sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

SEXO E DESTINO - LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO 

CAPÍTULO 8

Satisfazendo a recomendações de Félix, que nos esperava a cooperação, junto de Cláudio e Marina demoramo-nos no Flamengo, ao pé do amigo que a consternação abatia.
Entregue a si mesmo, sem qualquer consolação humana, Nogueira refletiu e compreendeu. Havia lido bastante. Conversara o suficiente com Agostinho e Salomão. Não lhe cabia escusar-se à verdade. Recolhera a fé por misericórdia da Bondade Divina; entretanto, a Divina Justiça não poderia forrá-lo à solidão que ele mesmo plantara.
Represava-se-lhe o coração de saudades da filha que o túmulo escondera. Aquela quinzena de hospital unira-os em espírito para sempre. Ao lado de Marita, obtivera a luz da renovação. Doía-lhe pensar que não mais experimentaria o conforto de carregá-la, sustentá-la, socorrê-la...
Abatido, sentou-se e chorou.
A noite avançava e Márcia não aparecia.
Telefonou, discreto, para vizinhos de Dona Justa. A servidora, chamada por obséquio à residência de amigos, veio atender.
Informou-se da desencarnação de Marita e lamentou não haver conseguido a notícia, antes, com o tempo necessário para assistir-lhe ao funeral. Esclareceu que a madama subira a Petrópolis, sem precisar o regresso. Dona Márcia alegara cansaço, depois da internação de Marina para tratamento, e avisara-a de que pretendia passar alguns dias na serra, ganhando forças. Ela, Dona Justa, segundo o combinado, comparecia, pela manhã, no apartamento, e folgava à tarde.
Nogueira perguntou pelo estabelecimento, onde se achava a filha doente; no entanto, a servidora respondeu com sinceridade que não sabia. Dona Márcia não lhe fornecera informações. Aliás, solicitava licença para inteirá-lo, sem a menor intenção de afligilo, de que julgava a patroa também esgotada. Parecia nervosa, enferma.
Cláudio agradeceu e tomou o catálogo telefônico.
Pediu, infrutiferamente, ligação para conhecida casa de repouso em Santa Teresa. E seguiu procurando pelo fio, até que na sexta pesquisa encontrou o que buscava. Enfermeira prestimosa, com quem Dona Márcia deixara endereço, respondeu de uma casa de saúde, localizada em Botafogo, notificando que Marina aí se hospedava. As visitas, no entanto, mesmo para os familiares, estavam proibidas. A moça andava em crise, sob a atenção dos médicos.
Mesmo na condição de progenitor, que ele fizesse a gentileza de ouvir a administração, antes de procurar pessoalmente avistála.
Cláudio acolheu-se à poltrona, a fim de pensar. Restava a casa dos Torres. Gilberto, com certeza, poderia elucidá-lo; entretanto, a figura do rapaz assomava-lhe à imaginação semelhante a bisturi que lhe retalhasse uma chaga mental. Rememorava a entrevista do Lido, em que lhe ilaqueara a boa-fé, e envergonhavase.
Meditou, meditou. Examinou-se sem compaixão para consigo e acabou inferindo que, se quisesse realmente apresentar personalidade nova, não lhe cabia isentar-se das conseqüências que as passadas faltas lhe propunham.
Consolidado o raciocínio, não mais vacilou.
Recorreu ao fone com escassa esperança de ouvir o rapaz, já que o relógio assinalava mais de nove da noite, mas o moço atendeu.
Não obstante acanhado, Cláudio expressou-lhe o pesar pelo falecimento da genitora, ao mesmo tempo que lhe comunicava a perda de Marita.
Figurou-se-lhe Gilberto deprimido, torturado.
O filho de Nemésio confessava-lhe desconhecer, não só a extensão do acidente, mas também o óbito. Decerto que, pelas provações da família, com a lenta agonia de Dona Beatriz e com a enfermidade de Marina, que logo se lhe seguiu, não tivessem Dona Márcia e a filha encontrado ocasião para referir-lhe a gravidade das ocorrências. Lastimava o sucedido e enviava pêsames.
Prezara sempre em Marita uma irmã pelo coração. Consultado por Nogueira, explicou que Marina fora acometida por acessos de fúria. O facultativo de confiança admitira demência precoce, mas desistira da assistência. Entregara o problema a psiquiatras.
O diálogo prosseguiu.
Antecipando justificativas, Gilberto anunciou haver assumido novas resoluções, nos dias últimos. Quando no encontro de ambos, em Copacabana, estava, sim, decidido a casar-se mais cedo, desposar Marina e recolher-se à tranqüilidade do lar, mas, apreensivo ao ver a moça doente qual se achava, o pai, embora reconhecido aos serviços que a jovem lhes prestara, impelira-o à mudança de rumo. O genitor, que se achava ausente em descanso restaurativo, usara franqueza. Não aprovaria o casamento, não considerava
 
 Marina suficientemente habilitada para as responsabilidades do
matrimônio. Além disso, falara-lhe de “certas coisas” e aconselhara-
o a sair do Rio. Sustentá-lo-ia em outra cidade, onde pudesse
recomeçar estudos interrompidos. Ele, porém, Gilberto, compreendia
a vida de outro modo e, à face das imposições paternas,
sentia-se acabrunhado, vencido...
Cláudio aceitou as alegações com humildade e acentuou que ele era ainda muito jovem, que não devia opor contradita aos conselhos de Torres pai e sim continuar refletindo, de vez que casamento, em qualquer pessoa, reclama liberdade, consciência...
Tão sensatas e confortadoras observações formulou, pacificando-lhe o íntimo e clareando-lhe a compreensão para o trato com o

CONTINUA AMANHÃ

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