obstáculos de toda sorte na província nebulosa da queixa.
Se felicitados pela luz da fé, lastimam não haver conhecido a
verdade na juventude ou nos dias de abastança; contudo, na idade madura ou na
dificuldade material, sustentam as mesmas tendências inferiores. Nas palavras,
exteriorizam sempre grande boa-vontade; entretanto, quando chamados ao serviço
ativo, queixam-se imediatamente da falta de dinheiro, de saúde, de tempo, de
forças.
São operários contraditórios que, ao tempo do equilíbrio
orgânico, exigem repouso e, na época de enfermidade corporal, alegam saudades
do serviço.
É indispensável combater essas expressões destrutivas da personalidade.
Em qualquer posição e em qualquer tempo, estamos cercados
pelas possibilidades de serviço com o Salvador. E, para todos nós, que
recebemos as dádivas divinas, de mil modos diversos, foi pronunciado o sublime
desafio: “E agora por que te deténs?”
148
Cuidado de si
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera
nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que
te ouvem.” – Paulo. (1ª Epístola a Timóteo, 4:16.)
Em toda parte há pelotões do exército dos pessimistas, de
braços cruzados, em desalento.
Não compreendem o trabalho e a confiança, a serenidade e a fé
viva, e costumam adotar frases de grande efeito, condenando situações e
criaturas.
Às vezes, esses soldados negativos são pessoas que assumiram
a responsabilidade de orientar.
Todavia, embora a importância de suas atribuições, permanecem
enganados.
As dificuldades terrestres efetivamente são enormes e os seus
obstáculos reclamam grande esforço das almas nobres em trânsito no planeta, mas
é imprescindível não perder cada discípulo o cuidado consigo próprio. É
indispensável vigiar o campo interno, valorizar as disciplinas e aceitá-las,
bem como examinar as necessidades do coração. Esse procedimento conduz o
espírito a horizontes mais vastos, efetuando imensa amplitude de compreensão,
dentro da qual abrigamos, no íntimo, santo respeito por todos os círculos
evolutivos, dilatando, assim, o patrimônio da esperança construtiva e do
otimismo renovador.
Ter cuidado consigo mesmo é trabalhar na salvação própria e
na redenção alheia. Esse o caminho lógico para a aquisição de valores eternos.
Circunscrever-se o aprendiz aos excessos teóricos,
furtando-se às edificações do serviço, é descansar nas margens do trabalho,
situando-se, pouco a pouco, no terreno ingrato da critica satânica sobre o que
não foi objeto de sua atenção e de sua experiência.
149
Propriedade
“E o mancebo, ouvindo esta palavra, retirou-se triste,
porque possuía muitas propriedades.” – (Mateus, 19:22.)
O instinto de propriedade tem provocado grandes revoluções,
ensangüentando os povos. Nas mais diversas regiões do planeta respiram homens
inquietos pela posse material, ciosos de suas expressões temporárias e
dispostos a morrer em sua defesa.
Isso demonstra que o homem ainda não aprendeu a possuir.
Com esta argumentação, não desejamos induzir a criatura a
esquecer a formiga previdente, adotando por modelo a cigarra descuidosa. Apenas
convidamos, a quem nos lê, a examinar a precariedade das posses efêmeras.
Cada conquista terrestre deveria ser aproveitada pela alma,
como força de elevação.
O homem ganhará impulso santificante, compreendendo que só
possui verdadeiramente aquilo que se encontra dentro dele, no conteúdo
espiritual de sua vida. Tudo o que se relaciona com o exterior – como sejam:
criaturas, paisagens e bens transitórios – pertence a Deus, que lhos concederá
de acordo com os seus méritos.
Essa realidade sentida e vivida constitui brilhante luz no
caminho, ensinando ao discípulo a sublime lei do uso, para que a propriedade
não represente fonte de inquietações e tristeza, como aconteceu ao jovem dos
ensinamentos de Jesus.
CONTINÚA AMANHÃ
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