123
Esperar em Cristo
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais
miseráveis de todos os homens.” – (1ª Epístola aos Coríntios, 15:19.)
O exame do versículo fornece ao estudioso explicações muito
claras.
É natural confiar em Cristo e aguardar nEle, mas que dizer da
angústia da alma atormentada no círculo de cuidados terrestres, esperando
egoisticamente que Jesus lhe venha satisfazer os caprichos imediatos?
Seria razoável contar com o Senhor tão-só nas expressões
passageiras da vida fragmentária?
É indispensável descobrir a grandeza do conceito de “vida”,
sem confundi-lo com “uma vida”.
Existir não é viajar da zona de infância, com escalas pela
juventude, madureza e velhice, até ao porto da morte; é participar da Criação
pelo sentimento e pelo raciocínio, é ser alguém e alguma coisa no concerto do
Universo.
Na condição de encarnados, raros assuntos confundem tanto como
os da morte, interpretada erroneamente como sendo o fim daquilo que não pode
desaparecer.
É imprescindível, portanto, esperar em Cristo com a noção
real da eternidade. A filosofia do imediatismo, na Terra, transforma os homens
em crianças.
Não vos prendais à idade do corpo físico, às circunstâncias e
condições transitórias. Indagai da própria consciência se permaneceis com
Jesus. E aguardai o futuro, amando e realizando com o bem, convicto de que a
esperança legítima não é repouso e, sim, confiança no trabalho incessante.
124
Firmeza de fé
“E os que estão sobre a pedra, estes são os que,
ouvindo a palavra, a recebem com alegria; mas, como não têm raiz, apenas crêem
por algum tempo, e, na época da tentação, se desviam.” – Jesus. (Lucas, 8:13.)
A palavra “pedra”, entre nós, costuma simbolizar rigidez e
impedimento; no entanto, convém não esquecer que Jesus, de vez em quando, a ela
recorria para significar a firmeza. Pedro foi chamado pelo Mestre, certa vez, a
“rocha viva da fé”.
O Evangelho de Lucas fala-nos daqueles que estão sobre pedra,
os quais receberão a palavra com alegria, mas que, por ausência de raiz, caem,
fatalmente, na época das tentações.
Não são poucos os que estranham essa promessa de tentações,
que, aliás, devem ser consideradas como experiências imprescindíveis.
Na organização doméstica, os pais cuidarão excessivamente dos
filhos, em pequeninos, mas a demasia de ternura é imprópria no tempo em que
necessitam demonstrar o esforço de si mesmos.
O chefe de serviço ensinará os auxiliares novos com paciência
e, depois, exigirá, com justiça, expressões de trabalho próprio.
Reconhecemos, assim, pelo apontamento de Lucas, que nas
experiências religiosas não é aconselhável repousar alguém sobre a firmeza
espiritual dos outros; enquanto o imprevidente descansa em bases estranhas,
provavelmente estará tranqüilo, mas, se não possui raízes de segurança em si
mesmo, desviar-se-á nas épocas difíceis, com a finalidade de procurar alicerces
alheios.
Tudo convida o homem ao trabalho de seu aperfeiçoamento e
iluminação.
Respeitemos a firmeza de fé, onde ela existir, mas não
olvidemos a edificação da nossa, para a vitória estável.
125
Filhos e servos
“Ora, o servo não fica para sempre na casa; o filho fica
para sempre.” – Jesus. (João, 8:35.)
Na sua exemplificação, ensinou-nos Jesus como alcançar o
título de filiação a Deus.
O trabalho ativo e incessante, o desprendimento dos
interesses inferiores do mundo, a perfeita submissão aos desígnios divinos,
constituíram traços fundamentais de suas lições na Terra.
Muitos homens, notáveis pela bondade, pelo caráter
adamantino, sacerdotes dignos e crentes sinceros, poderão ser dedicados servos
do Altíssimo. Mas o Cristo induziu-nos a ser mais alguma coisa. Convidou-nos a
ser filhos, esclarecendo que esses ficam “para sempre na casa”.
E os servos? esses, muita vez, experimentam modificações. Nem
sempre permanecerão, ao lado do Pai.
Mas não é a Terra, igualmente, uma dependência, ainda que
humilde, da casa de Deus? Aí palpita a essência da lição.
O Mestre aludiu aos servos como pessoas suscetíveis de vários
interesses próprios. Os filhos, todavia, possuem interesses em comum com o Pai.
Os primeiros, servindo a Deus e a si mesmos, porque como servidores aguardam
remuneração, podem sofrer ansiedades, aflições, delírios e dores ásperas. Os
filhos, porém, estão sempre “na casa”, isto é, permanecerão em paz, superiores
às circunstâncias mais duras, porquanto reconhecem, acima de tudo, que
pertencem a Deus.
CONTINÚA AMANHÃ
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