CONTINUAÇÃO
de que se enfeitava. Fiz quanto pude para evitar o desastre, mas o destino... Ambos tomados de paixão recíproca, iniciaram-se em passeios... Voltas pelo Mangrulho e brincadeiras na praia de Botafogo, excursões de caleça para a Fazenda do Capão, passeios
para lá da Muda da Tijuca... Isso tudo acontecia pacificamente, até que Teodoro os descobriu juntos num quarto do Hotel Pharoux.
Escandalizado, o marido desinteressou-se da mulher, embora não se retirasse do lar por amor à filha... Mas, mesmo nessa posição, cortejou a menina Mariana de Castro, a que chamávamos Naninha, jovem de bons costumes, que residia com os pais na rua do Cano... Brites, longe de se magoar, até mesmo facilitou quanto
pôde a ligação, para ver-se livre... Naninha acabou cedendo às escondidas, mas enjeitou dois filhos do comerciante nas portas da Misericórdia, como é do conhecimento público... A senhora Torres entrou em crise de lágrimas e seguiu contando que o filho, depois de quatro anos, se enfadou de Brites e só então comunicou à família que deixara uma prometida em Lisboa...
Suspirava por voltar, mas receava que a amante se despenhasse no suicídio. Depois de muitas negaças em vão para retirar-se, arquitetou um plano maquiavélico, de que resultara para ela, mãe amorosa, a infelicidade irremediável. Percebendo, a pouco e pouco, a fraqueza de Brites pelas jóias, insinuou ao padrasto que ela ansiava possuir-lhe a dedicação, fantasiando recados e armando embustes. Justiniano, vencido pelas sugestões do enteado, pôsse em ação, conseguindo impressionar Brites com presentes raros, até que no primeiro encontro, forjado pelo próprio Álvaro, interferiu
ele na cena, assumindo o papel de companheiro ultrajado, afastando-se, enfim, para Portugal, deixando várias tragédias em andamento.
O golpe infundira na senhora Castanheira uma nova personalidade.
Convertera-se em pavorosa mulher, calculista, cruel. Nunca mais se lhe vira um gesto de piedade. Metamorfoseara Justiniano num homem de sexualidade pervertida, extorquindo-lhe dinheiro e mais dinheiro, até ao ponto de entregar-lhe a própria filha, Virgínia, que atravessara os quinze de idade, vendendo-a ao amante, homem já velho, para senhorear terras e haveres. Ainda assim, não contente com os próprios desvarios, desencaminhava moças de nobre formação, atirando-as no prostíbulo, estimulava infidelidades, vícios, crimes, abortos... Virgínia, com quem Justiniano passara a viver, em definitivo, abandonando a esposa, transfigurara-se em pomo de discórdia entre o senhor de Fonseca Teles e Teodoro Castanheira, que se atormentaram mutuamente em onze anos de conflitos inúteis, até que o marido de Dona Brites, então vivendo maritalmente com Naninha de Castro, desde muito, aparecera morto a punhaladas, na rua da Cadeia, atribuindo-se o homicídio a escravos foragidos. Naninha, porém, não ignorava que Justiniano fora o mandante e tramou desforço. Uniu-se a outro homem, em cujo espírito insuflou despeito e ódio contra o ourives da rua Direita, e os dois, então morando num recanto da praia de Botafogo, planejaram assassiná-lo num suposto acidente. Justiniano, já idoso e enfermo, adquirira o hábito da visita domingueira à Bica da Rainha, no Cosme Velho. Quando regressava de uma dessas jornadas, à noitinha, guiando o carrocim em que se fazia conduzir, Naninha e o companheiro, ocultos na sombra, crivaram o cavalo de pedras revestidas de farpas, depois de escolherem local que favorecesse o desastre... O animal desembestado arrojou-se ladeira abaixo, rebentando freios e arremessando o velho do cimo de um barranco sobre um monte de lajes que se empilhavam em baixo, onde Justiniano encontrara a morte, quase que instantânea.
