84
Levantemo-nos
“Levantai-vos, vamo-nos daqui.” – Jesus. (João, 14:31.)
Antes de retirar-se para as orações supremas no Horto, falou
Jesus aos discípulos longamente, esclarecendo o sentido profundo de sua
exemplificação.
Relacionando seus pensamentos sublimes, fez o formoso convite
inserto no Evangelho de João:
– “Levantai-vos, vamo-nos daqui.”
O apelo é altamente significativo.
Ao toque de erguer-se, o homem do mundo costuma procurar o
movimento das vitórias fáceis, atirando-se à luta sequioso de supremacia ou
trocando de domicilio, na expectativa de melhoria efêmera.
Com Jesus, entretanto, ocorreu o contrário.
Levantou-se para ser dilacerado, logo após, pelo gesto de
Judas. Distanciou-se do local em que se achava a fim de alcançar, pouco depois,
a flagelação e a morte.
Naturalmente partiu para o glorioso destino de reencontro com
o Pai, mas precisamos destacar as escalas da viagem...
Ergueu-se e saiu, em busca da glória suprema. As estações de
marcha são eminentemente educativas: – Getsêmani, o Cárcere, o Pretório, a Via
Dolorosa, o Calvário, a Cruz constituem pontos de observação muito
interessantes, mormente na atualidade, que apresenta inúmeros cristãos
aguardando a possibilidade da viagem sobre as almofadas de luxo do menor
esforço.
85
Testemunho
“Respondeu-lhe Jesus: – Dizes isso de ti mesmo ou foram
outros que to disseram de mim?” – (João, 18:34.)
A pergunta do Cristo a Pilatos tem significação mais
extensiva. Compreendemo-la, aplicada às nossas experiências religiosas.
Quando encaramos no Mestre a personalidade do Salvador, por
que o afirmamos? estaremos agindo como discos fonográficos, na repetição pura e
simples de palavras ouvidas?
É necessário conhecer o motivo pelo qual atribuímos títulos
amoráveis e respeitosos ao Senhor. Não basta redizer encantadoras lições dos
outros, mas viver substancialmente a experiência íntima na fidelidade ao programa
divino.
Quando alguém se refere nominalmente a um homem, esse homem
pode indagar quanto às origens da referência.
Jesus não é símbolo legendário; é um Mestre Vivo.
As preocupações superficiais do mundo chegam, educam o
espírito e passam, mas a experiência religiosa permanece.
Nesse capítulo, portanto, é ilógico recorrermos, sistematicamente,
aos patrimônios alheios.
É útil a todo aprendiz testificar de si mesmo, iluminar o coração
com os ensinos do Cristo, observar-lhe a influência excelsa nos dias tranqüilos
e nos tormentosos.
Reconheçamos, pois, atitude louvável no esforço do homem que
se inspira na exemplificação dos discípulos fiéis; contudo, não nos esqueçamos
de que é contraproducente repousarmos em edificações que não nos pertencem,
olvidando o serviço que nos é próprio.
86
Jesus e os amigos
“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a
vida pelos seus amigos.” – Jesus. (João, 15:13.)
Na localização histórica do Cristo, impressiona-nos a realidade
de sua imensa afeição pela Humanidade.
Pelos homens, fez tudo o que era possível em renúncia e dedicação.
Seus atos foram celebrados em assembléias de confraternização
e de amor. A primeira manifestação de seu apostolado verificou-se na festa
jubilosa de um lar. Fez companhia aos publicanos, sentiu sede da perfeita
compreensão de seus discípulos. Era amigo fiel dos necessitados que se
socorriam de suas virtudes imortais. Através das lições evangélicas,
nota-se-lhe o esforço para ser entendido em sua infinita capacidade de amar. A
última ceia representa uma paisagem completa de afetividade integral. Lava os
pés aos discípulos, ora pela felicidade de cada um...
Entretanto, ao primeiro embate com as forças destruidoras,
experimenta o Mestre o supremo abandono. Em vão, seus olhos procuram a multidão
dos afeiçoados, beneficiados e seguidores.
Os leprosos e cegos, curados por suas mãos, haviam desaparecido.
Judas entregou-o com um beijo.
Simão, que lhe gozara a convivência doméstica, negou-o três
vezes.
João e Tiago dormiram no Horto.
Os demais preferiram estacionar em acordos apressados com as
acusações injustas. Mesmo depois da Ressurreição, Tomé exigiu-lhe sinais.
Quando estiveres na “porta estreita”, dilatando as conquistas
da vida eterna, irás também só. Não aguardes teus amigos. Não te
compreenderiam; no entanto, não deixes de amá-los. São crianças. E toda criança
teme e exige muito.
CONTINÚA AMANHÃ
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