reter a jovem, no serviço, até altas horas da noite, ao sentir-lhe a imagem, na tela mental, transmitida por mim, para inicio de entendimento, acreditou estar pensando consigo mesmo, inclinando o assunto para questões salariais; concentrou-se, de pronto, nas vantagens econômicas, agarrou-se a cifras, encheu a cabeça com parágrafos da legislação trabalhista e expulsou-me a influência,
sumariamente, monologando no íntimo: “essa moça já percebe o suficiente, não lhe darei nem mais um centavo.” Nenhum outro recurso senão permanecer no casarão, de sentinela.
Inúteis as diligências.
Às sete e trinta da noite, Cláudio apresentou-se com esmero, sem mesmo esquecer-se de uma peruca leve que lhe remoçava as linhas fisionômicas.
Solerte, espiou a vivenda de Crescina, a pequena distância.
Ele e o outro. Moreira não parecia menos interessado.
Acompanhei-os.
O marido de Dona Márcia, aperaltado, buscava um telefone, que não teve dificuldade para encontrar. Café vizinho facilitava.
Discou, chamando Fafá, o porteiro da pensão, que ficáramos conhecendo em nossas investigações cordiais, durante o dia.
Atendido, rogou-lhe que fosse encontrá-lo, confidencialmente.
Questão de negócio. Não se arrependeria do segredo. Riram-se pelo fio.
O empregado, velho bonachão que o álcool já começava a excitar naquelas horas verdes da noite, veio à pressa. Atencioso e sabido, conquanto guardasse um sorriso de bondade, parado no rosto, que tanto podia ser para o bem como para o mal, inclinou o ouvido para a boca de Cláudio, a fim de escutar melhor. Nogueira cochichou, solene. Solicitava-lhe concurso urgente. Precisava esclarecer-se quanto aos jovens que se reuniriam no “quatro”. A moça era sua filha. Não faria barulho, não escandalizaria a ninguém, mas desejava certificar-se. Nada de complicações. Necessário reconhecer o desencaminhador, de maneira a solucionar o problema de família, sem alarde. Recorria aos préstimos dele, companheiro dedicado. Não lhe dispensaria a colaboração.
Fafá disse compreendê-lo e participou que a menina esperada já se instalara. Vira-a sozinha, através da porta semicerrada. Estava sentada no leito, folheando revistas. E, ante as perguntas que se acumulavam, confirmou que era a jovem, vista por ele, cedinho, em conversação com a mundana. Sim, guardara-lhe o nome. Era Marita, sim.
Fez-se Cláudio mais reservado e pediu-lhe “blecaute”. Que o porteiro lhe fizesse o favor de desajustar o fusível, na instalação elétrica, O conserto exigiria uns quinze minutos de sombra. Isso bastava para que se inteirasse de tudo, sem que a patroa e os hóspedes lhe percebessem a presença. Colocar-se-ia no escuro, em ângulo oposto à iluminação pública, e, assim, facilmente identificaria o rapaz.
O serventuário, não obstante semi-embriagado, fixou expressão matreira e salientou que era problema sério, aquele. Satisfaria ao chefe, mas bico calado. Nada de envolver-se com os tiras.
Cláudio deixou escorregar para a mão dele duas cédulas de quinhentos cruzeiros, e Fafá, menos inquieto, indagou pelo horário exato, ao que Nogueira aclarou, afirmando faltar unicamente dez minutos, de vez que aguardaria a luz apagada, as oito em ponto.
Separaram-se os dois e, quando me perdia em dolorosas conjeturas, revigoradora surpresa me visitou o espírito. Dera apenas alguns passos na rua e fui agradavelmente defrontado pelo irmão Félix, que me abraçava.
Comovi-me. Revê-lo e confiar-lhe todas as inquietações foi trabalho de segundos.
Nas minhas frases curtas, o instrutor recolheu todo o material informativo.
Sem detença, rumamos para a vivenda coletiva, cujas lâmpadas esmoreceram, de chofre, quando lhe transpúnhamos a entrada.
Tive a idéia de que o acontecimento era comum, porquanto a escuridão não estabeleceu o menor alarme. Velas bruxuleantes piscavam, aqui e ali.
Tomamos a direção do aposento isolado.
Cláudio estacara à porta, enlaçado pelo vampirizador. Ambos justapostos um ao outro. Dupla de sentimentos e propósitos iguais.
Ambos emocionados, corações pulsando precipites, prelibavam a caça que não lhes escaparia. A distância reduzida, notei que os dois se postavam sob o halo das energias balsâmicas de Félix; entretanto, o admirável fenômeno para eles era como se não existisse.
Diante do quadro inquietante e enternecedor, imaginei comigo fitar dois lobos humanizados, aos quais piedoso emissário dos Céus tentasse, inutilmente, entregar a palavra e a inspiração de Jesus-Cristo.
Enrodilhavam-se os dois num charco mental de lascívia, com tamanha sofreguidão, que não cabia ali, naquele vulcão de apetites sexuais, a menor frincha pela qual se pudesse arremessar alguma idéia de elevação.
Agressivo perfume de cravos me invadiu o olfato desprevenido.
Onde sentira, naquele dia, um cheiro igual? Recordei, espantado.