E Dona Beatriz rematou, lacrimosa: – Ah! meu Deus, tudo por nada, porque Álvaro, de retorno a Portugal, achou a prometida casada com outro, por imposição dos pais, regressando, mais tarde, ao Brasil, onde acabou na condição de professor solteirão... Ah! meu filho, meu filho!... Por que te fizeste o autor de tantas calamidades?...
Nesse tópico das revelações, o irmão Félix solicitou dos cientistas um intervalo para explicações, antes de se retirar.
A doente foi restituída ao sono e o instrutor pediu ao chefe do Arquivo a certidão da saída de Beatriz, já que se ausentara dali mesmo, quase cinqüenta anos antes, para a reencarnação no Rio.
O interpelado, atento ao caso em exame, trouxera consigo a ficha de Dona Beatriz Neves Torres.
Sim, precedendo-lhe o nome atual, aparecia o de Leonor da Fonseca Teles, que desencarnara no Rio, estivera, por algum tempo, em regiões inferiores, morara por vinte e oito anos em colônia espiritual de reeducação não distante, e passara apenas dois meses no “Almas Irmãs”, em 1906, por solicitação do próprio irmão Félix, que lhe patrocinara o renascimento no lar de Pedro Neves, ali presente.
Félix, porém, rogou as informações possíveis, acerca de personalidades referidas por Beatriz, que estivessem vinculadas ao Instituto.
Aparelhos funcionaram e o Arquivo respondeu com presteza.
Justiniano da Fonseca Teles, Teodoro Castanheira, Virgínia Castanheira e Naninha de Castro estavam reencarnados no Rio. Todos com certidão de saída do “Almas Irmãs”. Justiniano era Nemésio Torres, negociante, com débitos agravados; Teodoro Castanheira apresentava-se com o nome de Cláudio Nogueira, já desencarnado, mas ainda em serviço na Terra, com melhoras sensíveis; Virgínia Castanheira respondia agora por Marina Nogueira Torres, com índices promissores de reforma íntima; Naninha de Castro fora Marita Nogueira, que estivera recentemente desencarnada num dos parques de repouso da organização, e que se achava em processo de novo renascimento no plano físico, por pedido expresso
para lá da Muda da Tijuca... Isso tudo acontecia pacificamente, até que Teodoro os descobriu juntos num quarto do Hotel Pharoux.
Escandalizado, o marido desinteressou-se da mulher, embora não se retirasse do lar por amor à filha... Mas, mesmo nessa posição, cortejou a menina Mariana de Castro, a que chamávamos Naninha, jovem de bons costumes, que residia com os pais na rua do Cano... Brites, longe de se magoar, até mesmo facilitou quanto
pôde a ligação, para ver-se livre... Naninha acabou cedendo às escondidas, mas enjeitou dois filhos do comerciante nas portas da Misericórdia, como é do conhecimento público... A senhora Torres entrou em crise de lágrimas e seguiu contando que o filho, depois de quatro anos, se enfadou de Brites e só então comunicou à família que deixara uma prometida em Lisboa...
Suspirava por voltar, mas receava que a amante se despenhasse no suicídio. Depois de muitas negaças em vão para retirar-se, arquitetou um plano maquiavélico, de que resultara para ela, mãe amorosa, a infelicidade irremediável. Percebendo, a pouco e pouco, a fraqueza de Brites pelas jóias, insinuou ao padrasto que ela ansiava possuir-lhe a dedicação, fantasiando recados e armando embustes. Justiniano, vencido pelas sugestões do enteado, pôsse em ação, conseguindo impressionar Brites com presentes raros, até que no primeiro encontro, forjado pelo próprio Álvaro, interferiu
ele na cena, assumindo o papel de companheiro ultrajado, afastando-se, enfim, para Portugal, deixando várias tragédias em andamento.
O golpe infundira na senhora Castanheira uma nova personalidade.
