81
Ordenações humanas
“Sujeitai-vos, pois, a toda ordenação humana, por amor
do Senhor.” – (1ª Epístola de Pedro, 2:13.)
Certos temperamentos impulsivos, aproximando-se das lições do
Cristo, presumem no Evangelho um tratado de princípios destruidores da ordem
existente no mundo. Há quem figure no Mestre um anarquista vigoroso, inflamado
de cóleras sublimes.
Jesus, porém, nunca será patrono da desordem. A novidade que
transborda do Evangelho não aconselha ao espírito mais humilhado da Terra a
adoção de armas contra irmãos, mas, sim, que se humilhe ainda mais, tomando a
cruz, a exemplo do Salvador.
Claro está que a Boa Nova não ensina a genuflexão ante a
tirania insolente; entretanto, pede respeito às ordenações humanas, por amor ao
Mestre Divino.
Se o detentor da autoridade exige mais do que lhe compete,
transforma-se num déspota que o Senhor corrigirá, através das circunstâncias
que lhe expressam os desígnios, no momento oportuno. Essa certeza é mais um
fator de tranqüilidade para o servo cristão que, em hipótese alguma, deve
quebrar o ritmo da harmonia.
Não te faças, pois, indiferente às ordenações da máquina de
trabalho em que te encontras. É possível que, muita vez, não te correspondam
aos desejos, mas lembra-te de que Jesus é o Supremo Ordenador na Terra e não te
situaria o esforço pessoal onde o teu concurso fosse desnecessário.
Tens algo de sagrado a fazer onde respiras no dia de hoje.
Com expressões de revolta, tua atividade será negativa. Recorda-te de semelhante
verdade e submete-te às ordenações humanas por amor ao Senhor Divino.
82
Madeiros secos
“Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao
seco?” – Jesus. (Lucas, 23:31.)
Jesus é a videira eterna, cheia de seiva divina, espalhando
ramos fartos, perfumes consoladores e frutos substanciosos entre os homens, e o
mundo não lhe ofereceu senão a cruz da flagelação e da morte infamante.
Desde milênios remotos é o Salvador, o puro por excelência.
Que não devemos esperar, por nossa vez, criaturas endividadas
que somos, representando galhos ainda secos na árvore da vida?
Em cada experiência, necessitamos de processos novos no
serviço de reparação e corrigenda.
Somos madeiros sem vida própria, que as paixões humanas
inutilizaram, em sua fúria destruidora.
Os homens do campo metem a vara punitiva nos pessegueiros,
quando suas frondes raquíticas não produzem. O efeito é benéfico e compensador.
O martírio do Cristo ultrapassou os limites de nossa imaginação.
Como tronco sublime da vida, sofreu por desejar transmitir-nos sua seiva fecundante.
Como lenhos ressequidos, ao calor do mal, sofremos por necessidade,
em favor de nós mesmos.
O mundo organizou a tragédia da cruz para o Mestre, por espírito
de maldade e ingratidão; mas, nós outros, se temos cruzes na senda redentora,
não é porque Deus seja rigoroso na execução de suas leis, mas por ser Amoroso
Pai de nossas almas, cheio de sabedoria e compaixão nos processos educativos.
83
Aflições
“Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das
aflições do Cristo.” – (1ª Epístola de Pedro, 4:13.)
É inegável que em vosso aprendizado terrestre atravessareis
dias de inverno ríspido, em que será indispensável recorrer às provisões
armazenadas no íntimo, nas colheitas dos dias de equilíbrio e abundância.
Contemplareis o mundo, na desilusão de amigos muito amados,
como templo em ruínas, sob os embates de tormenta cruel.
As esperanças feneceram distantes, os sonhos permanecem
pisados pelos ingratos. Os afeiçoados desapareceram, uns pela indiferença,
outros porque preferiram a integração no quadro dos interesses fugitivos do
plano material.
Quando surgir um dia assim em vossos horizontes, compelindo-vos
à inquietação e à amargura, certo não vos será proibido chorar. Entretanto, é
necessário não esquecerdes a divina companhia do Senhor Jesus.
Supondes, acaso, que o Mestre dos Mestres habita uma esfera
inacessível ao pensamento dos homens? julgais, porventura, não receba o
Salvador ingratidões e apodos, por parte das criaturas humanas, diariamente?
Antes de conhecermos o alheio mal que nos aflige, Ele conhecia o nosso e sofria
pelos nossos erros.
Não olvidemos, portanto, que, nas aflições, é imprescindível
tomar-lhe a sublime companhia e prosseguir avante com a sua serenidade e seu
bom ânimo.
CONTINÚA AMANHÃ
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