sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

SEXO E DESTINO - LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO

O afastamento do filho desequilibrara a balança dos negócios, não somente porque isso golpeara os créditos morais de Nemésio, mas também pelo fato de a circunstância encorajar abusos da parte de subordinados que não se revelaram à altura da autoridade recebida.
A longa viagem, numa época de crise na organização, à face da ausência de Gilberto. atraíra desastres financeiros, abrindo brechas dificilmente recuperáveis. Amigos da firma haviam retirado, à pressa, capitais importantes, desistindo dos depósitos com que lhe garantiam a segurança. Prejudicado o movimento, onerara-se a imobiliária com dois vultosos empréstimos, para cujo resgate entregara Nemésio duas terças partes dos próprios bens.
Não detinha agora senão possibilidades estreitas para lastrear as operações imediatas e evitar a falência. E fosse por vê-lo destituído das propriedades que a fascinavam ou porque houvesse esgotado as reservas afetivas para com ele, Dona Márcia abandonara-o e residia com Selma, planeando a formação de um restaurante.
Nogueira recolheu todos os informes, apreensivo. Mesmo assim, após o almoço, vencendo a própria repugnância com os recursos da oração, demandou a moradia dos Torres.
Levava o espírito pressago, triste...
Fez soar a campainha no vestíbulo ajardinado; no entanto, o pai de Gilberto vira-o, de longe, quando apeava do ônibus, e do terraço em que fumava, à sesta, expediu aviso. Um empregado, em nome dele, veio dizer a Cláudio fizesse a gentileza de se considerar indesejável. Não lhe receberia a visita naquela hora, nem
noutras.
Nogueira retirou-se, compreensivo.
Inútil o tentame.
Voltou ao trabalho e rogou entendimento com o chefe que se lhe tornara mais amigo. Mostrou-lhe a carta que o conhecido agressor lhe dirigira à filha e ponderou, quanto à necessidade de protegê-la, sem parecer ao genro que assim procedia defendendoa do sogro.
O gerente, prestativo e humano, associou-se-lhe aos cuidados e sugeriu-lhe uma licença de seis meses. Nenhum impedimento para ele, antigo funcionário com excelente folha de serviço. Nessa fórmula, apoiaria a moça e resguardá-la-ia, desde a caixa do correio, impedindo que novas cartas lhe chegassem às mãos, até a assistência contínua em casa, hora a hora, para que se lhe garantisse a tranqüilidade na gravidez. Incumbir-se-ia de comunicar a Gilberto e colegas que ouvira de médicos amigos a recomendação de impor-lhe descanso indeterminado, e se entenderia, ele próprio, com os clínicos, que não lhe sonegariam a concessão. Que repousasse e atendesse a filha.
Cláudio agradeceu, confortado.
Vinda a noite, entrou em conversação com a filha, sossegando-a. Afirmou possuir razões para acreditar que Nemésio não mais a molestaria. Esclareceu ter estado na residência dos Torres; contudo, não avançou além de semelhante informe, dando a impressão de que o problema fora liquidado na origem. E interessados quais se achavam em apagar o pretérito, pai e filha se entretiveram no assunto da licença. Marina rejubilava-se. Ambos se devotariam a trabalhos diversos. Juntos, construiriam o berço do nenê. Dariam nova disposição ao apartamento. Diferentes decorações.
Cláudio fez humor. Salientou que Gilberto e ele se empenhavam em apostas. O genro aguardava um príncipe. Ele contava com uma princesa. De qualquer forma, era preciso organizar o palácio. Dizia-lhe o coração que a neta se achava em caminho...
Por isso, concordava em renovar os móveis e pintar as paredes, mas exigia que todo o serviço fosse feito com predominância de rosa. Gracejaram. Aprovando os planos, Marina solicitou-lhe o concurso na organização de um álbum que andava formando para o bebê, enquanto esperavam por Gilberto, que prosseguia estudando à noite, com vistas à melhoria.
Demandando, por fim, o leito, Cláudio sensibilizava-nos com oportunas reflexões, permeadas de preces ardentes. Previa, inquieto, que doravante seria compelido a novos encargos. Acautelaria Marina e, conseqüentemente, Marita, de cuja reencarnação guardava a certeza. A carta de Nemésio, ressumando inconformidade, e a rudeza com que lhe havia cerrado a porta, não lhe conferiam margem a dúvidas. Teria conflitos e injúrias à frente; no entanto, nada razoável desanimar. Orava, implorando recursos aos Espíritos amigos. Que o não deixassem confiado a si mesmo, que lhe impedissem as manifestações de fraqueza, que lhe frustrassem qualquer propósito de revide. Identificava-se num teste. Indiscutivelmente prejudicara Nemésio Torres em outras existências.
Devia pagar. Somente ao clarão da lógica espírita destrinçava a meada dolorosa. Aquele homem castigara-o na alma e na carne, transformara-se para ele em cobrador do destino. A consciência determinava-lhe aceitar os desafios com humildade. Se bem não se sentisse em condições de se acomodar com a virtude, anelava solver os débitos contraídos, ainda que isso lhe custasse a existência.
Por essa razão, suplicava o apoio do Cristo, a fim de esquecer-se, de maneira a seguir caminho afora, segundo as Leis Divinas...
Efetivamente, conhecendo o horário aproximado de recepção do Correio, no prédio, Nogueira desceu, no dia seguinte, com a desculpa de obter pão mais fresco e recolheu nova carta de Nemésio, endereçada a Marina, cuja identidade estabeleceu para logo, através da letra. Abriu-a. Era coleção de recados, sabendo a fel.
Misturava declarações e libelos, alegava dificuldades, crises.
Dizia precisar dela para recompor as finanças. Restaurar-se-ia em reduzido tempo, se o atendesse. Não obstante os prejuízos que

CONTINUA AMANHÃ

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