72
Transitoriedade
“Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles,
como roupa, envelhecerão.” – Paulo. (Hebreus, 1:11.)
Fala-nos o Eclesiastes das vaidades e da aflição dos homens,
no torvelinho das ambições desvairadas da Terra.
Desde os primeiros tempos da família humana, existem
criaturas confundidas nos falsos valores do mundo. Entretanto, bastaria meditar
alguns minutos na transitoriedade de tudo o que palpita no campo das formas
para compreender-se a soberania do espírito.
Consultai a pompa dos museus e a ruína das civilizações
mortas. Com que fim se levantaram tantos monumentos e arcos de triunfo? Tudo
funcionou como roupagem do pensamento. A idéia evoluiu, enriqueceu-se o
espírito e os envoltórios antigos permanecem a distância.
As mãos calejadas na edificação das colunas brilhantes aprenderam
com o trabalho os luminosos segredos da vida. Todavia, quantas amarguras
experimentaram os loucos que disputaram, até à morte para possuí-las?
Valei-vos de todas as ocasiões de serviço, como sagradas oportunidades
na marcha divina para Deus.
Valiosa é a escassez, porque traz a disciplina. Preciosa é a
abundância, porque multiplica as formas do bem. Uma e outra, contudo, perecerão
algum dia. Na esfera carnal, a glória e a miséria constituem molduras de temporária
apresentação. Ambas passam. Somente Jesus e a Lei Divina perseveram para nós outros,
como portas de vida e redenção.
73
Oportunidade
“Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu
tempo, mas o vosso tempo está pronto.” – (João, 7:6.)
O mau trabalhador está sempre queixoso. Quando não atribui
sua falta aos instrumentos em mão, lamenta a chuva, não tolera o calor,
amaldiçoa a geada e o vento.
Esse é um cego de aproveitamento difícil, porquanto somente
enxerga o lado arestoso das situações.
O bom trabalhador, no entanto, compreende, antes de tudo, o
sentido profundo da oportunidade que recebeu. Valoriza todos os elementos
colocados em seus caminhos, como respeita as possibilidades alheias. Não depende
das estações. Planta com o mesmo entusiasmo as frutas do frio e do calor. É
amigo da Natureza, aproveita-lhe as lições, tem bom ânimo, encontra na aspereza
da semeadura e no júbilo da colheita igual contentamento.
Nesse sentido, a lição do Mestre reveste-se de maravilhosa
significação. No torvelinho das incompreensões do mundo, não devemos aguardar o
reino do Cristo como realização imediata, mas a oportunidade dos homens é
permanente para a colaboração perfeita no Evangelho, a fim de edificá-lo.
Os cegos de espírito continuarão queixosos; no entanto, os
que acordaram para Jesus sabem que sua época de trabalho redentor está pronta,
não passou, nem está por vir. É o dia de hoje, é o ensejo bendito de servir, em
nome do Senhor, aqui e agora...
74
Mãos limpas
“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias.”
– (Atos, 19:11.)
O Evangelho não nos diz que Paulo de Tarso fazia maravilhas,
mas que Deus operava maravilhas extraordinárias por intermédio das mãos dele.
O Pai fará sempre o mesmo, utilizando todos os filhos que lhe
apresentarem mãos limpas.
Muitos espíritos, mais convencionalistas que propriamente religiosos,
encontraram nessa notícia dos Atos uma informação sobre determinados
privilégios que teriam sido concedidos ao Apóstolo.
Antes de tudo, porém, é preciso saber que semelhante
concessão não é exclusiva. A maioria dos crentes prefere fixar o Paulo
santificado sem apreciar o trabalhador militante.
Quanto custou ao Apóstolo a limpeza das mãos? Raros indagam
relativamente a isso.
Recordemos que o amigo da gentilidade fora rabino famoso em
Jerusalém, movimentara-se entre elevados encargos públicos, detivera dominadoras
situações; no entanto, para que o Todo-Poderoso lhe utilizasse as mãos, sofreu
todas as humilhações e dispôs-se a todos os sacrifícios pelo bem dos
semelhantes. Ensinou o Evangelho sob zombarias e açoites, aflições e pedradas.
Apesar de escrever luminosas epístolas, jamais abandonou o tear humilde até à
velhice do corpo.
Considera as particularidades do assunto e observa que Deus é
sempre o mesmo Pai, que a misericórdia divina não se modificou, mas pede mãos
limpas para os serviços edificantes, junto à Humanidade. Tal exigência é lógica
e necessária, pois o trabalho do Altíssimo deve resplandecer sobre os caminhos
humanos.
CONTINÚA AMANHÃ
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