Aquele era o extrato usado por Gilberto. Conhecera-o, na palestra do Lido. Minudenciei observações e reconheci que Nogueira tivera igualmente o cuidado de usar indumentária, em tudo semelhante à do moço, inclusive a gravata, quanto ao nó e ao tamanho. Nenhuma particularidade fora esquecida.
sumariamente, monologando no íntimo: “essa moça já percebe o suficiente, não lhe darei nem mais um centavo.” Nenhum outro recurso senão permanecer no casarão, de sentinela.
Inúteis as diligências.
Às sete e trinta da noite, Cláudio apresentou-se com esmero, sem mesmo esquecer-se de uma peruca leve que lhe remoçava as linhas fisionômicas.
Solerte, espiou a vivenda de Crescina, a pequena distância.
Ele e o outro. Moreira não parecia menos interessado.
Acompanhei-os.
O marido de Dona Márcia, aperaltado, buscava um telefone, que não teve dificuldade para encontrar. Café vizinho facilitava.
Discou, chamando Fafá, o porteiro da pensão, que ficáramos conhecendo em nossas investigações cordiais, durante o dia.
Atendido, rogou-lhe que fosse encontrá-lo, confidencialmente.
Questão de negócio. Não se arrependeria do segredo. Riram-se pelo fio.
O empregado, velho bonachão que o álcool já começava a excitar naquelas horas verdes da noite, veio à pressa. Atencioso e sabido, conquanto guardasse um sorriso de bondade, parado no rosto, que tanto podia ser para o bem como para o mal, inclinou o ouvido para a boca de Cláudio, a fim de escutar melhor. Nogueira cochichou, solene. Solicitava-lhe concurso urgente. Precisava esclarecer-se quanto aos jovens que se reuniriam no “quatro”. A moça era sua filha. Não faria barulho, não escandalizaria a ninguém, mas desejava certificar-se. Nada de complicações. Necessário reconhecer o desencaminhador, de maneira a solucionar o problema de família, sem alarde. Recorria aos préstimos dele, companheiro dedicado. Não lhe dispensaria a colaboração.
Fafá disse compreendê-lo e participou que a menina esperada já se instalara. Vira-a sozinha, através da porta semicerrada. Estava sentada no leito, folheando revistas. E, ante as perguntas que se acumulavam, confirmou que era a jovem, vista por ele, cedinho, em conversação com a mundana. Sim, guardara-lhe o nome. Era Marita, sim.
Fez-se Cláudio mais reservado e pediu-lhe “blecaute”. Que o porteiro lhe fizesse o favor de desajustar o fusível, na instalação elétrica, O conserto exigiria uns quinze minutos de sombra. Isso bastava para que se inteirasse de tudo, sem que a patroa e os hóspedes lhe percebessem a presença. Colocar-se-ia no escuro, em ângulo oposto à iluminação pública, e, assim, facilmente identificaria o rapaz.
O serventuário, não obstante semi-embriagado, fixou expressão matreira e salientou que era problema sério, aquele. Satisfaria ao chefe, mas bico calado. Nada de envolver-se com os tiras.
Cláudio deixou escorregar para a mão dele duas cédulas de quinhentos cruzeiros, e Fafá, menos inquieto, indagou pelo horário exato, ao que Nogueira aclarou, afirmando faltar unicamente dez minutos, de vez que aguardaria a luz apagada, as oito em ponto.
Separaram-se os dois e, quando me perdia em dolorosas conjeturas, revigoradora surpresa me visitou o espírito. Dera apenas alguns passos na rua e fui agradavelmente defrontado pelo irmão Félix, que me abraçava.
Comovi-me. Revê-lo e confiar-lhe todas as inquietações foi trabalho de segundos.
Nas minhas frases curtas, o instrutor recolheu todo o material informativo.
Sem detença, rumamos para a vivenda coletiva, cujas lâmpadas esmoreceram, de chofre, quando lhe transpúnhamos a entrada.
Tive a idéia de que o acontecimento era comum, porquanto a escuridão não estabeleceu o menor alarme. Velas bruxuleantes piscavam, aqui e ali.
Tomamos a direção do aposento isolado.
Cláudio estacara à porta, enlaçado pelo vampirizador. Ambos justapostos um ao outro. Dupla de sentimentos e propósitos iguais.
Ambos emocionados, corações pulsando precipites, prelibavam a caça que não lhes escaparia. A distância reduzida, notei que os dois se postavam sob o halo das energias balsâmicas de Félix; entretanto, o admirável fenômeno para eles era como se não existisse.
Diante do quadro inquietante e enternecedor, imaginei comigo fitar dois lobos humanizados, aos quais piedoso emissário dos Céus tentasse, inutilmente, entregar a palavra e a inspiração de Jesus-Cristo.
Enrodilhavam-se os dois num charco mental de lascívia, com tamanha sofreguidão, que não cabia ali, naquele vulcão de apetites sexuais, a menor frincha pela qual se pudesse arremessar alguma idéia de elevação.
Agressivo perfume de cravos me invadiu o olfato desprevenido.
Onde sentira, naquele dia, um cheiro igual? Recordei, espantado.
Aquele era o extrato usado por Gilberto. Conhecera-o, na palestra do Lido. Minudenciei observações e reconheci que Nogueira tivera igualmente o cuidado de usar indumentária, em tudo semelhante à do moço, inclusive a gravata, quanto ao nó e ao tamanho. Nenhuma particularidade fora esquecida.
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