Convertera-se em pavorosa mulher, calculista, cruel. Nunca mais se lhe vira um gesto de piedade. Metamorfoseara Justiniano num homem de sexualidade pervertida, extorquindo-lhe dinheiro e mais dinheiro, até ao ponto de entregar-lhe a própria filha, Virgínia, que atravessara os quinze de idade, vendendo-a ao amante, homem já velho, para senhorear terras e haveres. Ainda assim, não contente com os próprios desvarios, desencaminhava moças de nobre formação, atirando-as no prostíbulo, estimulava infidelidades, vícios, crimes, abortos... Virgínia, com quem Justiniano passara a viver, em definitivo, abandonando a esposa, transfigurara-se em pomo de discórdia entre o senhor de Fonseca Teles e Teodoro Castanheira, que se atormentaram mutuamente em onze anos de conflitos inúteis, até que o marido de Dona Brites, então vivendo maritalmente com Naninha de Castro, desde muito, aparecera morto a punhaladas, na rua da Cadeia, atribuindo-se o homicídio a escravos foragidos. Naninha, porém, não ignorava que Justiniano fora o mandante e tramou desforço. Uniu-se a outro homem, em cujo espírito insuflou despeito e ódio contra o ourives da rua Direita, e os dois, então morando num recanto da praia de Botafogo, planejaram assassiná-lo num suposto acidente. Justiniano, já idoso e enfermo, adquirira o hábito da visita domingueira à Bica da Rainha, no Cosme Velho. Quando regressava de uma dessas jornadas, à noitinha, guiando o carrocim em que se fazia conduzir, Naninha e o companheiro, ocultos na sombra, crivaram o cavalo de pedras revestidas de farpas, depois de escolherem local que favorecesse o desastre... O animal desembestado arrojou-se ladeira abaixo, rebentando freios e arremessando o velho do cimo de um barranco sobre um monte de lajes que se empilhavam em baixo, onde Justiniano encontrara a morte, quase que instantânea.
E Dona Beatriz rematou, lacrimosa: – Ah! meu Deus, tudo por nada, porque Álvaro, de retorno a Portugal, achou a prometida casada com outro, por imposição dos pais, regressando, mais tarde, ao Brasil, onde acabou na condição de professor solteirão... Ah! meu filho, meu filho!... Por que te fizeste o autor de tantas calamidades?...
Nesse tópico das revelações, o irmão Félix solicitou dos cientistas um intervalo para explicações, antes de se retirar.
A doente foi restituída ao sono e o instrutor pediu ao chefe do Arquivo a certidão da saída de Beatriz, já que se ausentara dali mesmo, quase cinqüenta anos antes, para a reencarnação no Rio.
O interpelado, atento ao caso em exame, trouxera consigo a ficha de Dona Beatriz Neves Torres.
Sim, precedendo-lhe o nome atual, aparecia o de Leonor da Fonseca Teles, que desencarnara no Rio, estivera, por algum tempo, em regiões inferiores, morara por vinte e oito anos em colônia espiritual de reeducação não distante, e passara apenas dois meses no “Almas Irmãs”, em 1906, por solicitação do próprio irmão Félix, que lhe patrocinara o renascimento no lar de Pedro Neves, ali presente.
Félix, porém, rogou as informações possíveis, acerca de personalidades referidas por Beatriz, que estivessem vinculadas ao Instituto.
Aparelhos funcionaram e o Arquivo respondeu com presteza.
Justiniano da Fonseca Teles, Teodoro Castanheira, Virgínia Castanheira e Naninha de Castro estavam reencarnados no Rio. Todos com certidão de saída do “Almas Irmãs”. Justiniano era Nemésio Torres, negociante, com débitos agravados; Teodoro Castanheira apresentava-se com o nome de Cláudio Nogueira, já desencarnado, mas ainda em serviço na Terra, com melhoras sensíveis; Virgínia Castanheira respondia agora por Marina Nogueira Torres, com índices promissores de reforma íntima; Naninha de Castro fora Marita Nogueira, que estivera recentemente desencarnada num dos parques de repouso da organização, e que se achava em processo de novo renascimento no plano físico, por pedido expresso
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